Tupinambá

David J. Phillips

Autodenominação:

Outros Nomes: Tupinambá de Olivença. Tamoio que vem de ta’mõi, que, na língua tupi, significa “avós”, indicando que eles eram o grupo tupi que há mais tempo viviam no litoral brasileiro.

População: 2.590 (DAI/AMTB 2010).

Localização: Na Bahia em duas Terras Indígenas separadas:

T. I. Belmonte, BA, de 9.521 ha na margem esquerda do rio Jequitinhonha, Identificada, aprovada pela FUNAI e sujeita a contestação, com 74 Tupinambá (SIASI/SESAI 2013).

T. I. Tupinambá de Olivença, BA, de 47.376ha, no litoral do sul da Bahia, Identificada e aprovada pela FUNAI, e sujeita a contestação, com 4.630 Tupinambá.

A vila hoje conhecida como Olivença fica no município de Ilhéus, no litoral sul da Bahia. É o local onde, em 1680, foi fundado por missionários jesuítas um aldeamento indígena. Desde então, os Tupinambá residem no território que circunda a vila, nas proximidades do curso de vários rios, entre os quais se destacam os rios Acuípe, Pixixica, Santaninha e Una.

Língua: Português. Nhengatu (Língua Geral) desenvolvida do Tupinambá pelos jesuítas e usado pelos Baré, Baniwa, Werekena e Arapaços e outros com a língua própria, no alto rio Negro e no rio Vaupés tomou o lugar e Tukano. É uma língua oficial em 2002, no município de São Gabriel da Cachoeira. Atualmente uns 8.000 falantes. Potiguára também desenvolvida do Tupinambá (SIL).

História: Os Tupinambá habitava dua regiões da costa Brasileira no século XVI, entre a foz do rio São Francisco até a Bahia de Todos os Santos e o litoral do atual Estado Rio de Janeiro até o norte do Estado São Paulo. Também conhecidos com Tamoios.

Por volta do ano 1000, índios Tupi vindo da Amazônia conquistaram a região ocupada por São Vicente (atualmente Santos), expulsando, para o interior, os seus habitantes anteriores, que eram chamados Tapuias. Os Tupi ocupavam a ilha de Gohayó. Chegaram em 1502 os portugueses e deu à ilha o nome de São Vicente, e aqui fundaram a primeira vila no Brasil em 1532, contra a resistência dos indígenas.

A Vila de São Vicente procurava escravos entre os indígenas para mão de obra nas plantações de açúcar. Acerca de 1560 três caciques Tupinambá formaram uma aliança com os Goitacá, Guaianá e Aimorés.

Os Portugueses construíram o forte de Bertioga, sob o comando de Hans von Staden. Os Tupinambá atacaram o forte muitas vezes, e Staden foi capturado mas libertado por intervenção dos franceses, aliados dos Tupinambá. Durante a liderança de Cunhambebe a revolta foi bem sucedida por décadas, mas ele morreu de varíola e a liderança da confederação passou para Aimberê, que comandava os tamoio da Bahia da Guanabara. Os Guaianá fizeram um acordo com os jesuítas, e a aliança enfraqueceu. Em 1567 os portugueses destruíram a França Antártica na Ilha do Governador. Em 1575 quando seu aliados franceses saíram para à França os Tamoios sobreviventes recuaram para o Cabo Frio. Quando os Tamoios renderam-se os portugueses não respeitaram a rendição e os mataram.

Os Tupi já ocuparam o sul da Bahia antes da chegada dos colonizadores, e a evidência arqueológica indica que estavam ali por uns 700 anos. Os Tupinambá de Olivença vivem na Mata Atlântica, uns dez quilômetros ao norte da cidade de Ihéus, no sul da Bahia. É local foi fundado pelos jesuítas em 1680, sendo aldeamento indígena chamada Nossa Senhora da Escada, o nome de um ídolo na beira do rio Tejo adorado por marinheiros. Em 1768, o Ouvidor da Bahia, reconheceu os índios que viviam na Vila Nova de Olivença eram Tupi. O aldeamento passou a ser regida pelo Diretório dos Índios. Os índios alternavam em viver na vila ou na mata até 15 quilômetros da vila. A metade viviam na mata mais longe da vila, fazendo visita sazonais à vila, e um terço permaneciam na vila e em redor onde tinham suas roças. No final do século XIX a população era 900.

As invasões do território aumentaram com o desenvolvimento das plantações de cacau. Nos anos 1920 e 1930 o processo de espoliação do território foi, detido pela atuação de um grupo indígena de resistência, conhecida como “a revolta de Marcelino”. Os índios que viviam no interior, na mata e nas serras acolheram e protegeram este grupo da perseguição policial e acabaram sofrendo violências para que denunciassem seu esconderijo. Os indígenas foram expulsos da vila e nas décadas 40 e 50 viviam nas área de mata. Quarenta anos mais tarde a perda de terras era tanto que era impossível abrir nova roças. Em 2001, os Tupinambá de Olivença foram reconhecidos como indígenas pela FUNAI. A demarcação do seu território concluiu-se em abril de 2009 e a FUNASA realizou um censo que estimou em cerca de 4.500 Tupinambá. Os grupos indígenas com os quais os Tupinambá de Olivença têm mais contato são os Pataxó Hã Hã Hãe e os Pataxó.

Estilo da Vida: Os Tupinambá vivem em pequenos assentimentos que chamam ‘lugares’, e conhecido como o lugar do homem principal ou quem fundou o lugar. Cada casa tem sua roça e sua independência no que diz respeito ao consumo e à produção. Também outros moram em ‘aldeias’ no processo do ‘movimento de retomada’ sua terra iniciada em 2003. As roças são plantadas com mandioca para produzir farinha, beiju e a bebida fermentada, ‘giroba’. A pesca é realizada nos rios e nas área de brejos, entre os rios e o mar. As mulheres tecem armadilhas de pesca chamadas jererê. Os Tupinambá pescam no mar e no manque. A coleta de caranguejo é uma atividade sazonal entre janeiro e abril. A caça é feita pelos homens.

Sociedade: A liderança da comunidade é determinada pelos homens que fundaram ‘lugares’. O casamento é por coabitação sem obrigações com ou da parte dos parentes do casal. A residência é patrilocal e quando os filhos nascem a avó paterna fica em reguardo. Os pais dar sustento em cuidar dos filhos porque os laços entre pais e filhos são tão intensos. Se haver uma separação conjugal a criança é considerada ser parte do ‘lugar’ onde nasceu e permanece com os avós. O beiju e a ‘giroba’, a bebida fermentada de aipim, são os alimentos que ‘faz’ dos bebês. Foi notado nos séculos XVI e XVII que os Tupinambá tomaram a giroba amornada.

Artesanato: Os Tupinambá dão muita importância a pintura corporal, pois é uma forma de afirmar sua identidade com uma comunidade indígena. Os desenhos passam de pai aos filhos e têm diversas significados de guerra ou festa. A coleta de piaçaba é a atividade extrativista mais importante. Com a fibra eles fabricam muitos artefatos como cesto, esteiras, cassuás, peneiras, e outros como pilões, cangas, flechas, lanças, colares e cocares (Viegas 2010).

Religião: As festas dos Tupinambá estão associadas a rituais católicos. A Festa do Divino Espírito Santo no final de mês de maio é importante para a reunião entre as pessoas que moram nos ‘lugares’ na Mata e na Vila de Olivença. A bandeira do Espírito circula durante um mês por todos ‘lugares’ da Mata. No encerramento da festa uma missa é realizada na igreja de Olivença. A Festa de São Sebastião em janeiro é também importante. A Festa da Puxada do Mastro é realizada, quando a árvore é derrubada uns três quilômetros da vila. O tronco é arrastado até a praça da cidade e fincado diante da igreja. Pedaços do casco da árvore são extraídos para promessas feitas a São Sebastião. Esta festa remonta á época colonial quando os jesuítas transformaram o antiga ritual indígena. Os indígenas têm muito razão se identificar com o santo mártir.

Em outubro realizam a festa da Caminhada em Memoria dos Mártires, que se lembra dos sofrimentos e repressões e massacres do passado, quando todos os Tupinambá se pintam para enfatizar a cultura indígena. Também os Tupinambá adortaram desde 2000 o Porancim, uma versão do Toré, praticado por outros indígena na Bahia e Minas Gerais (Viegas 2010).

Cosmovisão:

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com.
  • VIEGAS, Susana de Matos, 2010, ‘Tupinambá’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/tupinamba.