Kaingang

David J. Phillips

Autodenominação: Kanhgág; Kaingang (Tommasino e Fernandes 2001). Kaingang começou a ser usado pela sociedade nacional no século XIX.

Outros Nomes: Foram dados diversos nomes: Caingang, Coroados.

População: 25.875 (SIL), 28.000 (DAI/AMTB 2010), 33.064 (Funasa, 2009) que inclui pessoas morando em áreas urbanas e zonas rurais fora das 33 Terras Indígenas (Tommasino e Fernandes 2001). As aldeias maiores são Guarita (RS) 6.100, Nonoái (RS) 2.100 e Xapecó (SC) 2.900.

Localização: Em 2003 houve 30 aldeias em quatro estados: São Paulo – 3 com 105 pessoas; Paraná – 11 com 8.540 pessoas; Santa Caterina – 5 com 3.940 e Rio Grande do Sul – 12 com 16.555. Total 29.140 pessoas (Portal Kaingang). Os Kaingang habitam 45 Terras Indígenas (Tommasino e Fernandes 2001).

Em São Paulo ao norte do rio Paranapena estão 3 T. I.

Paraná entre os rios Paranapena e Iguaçu 9 T. I.

Santa Catarina entre os rios Iguaçu e Uruguai 8 T. I.

Em Rio Grande do Sul ao sul do rio Uruguai são divididos conforme seu dialeto: ao leste do rio Passo Fundo estão em 5 T. I. que falam o dialeto sudeste e em mais 7 T. I. que falam o dialeto sudoeste e outros espalhados ou urbanizados (SIL).

São distribuídos em 26 Terras Indígenas administradas pela FUNAI (Fernandes et al 2010).

Língua: Kaingang da família linguística Macro-Jê, Jê-Kaingang. Cinco dialetos: Kaingang Paraná, Central, sudoeste, sudeste e de São Paulo que é extinto. Os adultos de mais de 40 anos usam português (SIL). Um dicionário Kaingang – Português produzido e o Novo Testamento foi traduzido em 1977 e revisado nos anos 90 (SIL). Os Kaingang representam 40% dos povos de língua Jê (D’Angelis e Veiga 2003). As outras línguas Jê são os Xavantes, os Xerente, os Kayapó, Apinajé, os Krahó, os Suyá e os Xokleng.

História: Os Kaingang viviam nas chapadas de uma vasta região, que atualmente é a região do sul e sudoeste de São Paulo, Paraná, Santa Caterina e parte da Província de Misiones na Argentina (D’Angelis 1999). Viviam dos campos antigamente, mas eram forçados mudar para os matos na cabeceiras do rios Iguaçu e Uruguai no central do que é atualmente o Estado do Paraná. Os índios desta região, chamada Guaira pelos Portugueses, primeiramente conheciam os brancos pelas missões jesuítas, vindo do Paraguai, no século XVII. Montaram aldeias às margens dos rios que descem para rio Paraná no oeste, como o rio Iguaçu. Em 1631 quando os Paulistas começaram enviar expedições para região e escravizaram os indígenas, os jesuítas saíram levando seu índios com eles. Em 1767 os Paulistas mandaram bandeirantes para segurar a região para a Coroa Portuguesa (Hemming 1995.109s). Em 1687 os Jesuítas voltaram e estabeleceram Sete Povos ou aldeias entre os índios no atual Rio Grande do Sul. Com o Tratado de Madri esta região passou para Portugal e os planaltos de Santa Caterina e Rio Grande do Sul ficaram abertos para a criação de gado e plantar cafeais pelos portugueses. Os Jesuítas resistiram por algum tempo.

Os Paulistas descobriram a chapada de Guarapuava em 1770 e tropeiros começaram a fundar povoações na área. Eles foram atacados pelos índios Kaingang e Xokleng. Os Paulistas resolveram obrigar estes índios ‘Coroados’ sair ‘das florestas e viver conforme a ordem cristã’. Cedo no século XIX (1810-28) aldeamentos católicas foram estabelecidos entre alguns dos Kaingang, mas os índios depois pouco tempo voltaram para a floresta. Depois isso foi a pratica quando índios foram descobertos carregando armas eles foram escravizados (Hemming 1995.109s). Em 1819, José Bonifácio, voltado ao Brasil depois de 35 anos de exílio, vendo a situação dos Kaingang e outros povos, protestou contra seu tratamento e escravidão, e reconheceu que os colonizadores eram usurpadores da terras dos índios (Hemming 1995.165).

Os Kaingang eram conhecidos de ser guerreiros agressivos e bom caçadores, e os Kaiowa que migraram para o leste sofreram ataques da parte deles. Os brancos continuaram seu avanço de colonização para o sul. Uma tática dos colonos foi provocar alguns Kaingang contra outros, que causou reprisais contra os povoados em Santa Catarina (Hemming 1995.435). Os chefes (põ’í ou rekakê) que aceitaram se aliar aos brancos (chamados fóg) foram fundamentais em pacificar do Kaingang entre 1840 e 1930 (Tommasino e Fernandes 2001). A aldeia Noronái foi estabelecida em Rio Grande do Sul mas em pouco tempo ficou cheia de reféns de Kaingang e dos seus inimigos Guarani, e com o aumento da população ficou sem terras adequadas para suportar a caça adequada. Isso resultou em conflitos (Hemming 1995.437).

A maioria dos Kaingang eram reduzidos e aldeados durante os século XIX, mas deixando os que viviam na bacia do Tietê SP ainda isolados. Os governo construiu uma estrada de ferro no território Kaingang, que foi atacado, mas a maioria dos índios morreram por uma epidemia de gripe em 1912 e 1913. Foi a ocasião da fundação do SPI. No Paraná os últimos grupos de 125 pessoas eram contados e aldeados (Tommasino e Fernandes 2001). Afinal os últimos grupos eram reduzidos perto dos rios Feio e Aguapei em 1912 (D’Angelis e Veiga 2003).

Ursila Wiesemann (SIL) começou a trabalhar entre os Kaingang em 1958 e foi responsável pela analise da língua Kaingang e pela implantação da escrita dessa língua e na década 70 fundou uma escola de professores Kaingang e o ensino bilíngue em todas as escolas kaingang, as crianças aprendem a escrita Kaingang no primeiro ano. Infelizmente SIL foi expulso do Brasil em 1977 por dois anos.

Os índios ganharam resistência às doenças alheias, mais médicos brasileiros se dedicaram aos indígenas e uma vacina contra sarampo foi administrada durante os anos 70. Os indígenas receberam cursos de medicina preventiva e higiene. A assistência médica dos missionários era melhor do que a do governo (Hemming 2003.434). A população Kaingang era estimada de 25.875 em 32 T. I. em 2003 (Tommasino e Fernandes 2001).

Porém uma problema maior era a invasões das Terras Indígenas, especialmente no sul. Os Kaingang era aculturados no meio de zonas agriculturais. Suas terras ainda tiveram o pinheiro de Paraná, cobiçado pelos madeireiros, e pelos governos do Paraná, Santa Caterina e Rio Grande do Sul que conseguiram reduzir as Terras e famílias de Kaingang foram expulsas para as cidades acampar nas ruas e em baixo de pontes, e sofrendo violência e atitudes racistas (Hemming 2003.436-439). Os Kaingang tentaram usar protestos pacíficos, mas em 1978 780 Kaingang e 400 Guarani revoltaram com armas para expulsar colonos da Terra Rio das Cobras (PR), e depois em Nonoái (RGS) e conseguiram. Os colonos eram pobres que também sofreram por causa das promessas ilegais e foram mudados para Mato Grosso (Hemming 2003.440). Um ativista Kaingang, Ângelo Kretã, conseguiu entrar na política e reconheceu que os Kaingang podem ter seu direitos e sua identidade no Brasil moderno sem um avivamento cultural tradicional; tornou-se o líder de 9.000 Kaingang, mas foi morto em 1980. Durante os anos 90 os Kaingang e Guarani recuperaram a maior parte das suas terras perdidas (Hemming 2003.442).

Estilo da Vida: É possível que os antepassados dos Kaingang construíram casas meio subterrâneas, com uma profundidade de 2 a 6 m. nos primeiros séculos da era Cristã. A evidencia arqueológica é que muitos viviam solitários e outros em pequenos assentimentos de até trinta habitantes. Acerca de 1500 eles adotaram a construção de casas de superfície (D’Angelis e Veiga 2003.9). Mais tarde construíram malocas de forma ogival, retangulares feitos de ramos em duas fileiras e amarradas em cima, e cobertas de folhas de palmeiras. O chão era de terra batida inclinando para o centro com camas de casca de árvore. O fogueira estava no meio na parte do chão mais baixo (D’Angelis e Veiga 2003.12). Quando a casa ficam inabitáveis por o qualquer motivo foram queimadas e uma nova construída. Mas quando acampam em expedições de caça erguem um simples tapiri de uma água, etc.

Os Kaingang em aldeias moram em casas espalhadas próximas as roças de cada família. As famílias extensas formam um núcleo com as casas dos genros ao lado da casa do sogro, próximas as roças do sogro. Perto da moradia do sogro é uma pequena Casa do Fogo onde os velhos passam parte do dia, recebem visitas, contam as estórias dos antigos e consomem a erva mate. Aqui também guardam os produtos das roças. As casas dos Kaingang são feitas de diversas materiais, conforme a economia da comunidade. Hoje em dia, muitas vezes, as casas estão agrupadas em fileiras semelhante às vilas brasileiras de casas de padrão construídas pelo SPI ou pela FUNAI. Às vezes estas eram construídas pelos madeireiros, combinado com o SPI ou a FUNAI, em compensação do ‘direito’ de tirar madeira do território (D’Angelis e Veiga 2003). Algumas foram construídas alongo de estradas que hoje são asfaltas e movimentadas.

A agricultura é o elemento fundamental da economia, mas ainda os Kaingang caçam de arco e flechas, mas não usam mais armadilhas. Cultivam milho, moranga e abobra, e palmito, etc. Fazem farinha e uma bebida fermentada de pinhão coletados na florestas araucárias. São coletores de mel, erva mate, larvas de insetos. A pesca é importante para os Kaingang usando paris e conservam o peixe pela defumação.

Os homens providenciam a caça e a pesca e os instrumentos para ganhá-las. Brocam as roças e fazem a coivara, constroem as casas. Fazem a coleta dos fruto da floresta e mel que necessita mais trabalho físico. As mulheres plantam e colhem das roças, preparam os alimentos e colhem frutos acessivos no mato, inclusive as larvas. Cuidam das crianças, fabricam as cerâmicas e a cestarias, tecem redes e roupas (D’Angelis e Veiga 2001).

Artesanato: Os Kaingang fabricam tecidos, cabaças, cerâmicas, e arco e flechas. Seu corpos são enfeitados com desenhos que refletem sua cosmologia dualista e a metades sociais (veja em baixo). Usam seus instrumentos nas festas dos mortos como buzinas de chifre, flauta de taquara, maracás e apitos e também os instrumentos importados dos brancos como violão e acordeão (Tommasino e Fernandes 2001).

Sociedade: Os Kaingang são diferentes dos outros povos Jê em não conceituar a sociedade em dualismos de indivíduo – comunidade, masculino – feminino, dentro e fora, etc. e não construíam sua aldeias em circulo conforme estes dualismos. Eles se dividem em duas metades exogâmicas chamadas Kamé e Kairu que têm duas secções. Os Kamé se relacionam com o oeste e usam a pintura facial com motivos compridos ou de listas e têm duas secções Kamé e Wonhétky. Os Kairu estão relacionados com o leste com pintura redonda ou de pontos e têm secções Kairu e Votor. Os últimos secções têm certos funções cerimoniais e funerários para com os outros. Uma pessoa pertence a metade e secção do seu pai, e recebe um nome apropriado desta divisão. Os membros da sua metade são chamados ‘primos’ e da outra metade são ‘cunhados’ (Veiga 1994). As comunidades têm um cacique que trata as relações externas e um ‘capitão’ para a liderança interna da comunidade.

Religião: As secções dos Kaingang têm funções cerimoniais bem definidas. O ritual mais importante dos Kaingang é o Kiri ou Kikikoi que é o culto aos mortos, realizado entre janeiro e junho. Porém é quase não observado hoje, senão apenas na Terra Xapecó (SC) (Tommasino e Fernandes 2001). O Kiri é solicitado pelos parentes de mortos das duas metades que faleceram no ano ou anos anterior. Três datas são observadas por acender fogos na praça dos fogos, no terreno do organizador, e os rezadores reúnem entoando cantos. Depois o primeiro ‘fogo’ um pinheiro é derrubado e o tronco serve como o konkéi, vasilha onde é colocada a bebida chamada Kiki à base do mel que é consumada (Fernandes et al 2010).

Dois meses depois na ocasião do terceiro ‘fogo’ os rezadores permanecem em redor das fogueiras cantando e determinadas mulheres, as péin, realizam as pinturas para proteger os participantes dos espíritos da metade oposta (Fernandes et al 2010). Os péin entre dos Kamé e Kairu fazem os rituais, as sepulturas e do resguardo de luto que fazem pela outra metade. Péin significa ‘carregar terra’, que o mito diz que fizeram para forçar as águas do dilúvio primeval recuar. Hoje elas levam a terra para encher a cova do sepultamento. Os Votor e Wonhétky são os rezadores (Veiga 1994). As mulheres servem o kiki que os rezadores devem beber de mais, e a noite passa com uma competição de canto entre as duas metades.

No dia seguinte cruzes são buscadas das casas dos falecidos e levadas ao cemitério e cada metade reza para o morto da metade oposta e certas mulheres tiram o capim que representa o pecado dos falecidos (Fernandes et al 2010). Os mortos estão enterrados com os pés voltados para o oeste na direção do mundo dos mortos. Alguns dizem que os Wonhétky, a secção mais baixa do Kamé, no passado não são podem ser enterrados no cemitério porque ‘comem os mortos’. Atualmente as secções estão enterradas juntos. Há um cruzeiro ao leste. Os Kairu estão enterrados na parte sudeste e seus Votor ao norte na parte nordeste. Os Kamé atras os Kairu (sudoeste) e os seus Wonhéttky ao norte deles (noroeste). Uma rua divide as covas das metades do oeste para a cruz no leste (Veiga 1994). O final do ritual é quando todos voltam para a praça dos fogos para dançar e consumir a bebida no tronco. Quando este é vazio é virado e todos o batem com paus.

Cosmovisão: Conforme o mito dos Kaingang havia um grande dilúvio no passado primeval e depois dois irmãos míticos, Kanerú e Kamé, que saíram do chão da serra, criaram os animais. A origem das metades foi quando os dois irmãos criaram suas gentes. Outra versão do mito fala de quatro povos, os dois com mais pessoas, um era os Kaingang, que estabeleceram uma aliança, e o quarto, os Kurutu ou ‘escravos fugidos’ ou cativos indígenas. Os quatro foram incorporaram em um só povo, que explica as secções. Os homens destes grupos buscaram mulheres dos Cayngans, que eram os Xokleng segundo Veiga (Veiga 1994).

Todos os objetos do mundo natural são associados com os dois irmãos e suas metades, conforme as características. A origem do mundo é indicada pelas excepções de não ter as caraterísticas das metades, os aspectos do mundo que são o céu, a terra, o fogo e a água não são associados com as metades. Todos os animais e árvores são associados com as metades. Alguns animais não são classificados. O que tem uma natureza redonda é Kairu (ror = baixo) e compridos são Kamé (téi = alto). Até a língua tem verbos diferentes para carregar objetos ror ou téi (Veiga 1994).

As metades e as caraterísticas delas na natureza são complementárias. Os rituais do Kiki distinguem entre os gêneros, certos papeis são para os homens e outros para as mulheres e são considerados complementares, os homens representam o centro e as mulheres a periferia (Fernandes et al 2010).

Comentário: Depois os jesuítas o padre Francisco das Chagas Lima trabalhou entre os Kaingang durante os anos 1810-28, tentando convertê-los ao catolicismo. Ursula Wiesemann foi o primeiro membro alemão da SIL e um dos primeiros no Brasil. Desde 1958 até 1978 ela trabalhou entre os Kaingang. Depois trabalhou como professora linguística em Benin e Camarões. Durante a década 90, voltou ao Brasil diversas vezes para fazer a revisão do Novo Testamento Kaingang. Escreveu muitos artigos em quatro línguas e da suas experiencias entre os Kaingang em seu livro: Die Indios, meine Freunde: Als Frau unter sudamerikan Indianern (Os Índios Meus Amigos: Como Mulher entre os Índios Sul americanos). Gloria E Kindell trabalhou também entre os Kaingang.

Acera de 1953 a Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) começou a trabalhar entre os Kaingang. Tentativas eram iniciadas por Lyle Denelsbeck e Gordon Strongitharm perto de Laranjeiras do Sul – Paraná, no Posto Boa Vista. Floyd Gilbert tentou perto de Xanxere – Santa Catarina e afinal Alton Cothron conseguiu bons relacionamentos perto de Nonoai – Rio Grande do Sul. Timothy e Faith Brennan construíram uma casa perto do Posto com contatos frequentes com os índios. Os Brennan preparam programas de rádio, transmitidas pela Rádio HCJB, escutadas pelos Kaningang com rádios. Traduziram o programa bíblica do ensino cronológico e estão esforçando completar a tradução do Velho Testamento. O dicionário foi compilado por Timothy Brennan. Um livro de cânticos cristãos foi compilado por Wiesmann e os índios estão preparando outro livro de músicas étnicas. Os missionários da MNTB Suzana do Valle e Ray Miller E Luciana Conceição, trabalham na aldeia Bananeira onde (719 índios). Há 50-60 índios crentes. 100 pessoas estão estudando o estudo cronológico (MNTB). A JMN da Convenção Batista trabalha com este povo.

Bibliografia:

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  • D’ANGELIS, Wilmar da Rocha e VEIGA, Juracilda, 2001, ‘O trabalho e a perspectiva das sociedades indígenas no Brasil’ acessado: www.portalkaingang.org/trabalho_indigena.pdf
  • D’ANGELIS, Wilmar da Rocha e VEIGA, Juracilda, 2003, ‘Habitação e Acampamentos Kaingang’ CADERNOS DO CEOM, Chapecó: Unochapecó/Argos, 2003, n. 18, p. 213-242. Acessado www.portalkaingang.org
  • FERNANDES, Ricardo Cid, ALMEIDA, Ledson Kurtz de, SACCHI, Angela Célia, 2010, ‘Casa e Ritual: um estudo sobre os papeís de gênero na construção da sociabilidade Kaingang’ Ciudad Virtual de Antropologia y Arqueologia es un emprendimiento del Equipo NAyA. Acessado: www.naya.org.ar/articulos/etnias03.htm
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