Hupdah – Húpd’äh

David J Phillips

Autodenominação: Húp D’äh (Húp = pessoa, D’äh e plural = povo – Carvalho 2007.1). Certas vezes também referem-se a si mesmos como S’ùg Hupd’äh, ‘gente da floresta’ (Marques 2009.56).

Outros Nomes: Os povos conhecidos pela denominação pejorativa Maku são os Nadëb, Dâw, Yuhupdeh, Hupdeh, Kakua e Nukak. Maku, Maku-Hupdah (DAI-AMTB 2010). Os Hupdah são chamados de Wòh D’äh, pelos Tukano, Dessano, Tuyuka, Miriti-Tapuya,Pira-Tapuya, etc. Cada um deles também pode ser chamado de Sokw’at D’äh (Carvalho 2007.7).

População: 1.308 (DAI-AMTB 2010). Entre 1970 e 1991 se manteve estável em 1.200 indivíduos. Em 1997 havia um acréscimo para aproximadamente 1.500 (Pozzobon 1999), e em 2006 acerca de 1.800 no Brasil e talvez mais 200 na Colômbia (Carvalho 2007.2).

Localização: No Brasil e na Colômbia no interflúvio dos rios Papuri, Tiquié e a leste o rio Uaupés.

  • No Brasil vivem na Terra Indígena do Alto Rio Negro, homologada em 1996 (Carvalho 2007.1):
  • No rio Papuri: povoados Waguia, São Fernando, Dopn Deh, e dose assentimentos menores; também nos afluentes da margem direita os povoados São João, Saracura, Esteia (Calazar 2006.21).
  • Nos afluentes do rio Uaupés: no Japu- Santo Atanásio, Novo Sítio, Boca do Traíra; no Cabari – Picacema, Capbari Santa Cruz, Jacamim e Fátima e seis menores no Uaupés.
  • No Tiquié e seus afluentes: Umar Norte, São Domingos Sávio, Cabiri no igarapé Cabiri, Tocandira 2, Piracema 2, Pombo Igarapé, Nova Fundação, Cruzeiro, Nova Esperança, Kayá Deh, Taracuá e outros menores (Calazar 2006.21).
  • T I Alto Rio Negro: Homologada e registrada no CRI e SPU de 7.999.380 ha com uma população de 26.046 (SIASI 2013) de 16 etnias.

Língua: Hup e Tukano (DAI/AMTB 2010) da família linguística Maku ou Puinave-Maku ou Maku Oriental, ou melhor para esquivar do sentido pejorativo Uaupés-Japurá (Carvalho 2007.1). Há três dialetos distintos, ocidental, centro e oriental (Calazar 2006.20; Carvalho 2007.19; Epps 2007.11). São bilíngues na sua língua materna e falam a Tukano como a segunda língua; alguns no rio Tiquié entendem, mas não falam a língua Yuhup dos Yuhupdeh (Carvalho 2007.19). O estudo da língua começou em 1925 na Colômbia e continuou na década 70 por Barbara Jean Moore da SIL. Moore com sua colega Gail Louise Franklin publicou no Brasil Breves Notícias da Língua Makú-Hupda (1979) e mais cinco manuscritos. Henri Ramirez e Patience Louise Epps avançaram o estudo em obras publicadas em 2006 (Carvalho 2007.18). A região dialética oriental tende ter a maior assimulação à cultura dos Índios do Rio (Marques 2009.125). Já os Hupdah que vivem no afluente do Rio Tiquié, igarapé Umari Norte, tem como segunda língua o Tuyuka, inclusive muitos Hupdah estudam na escola tuyuka e além de assimilarem a língua herdaram desse cambio cultural a arte de desenhar. Usam o alfabeto Tuyuka na escrita (Cíntia Silva 2014).

História:
Há evidência de habitação humana pré-histórica,cacos de cerâmica do século XI antes de Cristo foram descobertos por arqueólogos no médio rio Vaupés. Conforme as tradições dos Tariana, eles chegaram na região acerca do século XIII dC e contam que os Tukano e Wanano já estavam nos rios, e estes já viviam por séculos na região. Os mitos dos Hupdah e Tukano contam de uma vinda dos seus povos rio acima pelos rios Negro e Amazonas. Também as palavras na língua Hup para a agricultura, redes de dormir e canoas, etc. indicam um conhecimento de um modo de vida mais sofisticada no passado remoto, que contradiz a reputação de ser primitivos do mato, dada pelos Índios do Rio (Epps 2008.32-33).

No século VIII o Padre Antônio Brüzzi da Silva provavelmente descreveu os Hupdah como habitantes dos rio Uaupés, Papuri e Tiquié e como ‘escravos’ dos Tukano, e registrou uma lista de palavras da língua Hup (Carvalho 2007.16).Os Hupdah ou ‘Maku do Tiquié’ eram descritos primeiramente pelo antropólogo Koch-Grünberg que viajou no rio Negro entre 1903-1905. Eram chamados por seus vizinhos ‘Macú branco’ para distingui-los dos Dâw (Macú pretos), devido aos seu pele ser mais claro. Outros estudiosos notaram o preconceito de considerar todos os ‘Maku’ de ser ‘inferiores’, ‘incivilizados’, fugitivos, ‘gente do mato’, ladrões e escravos (Carvalho 2007.3). Eram e ainda são em subserviência aos povos do Rio, os Tukano, Dessano, Tuyuka, Wanano, Cubeo, Barasano, Makuno, Siriano, etc. Alguns dos ‘Índios do Rio’ diziam que os Maku não eram ‘gente’ mas ‘filhos da onça’. Os padres tentaram proibir o comercio de escravos Maku pelos Tukano, que faziam antigamente.

Durante os séculos os Hupdah e outros ‘Maku’ desenvolveram uma relação simbiótica de patrão-cliente com os ‘Índios do Rio’, sendo peritos da floresta, na caça e na coleta de recursos silvestres. Portanto serviram em abrir roças, caçar, fabricar instrumentos musicais e em troca por este serviço receberam artigos industriais, roupas, sabão, café, mandioca, etc. (Carvalho2007.6).

Nos anos 1960 os Salesianos esforçaram para sedentarizar os Hupdah em aldeias grandes que os índios denominaram ‘povoados missão’ em contraste com as aldeias tradicionais (Marques 2009.8). O processo de aglomerar os Hupdah em aldeias maiores foi para facilitar o programa a civilizar os ‘Maku’ para que possam deixar de ser ‘inferiorizados’. Os Hupdah do dialecto do centro foram concentrados nas missões em Piracuara e a missão Pari-Cachoeira concentrou os índios em Nova Fundação (Calazar 2006.20). Depois de poucos anos os índios em grande medida abandonaram estas aldeias.

A Secretaria Municipal de Educação e Desporte da Prefeitura de São Gabriel da Cachoeira promoveu a Magistério Indígena na línguas indígenas para os povos Dâw, Hupdah e Yuhupdeh por um encontro em 2006, e de um número total de quarenta participantes trinta foram Hupdah. Atualmente há vinte professores Hupdah em nove escolas no rios Papuri, Japu e Tiquié. O efeito é a ‘destukanização da educação’ para as comunidades que falam outra língua (Carvalho 2007.23).

A Associação Pró-Amazônia que tem por finalidade o desenvolvimento humano entre as comunidades indígenas, especialmente na área de educação na língua materna indígena, começou a trabalhar em 2003 com dois projetos. Um projeto era melhor a alimentação e desenvolver a piscicultura e o outro para apoiar a educação na língua indígena. Entre os Hupdah, vendo a necessidade de produção de um material que atendesse as necessidades imediatas dos professores e alunos do Magistério Indígena, a Pró-Amazônia produziu o Hup íd b’oy k’et: caderno de transição Português-Hup, que foi publicado pela Pró-Amazônia em parceria com APIARN e apoio da FOIRN, SEMED e Administração Executiva Regional da FUNAI (Carvalho 2007.25).

Estilo da Vida:
O interflúvio dos rios Papuri, Tiquié e Uaupés é um território de áreas contíguas de caça e coleta e com trilhas ligando os assentimentos entre os três rios. As aldeias de médio com vinte cinco habitantes caçam em um raio de sete km. e as maiores de trinta ou mais habitantes um raio de dez km. Os rios estão ligados mais de norte a sul, do que de leste a oeste, pelos zonas dos três dialectos oeste, centro e leste. Embora os limites dos dialetos também limitem as áreas de caça, os do mesmo dialeto caçam e usam os acampamentos dos vizinhos (Calazar 2006.20). A vida dos Hupdah se distribui em três ambientes, as aldeias dos grupos locais, as aldeias dos Tukano e os seus acampamentos de caça e coleta na floresta. O tempo entre os Tukano é para a troca de caça e frutos silvestres por produtos agrícolas (Marques 2O09.57). Os Hupdeh passam tempos nos povoados dos ribeirinhos para poupar o produto das suas próprias roças e trabalhar para ganhar produtos industrializados. Moços solteiros podem fazer isso para melhor seus chances de casar-se quando voltam entre seu povo (Calazar 2006.20).

Atualmente os Hupdah são caçadores, pescadores, coletores e plantadores de mandioca brava. A última geração do século XX experimentou uma mudança para aldeias mais sedentárias e menos dependência da caça e mais na agricultura. O acesso a escola e a “destucanização do ensino” colaboram como afirmação dessa sedentarização atualmente. (Cíntia Silva 2014). Ainda os Hupdah continuam a passar muitos meses fora dos suas comunidades, visitando parentes, vivendo da caça ou da coleta, ou trabalhando na aldeia dos ‘Índios do Rio’.

Algumas famílias têm roças grandes e outras não têm nenhuma (Epps 2008.14). A base da sua alimentação é o beiju, a farinha, a pimenta; peixe e eventualmente caça são conforme a oportunidade (Carvalho 2007.14). Identificam mais de 67 tipos de manivas de mandioca. Seis tipos de beiju com nove qualidades de pimenta estão sempre na alimentação, mesmo com ou sem peixe ou carne (Carvalho 2007.14). Os homens derrubam e fazem a coivara das roças e ajudam as mulheres para plantar as manivas de mandioca. Plantam também macaxeira, cará, cana de açúcar, abacate, ingá, etc. e sete tipos de banana. Mas são as mulheres que mantem as plantações diariamente e fabricam farinha, beiju, tapioca, etc. e mantêm o fogo na casa aceso dia e noite (Carvalho 2007.15).

Ambos os homens e as mulheres coletam frutas silvestres, tal como açaí, patauá, uacu, etc. e também insetos, tal como os cupins e as larvas de vespas e besouros. Fervam em água as sementes de uacu (Monopterix uaucu) para um caldo e uma espuma para ser utilizado como parasiticida para matar os piolhos. Caçam aves, diversos animais e nos rios inclusive o jacaré e a ariranha (Carvalho 2007.16).

Sociedade:
Na literatura etnográfica há uma tendencia compreender a organização social dos povos chamados Maku para manter como um ideal com semelhanças às sociedade dos demais povos da região, os ‘Índios do Rio’, mas como sendo mais simples ou ‘fluidas’. Pequenos grupos de 15 a 30 indivíduos dividindo seu tempo entre a floresta e a aldeia, entre nomadismo e servidão, mas sem liderança com autoridade para resolver os desentendimentos frequentes. Estes conflitos são criados especialmente nas festas de caxiri, quando a família ofendida levanta acampamento e se separa para a floresta para ‘deixar a raiva passar’ (Marques 2009.3). Esta descrição se dá uma comparação com os Tukano e Arawak, imposta pelos etnográficos, atribuindo a ‘fluidez’ espacial do nomadism com a atitude da organização social (Marques 2009.16).

Os povos Tukano de 16 grupos formam um sistema regional pela regra de exogamia linguística com uma homogeneidade cultural notável. Os mitos de origem Tukano seriam reminiscências de o passado grandioso pré-colonial do qual os chamados Maku não participavam. O nomadismo e a falta de agricultura é considerado a escolha deles, porque sabem plantar e construir malocas para os Tukano, então poderiam fazer por si mesmos (Marques 2009.31).

Mas a situação atual é que não consideraria mais os Hupdah como nômades, talvez seminômades. Por causa da escola atualmente houve uma certa adequação entre o calendário escolar e as saídas para caça e pesca. Geralmente, o que tenho visto por partes das aldeias que vivem no Rio Tiquié é que quando há férias aí sim saem para períodos mais longos para acampamentos de caça ou pesca e visitarem parentes em outras aldeias. Devemos também considerar que a presença de Hupdah na cidade de São Gabriel da Cachoeira tem aumentado, pois muitos já possuem documentos que dão acesso aos programas sociais do governo, tais como: bolsa família, aposentadoria, auxílio maternidade, etc. (Cíntia Silva 2014)

Os Hupdah identificam-se por cinco elementos chamados Hitamá Íd. São identificados com seu clã que também tem um território definido as cabeceiras de um igarapé, mesmo que não vivam lá. Também se identificam pelos conhecimento dos mitos fundamentais, o uso dos instrumento Döhö, e seu nome de benzimento (Carvalho 2007).

O grupo doméstico é formado por um ‘grupo de fogo’ ou uma família nuclear ou estendida de filhos casados, etc. É uma unidade social autossustentável com suas roças e locais de caça e de pesca e coletas de frutas. Por exemplo a comunidade de Taracuá-Igarapé é composta de 12 grupos domésticos. Os grupos domésticos mantém um alto grau de autonomia dentro do seus grupos locais para viajar, caçar ou trabalhar entre os Índios do Rio. Uma morte esperada por velhice causa uma família construir uma nova casa ao lado e abandonar todos seus pertences na velha. Conflitos com violência também causam grupos domésticos para abandonar seus grupo local, queimando a casa. Separação social distante é método de demonstrar sua indignação pelo conflito. Tal família é descrita ser ‘de costas para a comunidade’ (Carvalho 2007.11). Há uma tendencia de considerar grupos distantes, que não têm parentes, de ser feiticeiros (Marques 2009.131).

Um conjunto de dois ou mais grupos locais formam os grupos regionais (Carvalho 2007.11). O grupo regional é endogâmico para a troca de esposas entre seus grupos domésticos. Também pratica a troca de objetos, animais domésticos, manivas e sementes. Os casais são compostos de indivíduos de dois clãs exogâmicos, que conforme a cosmogonia, estes clãs seria sempre cunhados (Carvalho 2007.12)

Os clãs tendem ser concentrados em áreas geográficas específicas e em mais que uma aldeia e toda aldeia é composta de membros de diversos clãs. Também os clãs dos Hupdah são afilados com um ou outro dos povos Tukanos. Por exemplo o clã ‘Descendentes do Bico do Tukano’ são associados com os Desano e ‘Descendentes da Cobra Vapisuna’ com os Tukano (Epps 2008.14).

No passado os clãs formam uma hierarquia, ou, pelo menos, uma assimilação à pratica Tukano. O clã principal é os ‘Descendentes do Bico do Tukano’ e outros que eram inferiores eram ‘Descendentes do Rolo de Tabaco’ e ‘Descendentes do Excremento’, ambos atualmente extintos (Carvalho 2007.12). Muitos dos Hupdah não conhecem a hierarquia e já é esquecida, ou talvez o conceito de hierquia fosse adaptado dos Tukano. Há onze clãs conhecidos (Epps 2008.14). Cada clã é dividido em uma hierarquia de sibs que em geral não se casam entre si, com exceção dos sibs dentro o clã dos ‘Descendentes do Bico do Tukano’, isso é, o sib superior com o mesmo nome do clã pode se casar com o sib ‘Descendentes do Esteio da Casa’, se não outra opção. Os clãs são patrilocais, o casal mora com os pais do marido, e patrilineares, os filho pertencem ao clã do avô. Os Hupdah procuram casar-se com primo cruzado bilateral, buscam esposas do clã da mãe (Carvalho 2007.13).

Conforme as pesquisas recentes sobre a relação de parentesco e termos de parentesco, foi concluído que há dois grupos de clãs agnatos formando duas sessões distintas e afins. Porém o grupo de clãs considerados irmãos não possuem relação de hierarquia entre eles. Pode ser um processo de assimilação da cultura Tukano que possuem essa hierarquia, mas que ainda não foi absorvida pelos Hupdah. Uma pesquisa feita com informantes de clãs diferentes e cada um afirmou que o seu clã seria o irmão maior, o que levou a conclusão que essa hierarquia não exista mais ou se existiu foi em um passado remoto. Portanto não afirmaria que formam uma hierarquia. Os Hupdáh, de acordo com a pesquisa feita, são patrilineares, patrilocais (com algumas exceções), são endogâmicos quanto ao povo e exogâmico clanicamente, possuindo o sistema dravidiano de parentesco de primos cruzados bilaterais (Cíntia Silva 2014)

Artesanato: Os Hupdah fabricam os cesto cargueiro ou aturá e a zarabatana.Canoas, bancos rituais, potes de cerâmica, pintura corporal e flautas sagradas de iniciação masculina, entre outros, são itens copiados dos vizinhos(Pozzodon 1999).

Religião:
O Jurupari é rito de iniciação dos garotos. Os homens se separam e se preparam com um jejum e mostram os instrumentos Döhö aos iniciados, os quais recebem chicotadas e têm que mastigar pimentas. O Döhö é uma flauta escondida das mulheres e das crianças sob pena da morte. O próprio instrumento musical é feito de paxiúba enrolado com cascas de árvore em forma de espiral, com varinhas de madeira e anéis de cipó que dão o formato de um grande funil. Cada família, estendida ou nuclear, tem um par dos instrumentos, macho e fêmea, que estão guardados nas águas do igarapé próximo à comunidade (Carvalho 2007.9).

O Jurupari é em contraste com o Dabucuri, representa as diferenças entre grupos sociais que se reúnem para demonstrar sua união essencial, atualizando a hierarquia entre os sibs (Marques 2009.79). O Dabucuri é festa de origem dos Índios do Rio e é profana e alcoolizada (Pozzobon 1999). Os próprios Hupdah confessam que as festas são ocasiões quando os Hupdah plácidos se alteram pela embriaguez, insultos, adultério e violência. Para resolver os conflitos famílias ou indivíduos se separam do grupo (Marques 2009.136).

Os Hupdah consideram os rituais de dar crescimento à alma e o preparo para vida após a morte entre os ancestrais, enquanto a feitiçaria é a propriedade da sombra e da potência não humana da pessoa, associadas aos espíritos antropófagos do mundo subterrâneo (Margues 2009.97).

Na cosmovisão Hupdah os seres humanos recebem enfase em distinção de outros entes, e têm a capacidade de movimentar-se por sua própria volição, indicado especialmente pelo uso do d’äh, sufixo marcador do plural (Margues 2009.84 citando Epps 2005). Luz e sombra são as duas substâncias básicas de que se compõem todos os seres, em proporções diversas. Luz é fonte de vida. Sombra é a fonte de morte (Pozzobon 1999). Os Hupdah são distinguidos aos animais de caça, os espíritos, outros povos indígenas e os não índios. Eles pode reconhecer outros índios, como os Yanomami, de ser hupd’äh em oposição aos Índios do Rio, conforme semelhanças do modo de vida, como sua baixa estatura, prática de caça, e outros aspectos da sua cultura prática. (Marques 2009.86).

A pessoa Hupdah forma também um síntese entre as três zonas do cosmos por suas qualidades que compõem a pessoa, sombra (bátib’), corpo (sáp) e alma (háwäg) e assim a pessoa forma um conector central do universo. O corpo distingue o humano dos espíritos. A alma foi criada pelo herói K’èg-Teh e desenvolve em associação com os ancestrais do clã, e é ligado ao corpo pelo ritual de nomeação, recebendo seu nome do clã. A alma é força benéfica que guia a pessoa durante a vida no caminho certo.

Depois da morte a alma ascende para se juntar às almas dos mortos e heróis. A sombra é associada com os laços maternos, é situada no braço esquerdo e ligada às doenças, a feitiçaria e os espíritos da mata. Depois da morte a sombra deixa o corpo e permanece na terra por algum tempo e depois desce ao mundo subterrâneo (Marques 2009.95, 110). A pessoa Hupdah desenvolve conforme o mito e o ato de ouvir e de contar o mito é parte do processo de desenvolvimento do ser humano citando, especialmente as histórias sobre K’èg-Teh, o criador do homens (Marques 2009.88, citando Reid 1979).

Cosmovisão:
Os Hupdah chamam seus mitos ‘a fala dos velhos’ ou ‘a fala reta’. Há três tipos de mitos, primeiro os dos primeiros homens que resolveram os problemas da vida. Em segundo lugar, há os mitos sobre heróis e sobre a origem das normas da ordem moral e cultural. Outros mitos do nível superior são sobre o criador. O criador ou demiurgo que organizou o universo tem diversos nomes conforme o clã: Wahbáw Kég Teh (Deus Abiú) ou Mòh Hup Ih (Inambu Rei).

Os mitos entendem o universo a ser de uma forma vertical e é comparado com uma árvore que consiste em três peças, o solo, os ramos médios e o alto dossel. e o mito completo é tít (cipó). Outros faz a comparação com um ovo (Pozzobon 1999). Então a cosmovisão Hupdah visa o universo em três zonas em ordem vertical com este mundo no meio. A zona superior é separada deste mundo em cima do céu e do sol e da lua por uma barreira de pedras e jaguares. No lugar mais alto é o criador K’èg-Teh em baixo os heróis míticos e em baixo deles as almas dos mortos e dos ancestrais. Depois da morte os Hupdah vivem como os seus parentes mais próximos e os ancestrais de seu clã. Todas as dificuldades desta vida são resolvidas em uma existência sem fome ou esforço. É o inverso desta vida. Os ‘Índios do Rio’ que têm todas as vantagens nesta vida; no entanto, na próxima vida a situação será completamente revertida, eles vão viver no mundo subterrâneo com os espíritos (Marques 2009.105).

No mundo atual em baixo do sol são os abutres e os gaviões tesoura que nos mitos auxilam os humanos. Estas aves são vistas como pessoas. Em baixo destes é o plano horizontal que é ‘nossa terra’ e os Hupdah vivam no meio dela. A terra sofre das doenças e das feitiçarias que vem de fora. No leste é o lago que despencam águas na beira da terra e a ‘casa do pai do sol e da lua’. No oeste é a fonte de todos os rios. Na floresta existem buracos ou fontes de água pelos quais os espíritos (b’atìb’d’äh) sobem e entram no mundo. Eles são predadores de animais e de humanos durante a noite.

Os mitos sobre o nível médio conta sobre a historia do mundo, sobre a Árvore d’Água enorme que foi derrubada e produziu um grande dilúvio. K’èg-Teh sobreviveu. Do tronco surgiu o ‘rio de leite’, o Amazonas, os galhos seus afluentes da paisagem atual. Na terra firme K’èg-Teh criou toda a humanidade de barro e deu o poder de sua alma. Eram todos irmãos, o irmão mais velho era dos Maku. Os ‘Índios do Rio’ e os brancos pularam para dentro um buraco de líquido, mas os Maku não pularam. Quando saíram receberam presentes conforme sua cultura, os Maku aturás, zarabatana e arco e flechas, os ‘Índios do Rio’ canoas, enfeites, instrumentas para a produção de mandioca, etc. e afinal os brancos receberam armas e ferramentas de aço. A explicação dos Maku receber presentes da floresta, apesar de ser os irmãos mais velhos, é que os Maku eram os mais fracos, conforme uma ordem invertida dos Hupdah (Marques 2009.88). Creiam que há uma inversão entre a vida atual Hup e o mundo pós-morte, no qual os Hupdah adotam uma vida conforme as malocas Tukano, substituindo sua própria sistema social (Marques 2009.83).

Os Hupdah compartilham com os povos Tukano do mito da Canoa ou Anaconda de Transformação que viajou rio acima no Amazonas trazendo os ancestrais da maioria das etnias do alto Rio Negro. Hib’áh Hup Ĩh (Homem da Transformação/Dispersão) era o primeiro Hupdah; dele surgiu os Hib’ah Teh D’ah (Descendentes da Transformação) que são os cabeças dos clãs. Cada cabeça é identificado como Hib’áb Nuh isto é Cabeça da Transformação (Carvalho 2007.7). Cada um dos cabeças dos clãs habitam pedras ou morros conhecidos aos membros do clã, e a existência da pedra confirma a veracidade do mito e história do clã. Cada clã possui seus próprios mitos deixado por seu cabeça.

Em baixo da floresta deste mundo é o mundo subterrâneo com os espíritos (b’atìb’d’äh), mas pouco é conhecido desta zona. Os espíritos (b’atìb’d’äh) são predadores até dos predadores, as onças (Marques 2009.96). A sombra do Hupdah desce para esta zona depois da morte. Há um grande rio que corre pare o leste e leva o sol durante a noite (Marques 2009.107 citando Reid 1979). É o “mundo das sombras”, de onde vêm todos os “monstros”, tais como os escorpiões, as onças, as cobras venenosas, os Índios do Rio e os brancos (Pozzobon 1999). A dimensão vertical do cosmos envolve também a distancia temporal, e o mais alto é o mais antigo (Marques 2009.116).

Comentário:
A ONG Pró-Amazônia serviu os Hupdah com dois casais: Marcelo e Cláudia Carvalho e Adílson e Cíntia Silva.

O alvo evangélico, alem de auxiliar o povo em projetos de industria e educação é recomendar o Criador e a salvação em Cristo. Um conhecimento bíblico ainda básico demonstra que a fé em Cristo envolve uma mudança de cosmovisão. O Cristão novato não sobrevive com sua fé superimposto na cosmovisão antiga. A Bíblia consiste na maioria de narrativas, quando contados e meditados podem desenvolver a vida espiritual, e forjar uma identificação cristã, como os mitos Hupdah. Consiste dos relatos inspirados pelo Criador de testemunhas auriculares da proezas do Criador que formam um povo, o antigo Israel, no lugar central da terra, para revelar suas normas para sociedade humana e a realização da sua salvação em Cristo.

A natureza da narrativa bíblica demonstra que a cosmovisão cristã é formada de uma história linear, criada pela atuação constante do Criador, na qual somos participantes. Há um processo e progresso cronológico; o tempo é Deus que transforma as criaturas e situações em mudanças incrementais conforme sua vontade cumprindo seu propósito. As consequências do passado, a criação, a queda, o mal e a redenção por Cristo, estão no presente. Não pode voltar para os tempos primordiais em transe. Participar no propósito de Deus é pelo evangelho fundamentado na história narrativa bíblica. O plano divino forma o ‘horizontal’ da história progredindo à restauração de todas as coisas. Nossa responsabilidade é responder ao Criador com fé e serviço participando com Ele para que sua vontade seja feita na terra.

Mas nossa reposta a Deus é ‘vertical’, em parte como a cosmovisão Hupdah, por confiar em Deus e o Filho de Deus pela redenção. É luz e vida em oposição à escuridão e o mal. Esta redenção é o primeira passo na restauração ou inversão do mundo do mal. É mister o ensino da antropologia bíblica do homem, criado a imagem de Deus, uma unidade de corpo, alma, espírito e coração, com a responsabilidade de representar o Criador e o servir especialmente na manutenção do meio ambiente. A inversão que o Hupdah deseja é em der do povo de Deus, em contraste com os demais.

Bibliografia:

  • CALALZAR, Alosio, 2006, (redator) Povos Indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambietal do noroeste da Amazônia brasileira, São Gabriel da Cachoeira, São Paulo: FIORN-ISA.
  • CARVALHO, Marcelo, 2007, ‘Os Hupdah e o Letramento na Língua Materna’, Revista Antropos-Vol 1, Ano1, revista.antropos.com.br
  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • EPPS, Patience, 2008 (1973), A Grammer of Hup, Berlin: Mouton de Gruyter.
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  • POZZOBON, Jorge, 1999, ‘Hupda’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/hupda
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