Dâw

David J Phillips

Autodenominação: Dâw significa ‘pessoa’, ‘gente’ (Assis 2001).

Outros Nomes: Os povos conhecidos pela denominação pejorativa Maku são os Nadëb, Dâw, Yuhupdeh, Hupdeh, Kakua e Nukak. Kamã Makú, ‘Kamã’ (SIL). A população regional refere se ao povo pelo nome de ‘kamã’, termo pejorativo e pelo qual não gostam de ser chamados, que significa “capotado” ou bêbedo (Assis 2001). O termo ‘Maku’ é derivado do Aruak e significa ‘quem não fala uma língua’, quer dizer não é entendido entre as línguas Tukano.

População:108 (DAI-AMTB 2010), 83 (SIL 1994), 78 em 1994 (PIB 1999).

Localização: SituadosnamargemdireitadoRioNegroconfronteàcidade São Gabriel de Cachoeira, AM. O Terreno foi conseguido por donativa de uma igreja evangélica em Brasília (ALEM).

  • Terra Indígena Médio Rio Negro I: de 1.776.140ha homologada e registrada no CRI e SPU. com os Dâw e mais dez etnias, total 2.480 (FUNASA 2007).

Língua: Däw, uma de seis línguas Maku. Com mais contato com os Brancos os Däw falam também português sem a intermediação de Tukano, que falam os Hupdah e os Yuhupdeh, situados mais rio acima no rio Uaupés. Também falam a Língua Geral. SIL começou o analise linguístico e a alfabetização e traduziu porções da Bíblia (ALEM). Mas ainda estes estudos não resultou em meios para o desenvolvimento da educação bilíngue (Pozzobon 1999).

História:
Pela evidencia arqueológicas e históricas, a região do Alto Rio Negro tem ocupação humana por 6.000 anos. Conforme Nimuendaju a região do Alto Rio Negro era habitada por grupos de caçadores coletadores, representados hoje em dia pelos Maku. O segundo grupo de habitantes veio do Norte, os Aruak, que introduziram a agricultura e a estrutura social de clãs exogâmicos. Vindo do oeste veio o terceiro grupo de povos, os Tukano (Assis 2001). Porém o mito comum de todos os povos Tukano é da Canoa Anaconda, que subiu o Amazonas e o rio Negro, vindo do Lago de Leite pode conter uma memória de ascender do leste. Os Maku são reconhecidos como habitando da floresta da terra firme fora dos rios maiores e são chamados os “índios do mato” que contrastam com os “índios do rio”, de fala Tukano e Aruak.

Os Däw contam que passaram a morar na cidade de São Gabriel de Cachoeira quando fugiram de outros índios. Acabaram sendo explorados pelos regatões e comerciantes por ser usados no trabalho da extração de produtos florestais. A situação social dos Däw tornou-se péssima. ‘Quando missionários da ALEM iniciaram trabalhos entre esta etnia da Amazônia, esse povo não possuía terra onde morar. Viviam mendigando nas ruas de São Gabriel da Cachoeira, pois muitos membros da comunidade eram viciados em bebida destilada, incluindo cachaça, álcool farmacêutico, desodorantes, etc. O índice de mortalidade infantil era alarmante. Com o auxílio de uma Igreja Presbiteriana em Brasília, os missionários compraram um espaço territorial onde o povo passou a habitar, adquiriram um barco através do qual implementaram um projeto de desenvolvimento auto-sustentável de coleta e venda de piaçaba’ (ALEM).

Os missionários atuaram na área linguística, começaram um sistema escolar e e uma assistência de saúde. ‘Por conta disso, a taxa de natalidade voltou ao normal, a mendicância desapareceu, a embriaguez praticamente acabou, muitos foram alfabetizados e vários entre eles se converteram. Os membros desse povo dispensaram o termo pejorativo pelo qual eram conhecidos, Kamã e adotaram um outro que refletia mais sua dignidade humana, Dâw (com sentido de “gente”)’ (ALEM).

Estilo da Vida: Antigamente os Maku eram caçadores coletores no mato nas cabeiras dos rios menores enquanto os povos Tukano e Aruak ocuparam as margens dos rios maiores. Os Maku são remanescentes do povo mais antigo da região antes da chegada dos Aruak. Aprenderam a agricultura dos outros, mas suas roças são menores. Os demais Maku formam pequenos grupos no máximo de 20 pessoas de irmãs com seus maridos e filhos. Passam os tempo entre suas aldeias e os acampamentos de caça, conforme a caça disponível. Nos acampamentos vivem em tapiris simples e ficam até têm consumido todo o beiju que levaram consigo. Têm o hábito de mudar para perto das aldeias dos índios ribeirinhos para trocar carne de caça, trabalhar nas roças e ajudar construir casas em troca de farinha de mandioca ou coca e ferramentas (Assis 2001). Os Däw, estando nas margem do rio Negro, tinham mais contato com a população nacional e os indígenas dominantes, que interrompeu este estilo de vida. Tornaram mão de obra barato e explorado, perderam sua autoestima e identidade cultural e linguista. Perderam o direito a uma terra fora da cidade. Muitas vezes eram pago pela cachaça. Hoje em dia moram na outra margem do rio fora da cidade e mantem uma economia autossustentável, com a recuperação do uso da língua e sua autoestima.

Artesanato: Todos os Maku têm uma cultura material muito básico e e a maioria dos seus objetos são copiados dos outros, como canoas, potes cerâmicas, e até a pintura corporal e as flautas sagradas. De origem Maku é o aturá e a zarabatana (Pozzobon 1999).

Sociedade: Os Däw têm um lugar baixo da sociedade indígena, com os demais Maku na região e sofrem discriminação social. São classificados socialmente ‘povos da floresta’ e comparação com ‘os povos do rio’; os Tukano e Aruak são considerados superiores. Eles vagaram nos divisores de água procurando as melhores condições de caça. Os Maku são subordinados e até explorados pelos povos ribeirinhos. Conforme o mito de todos os povos Tukano da Canoa Anaconda, que todos os povos subiram do leste, os povos Tukano saltaram na cachoeira de Ipanoré, ‘centro do mundo’ e já eram formados humanos, identificados por falarem suas línguas. Entretanto os Däw desembarcaram em São Gabriel de Cachoeira, sem ser humanos completamente formados (Assis 2001 citando Oliveira 1992). Em contraste com os povos Tukano os Maku praticam a ‘endogamia linguística como categoria básica e ordenadora da cosmovisão’ (Assis 2001 citando Oliveira 1992). A sociedade é altamente individualista e não tem coesão alem da família extensa. Resolvem os conflitos por separação temporária de indivíduos ou famílias nucleares.

Religião: Os Maku adotaram as festas dos ‘índios do rio’ com a iniciação dos meninos na festa do jurupari, com as flautas e trombetas e os trances induzidos por tomar caapí (G. Banisteriopsis) que revive o mito da chegada da Canoa Anaconda nos rios. Outra festa é do kaapi wayá que encena também o caminho da Anaconda e a chegada dos ancestrais na região. O dabocuri é uma festa do caxiri que resulta em embriaguez e brigas. Antigamente todos os homens eram pajés de dois tipos: Os bididu que curavam por meio de rezas e os homens-onça (nyaam hupdu) que curavam através de sucção. Atualmente os Däw são Evangélicos com sua própria igreja local.

Cosmovisão: Conforme os mitos o universo original foi destruído em um fogo e sobreviveu o herói Filho do Osso.O Filho do Osso não era um criador muito competente, que através de muitas façanhas e trapalhadas tentou recriar o mundo. Não conseguiu perfeitamente e por isso há brigas e doenças. Os Maku aceitam uma dicotomia entre e a luz e as trevas, elas sendo as substancias básicas do universo. A luz dá vida e todas as plantas são compostas de luz e por isso os Maku devem caçar os herbívoros, que consomem a luz das plantas. Os carnívoros concentram mais as trevas.

O cosmo é na forma de um ovo em pé, dividido em três mundos. Isso reflete a divisão social da região. O mundo subterrâneo é de sombras, de onde vem os índio do rio, os brancos e os monstros e animais perigosos como as cobras venenosas, as onças e os escorpiões. O mundo no meio é a floresta da terra firme longe dos rio maiores onde habitam os Maku. Em cima está o mundo da luz, em cima do céu, onde vivem o criador, o Filho do Osso, e os ancestrais. Os Maku entram o mundo da luz após da morte para se alimentar de frutos, concentrando a luz, e assim se tornam adolescentes imortais (Pozzabon 1999).

Comentário:
Elias e Lenita Assis da Missão Alem trabalharam entre os Däw por dez anos, juntos com Rosani Mendes e Luzineide Moura, também da Missão.

‘Os missionários compraram um espaço territorial onde o povo passou a habitar, adquiriram um barco através do qual implementaram um projeto de desenvolvimento auto-sustentável de coleta e venda de piaçaba. Os missionários atuaram na área de saúde, elaboraram um alfabeto para a língua indígena, produziram material de alfabetização e de leitura, iniciaram educação escolar e, com a participação de outros missionários da ALEM que ingressaram posteriormente no projeto, traduziram porções do Novo Testamento e iniciaram uma igreja'(ALEM).

‘Esse povo era até mesmo discriminado por outras comunidades indígenas e era explorado por elas como mão-de-obra barata. Um dia, um casal pertencente a uma dessas comunidades foi passar um feriado entre os Dâw. Antes de deixar a área, o homem perguntou ao missionário que os havia levado para lá: “A festa Dâw é sempre assim? Eles não ficam bêbados, não se batem e nem se matam?” O missionário respondeu que sempre era assim: sem álcool, sem briga e sem morte. O indígena exclamou: “os Kamã (capotados, bêbados) somos nós!” Aí pediu que o missionário desse ao seu povo o mesmo remédio que fora dado aos Dâw para que também mudassem de vida. Até mesmo os mais críticos opositores reconhecem o valor da presença missionária entre a etnia indígena Dâw. Deus seja louvado!'(ALEM).

O contraste de Luz e trevas do cosmovisão é oportunidade de comunicar os evangelho. O Criador é todo competente e independente do universo e criou por falar sua palavra. No princípio trevas cobriram a terra e Deus criou a luz como uma condição fundamental para uma criação que era perfeita (Gen 1:3). A comunicação inteligível e pessoal do Criador deu existência ao homem e à natureza e esta comunicação instrui o homem para ser sua a imagem e o representante do Criador. A volta das trevas morais de sofrimento é o resultado de desobedecer a palavra do Criador e preferir a palavra de uma criatura (Gen 3), e por isso espiritualmente rejeitar a ordem da criação perfeita fundamentada na luz e preferir as trevas originais (Gen 1:2). Igualmente a Palavra se revelou como o Filho de Deus (Jo 1:1) e era luz dos homens que dá vida (Jo 1:4,9), porém quando veio ao mundo os homens preferem as trevas (Jo 1:10-11). Muitos dos Däw acharam e aceitaram da Luz do Mundo.

Bibliografia:

  • ALEM: Equipe de edição da Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil, “A ALEM no Cenário Evangélico Brasileiro”, www.missaoalem.org.br/sobare-a-aelm.html
  • ASSIS, Elias C, 2001: ‘Patrões e fregueses no Alto Rio Negro: as relações de dominação no discurso do povo Daw.’ São Gabriel da Cachoeira: Universidade do Amazonas, 2001. (Monografia).
  • ASSIS, Lenita de Paula Souza, 2001 ‘Da Cachaça a Libertação, Mudanças nos Hábitos de Beber do Povo Dâw no Alto Rio Negro’ Revista Antropos – Volume 1, Ano 1, Novembro de 2007.
  • DAI-AMTB 2010: ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • MNTB, 2010: Missão Novas Tribos do Brasil, relatório da equipe.
  • POZZOBON, Jorge, 1999: Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/Dow
  • OLIVEIRA, Ana Gita de, 1992: O mundo transformado: um estudo da “cultura de fronteira” no Alto Rio Negro, Brasília: UnB-ICH, 1992, p 286 (Tese de Doutorado).
  • SIL, 2009: Lewis, M Paul (ed), 2009. Ethnologue: Languages of the World, 16th edition. Dallas, Texas: SIL International. www.ethnologue.com