Xikrin – Put Karôt

David J Phillips

Autodenominação: Os Xikrin denominam-se Put Karôt; foi um grupo de Kayapó extinto, os Irã-ã-mray-re, que deram lhes o nome Xikrin. Os Kayapó são divididos: Mebengokre e Xikrin são os Kayapó setentrional e os Panará Nasepoti são o grupo meridional em Mato Grosso e no Pará. Todos os Kayapó se autodenominam-se mebengokré que significa ‘gente do buraco d’água’ ou ‘gente da água grande’ que se refere aos rios Araguaia e Tocantins. Os Xikrin que vivem ao longo do rio Bacajá não se chamam Put Karôt (Giannini 2001). Os demais Kayapó chamam os Xikrin Djore.

Outros Nomes: Put Karot (DAI/AMTB 2010). Os outros Kayapó chama os Xikrin de Djore. Outros nomes dados são Uxikring, Chicri, Purucarus e Purukarôt (Giannini 2001).

População: 1.343 (DAI/AMTB 2010), 1.818 (FUNASA 2010). Total Kayapó: 4.000 inclusive 469 Xikrin (SIL 1986).

Localização: Pará. Vivem em duas aldeias no rio Bacajá, near Altimira e no rio Catete (Turner 1993-Kayapofonte2).

T. I. Xikrin do Cateté, PA, de 439.151 ha nas margens do rio Itacaiuna, afluente do rio Tocantins, a foz perto de Marabá no município de Parauapebas, com 1.167 Kayapó Xikrin (SIASI/SESAI 2013).

T. I. Trincheira/Bacajá, PA, de 1.650.939 ha nas duas margens do rio Bacajá, no município José Porfírio, homologada e reg. com 746 Kayapó Karara e Xikrin (FUNAI 2011).

Língua: Kayapó é da família linguística Jê, tronco linguístico Macro-Jê. Comunicam bem com os outros grupos Kayapó e reconhecem a unidade maior das línguas Kayapó e também as diferenças. A grafia foi formulada pela SIL (Giannini 2001). Dialeto Xikrin (Diore, Xukru). Os nomes das aldeias são às vezes listados como dialetos. O uso da língua é vigorosa incluindo na educação primária. Alfabetismo em Kayapó 5%-10% uns 400 leitores e 100 sabem escrever (SIL). Uma gramática produzida e o Novo Testamento traduzido em 1996. Jovens falam portuguese (SIL).

História:
Conforme seus mitos os ancestrais dos povos Jê viviam juntos entre os rios Tocantins e Araguaia e dividiram quando começaram a falar línguas diferentes (Giannini 2001). Os Put Karôt ou Xikrin foram o terceiro grupo de Kayapó para atravessar o rio Araguaia no século XIX e ficaram nas matas do alto rio Itacaiúnas, afluente da margem esquerda do rio Tocantes com foz perto de Marabá. Eles atacaram não somente os seringueiros mas também os Kayapó Gorotire uns 150 quilômetros ao sudoeste no Xingu em 1935. Mas eles sofreram de uma epidemia e os Put Karôt e Djoré se juntaram. Eles atacaram os castanheiros e os colonos no rio Vermelho, afluente do Itacaiúnas, matando doze e os sobreviventes fugiram para Marabá. Antônio Pires Leal liderou um ataque de represália que matou 180 Xikrin. O resultado é que os Xikrin se dividiram, um grupo mudou-se para as cabeceiras do Itacaiúnas e o outro para noroeste no alto rio Bacajá, afluente do Xingu rio abaixo de Altamira. Durante a Segunda Guerra Mundial as hostilidades entre Xikrin e os seringueiros aumentou. Dorival Pamplona do SPI e Leonardo Villas Boas contaram os Xikrin no Itacaiúnas com os resultado que 180 guerreiros Xikrin se mudaram para o Posto Las Casas do SPI. Os Xikrin queriam as pazes com os brancos e outras aldeias foram visitadas (Hemming 2003.127ss).

O grupo no alto rio Bacajá continuou a atacar os colonos, mas Francisco Meirelles os contatou e eles foram mudados para um Posto abandonado perto de Altamira. Os outros no leste dividiram, alguns foram de volta ao rio Cateté, outros formaram a Aldeia da Boca no foz do rio Itacaiúnas onde foram explorados pelos branco e as mulheres tornaram-se prostitutas (Hemming 2007.130). A população Xikrin que, em 1985, era de 472 indivíduos, 304 na área Cateté e 172 na área Bacajá, contava em 2001 com 1052 indivíduos, 690 no Cateté e 362 no rio Bacajá (Giannini 2001).

Estilo da Vida:
As aldeias estão na forma de um círculo de casas em redor de uma praça central que têm a casa dos homens. Os Xikrin do Cateté vivem em duas aldeias, uma chamada Pukatingró na margem esquerda do rio Cateté e a outra, Djudjê-Kô, fundada em 1993, com solo fértil para as roças e rico em caça e peixe. O Posto da FUNAI é situado ao lado da primeira. Esta terra é banhada pelos dois rios Cateté e Itacaiúnas e a mata é de terra firme chamada ‘mata de cipó’ com uma abundância de pés de mogno e castanheiras e babaçu nas clareiras e buriti nas pantanais. Os Xikrin do Bacajá vivem em duas aldeias à margem esquerda do médio rio Bacajá, uma área de mata densa.

Os Xikrin possuem um grande conhecimento da fauna e flora, e dos ecossistemas no seu meio ambiente. Eles perambulam pelo território para diversificar a dieta, providenciar alimentos para as cerimonias e assim manejar o ambiente. Coletem as coités, fruto do Crescentia cujete, para fabricar as maracás cerimoniais, plantas medicinais, fibras, cera de abelha, penas de aves e almécega (fruta de Protium heptaphyllum) para produzir breu-branco-verdadeiro. Coletam também a castanha do pará, o coco babaçu, palmito, açaí, bacaba, frutão e larvas (Ginnini 2001).

Consideram-se em primeiro lugar caçadores e as caças prediletas são anta, a queixada o veado, o caititu, a paca, a cotia, o jabuti e o tatu. Pescam no inverno com linha e anzol e tinguijada no inverno. Entretanto a pesca na TI do Cateté está sendo prejudicada pelos garimpeiros e as fazendas na área das cabeceiras, que estão fora das TI, porque a conservação da mata ciliar não é respeitada provocando seu assoreamento (Giannini 2001).

Fazem a broca a derruba das roças em maio e junho e a coivara e o plantio em outubro. Na roças plantam batata doce, inhame, macaxeira, milho, abóbora, mamão, banana e algodão. A capoeira das roças abandonadas providenciam produtos como urucum e lenha.

Em 1991 os Xikrin do Cateté retomaram controle da sua Terra contra as invasões de garimpeiros, castanheiros, madeireiros e fazendeiros e em 1995 criaram a Associação Bep-Nói para manejar a exploração dos produtos florestais. Os Xikrin do Bacajá fazem anualmente a coleta de castanha do pará e vendem em Altamira, facilitada pela FUNAI que supre o equipamento e faz a venda. Porém devido ao baixo preço da castanha esta atividade não renda muito. A extração de madeira ilegal produz uma renda para os índios, mesmo que eles são conscientes da danificação da floresta e da caça.

Sociedade:
Na sua cultura os Xikrin enfatizam a audição e a fala e por isso perfuram, logo na infância, os orelhas e os lábios, para facilitar à aquisição do conhecimento e a oratória muita valorizada. Dizem que eles falam bem – kaben mei (Giannini 2001). O grupo doméstico é a unidade social básica. As caças e as roças pertencem às mulheres que vivem toda suas vida na mesma casa. Por isso residencia dos casados é uxorilocal. As mulheres organizam o plantio, a colheita, o preparo do alimento e fornecimento da lenha e água, e fiam o algodão. Dedicam grande tempo à pintura corporal.

O chefe da aldeia é da mesma família, passado do pai ao filho. A liderança é por ter conhecimento dos rituais, cantos, e práticas da vida cotidiana e de guerra, e por meio do discurso. Os homens são divididos em secções de idade. Os homens caçam e pescam como indivíduos ou em grupos. Eles confeccionam da maior parte dos ornamentos corporais, cestaria, esteiras, instrumentos musicais, bordunas, arcos e flechas (Giannini 2001).

Um Xikrin pode receber trinta e cinco nomes durante a vida, que relacionam o homem para com os ancestrais e com a natureza.

Artesanato: As mulheres Xikrin produzem uma maior quantidade de óleo de babaçu, para trocar por penas de aves com outros Kayapó.

Religião: As festas envolvem os homens acampar na mata por uns quinze dias para caçar, coletar frutas ou pescar enquanto as mulheres ficam na aldeia para preparar a farinha de mandioca e coletando cachos de bananas. A Festa Bonita (merêrêmei) se realiza com as primeiras chuvas A festa da mandioca (kworokango) foi adotada dos Juruna. A iniciação dos rapazes é quando eles se submetam a uma variedade de provas, por exemplo brigar cotra um ninho de marimbondos, duelos com espadas pesadas e corridas. O xamã é um individuo que é transportado ao espaço celeste e tem sua nuca perfurada por um gavião real, e se torna um mediador entre o mundo dos homens e dos animais (Giannini 2001). Evangélicos são 35% entre todos os Kayapó, outros são católicos.

Cosmovisão:

O mundo se divide em a terra, o céu, mundo aquático e o mundo subterrâneo. A terra é dividida entre clareira e floresta. A clareira, a aldeia e as roças, é o lugar da humanidade, do social, de parentesco e aliança, a socialização. A floresta é o lugar da agressividade, inimigos, e a caça que deve ser extraída somente conforme as regras para não irar o dono das animais.

O centro do mundo é representado pelo maracá e pelo pátio ou praça da aldeia circular. Dançando em movimento circular que acompanha a trajetória do sol, com o som do maracá é para remontar ao tempo das origens míticas, e assim recriar a energia cósmica para manter a estabilidade do meio ambiente e suportar a vida da comunidade.

Comentário: Guerreiros Kayapó mataram três obreiros da UFM (atualmente MICEB) em cima da cachoeira de fumaça, no rio Fresco, afluente do Xingu em 1935.Depois outros missionários desta missão, inclusive Horace Banner, começaram ter contato com os Kayapó e trabalhara entre o povo. Earl Trapp da Crossworld (ramo norte americano da MICEB) continua um ministério de treinamento e tradução para com a igreja Kayapó. A tradução em Kayapó do Novo Testamento começou em 1959 e completada em 1996 e dedicada em1997 em São Felix Do Xingú. Vinte sete aldeias têm congregações evangélicas.

Bibliografia:

  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • GIANNINI, Isabelle Vidal, 2001, ‘Xikrin’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo-xikrin
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com