David J Phillips
Autodenominação: Aruá é de origem Tupi que também refere-se ao molusco encontrado nos rios e lagoas.
Outros Nomes:
População: 69 (DAI/AMTB 2010); 131 (Siasi/Sesai 2012); 58 (SIL); 12 (1990 YWAM).
Localização: Em duas Terras Indígenas:
- T I Rio Branco: Homologada e registrada de 236.137 ha de floresta ombrófila aberta entre os Rios Branco e São Simão, afluentes do Guaporé, com 679 indígenas (FUNAI 2008). Aruá vivem com Arikapú, Aikanã, Djeoromitxi, Kanoê, Makurap e Tupari. 329 Tupari (ONG Kanindé 2005). 382 em 13 aldeias (Cruz 2005).
- T I Rio Guaporé: Homologada e registrada de 115.788 há de floresta ombrófila aberta na margem direita do Rio Guaporé, fronteira com a Bolívia e extenso até o Rio Sotério, próxima a cidade de Guajará Mirim com 589 indígenas (FUNAI 2005). Aruá com Arikapú, Aikanã, Djeoromitxí, Kanoê, Kujubim, Makurap, Sakurabiat, Tupari, Wajuru e Wari’.
Língua: O Aruá é da família linguística tupi-mondé (PIB 2008). Um Aruá fala a sua língua na T. I. Rio Branco e cinco na T. I. Guaporé (Mindlin 2002.289). Falam português. Dialeto: Aruáshi (Aruachi – SIL). Muitos vivem em Mato Grosso (SIL). Um vocabulário e livro de frases foi preparado por Franz Caspar. Vocabulários feitos pela Expedição Rio Branco em 1948 (SIL).
História:
Os Tupi do Rio Guaporé vieram do Rio Aripuanã, afluente do Rio Madeira nos estados do Amazonas e do Mato Grosso e ficaram desconhecidos até o princípio do século XX. Antigamente a região era parte da Província de Mojos da Bolívia com missões jesuítas já presentes. Quando chegaram os Portugueses para segurar a fronteira muitos dos indígenas tomaram o lado da Espana, que tornaram-se extintos. A política indigenista dos Portugueses era manter os índios na margem direita do Guaporé nas suas terras como guardiões da fronteira e para servir de mão de obra na navegação intensa. Em 1776 foi construída o Real Forte Príncipe da Beira, atual Guajará-Mirim, para segurar a fronteira no Rio Guarapé. Mas quando os poderes europeias perderam sua influencia no movimento de independência a questão da fronteira era menos importante e região esvaziou-se no fim do século XVIII. Outras vilas eram estabelecidas mas não prosperaram até começou a exploração da borracha no fim do século XIX.
Os Aruá viviam perto do Igarapé Gregório, afluente do alto Rio Branco (PIB 2008).Os indígenas do Rio Branco tiveram contato com os brancos somente no princípio do século XX quando os Tupari, Makuráp, Wayoró, Aruá e Jabuti foram atraídos pela frente de borracha para ganhar os bens industriais. Eles queriam obter especialmente os machados de aço. Nesta época os 3.000 Tupari, mesmo temidos como guerreiros, fizeram as paz com seus vizinhos (Hemming 2003.59). Um seringalista Paulo Saldanha instalou-se nas cabeceiras do Rio Branco e os Arikapú e os Djeoromitxí abandonaram suas aldeias acerca de 1934 para trabalhar no barracão dele. O SPI começou a transportar os indígenas para o lugar da futura Terra Indígena Guaporé em cima da confluência do Rio Mamoré. Eles eram forçados de trabalhar em condições brutais e muitos fugiram (Voort 2008).
Os seringalistas amontaram um ‘barracão’ chamado São Luís perto da boca do Rio Branco para armazenar o látex e outros produtos florestais como a castanha do Pará, até as embarcações os levaram para Guajará-Mirim. Os Aruá sofreram uma epidema de sarampo e por volta de 1920 os sobreviventes mudaram-se para São Luís. Na época a língua Makurap era usada como uma língua geral e os Arikapu eram confundidos com este povo. Os Arikapu e os Arua foram levados para limpar e cultivar as plantações de milho e mandioca. Mas como os primeiros que trabalharam de seringueiros, esses pegaram gripe, bronquite e outras doenças trazidas pelos brancos e muitos morreram (Hemming 2003.59-60).
Uma consequência das ferramentas de aço era que os homens abriram roças maiores mais rápido que produziram mais fartura, terminando a dependência de caça e pesca. Com mais tempo livre os jovens mudaram-se para o lado dos seringalistas, e adotaram as roupas e a comida deles. Porém nas meadas da década 30 a situação mudou, quando o agente da SPI levou à força índios para a cidade de Guajará Mirim. Ele comprou muitos seringais e oprimiu os índios no serviço da borracha. Estabeleceu um reinado de terror com um Boliviano chamado Severino e seus capangas em São Luís. Um grupo de Makuráp rebelaram e mataram Severino e os capangas.
Durante a Segunda Guerra Mundial o governo organizou um ‘Exercito de borracha’ e os seringueiros novos criaram tensões com os indígenas por tomar as mulheres. Em 1952 um seringueiro trouxe sarampo e muitos índios morreram (Hemming 2003.60-63). O suíço Franz Caspar viajou pela região em 1948 e subiu o Rio Branco, achando malocas Tuparis, Jabutis e uma dos Aricapú (Melatti 2011)
Estilo da Vida: A aldeia principal da T. I. Rio Branco é São Luís e é accessível de carro da cidade de Alta Floresta d’Oeste. As outras aldeias são alcançadas pelo rio e a cultura tradicional ainda está praticada (Voort 2008b).
Sociedade:
As etnias dos Tuparí com os Aruá, Arikapu, Jabuti, Makurap e Sacurabiap partilham do chamado ‘complexo cultural do Marico’, conforme a analise da antropológica Denise Maldi Meireles (1953-96). Os caraterísticos do Complexo são: Uma família extensa e patrilocal morando em uma maloca redonda, estrutura de domo sustento por um esteio central. Com a ausência da cultivação da mandioca ‘brava’, e pois a falta da farinha do mandioca, plantam o milho are o consumo da chicha de milho na alimentação diária. Também bebem a chicha fermentada nas festa cerimoniais. As aldeias revezem em ser anfitriã e convidada. Isso cria redes de solidariedade e reciprocidade. Este povos também confeccionam o marico.
Os Aruá estão divididos 10 subgrupos que eram patrilineares, semelhantes ao outros povos Tupi-Mondé (PIB 2008). A geração mais nova são filhos de casamentos mistos, mas são considerados Aruá por ter pais Aruá (Mindlin 2002.289).
Artesanato: A confecção do marico, que são cestas feitas de fibras de tucum ou buriti, tecidas pela mulheres em ponto miúdos e médios (PIB 2008).
Religião: Os pajés usam o alucinógeno feito do pó de sementes de angico misturado com um tipo de tabaco, cultivado para este fim. Um tubo de taquarinha é usado para soprar o pó nas narinas do tabaquista.
Cosmovisão:
Os Aruá acreditam que a divisão entre os especies dos animais e a humanidade pode ser ultrapassada, os animais tendo linguagem e sociedades semelhantes aos homens. Os Aruá acreditam que uma pessoa que se comporta mal pode se transformar em um animal.
Os povos do Guaporé contam mitos sobre as relações entre homem e mulher, e um mito dos Aruá contradiz a dominação macho e ensina a noção da conservação os animais de caça. As mulheres de uma aldeia gostavam de ir diariamente pescar em uma lagoa, enquanto seus maridos iam caçar. Na verdade, elas reuniram com a anta que saiu da floresta, transformou-se em homem bonito a fim de ter sexo com todas delas que não estavam grávidas. Depois, elas sempre levavam para a aldeia de peixe para os seus homens comer. Depois de passar algum tempo os homens suspeitavam de algo e mandaram um menino espiar o que passava na beira da lagoa. Chocado o menino relatou aos homens tudo. Eles foram à lagoa e mataram a anta e as mulheres. As mulheres se ressuscitaram e dançaram, tocando flautas e tambores, celebrando de ser livre dos homens. Depois elas viajaram para um lugar longe da aldeia. Não tendo mais mulheres para se casar, os homens foram viajar no mato, e com raiva mataram todo animal que encontravam. Achando uma manada de queixada, resolveram matar todas como vingança das mulheres. Eles mataram todas, exceto um pequeno que escapou. Acamparam para churrasquear toda a carne.
Um dos jovens, cujo esposa não teve sexo com a anta porque ela estava grávida, estava de resguarda e não podia comer carne de porco e também não participou na matança dos porcos, e ele foi caçar inhambu-anhangá (Crypturellus variegatus). Membé Aiai, o Guardião dos porcos encontrou-o e deu-o os pássaros. O Guardião dos porcos transformou todos os homens, que comeram toda a carne dos porcos em porcos. O Guardião ensinou o jovem como caçar queixada só um ou dois cada vez, de modo a conservar a manada. O Guardião conserva os verdadeiros porcos em um lugar secreto no mato e ninguém sabe aonde. O jovem e sua esposa voltaram para aldeia, mas as mulheres continuavam de viver em sua própria aldeia distante, caçando e derrubando e preparam sua roças sem homens, pois homens não eram permitidos (Mindlin 2002.225-232).
Comentário:
Bibliografia:
- DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
- HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier – the Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
- HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
- MELATTI, Julio Cezar, 2011, Áreas Etnográfica da América Latina Cap 25 – Mamoré-Guaporé, Brasília: DAN-ICS-UnB www.juliomelatti.pro.br/areas/25areas acessado 28 de agôsto 2013.
- MINDLIN, Betty, 2002, Barbecued Husbands and other stories from the Amazon, Londres e Nova Iorque: Verso.
- PIB, 2008, Equipe de edição da Enciclopédia, ‘Aruá’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/arua
- SIL 2013, Lewis, M Paul, Gary F Simons, & Charles D Fennig (eds) 2013. Ethnologue: Languages of the World, 17th edition. Dallas, Texas: SIL International. Online: www.ethnologue.com
- VOORT, Hein van der, 2008b, ‘Djeoromitxí’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/djeoromitxi