Miranha

David J. Phillips

Autodenominação:

Outros Nomes: Bora, Mirãnha, Miraña (DAI/AMTB 2010).

População: Brasil: 833, Colômbia: 445 (DAI/AMTB 2010). 836 (FUNASA 2006) 2.330 na Bolívia.

Localização: AM em cinco Terras Indígenas:

T. I. Cajuhiri Atravessado, AM, de 13.000 ha entre o rio Solimões e o Lago de Coari, declarada com 51 Kambeba, Ticuna e Miranha (FUNAI 2010).

T. I. Cuiú-Cuiú, AM, 36.450 ha na margem esquerda do rio Japurá, homologada e registrada no CRI e SPU, com 721 Miranha (FUNAI 2011).

T. I. Barreira da Missão, AM, 1.772 ha, na terra firme ao sul do rio Solimões, sudeste de Tefé, homologada e reg. no CRI, com 788 Miranha, Kaizana, Kambeba, Ticuna e Witoto (FUNAI 2011).

T. I. Méria, AM, 585 ha ao oeste de Alvarães, homologada e reg. CRI e SPU, com Miranha, Karapanã, Mura e Witoto (FUNAI 2011),

T. I. Miratu, AM, 13.199 ha ao sul da sede do município de Uarini, homologada e reg. no CRI e SPU, com 126 Miranha, Karapanã, Mura e Witoto (FUNAI 2011).

Na Bolívia: Na município de Loreta, Província de Beni nas bacias dos rios Yaguasyacu, Putmayo e Ampiyacu com cinco aldeias, próximo da fronteira com o Peru (SIL). No nordeste do Peru.

Língua: Miranha e português. Não falam a língua Miranha no Brasil, mas sabem existem na Colômbia grupos que falam (Faulhaber 1999 e SIL). Classificação: Witotoano, proto-Bora-Muinane na Bolívia e no Peru, chamada Bora. Falantes na Bolívia são os adultos que usam Murui Huitoto e espanhol. As escolas ensinam em Espanhol e Bora (Miranha). Alfabetismo em Bora 10% a 30% (SIL).

História: A primeira menção dos Miranha era por Monteiro de Noronha no rio Solimões em 1768, e descreveu a linha preta pintada nas faces, seus escudos de pele de anta ou jacaré, e sua flechas venenadas. Em 1788 Rodrigues Ferreira descreveu os Miranha de ser o povo mais populoso na margem norte do Solimões (Hemming 1987.554).

Os tuxauas Miranda ficaram conhecidos dos comerciantes de Tefé por vender seus inimigos como escravos, ou trocados por ferramenta de aço. Um cacique deles era temido em toda a região por escravizar indivíduos do seu povo e dos inimigos. Eram reconhecidos por furar as narinas e nela enfiando cilindros de pau ou conchas. Também usavam um grande tambor talhado em um só tronco de madeira, para comunicar à distância (Faulhaber 1999).

A expedição de Carl von Martius em 1819 subiu os rios Japurá e Caquetá e encontrou com os Miranda, ainda não aculturados e foi impressionados com as mulheres que trabalhavam muito e confeccionavam redes de fibra e outro artesanato que se vendia por toda a região do rio Negro. Mas ele observou também que comeram a carne humana e faziam comércio em escravos. Um chefe explicou a antropofagia por falta de boa caça! Mas ele preferiu vender o inimigo para comprar cachaça que tem um gosto melhor do que a carne! Um dia o chefe voltou com cativas Miranda, e Martius aceitou cinco que estavam doentes de malaria (Hemming 1987.212).

O ciclo da borracha forçou os Miranda abandonar suas aldeias, por medo dos seringueiros colombianos. Muitos foram mortos no rio Cahuinari e no divisor de águas entre os rios Caquetá e Putumayo. Muitos Miranda foram levados rio a baixo nos rios Purus, Juruá e Jutaí para trabalhar nos seringais no Brasil. Especialmente o genocídio cometido pela empresa peruana Casa Arana, foi condenado na época, os Miranda fugiram pelo rio Japurá (Hemming 1987.297).

Jules Crevaux visitou o rio Caquetá, o alto Japurá, em 1879, e descobriu um chefe Karihona com uma monte de ferramenta e armas, ganha pela venda de escravos para os brasileiros rio abaixo. O povo que sofreu mais era os Miranha do Japurá. As cidades de Tefé e outras eram cheias de Miranha sendo escravos por muitos anos. João Barbosa Rodrigues, o naturalista, observou que os Miranha sofreram por causa do seu caráter dócil e trabalhador. Saudades das suas terras e o mal trato que recebiam levou muitos à morte em pouco tempo (Hemming 1987. 290).

O movimento indigenista de promover a cooperação interétnica foi revigorado quando em 1979 houve o Primeiro Encontro de Tuxauas do Médio Solimões, realizado em Miratu, com a participação dos Miranda, dos Mayorúna, Cambeba, Caizana, Ticuna, Canamari, Kulina e outros. Lino Pereira Cordeiro promoveu a vincula entre os indígenas e os sindicatos, tornou se secretário-geral da União das Nações Indígenas em 1981 que organizou o Primeiro Encontro dos Povos Indígenas do Brasil, em Brasília em 1982. Depois de críticas da sua falta de liderança local, ele deixou de ser chefe local em Miratu também das organização nacional. Os Miranha continuam a participar de diversas organizações regionais.

Estilo da Vida: As aldeias dos Miranha estão localizadas às margens de lagos de águas escuras, cuja vegetação dificulta o acesso. As casas são de tipo regional. Há uma tendência à urbanização com a aspiração de muitos ter uma casa em Tefé, Alvarães ou Uarini, mas estes ainda referem ao assentimento na Terra Indígena como ‘minha aldeia’ e as roças e capoeiras como ‘minha propriedade’. Portanto aqueles que vivem nas cidades ainda mantêm roças nas terras e fazem troca dos produtos com os parentes que vivem lá. Também as crianças destes parentes são hospedadas nas cidades para assistir as escolas (Faulhaber 1999).

Sociedade: A população Miranda é móvel entre as Terras Indígenas, fazendo comércio de farinha de mandioca, castanha do pará, frutas e peixe e a busca de de educação e assistência médica. As populações das T. I. têm osciladas durante as últimas três décadas. Muitas pessoas se identificaram Miranha e se mobilizaram pela demarcação da Terra Cuiú-Cuiú. Os Miranha elegem um tuxaua ou capitão para tratar as relações externas da comunidade, mas os membros ainda mantêm certa autonomia diante da FUNAI, da União das Nações Indígenas e da Pastoral Indígena do CIMI.

Artesanato:

Religião: Cristão.

Cosmovisão:

Comentário: Na T. I. Cuiú-Cuiú há congregações das Assembleias de Deus e a Igreja Evangélica Batista.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • FAULHABER, Priscila, 1999, ‘Miranha’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/miranha.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.