Jiripancó

David J. Phillips

Autodenominação:

Outros Nomes: Gerpankó, Jeripancó,

População: 1.600 (DAI/AMTB 2010), 4.629 (FUNAI/SEII 2011).

Localização: Terra Indígena Jiripancó, próxima à cidade de Pariconha, AL, em identificação, de 675 ha, população de 4.629 Jiripancó (FUNAI/SEII 2011).

Língua: Português.

História: Os Jiripancó são descendentes dos Pankararu do Brejo dos Padres. Fizeram uma ‘viagem de fuga’ devido das perseguições e falta de terra pela colonização. Porém ainda mantinham relações com seus parentes, os Pankararu em Brejo dos Padres, Tacaratu, PE (Equipe 2013). Havia uma antiga aldeia chamada Geripanicó, provavelmente onde foi construída a ‘capela de jeritacó’, onde viviam os ‘Pipipões ou Geritacós. Em 1852, José Carapina se mudou para o Pariconha e em 1897 outras famílias chegaram e se iniciou ali uma nova matriz étnica, porém o nome Jiripancó não era utilizado (Ferreira 2009.36). Eles sofreram violência até chegaram para o Ouricuri.

O Cacique jiripancó Genésio Miranda da Silva, ainda jovem foi iniciado nos rituais dos Pankararu e este contato foi importante quando na década 80 os Jiripancó buscaram reconhecimento para seus direitos indígenas. Os Pankararu vivem em cinco T. I.s em Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo com uma população de 8.477 (FUNASA 2010). Veja perfil.

Estilo da Vida: Os Jiripancó vivem em oitos comunidades no município de Pariconha, AL. As terras dos Jiripancó não são suficientes para a subsistência de todas as famílias. Para os Jiripancó, a mãe terra faz parte da natureza que se relaciona com o humano, oferecendo-lhe alimento e vida mas também significa existência espiritual. A necessidade de subsistência leva a maioria a trabalhar como meeiros de fazendeiros da região, nos meses que correspondem ao inverno. No verão, geralmente vão para o corte da cana-de-açúcar nas usinas de Alagoas e em outros Estados vizinhos. Eles retornam ao fim da moagem para plantar feião, milho e mandioca durante o inverno. O solo não é adequado para cultivar muitos frutos, mas tem caju, pinha, jaca e manga e o umbu no inverno (Ferreira 2009.43).

As casas na comunidade Ouricuri, na maioria, são construídas de alvenaria, situadas em seis ruas; o centro é formado por um quadrado de quatro ruas. No centro há duas igrejas católicas e uma praça com uma quadra de esporte. Água encanada vem do rio São Francisco mas as vezes falta. Todas das casas têm banheiro. A maioria das casas tem televisão e aparelhos de DVD. Um posto de saúde funciona durante os dias úteis. Eles encaram a educação ser uma possibilidade para o trabalho fora do corte da cana-de-açúcar para seus filhos (Ferreira 2009.21).

Sociedade: Os Jiripancó vivem em oito comunidades: Ouricuri, Figueiredo, Piancó, no território Jiripancó identificada em 1992. As outras comunidades são Poço D’Areia, Serra do Engenho, Araticum, Capim e Caraibeiras. São 223 famílias aldeadas e 99 desaldeadas. Tem-se uma área do domínio indígena de 15 ha (Ouricuri) e uma adquirida de 200 ha da comunidades de Figueiredo (Ferreira 2009.36).

Artesanato:

Religião: Seu território é um lugar simbólico que garante as práticas culturais religiosas e promove a vida, e os conforta quando os recebe de volta, após a morte. Na mata são os antepassados, os encantados, os praiás, os espíritos que os protegem, que os guiam no dia-a-dia, que os fortalecem quando entram em contato com o universo sagrado (Ferreira 2009.32). A formação de um praticante dos rituais, um Juncaia, leva até 25 a 30 anos (Ferreira 2009.56).

Os rituais dos Jiripancó envolvem o Poró, os Praiá e o Toré. O Poró é o lugar sagrado para realizar todos os rituais privados à comunidade. É uma casa construída com alvenaria onde somente os homens entram.

Os Jiripancó possuem quatro ou cinco Terreiros, que são espaços de aproximadamente 50 metros quadrados cercado de arvores. É o lugar que o povo se envolve com seus protetores, os encantados. Os Praiá são homens vestidos da cabeça aos pés com vestidos de palha de caroá marcados com cruzes. O Praiá representa a divindade ou o encantado que liga o povo ao mundo sobrenatural. Para ver um Praiá dançar e cantar é um momento singular para o índio, confirmando sua identidade de indígena. O Toré Jiripancó envolve o canto de hinos aprendidos dos encantados, cantados durante as danças. O povo em fila faz voltas do terreiro com o ritmo marcado por um maracá. Oferendas de comida são oferecidas aos Praiá (Ferreira 2009.68).

A Festa do Umbu: O umbu (Spondias tuberosa) é uma fruta muito comum no sertão, vive na caatinga alagoano, e para os índios tem uma ligação simbólica com o sagrado (Ferreira 2009.70). A massa é misturada com leite de açúcar para fazer umbuzada, uma bebida.

A Dança do Cansanção é um ritual aberto aos convidados não-indígenas. O cansanção é uma erva da família das urtigas que provocam coceiras acompanhadas de muita dor. Os Praiá dançam no terreiro desde o sábado à noite em fila da direita para a esquerda. No final das tardes de domingo são colocados no canto do terreiro alguns galhos de cansanção com cestas cheias de frutas e alimentos, os quais serão ofertados aos Praiá. As oferendas são para agradecer a fartura já experimentada ou para que os Praiá dessem no futuro. As mulheres dançam com cestas na cabeça e o rosto pintado branco. Os homens e os meninos dançam sem camisa e com o corpo pintado de branco. Aqueles que dançam ficam na fila alternadamente com os Praiá. As cestas são levadas pelas mulheres na fila. Pessoas que não querem dançar podem pagar um substituto dança no seu lugar e sofrer a dor do cansanção. Todos dão uns vinte voltas no terreiro e passam para um segundo terreiro e colocam todo o cansanção em forma de coivara e é pisado pelos Praiá. Vencer a dor das queimaduras do cansanção significa adquirir forças para enfrentar os obstáculos da vida. Significa que os encantados continuarão a proteger e a guiar os Jiripancó no dia-a-dia (Ferreira 2009.74).

Os Jiripancó fazem avaliação das doenças entre a ordem espiritual ou material. Se for de ordem espiritual buscam a cura por meio dos espíritos encantados com ervas, chás ou oferendas. O pajé faz a cura através um trabalho de mesa no Poró ou pode se fazer na casa do doente. O pajé passa a ter visões de coisas incríveis, enquanto seu corpo fica suado. Ele pega a maracá e começa a balançar, dando ritmo ao ritual. Defuma a casa com fumo de um cachimbo. Se for a doença de ordem material, eles enviam o doente aos médicos.

Cosmovisão: Os Jiripancó mesclaram o Catolicismo popular com as crenças indígenas. A Festa da Santa Cruz, padroeira da Igreja, é a ocasião para a celebração da missa. Os Praiá estão presentes para dar início da festa, porque um encontro da Santa Cruz e os encantados no mesmo espaço é parte essencial da formação da religiosidade dos Jiripancó. Imagens de Praiá estão colocados em uma mesa pequena dentro a igreja ao lado do altar católico. Zabumbeiros tocam na igreja e nove noites de novenas são rezadas no início da noite (Ferreira 2009.79).

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –http://instituto.antropos.com.br/
  • EQUIPE de edição, 2013, ‘Jiripancó’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/jiripanco/
  • FERREIRA, Gilberto Geraldo, 2009,’A Educação dos Jiripancó: Uma Reflexão sobre a Escola Diferenciada dos Povos Indígenas de Alagoas’, Maceió, AL: Universidade Federal de Alagoas, Centro de Educação, Programa de Pós-graduação em Educação -Mestrado em Educação Brasileira.