Juruna — Yudjá

David J. Phillips

Autodenominação: Yudjá e se consideram ‘os donos do rio Xingu’.

Outros Nomes: Yuruna, Juruna. O nome Juruna significa, em Língua Geral, “bocas pretas”, porque a tatuagem características desses índios era uma linha que descia da raiz dos cabelos e circundava a boca.

População: 270 (DAI/AMTB 2010),348 (UNIFESP 2010)

Localização: Em quatro Terra Indígenas, MT e PA e dois grupos, um no PIX distante do território antigo no rio Xingu rio abaixo de Altamira, PA:

Parque Indígena do Xingu, MT, 2.642.004 ha, homologada e registada no CRI e SPU, com 16 etnias total 5.982 (SIASI/SESAI 2012).

T. I. Kapotnhinore, em identificação.

T. I. Paquiçamba, PA, de 4.348 ha, ma margem esquerda da Volta Grande do rio Xingu, no município de Senador José Porfírio. homologada e reg. CRI E SPU, com 95 Yudjá (FUNAI 2011).

T. I. Paquiçamba (ampliação), de 15.733 ha, declarada para incluir uma área do rio Xingu com as ilhas e uma faixa em redor da T. I., com 83 Yudjá (FUNAI 2008).

Língua: Juruna é única aviva da família linguística Juruna, tronco tupi. Jurúna, um falante na T. I. Paquiçamba (SIL). Os mais novos entendem português. Uso da língua é vigoroso no PIX. Outros nomes: Iuruna, Jaruna, Yudya, Yurúna (SIL).

História: Os Yudjá assemelham-se mais que os outros indígenas os nativos andinos estoicos do altiplano do Peru e da Bolívia e pode ter descendido destas civilizações. Os Yudjá são antigos habitantes das ilhas e penínsulas do baixo e médio Xingu, e por isso são canoeiros excelentes, e conforme Nimuendajú, a tribo mais importante do Xingu. Seu território tradicional é a Grande Volta do rio Xingu, entre Altamira e a boca do rio Fresco.

Na segunda metade do século XIX sofreram um catástrofe às mãos dos seringueiros, a sua população diminuiu de 2.000 em 1848 para 52 em 1916. Os sobreviventes fugiram rio acima. Outros povos, como os Peapaia, Arupaia e Takukunyapé, eram completamente dizimados. Um mito preserva a memória. Fugidos rio acima, travaram guerra com os Suyá (Kisidjê) e os Yudjá perderam sua autonomia. Com a ajuda de Constantino Viana, os Suyá sofreram um massacre, que possibilitou os Yudjá estabelecer uma aldeia de quatro homens e dez mulheres. Depois devido a um conflito interno dividiram e depois reuniram na aldeia de Tubatuba com 27 famílias e 121 pessoas. Com cônjuges de outras etnias a população no P I. Xingu em 2001 era 278 (Lima 2001).

Atingidos por uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo, Belo Monte, nem os Juruna nem as outras populações que vivem na Volta Grande do Xingu,ribeirinhos, agricultores, índios Arara, foram consultados sobre o projeto pelo governo federal. Em janeiro 2015, 150 indígenas, inclusive os Yudjá, protestaram e impediram as obras do Belo Monte. Os Juruna perderam a luta e a barragem será completa em 2015.

Estilo da Vida: Os Yudjá vivem em quatro aldeias, próximas ao Posto Indígena Diauarum, no norte do Parque Indígena Xingu. As aldeias têm uma Casa do Cauim que serve de uma cozinha coletiva e salão para as cauinagens, a cauim feito através da fermentação da mandioca ou do milho. O qualquer homem casado pode oferecer uma cauinagem com ‘dono’ em cumprir uma atividade coletiva, como uma pescada, caçada ou puxar uma nova canoa ao porto.

Sociedade: Os Yudjá formam grupos de parentelas bilaterais, liderados por um ‘dono’ ou capitão, o mais velho dos homens que são ‘donos’ de grupos domésticos. Estes são formados das relações entre mãe e filhos e entre sogro e genros. O casamento ideal é entre os primos cruzados. Primos paralelos são considerados consanguíneos.

Artesanato:

Religião: Os Yudjá gostam de beber. As mulheres produzam dois cauins de mandioca, o dubia e o yakupa (Lima 2001). O último é consumido diariamente mas o primeiro representa uma pessoa simbólica. O cauim dubia é ‘filho’ da mulher que o produziu e ao mesmo tempo a ‘carne da caça’ que espeta o coração de quem o bebe. Sua alma segue a trilha que leva à terra dos mortos, que habitam os rochedos na margens do rio Xingu. O yakupa é o cauim consumido diariamente, preparado da massa sobrando do dubia que é secada pelo sol num jirau.

Não existe mais pajés entre os Yudjá desde a década 80. Um ‘dono’ conta como ele tentou curar com um remédio, mas durante a pesca foi ameaçado por uma onça duas vezes, e por isso entendeu isso como um sinal de desistir de tentar reviver o trabalho de pajé. Mas desde 1987, algumas pessoas receberam poderes curativos dos curandeiros Kayabi para praticar em uma maneira limitada (Lima 2001).

Cosmovisão: A morte a a vida são dois estados que podem ser inclusivos, por exemplo uma pessoa pode ser morto entre os vivos mas ser vivo em outro lugar, ou vivo entre os vivos e morto em outro lugar. O mundo é formado de pares de coisas em oposição. O Céu é uma Terra aparecida à nossa, é oposição com a terra. O Rio é oposição com a floresta. Os dois lados dos pares são habitados. Os Yudjá na terra têm seus correspondentes os ãwã no leito do Rio. Os humanos e os mortos nos rochedos do Xingu. O Rio e o Céu são ligados à antropofagia. Os animais do mato em oposição com os isãnï no leito do Rio. Havia dois tipos de xamanismo um para tratar os morto no Céu e outro para tratar os na terra, e duas festas eram relacionadas com estes.

Comentário: Mário Juruna, era filo de chefe Xavante e na década de 1970, ficou famoso ao percorrer os gabinetes da FUNAI, lutando pela demarcação de terra para os índios, e foi eleito deputado federall 1983-1987. Homenageia os juruna, por tomar seu nome, que ao contrário dos Xavante, os juruna, eram amistosos desde o contato e foram companheiros fiéis dos irmão Villas-Boas. Faleceu 2002.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • LIMA, Tânia Stolze, 2008, ‘Yudja’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/yudja.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.