Umutina – Balotiponé

David J. Phillips

Autodenominação: Batotiponé que significa ‘gente nova’ (Equipe 2009)

Outros Nomes: Omotina, Barbados (DAI/AMTB 2010). O nome Umutina foi dado depois de contato quando conviveram com os Paresí e Nambikwara, que significa ‘índio branco’ (Equipe 2009).

População: 392 (DAI/AMTB 2010), 445 (Associação Indígena Umutina Otoparé 2009).

Localização: Terra Indígena Umutina, MT, de 28.120 ha de cerrado (88.7%) e biomass amazônia (11.23%), entre a margem direita do rio Paraguai e a margem esquerda do rio dos Bugre, homologada em 1989 e registrada no CRI e na SPU, situada nos municípios de Barra do Burges e Alto Paraguai, com 409 indígenas dos Iranxe Manoki, Nambikwara, Paresí e Umutina (IBGE 2010).

Língua: Português (DAI/AMTB 2010). Perderam sua própria língua que era da família linguística Bororo. São esforçando recuperar o Umutina por meio do conhecimento dos idosos, de professores e universitários indígenas (Equipe 2009). Harald Schutz escreveu ‘Vocabulário dos índios Umutina’ (Journal de la Societe des Americanistes, N.S., Paris. 41:81-137).

História: Os Umutina, conhecidos como Barbados porque usavam barbas, sofreram contato em 1862 quando sua população era acerca de 400. Eram conhecidos como índios agressivos e violentos, armados com arco e flechas e uma borduna, chamada tacape-espada. Sempre atacavam a noite e não poupavam a vida de ninguém e celebravam as vitórias com cânticos. Mesmo quando se aproximaram aos brancos com intenções pacificas eles usavam uma saudação agressiva, com flechas prontas nos arcos, pulando de um lado para o outro, e da frente para trás, gritando e batendo os pés no chão. Em 1898 o governo de Mato Grosso planejou uma expedição de extermínio contra os Umutina. Continuaram a sofrer ataques dos seringueiros e posseiros. A sua pacificação ocorrida em 1911 pelo paulistano Helmano dos Santos Mascarenhas, a mando do general Candido Rondon. Depois da pacificação em 1911 foram reduzidos para 200 devido a uma epidemia de sarampo. Os órfãos foram recolhidos pelo SPI e educados no Posto Indígena.

Em 1923 o SPI registrou uma população de 120 e em 1943: 73 índios. O antropólogo gaúcho Harald Schulz (1909-1966) viveu com eles por oito meses entre 1943 e 1945 e descreveu seus costumes em seu livro, Vinte e três índios resistem à civilização, (São Paulo: Melhoramento, 1953) e Hombu: Indian Life in the Brazilian Jungle (1962).

Em 1945 foram reduzidos para 15 indivíduos por uma epidemia de coqueluche e broncopneumonia e estes sobreviventes se mudaram para o Posto Fraternidade Indígena e a população começou a recuperar por meio de casamento intertribais.

Estilo da Vida: São um povo da mata e apesar de viver perto dos rios, antigamente no rio Paraguai e depois no rio Bugres, não sabem construir canoas e viajar no rio. Vivem em duas aldeias, ambos na T. I. Umutin, Umutina com 430 indivíduos, e uma mais nova, Balotipone, com cinco famílias, total de 25 índios. As aldeias são perto dos rios e um córrego de água limpa na mata em terra alta, e consistem de malocas ou casas comunais.

O território é dominado pelo cerrado. A subsistência é de milho e a caça e a pesca. O milho é consumido em pães, beiju, mingau, assado ou cozido e chicha não fermentada. Cultivam também mandioca, cará, arroz, batata doce, feijão-fava e miúdo, pimenta, bananas e melancias. Plantam algodão e urucum. Caçadores de peles têm diminuído os animais no seu território, mas a pesca. Não sabem fabricar matapi ou redes, pescam somente com arco e flechas e usam tinguijada nas lagoas. Coletam mel, frutos e tubérculos (Equipe 2009).

Sociedade: A casa e a roça pertencem à mulher e três ou quatro famílias podem morar na mesma casa. O casamento é decidido pelos pais da moça, e a forma de residência é uxorilocal, o noivo tem que satisfazer seu sogro com sua habilidade como caçador e pescador. A posição de chefe é estabelecida somente em tempo de guerra. A única posição de autoridade para orientar a aldeia é uma índia velha (Equipe 2009).

O jovem Balotiponé Ariabo Kezo ensina que a língua umutina não morreu, mas manteve-se viva no âmbito familiar, transmitida por alguns anciãos. Ariabo decidiu que era preciso resgatar e difundir o idioma umutina e sua cultura. Para tanto, ingressou no curso de Letras no interior de São Paulo, na UFSCar, onde teria condições de elaborar uma gramática de sua língua. Como parte desse processo de resgate cultural, Ariabo está lançando a narrativa Boloriê: A Origem dos Alimentos (Estado de São Paulo, OESP, Caderno 2, p. C5).

Artesanato: Os homens preferiam os colares de dentes de onça e as mulheres colares de dentes de macaco ou conchas. Usam pequenas cabaças para as proteger dos espíritos maus.

Religião: Os Umutina não têm mais pajés para tratar as doenças, e a maioria deles eram considerados maus. Não usam tabaco ou bebida fermentada socialmente ou no ritual. Temem espíritos como a causa de doenças, e a carne de capivara e paca é evitada. Eles crêem que têm três almas, uma que vai para o céu, a segunda é encarnada em aves ou animais, e esta alma é subjeito de sonhos. Aves e animais de predileção nas casas são considerados portadores das almas de parentes falecidas.

No início da estação chuvosa, o tempo do ‘milho verde’, preparam a festa adoé que dura de 5 a 6 semanas, de 18 danças rituais. Cortem um terreiro de 25m por 30m na mata e constroem uma casa de palha em uma das extremidades para albergar os espíritos dos antepassados convidados, e somente os homens podem entrar. Na outra extremidade constroem uma casa de morada. Só os índios que assistiram os funerais de um parente nos últimos doze meses. Homens, vestidos em saias e capas de palha de buritizeiro, dançam e cantam representando os espíritos dos falecidos.

Cosmovisão: Os mitos contam sobre um ancestral Haipuki que deu a luz o primeiro casal Umutina. O Sol, Míní, é uma figura inteligente e às vez mau e a Lua, Hári, imprudente que tenta imitar as pericias de Míní e morre. O sol enrola a lua em uma esteira feita de palmeira buriti e deixa de lado, mas a lua renasce. A esteira tem o poder de ressuscitar os mortos. Os mortos são enrolados em uma esteira e enterrados dentro da casa e os parentes dormem em cima da sepultura.

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –http://instituto.antropos.com.br/
  • EQUIPE de edição da Enciclopédia, 2009, ‘Umutina’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/umutina/
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2015, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Eighteenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com