Candoshi e Chapara do Peru

David J Phillips

Nome Próprio: Candoshi e Chapara. O nome ‘Candoshi’ refere ao povo Candoshi e à sua língua, também falada pelo Chapara. Os dois povos chamam o qualquer indígena por este nome. Os mestiços peruanos referem ao Candoshi como Muratos, mas estes eram um povo da mesma localização que agora é extinto.

População: 3.000 (1981 SIL); Os dois povos: a.1950: 2.000, a.1980: 3.000 (Tuggy).

Localização: Território na terra firme entre o Rio Morona e o Rio Pastaza, afluentes do Rio Marañon no departamento de Loreto, Peru. Os Candoshi moram nos afluentes do Rio Pastaza e os Chapara nos afluentes do Rio Morona. O governo criou um território indígena para os Candoshi que é suficiente para sustentar a população atual; porém com o crescimento da população este não será suficiente.

Língua: Candoshi-Shapra; dois dialetos: Chapara e Kashoashi. 88% fala espanhol. Alfabetizado: 10-30% na própria língua, 15-25% em espanhol. Dicionário e Novo Testamento completos em 1993 (SIL). É a língua isolada na região.

História:
Possivelmente os Candoshi migraram da região montanhosa do Cajamarca, uns 600 km a oeste; ‘são uma anomalia na sua local atual’ disse Tuggy. Tinham contato com missionários católicos no século 18. Estão cercados em todos os lados por grupos dos Jivaro, e os Javiro Ashuar os ensinavam obter o poder dos espíritos e encolher as cabeças dos inimigos. No início do século vinte a população era acerca de 10.000, e ate então eles não possuíram ferramenta de aço para roçar. Depois de obtê-las, eles tinham mais tempo para as guerras de vingança entre as famílias, resultando na matança dos homens e a captura das mulheres, e quase exterminaram a sua população. Praticaram o canibalismo dos inimigos. A guerra era constante entre se mesmos e contra os Ashuar, e depois 1930 a guerra era mais intensa com armas de fogo, supridas pelos patrões de borracha, e isso diminui severamente a população. A escravidão de alguns jovens provocou uma guerra com o exercito peruana; e uma epidêmica de sarampo reduziu os Chapara para 100 pessoas.

Em 1950 o SIL fez contato com os Chapara, e porções do Novo Testamento foram traduzidas; os obreiros passaram cinco anos de convivência nesta época. Os Candoshi identificaram o Deus Cristão com seu criador Apanchi (nosso Pai) e Jesus com o filho dele. Alguns começaram a obedecer ao ensino da Bíblia, e um chefe recusou vingar sua aldeia depois um ataque, que matou dois. Esta noticia encorajou um desejo para a paz, e mais pessoas queriam aprender o ensino Cristão, e em vinte anos cessaram as guerras.

Escolas bi-linguais abriram e cursos normais para professores trouxeram os inimigos juntos e houve reconciliação. A Occidental Petroleum Corp. invadiu o território em 1995 e os Candoshi pediu que saísse. Petróleo contaminou o Marañon e outros rios da região em 1999, 2000 e 2002, e estragou plantações e o suprimento substituto de alimento, etc. pela companhia não era suficiente. Living Water International construiu nove poços para combater infecções na água em 2008 (Head 2009). O World Wildlife Fund estabeleceu em 2006 um Projeto com 28 comunidades de Candoshi para conservar a pesca no Lago Rimachi.

Estilo de Vida:
Os Candoshivivem em comunidades de famílias estendas de acerca de 150 pessoas, com as casas de famílias nucleares separadas por jardins ao lado do rio. As casas têm telhados de palhas mas sem paredes, cada uma para uma família nuclear. Depois de casar as filhas estabelecem uma casa perto. A distância entre as comunidades é de dois ate cinco horas de viagem a pé. Grupos inimigos estavam um dois ou mais dias distantes. Os homens caçam, constroem as casas e fabricam os cestos, as mulheres plantam e são responsáveis para os jardins. Os Candoshi plantam as diversas plantas em áreas separadas, conforme seu entendimento das necessidades das espécies diferentes e a micro ecologia nas diversas partes das rocas (Stocks 1983). Os homens e as mulheres preparam as roças juntos.

Plantam banana, mandioca, batata doce, e milho, e arroz. Fazem comércio nos mercados das cidades no Rio Marañon com arroz e peixe salgado, mas a transporte aos mercados é cara. As companhias de petróleo na região compram produtos do povo. A cerâmica e cestaria produzem uma renda ocasional. Comerciantes colombianos é a fonte para artigos do mundo de fora.

Sociedade:
Descendência é bilateral e os filhos herdem do pai e as filhas da mãe. Os descendentes dos avos são considerados parentela (maachirita), mas os filhos pertencem ao pai. A sociedade é igualitária no sentido que cada família é independente e o pai é a autoridade, e decisões são feitas por consenso. A independência do homem, chefe da sua casa é muito respeitada. A unidade social é um casal com seus filhos não casados. Tias podem ser consideradas parentela e morar com a família. Um dos homens é escolhido como chefe para manter a paz entre as famílias e com outras comunidades. Antigamente as mulheres eram sujeitas aos homens, e até ameaçadas com a morte. Os avos contam as histórias do povo às crianças, mas o pai é responsável por treiná-las. As horas da madrugada é a oportunidade de contar às crianças e conversar em geral.

Aos sete anos de idade uma moça torna se responsável para seu jardim, a sua competência indica que está pronta para se casar. O rapaz tem que demonstrar sua habilidade de pescar e caçar sozinho. Antigamente as mulheres cativas tornararam-se esposas do guerreiro. Hoje 20% dos homens têm duas esposas. A troca de irmãs em casamento é considerada o ideal, um jovem sem irmã trabalha para seu sogro por alguns anos. O casamento entre as pessoas com o mesmo avo é incesto. Os dois pais decidem o casamento e aconselham o casal, e assim o casamento é realizado. A esposa é tratada como ‘minha serva’ ou ‘minha cachorra’, mas a última pode ser uma expressão de carinho, no sentido de ‘companheira fiel’. O homem pode ter o poder de vida e morte sobre sua família. A infanticida é praticada até a década 50 para ter um número igual de filhos e filhas. Agora as filhas de mais se tornam segunda esposas.

O sexo pré-marital e o adultério são punidos pela morte ainda hoje. A penalidade do assassinato é a morte pela comunidade. Os órfãos e as viúvas não recebem afeição e são tratados como escravos domésticos da esposa, e trabalham para receber comida e roupa e muitas vezes estas crianças morrem por negligência.

A explicação medical de doenças é conhecida, mas nem sempre aceita; porém a medicina moderna é preferida, mas medicinas das ervas são usada e se não curar um pajé ainda é consultado.

Religião:
Os valores do Candoshi incluem o ‘bom’ (vanasiri) é tudo que é bem feito, de boa aparência, felicidade, caridade, honestidade e tudo contribui para a vida. O feio, coisa quebradas, a embriaguez, a violência, a morte, a matança de guerra não são bom. Porém vingar de um assassinato de um parente é bom. O mal (yotarita) é a violência, inveja, ódio, sexo ilícito, roubo, a tortura de prisioneiros na guerra. O ‘feio’ (mantsiri) inclui o mau caráter e comportamento de pessoas (Tuggy 2009).

Os espíritos maus (yashigo), que moram em arvores, pairam no vento, ou viajando na tempestade, são a causa de doenças e da morte por roubar os espíritos de doentes. Este poder dos espíritos pode ser manipulado pelos pajés para curas, feitiços, e provoca a guerra e ajuda causar a morte de um inimigo. Os espíritos podem ser placados por observar tabus. Se encontrar com um espírito a pessoa ficará doido e puder se suicidar. O poder dos espíritos pode perseverar sua vida na guerra. Os espíritos aparecem com fantasmas na floresta, e para vê-los provoca doença e a morte. Eles causam as tempestades, o trovão, os terremotos, e são muito temidos. O ‘povo do arco íris’ habita os rios e pode puxar pessoas para de baixo da água.

Homens podem ganhar o poder dos espíritos por ficar na floresta de jejum, tomar suco de tabaco, e ver um fantasma e pedi-lo pelo poder (arotama) para ter coragem e um desejo para matar e ser protegido na guerra. Todos consideram que é um estado mau e que ele será morto e ele fala constantemente da morte. Os homens podem ganhar o poder da onça, da anaconda ou do condor, crêem que podem viver para sempre depois de matar alguém. Porém a experiência da guerra refuta isso, e tentam explicar isso, inclusive concluir que o poder dos espíritos é uma ilusão!

Os espíritos dos mortos (tsipari vani) vagam pela floresta, ou são levando no vento pelos yashigo. O destino deles não é conhecido; as vezes eles tentam comunicar com os vivos por possuir animais. Os corpos dos defuntos estão deitados em canoas sobre uma fogueira até secar; depois guardado em baixo do telhado de uma casa desusada, e enterrado dois anos mais tarde. Uns 30% são Cristão e suas reuniões são com a participação de todos; eles creiam que vão para morar com Apanchi depois da morte.

Os pajés passam seu poder para os aprendizes por ritos e por observar tabus; o poder é de cura ou de feitiço, envolvendo recuperar o espírito da pessoa de um espírito anaconda ou entregá-lo ao espírito. Há quatro tipos de doença reconhecidos, pelo espírito da anaconda, por dardo invisível de veneno, por encontrar com um fantasma na floresta, e pelas doenças dos brancos.

Cosmovisão:
Os Candoshi creiam em um só ser absoluto e criador, Apanchi (nosso pai). Ele criou este mundo e o mundo em cima, no qual mora ‘nosso pai’. A entrada para cima é guardada por uma tesoura que fecha e abre rapidamente. Ele criou uma humanidade antiga que vivia até sofrer deficiências severas de velhice. No principio ele vivia com os homens, mas eles o desobedeceram constantemente, O filho do pai veio a terra, mas as crianças tinham invejas da sua habilidade de caçar e pescar, e jogaram areia nos olhos dele. O pai mandou uma tempestade e um dilúvio sobre os homens e saiu de volta para o céu, nunca mais para ter contato com a humanidade. Desde então não é mais adorado ou propiciado.

O homem se casou com um papagaio que deu a luz muitas crianças que se espalharam como ancestrais das nações. O ‘nosso pai’ ainda está em controle das coisas, a providencia, e os tempos de paz e prosperidade, são atribuídos a ele. O ‘nosso pai’ instruiu os homens plantar e fazer canoas, e fornece o peixe e as plantas na natureza. Esta providencia demonstra que o pai é contra a violência e suporta os oprimidos. Os acontecimentos são interpretados como ele ajudando ou castigando. Enquanto ‘nosso pai’ deseja paz e bondade, isso não predomina no pensamento dos homens; o poder dos espíritos e o desejo de vingança criam bravura ou medo constante. No tempo presente os homens morrem mais cedo.

Mudança de comportamento:
30% do povo dizem que são evangélicos. Tuggy descreve que o evangelho colocou um desafio de seguir o ensino do Pai, estendido pelo ensino da Bíblia, e rejeitar o caminho do poder dos espíritos. Um chefe guerreiro cristão recusou vingar-se dos mortos de seus parentes. Isso quebrou o circulo de ataques de vingança. Grupos se converteram a Cristo e deixaram de guerrear. Os não convertidos ainda estavam prontos para guerrear em 1980.

Por alguns anos os conversos sentiram necessidade da proteção do poder dos espíritos; porém a leitura da tradução de Atos 19:20 em 1967 foi recebida em silencio pensativo. Depois os Cristãos resolveram terminar com as práticas dos espíritos. Eles crêem que os mortos crentes vão para a casa do Pai, os espíritos dos descrentes ainda vagam pela floresta; os espíritos e povo do arco-íris são ainda uma ameaça, mas o Pai protege seu povo. Mais tarde dois antropologistas tentaram persuadir os indígenas voltar às suas práticas antigas; isso se zangou os Cristãos que responderam: ‘Eles pensam que não somos humanos? Ninguém é feliz viver assim.’

No principio a tradução de Efésios 5:25: ‘maridos amem suas esposas’ encontrou incredulidade e era considerada uma tradução errada! Depois até os não cristãos deixaram de bater nas suas esposas. Depois da tradução de Tiago 1:27 ficou conhecida: ‘visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações’ os Candoshi Cristão prestaram atenção. Esta mudança de comportamento não mudou a estrutura familiar de três gerações e a independência do homem. Os chefes mantêm suas posições por predominar e persuadir nas discussões, mas não mais por liderar em guerra. Muitos aspectos da cultura não mudaram.

Comentário:
Antes da vinda dos missionários protestantes os Candoshi identificaram o Deus Cristão com seu criador Apanchi (Nosso Pai) e Jesus como o filho dele. Apanchi ainda é forca controlando todos os acontecimentos, mas não houve um relacionamento de culto ou aplacar. Era necessário estender o conhecimento biblicamente para o relacionamento pessoal e responsável e de culto, moralidade e redenção, tanto do individuo quanto dos relacionamentos comunais. O ‘monoteísmo’ precisa se estender para conviver com o interpessoal Triuno Deus, exemplificado pelo relacionamento de amor e obediência entre o Pai e o Filho nos Evangelhos, que tinha a finalidade de transbordar aos homens em ‘vida eterna’, isso conhecer o Pai e o Filho pela salvação.

A crença do povo contém um Ponto Alfa da Criação e Queda e a responsabilidade do individuo. Os valores mais próximos à Bíblia são a fidelidade à família e a independência do pai da família (Tuggy), e as famílias podem tomar posições diferentes dos seus vizinhos. A família e a vida são protegidas: Assassinato, incesto, adultério e sexo pré-marital merecem a exclusão da comunidade pela morte, como na Bíblia. Especialmente é necessário ensinar a co-imagem de Deus da mulher.

A providencia candoshi ensina que Deus sustenta e controla as causas secundarias da natureza e direciona todos os acontecimentos, mas deve ser modificada por considerar a direção pessoal de Deus, com seus atributos de compaixão e bondade, e graça para transformar a vida moral; e distinguir entre vingança e justiça. A Bíblia demonstra Deus ser paciente e perdoando na sua providencia.

O Filho Jesus Cristo transformou o conceito mitológico, o que se sacrificou como uma propiciação pela maldade humana. O Pai e o Filho estão envolvidos com a humanidade sofredora. A propiciação deve ser aceito como a solução da vingança, todos os males do agressor e o dever de vingança eram sofridos por Cristo, e por isso reconciliação é possível.

Bibliografia:

  • HEAD, Tommy 2009, Pipeline of Living Water International issuu.com/lwater/docs/pipeline-winter-2008/7?mode=a_p – acesso 07/04/09
  • SIL 2009, Lewis, M Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, 16th edition, Dallas, Texas: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com
  • STOCKS, Anthony, 1983, ‘Candoshi and Cocamilla Swiddens in Eastern Peru’, Human Ecology, Vol 11, no 1, March 1983.
  • TUGGY, Sheila C. 2009, ‘Candoshi’ www.everyculture.com/South-America/Candoshi.html – acesso 31/03/09
  • TUGGY, Sheila C, 1985: ‘Candoshi Behaviorial Change’ in Five Amazon Studies on World View and Cultural Change, William R Merrifield, ed Dallas, TX: The International Museum of Cultures, 1985.