Xetá

David J. Phillips

Autodenominação:

Outros Nomes: Héta, Chetá,Setá (DAI/AMTB 210). Xetá, Héta, Chetá, Setá, Ssetá, Aré, Yvaparé e até Botocudo usado na fontes históricas. Héta é o único nome que é uma palavra da sua língua, que significa ‘muito’, mas não representa uma autodenominação (da Silva 1999).

População: 86 (DAI/AMTB 210), 86 (da Silva 2006). Acerca de 1960 eram praticamente exterminados e em 1999 restavam apenas oito (da Silva 1999).

Localização: Paraná, Santa Caterina, e São Paulo (DAI/AMTB 210). Antigamente da Serra dos Dourados, Paraná, mas hoje os sobreviventes vivem espalhados no estados de Paraná, Santa Caterina e São Paulo (Da Silva 1999). Terra Indígena Herarekã Xetá, Paraná, de 2.686 ha. entre o Córrego Duzentos e Quinze, o Ribeirão Tiradentes e a rodovia Ângelo Moreira da Fonseca (PR-186), de Mata Atlântica (100.00 %), identificada e aprovada pela FUNAI, subjeito a contestação, população de 159 inclusive Xetá (GT 2013).

Língua: Xetá. Português. Não há faladores de Xetá conhecidos (SIL). A língua é da família linguística Tupi-Guarani, no lado Guarani com parcialidade Mbyá em sua fonologia e léxico (da Silva 1999). Os dados colhidos por Aryon D. Rodrigues entre os índios da Serra dos Dourados de 1960 a 1962 e em 1967 revelam que se trata não apenas de uma língua da família tupi-guarani, mas de um idioma que se filia imediatamente ao grupo dialetal guarani (da Silva 1999).

História: Viviam no seu território tradicional da Serra dos Dourados, no noroeste do Paraná. Ocuparam a margem esquerda do rio Ivai e seus afluentes, o rio Indovivaí, o córrego Duzentos e Quinze , o rio das Antas, o Veado, o Tiradentes e o córrego Maravilha. Suas aldeias foram localizadas no córrego Duzentos e Quinze. Os Xetá contam que viviam como caçadores coletores, montando acampamentos onde tinha bastante caça, construindo tapiri pequeno forma de abóbada. Viviam em grupos que praticavam a coleta de frutos e raízes, de larvas de besouros e de abelhas, como também a produção de mel.

Por anos fugiram do avanço de colonização desde o fim dos anos quarenta. A fazenda Santa Rosa foi se instalado no seu território em 1952, nas imediações do córrego do Peroba, afluente da margem direita do rio Indoivai, próximo às atuais cidades de Douradina e Ivaté. Em 6 de dezembro de 1954, seis homens fizeram primeiro contato com o administrador da fazenda, e voltaram com suas famílias para permanecer na fazenda periodicamente. Em 1952 e 1953 foram capturados dois meninos Xetá pelos pelos agrimensores da Cia. de Colonização Suemitsu Miyamura.

Em 1955 o SPI organizou duas expedições de contato, acompanhadas pelos dois meninos capturados. No ano seguinte o antropólogo José Loureiro Fernandes, da Universidade Federal do Paraná, localizou duas aldeias na floresta. Depois isso não houve mais contato, exceto o grupo que frequentava a fazenda, mas a ocupação do território Xetá continuava por fazendas de gado, plantações de cafeicultura e companhias de colonização. Durante este tempo a população dos Xetá, estimada a 250 indivíduos, caiu devido ao contato com os brancos, por envenenamentos, infeções de gripe, sarampo e pneumonia, ataques como armas, queimas de aldeias e rapto de crianças.

Em 1955, o proprietário da Fazenda Santa Rosa, Deputado Estadual Antônio Lustosa de Oliveira propôs a criação de uma reserva de uma parte do território tradicional dos Xetá, que foi aprovada pela Assembleia Legislativa, mas foi vetada pelo governador. O antropólogo José Loureiro Fernandes propôs a criação de um Parque Nacional que incluiria a parte do território Xetá, que foi aprovado em 1961, com a criação do Parque Nacional de Sete Quedas. Mas a população foi reduzida a um total de oito sobreviventes, três mulheres e cinco homens.

Estilo da Vida: Os Xetá dizem que sua população antes de contato era acerca de 400 pessoas, que viviam em aldeias de uma família extensa chamada oka-auatxu (aldeia grande) e as malocas chamadas tapuy-apoeng. O modo de residencia depois casamento era patrilocal. Depois os ataques dos Kaingang e a frente de colonização os Xetá adotaram formar oka-kã, acampamentos pequenos, de tapuy-kã, casas pequenas, que eram temporárias devido às fugas.

Os sobreviventes se casaram com não índios. Hoje vivem assalariados, empregadores domésticos, servidores públicos e trabalhadores rurais. O solo do seu território depois do desmatamento provou ser muito arenoso e produziu um café muito pequeno.

Sociedade: Em 1997, o Instituto Socioambiental promoveu um Encontro Xetá. Os Xetá elaboraram um documento solicitando seu reconhecimento e reivindicaram a atenção da FUNAI, indenização financeira e em terra.

Construída pela Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) no bairro Campo do Santana, Curitiba, PR, a aldeia Kakané Porã foi entregue há oito anos para 35 famílias das etnias Guarani, Xetá e Kaingang que estavam vivendo em situação precária. Já adaptados ao contexto urbano, os índios se esforçam para manter elementos da sua cultura tradicional (Prefeitura de Curitiba). São aproximadamente 25 famílias dispersos pelos estados do Paraná, de Santa Caterina e São Paulo.

Artesanato: Usavam grande lanças em bambu, adornadas com penas de urubu para casar onças. Casam com arcos de 1,80 a 2 metros e flechas. As mulheres preparavam a corda em fibra de caraguatá e os homens fabricavam a madeira (Parellada 2015).

Religião: Os Xetá eram também chamados botocudos por conta do adorno labial, o tembetá, utilizado pelos homens após o ritual de iniciação. Este ritual ocorria próximo aos 10 anos de idade, o menino, com o rosto pintado com pigmento do jatobá, fica isolado por alguns dias em um jirau alto na casa cerimonial. Antes do ritual muitos alimentos e bebidos foram preparados. No ritual o tembetá era inserido abaixo dos lábios e o povo da aldeia canta cânticos homenageando espíritos representados em pássaros, conforme a hora do dia: ao amanhecer o cântico do surucuá, de dia o do urubu, e ao anoitecer o da jacutinga. Os instrumentos musicais dos Xetá são uma concha de caramujo, uma flauta pequena de bambu, com 8 cm de comprimento, outra flauta de três hastes de bambu. Depois o menino é lavado, recebe um novo nome e um colar de vareta de madeira cravado de pequenos dentes. Neste momento se torna homem e poderia usar arco de flecha, acompanhar as caçadas, tecer e participar de rituais (Parellada 2015).

A iniciação feminina era na ocasião da primeira menstruação, e a barriga da menina era pintada de vermelho e um parente fazia três incisões superficiais paralelas. Ela era isolada do grupo em um jirau no interior da casa cerimonial. Depois alguns dias a cabeça é lavada, recebe um novo nome e um colar de dentes (Parellada 2015).

Cosmovisão: Os Xetá esculpiam representações dos mõu ou espíritos maus de parentes mortos ou animais caçados, que podem causar doenças ou a morte. São feitas em cerume de abelha. Cabeças de aves eram usadas como amuletos contra os espíritos maus ou para atrair a boa sorte

Comentário:

Bibliografia:

  • DA SILVA, Carmen Lucia, 1999, ‘Xetá’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/xeta/
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –http://instituto.antropos.com.br/
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • PARELLADA, Claudia Inês (Curadoria). Exposição- Povo Xetá: Entre Arquelogias e Memorias, 3 Reunião da Sociedade Brasileira de Arqueologia, regional Centro-Oeste, Chapa dos Guimarães, Mato Grosso, abril 2015. https://www.academia.edu/12403928/Povo_Xet%C3%A1_entre_arqueologias_e_mem%C3%B3rias
  • SIL 2015, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Eighteenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com