Jenipapo-Kanidé

David J. Phillips

Autodenominação: Jenipapo-Kanindé foi descoberta por pesquisas históricas, foi adotada pelo povo.

Outros Nomes: Payaku (DAI/AMTB 2010), Paiacú ou Baiacú. Este nome designa um povo numeroso que, no século XVI, habitava toda a área sublitoral dos atuais estados de Ceará e do Rio Grande do Norte. Este grupo são descendentes dos Payaku. O nome é de um peixe comum no litoral nordestino, dotado de glândula venesosa (Porto Grande 1998).

População: 272 (DAI/AMTB 2010). 96 em 1982, 180 em 1997 e 302 em 2010 (FUNASA 2010).

Localização: Ceará na Terra Indígena Lagoa Encantada, de 1.731 ha, no município de Aquirás, CE, declarada em 1997, com 324 Jenipapapo-Kanidé (SIASI/SESAI 2013).

Língua: Português. Não há evidencias da sua língua original.

História: Os Jenipapo e os Kanindé viviam nas margens dos rios Apodi, Choró e Jaguaribe entre os Payaku. Eram conhecidos, como outros povos não-Tupi, ‘tapuias do Nordeste’. Tiveram primeiros contatos com os portugueses na primeira década do século XVII. Foram escravizados e perderam suas terras e foram quase eliminados durante a chamada Guerra dos Bárbaros entre 1680 e 1730. Foram aldeados pelos Jesuítas no rio Choró, em Aquirá em 1707. Entre 1764 e 1890 a Aldeia dos Paiacús era chamada Monte-Mor-o-Velho. Conforme os relatos orais seus antepassados viviam em várias comunidades no município de Aquiraz e chegaram na lagoa no século XIX. A etnia Jenipapo-Kanindé está entre as que primeiro levantou a bandeira étnica no Ceará, ainda na década 80. A Cacique Pequena ou Maria de Lourdes da Conceição Alves liderou a etnia na luta pelos direitos indígenas, pela demarcação de suas terras e em defesa da Lagoa da Encantada (Gomes 2007.12).

Estilo da Vida: Eram conhecidos como ‘os cabeludos da Encantada’ (Gomes 2007.13). A subsistência está baseada na plantação da mandioca durante os ano, e na época das chuvas cultivam milho, batata-doce, feijão, jerimum do nordeste, maxixe e hortaliças. Fazem coleta de caju, coco, manga, murici e outras frutas. Em setembro inicia-se a safra do caju, e dele fazem doces e sucos, além do mocororó, bebida usada nas festas e no ritual do toré (Gomes 2007.150. Pescam à noite o ano todo, com armadilhas que os próprios índios confeccionam, como a cacoeira, o giki e a tarrafa (Gomes 2007.14).

Sociedade: Casam-se entre si mesmos, entre primos cruzados ou paralelos. Poucos deixam a comunidade. Houve em 2015 uma conferencia entre 150 indígenas dos Jenipapo-Kanindé, Pitaguary e Kanindé, para discutir os direitos territorial dos indígenas, sua participação social, seus direitos individuais e coletivos e especialmente a demarcação das terras indígenas no Ceará umas das grandes reivindicações dos indígenas no Estado. O Ceará possui hoje 14 etnias, com uma população composta por aproximadamente 30 mil índios/as residentes em 19 municípios do Estado. Apenas um território está homologado – a Terra Indígena Córrego João Pereira, da Etnia Tremembé. Todas as demais ainda aguardam os trâmites legais para que sejam homologadas (www.adelco.org.br).

Artesanato: Os homens fabricam cestos, chapéus e caçuás de cipó e palha de carnaúba e redes de pesca. As mulheres fazem louça de barro (Porto Alegre 1998).

Religião: A Lagoa Encantada com a mata circundante é o lugar sagrado onde se depositam as história e mitos do povo, e é central na sua cosmologia (Porto Alegre 1998). Entre seus lugares sagrados, estão a Barreira, o Morro do Urubu, o Riacho da Encantada e a própria Lagoa Encantada (Gomes 2007.15).

Cosmovisão:

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br/
  • GOMES, Alexandre, et al, 2007, Povos Indígenas do Ceará, Organização, Memória e Luta, Fortaleza: Editora Ribeiros, pag 13-14, www.academia.edu, acessado 8-10-2015.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • PORTO ALEGRE, Maria Sylvia, 1998, ‘Jenipapo-Kanindé’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/enipapo-kaninde/