Akuriô

David J Phillips

Autodenominação: Akuriô que significa o acouti ou tipo de macaco. Wama foi o primeiro nome dado pelos missionários, mas não é o que se chamam.

Outros Nomes: Wama, Akoerio, Akuri, Akurijo, Akuriyo, Akuliyo, Wayaricuri, Oyaricoulet, Triomete.

População: 10 (DAI/AMTB 2010); 10 (E Carlin 2000); População étnica: 50 (SIL).

Localização:
Estão no Parque Indígena do Tumucumaque (3.071.070 ha) nos Estados do Amapá e Pará, com 27.000 km², abrangendo os municípios de Oriximiná, Almerim, Monte Alegre e Óbidos, homologada e registrada no CRI e SPU. É mais antiga que seu vizinho, o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque.

No parque estão 2.000 indígenas em 50 aldeias das etnias: Akurió 10?; Apalai 415 (DAI/AMTB 2010) 398 (PIB), 398 (Funasa, 2010), 40 (Eliane Camargo, 2011), 10 (Eliane Camargo, 2011); Kaxuyana 900 (DAI/AMTB 2010), 350 (PIB), 350 (João do Valle Kaxuyana, 2009); Tiriyó (Trio) Brasil: 1.156, Suriname: 1.400 (DAI/AMTB 2010), 1.464 (Brasil PIB); Waiãpi Brasil: 905, Guiana Francesa: 412 (DAI/AMTB 2010), 905 (Apina/Funai, 2008); 710 (Tinoco, 2002); Wayana Brasil: 415, Suriname: 400, Guiana Francesa: 800 (DAI/AMTB 2010), Brasil; 304 (PIB).304 (Funasa, 2010), 800 (Lopes, 2002), 500 (Lopes, 2002).

Língua: Akuriô é relacionada com Trió (Tiriyó), mas não são mutuamente entendidas. Da família linguística: Caribe do norte, Guayana leste-oeste, Wama. Todos exceto um grupo vive com e são bilíngue com os Trió. As crianças falam Trió (SIL). Há diferenças de dialeto entre os grupos falando Akuriô (Geijskes 1970.282).

História:
Os Akuriô eram conhecidos como Wayarekoelé pelos outros indígenas e os africanos quilombolas, que os temiam. A existência dos Akuriô foi descoberta pela Expedição da Fronteira do Sul da Guiana Holandesa em 1937. No alto rio Oelemari os homens da expedição seguiram uma trilha dentro a floresta por uma hora e meia e de repente encontraram com um índio pronto para atirar uma flecha, acompanhado por três mulheres. Depois de passar o susto inicial quatro crianças apareceram. Seguindo os índios, chegaram em um acampamento de quatro tapiris com redes, arcos e flechas, machados de pedra, potes cerâmicas, cestos com inhame e uma fogueira com carne e peixe moqueados. Os índios usavam colares de dentes de onça, queixada e macacos. Os homens usavam uma tanga pequena e as mulheres um avental de sementes. As flechas envenenadas eram guardadas em um aljava de couro. A expedição e os índios tocaram presentes. De repente a visita terminou quando os índios tomaram de volta os artigos dados na troca e pediram que os brancos saíssem (Geijskes 1970.262).

Em 1938 o padre W. Ahlbrinck liderou outra expedição e tentou ter um novo contato com outro grupo familial, mas conseguiu a visitar apenas poucas horas com eles. Ahlbrinck, um linguista, pediu os nomes de objetos na sua língua, porém os índios mostravam desconfiança. Voltando no dia seguinte eles descobriram o acampamento abandonado (Geijskes 1970.263). Por trinta anos não houve mais contato.

Um grupo de Wayana de viajando de canoa, tiveram contato no Igarapé Waremapan, no alto rio Litani, perto da fronteira com Brasil em junho 1968. Ouvindo um barulho no igapó, remaram a canoa para dentro e os Wayana viram cinco índios estranhos e descobriram que podiam conversar falando Trio (Tiriyó). Depois uma hora de dialogo foram convidados ao acampamento. Em pouco tempo os Akuriô conseguiram furtar uma espingarda e dois machados dos Wayana.

Esta história veio ao conhecimento de Ivan L Schoen e os missionários norte americanos da West Indies Mission (atualmente World Team), que trabalhavam com os Wayana. Schoen e mais três missionários com sete Wayana saíram para os contatar. No caminho encontraram um francês chamado Cognat, que vivia com os Wayana no rio Lawa. Ele lhes contou que os Akuriô tiveram quebrado sua maquina fotográfica e atacaram seu barco com sues machados de pedra. No próximo dia os missionários se encontraram no rio com alguns Wayana, que trabalharam para a linha aérea KLM, que também tiveram contato com os índios Akuriô (Geijskes 1970.265).

A expedição de missionários chegaram ao acampamento onde os Wayana tiveram sua visita, mas descobriram que foi abandonado e também todos os artigos roubados dos Wayana ou dados como presentes foram encontrados quebrados. Assim os Akuriô demonstram sua rejeição do mundo a fora. Os missionários persistiram e descobriram um segundo acampamento que era igualmente abandonado, mas o terceiro foi habitado por um velho e mulheres e crianças. O velho os cumprimentou por bater o peito e depois a nuca. Os Trios que acompanharam os missionários imitaram isso. O velho contou que os outros homens foram na mata para fazer flechas para matar qualquer alheios que estavam invadindo seu território. Um Trio explicou lhes que estes brancos eram bons que querem ajudar os Akuriô. Mas os outros homens recusaram encontrar com os missionários no próximo dia.

A expedição descobriu um quarto acampamento com doze Akuriô presentes, que palparam os corpos dos visitantes e tentaram roubar toda sua bagagem. Trocaram presentes e Schoen tentou descobrir a identidade dos índios, mas eles recusaram a responder as suas perguntas. Calcularam que todos eram 60 ou 70 índios. Os visitantes resolveram ficar até o dia seguinte. Os Akuriô ofereceram carne de queixada mas eles mesmos recusaram comer o beiju, bananas e cana que a expedição ofereceu. Ao anoitecer os Akuriô tomaram susto quando os missionários usaram suas lanternas. Para uma luz eles atearam um bloco de resina em uma vara. No dia seguinte cedo os Akuriô ofereceram carne de queixada e depois pediram que a expedição saísse (Geijskes 1970.266-267).

Em setembro 1968 o casal Schoen e Claude Leavett com catorze índios tentaram contatar os Akuriô de novo na margem setentrional do rio Litani. O primeiro sinal da presença dos Akuriô foi uma ponte de um caule completo com corrimãos de lianas, atravessando o igarapé! Também descobriram evidencia do preparo de timbó na margem. Encontrando os índios, descobriram que foram os mesmos grupos já encontrados, mas com outros novos, um total de 30. Durante o primeiro dia da visita o primeiro culto protestante foi realizado.

No segundo dia dois jacarés foram cozidos e mais, um culto em Trio realizado. Os missionários descobriram que os índios se chamaram ‘akuri’ que significa ‘acouti’ e ‘tula’ que é um macaco. Esta vez eles comeram a cassava, bananas e cana que os missionários trouxeram, mas tentaram roubar de novo todo o equipamento da expedição. Mostram receio dos brancos mais do que os Trio (Tiriyó). Schoen deu o nome Akurio em vez de Wama que Ahlbrinck os chamou. Os missionários decidiram deixar cinco Trio com os Akuriô para ensinar lhes abir roças e plantar mandioca (Geijskes 1970.269). 150 palavras da língua foram anotados, e mais uns cem reconhecidas da ser da família linguística Caribe (Geijskes 1970.272).

Pouco tempo depois, De Boer, um pedologista holandês também teve contato e trouxe fotos do povo. Eles encontrou com os cinco Trio, que facilitaram sua visita (Geijskes 1970.269). Depois do contato os missionários levaram os Akuriô para viver com os Trio na Guiana. Alguns continuam a viver isolados e nômades no Parque Indígena de Tumucumaque, que se localiza ao norte do Pará, entre os rios Marapi, Paru de Leste e Jari e as fronteiras ao Suriname e Guiana Francesa. Os índios do Parque de 33 aldeias estão participando no mapeamento dos locais e plantas utilizadas pelas etnias com a FUNAI (PIA).

O sueco Jan Lindblad visitou os Akuriô e produziu um filme Guyana Land of Waters, (terra de águas) que incluiu os Akuriô. Os Akuriô entre os Trio na Guiana perderam sua língua durante a década 70.

Estilo da Vida:
Os Akuriô eram caçadores coletadores. Eles eram de baixa altura com muito cabelo cobrido a nuca e a cor do pele era mais clara que os outros indígenas. Os braços dos homens tinham cicatrizes de enfeite. Os homens amarraram cabelos pretos e vermelhos em redor das pernas. Aparentemente não tomam banho pois o pele era muito sujo. Os homens usavam uma tanga e as mulheres um avental de sementes. Todos usavam colares de dentes de macacos, onça, jacarés alternados com sementes. Usavam tinta preta, mas não o urucum vermelho (Geijskes 1970.271).

Os Akuriô se sustentavam com peixe, caça e frutas silvestres e castanhas de palmeiras, palmito e uma batata (Calathea Marantaceae). Uma comida predileta é mel silvestre, obtido por subir as arvores vinte ou mais metros do chão. Queixada, anta, veado, macacos e o mutum eram a caça. O peixe lobo ou anjoemara (traíra) é predileto, pescado por uma isca pendurada em cima da água numa vara e o peixe é pegado por flecha. Timbó é também usado. A carne e o peixe são fervidos ou moqueados (Geijskes 1970.273).

As aldeias encontradas estão situadas longe dos rios ou dos igarapés navegáveis. Não cortaram uma trilha diretamente ao rio. Consistem de seis ou oito tapiris em baixo das arvores em terra seca no meio de um pantanal. Os telhados são de uma água cobertos de folha de palmeira. Os esteios são arranjados para que as redes sejam amarradas em redor do fogo. Outros tapiris são construídos para uma só pessoa com folhas de palmeira amarradas em cima da rede para formar uma ‘cumeeira.’ Usam uma churrasqueira triangular e alto, 1.40m do chão, para cozer ou moquear. Outras fogueiras de pedras no chão são também usadas. Os Akuriô mudam de aldeia a aldeia em uma ou três semanas e as aldeias ou os acampamentos são situadas três ou cinco km. entre elas (Geijskes 1970.274). Os Akuriôs isolados sofrem de malnutrição e falta de candidatas para se casar.

Sociedade: Os Akuriô andam a pé na floresta em uma vida nômade. Não constroem ou usam canoas. A agricultura não era conhecida e eles mudavam constantemente entre seus acampamentos. Os homens caçavam e pescavam e as mulheres coletavam frutas silvestres e lenha e cuidavam do acampamento. Os nenês estavam carregados em uma linga de fibra, suportada na testa. Os pais carregam as crianças maiores também. Os grupos são de menos de trinta pessoas, formados de uma família extensa. Em 1970 havia pelos menos quatros grupos isolados (Geijskes 1970.278).

Artesanato: Usavam os machados de pedra, alguns pesavam um quilo com um rabo de 35 cm, a cabeça era de pedra preta (possivelmente diorito, uma rocha ígnea) insertada em um buraco no rabo e amarrada com fibras. Afiaram o machado em uma pedra chamada mami. Com estes machados os Akuriô podiam derrubar arvores de 30 cm diâmetro. Três tipos de flecha são usados com um comprimento de 1.5 m. Pontos venenados de curare é usados para caçar macacos e carregados em uma bolsa de couro. Plantações de cana para a flechas são encontradas. Os arcos são de madeira de barrueh ou muirapinima (Brosimum guianensis) de 1.4 m. Dentes são usadas para perfurar e raspar. Cestos e leques são de palha tecida. As redes são de fibras de buriti. As cerâmicas são grossas e pesadas e sem desenhos. Usam pentes e facas de bambu para cuidar do cabelo (Geijskes 1970.274-277).

Religião: Os Akuriô não tinham festas ou instrumentos de música. Mas cantavam cânticos de alegria (iwano) e espirituais (wiri) (Geijskes 1970.278). Os Trio, com quem os Akuriô vivem, são 98% Cristão.

Cosmovisão: Creem em um criador Api. Enterram os mortos no chão que vão para o céu.

Comentário:
World Team (antigamente West Indies Mission) teve um ministério na cidade de Paramaribo entre os Cristãos nominais, mas depois 1955 os obreiros começaram a ter uma visão para alcançar os muitos indígenas no interior. A missão tem trabalhado entre os Wayana e os Trio por mais de 50 anos no Suriname e 98% dos índios são Cristão. Schoen e outros especializaram nas línguas caribe.Hoje as igrejas dos Trio e Wayana são autônomas com sua liderança indígena local. Faz alguns anos uma missão Islâmica tentou tomar conto do trabalho e construir uma mesquita na aldeia. Os pastores os mandaram embora e pediram mais treinamento teológico.

Não existe gravações nesta língua (Global Recordings). A traduções do Novo Testamento em Trio e Wayana foram completas em 1979.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • GEIJSKES, D.C. 1970, ‘Documentary Information about the Surinam Wama or Akurio Indians’, NWIG, Vol 47, No 1 (1970)
  • www.kitlv-journals.nl/nwig/article/view/5299/6066
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the 20th Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, 16th Edition. Dallas, Texas: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com
  • VELTHEM, Lucia Hussak, 1980 ‘O Parque Indígena de Tumucumaque’, Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Antropologia no76, 30, Outobro 1980, pg 1-31.