Kambeba — Omágua (Brasil e Peru)

David J. Phillips

Autodenominação: Omágua no Peru (Maciel 2007).

Outros Nomes: Omágua, Cambeba (DAI/AMTB 2010). Omagua-yete, Ariana, Pariana, Anapia, Macamipa, Kambeba, Yhuata, Umaua, Cambeba, Cambela, Canga-peba, Agua (SIL).

População: 347 (DAI/AMTB 2010), Brasil: 780 (FUNASA 2010) Peru: 3.500 Benedito Maciel 1994). 59-240 no Brasil (SIL).

Localização: AM e Peru. Vivem em cinco Terras Indígenas no Brasil:

T. I. Cajuhiri Atravessado, AM, de 12.500 ha, entre o rio Solimões e rio Coari Grande, declarada, com 51 Ticuma, Miranha e Kambeba (FUNAI 2010).

T. I. Igarapé Grande, AM, de 1.539 ha oito km. a oeste de Alvaraes no rio Caiaçara, homologada e registrada no CRI e na SPU, com 52 Kambeba (FUNAI 2011).

T. I. Barreira da Missão, AM, 1.772 ha na margem direita do rio Solimões/Tefé dez km. rio abaixo da cidade de Tefé, homologada e registrada no CRI, com 788 Ticuna, Kaixana, Miranha, Witoto e Kambeba (FUNAI 2011).

T. I. Jaquiri, AM, de 1.820 ha na margem esquerda do rio Solimões, 20 km rio acima da cidade de Alvaraes, homologada e registrada no CRI e na SPU, com 82 Kambeba (IBGE 2010).

T. I. Aldeia Beja Flor, AM, de 41 ha, dominial indígena, Kambeba com Baré, Borari, Desana, Marubo, Munduruku, Mura, Sateré Mawé, Tukano e Tuyuka.

Peru: O povo Omagua vive principalmente no Departamento de Loreto, próximo à confluência dos rios Marañon e Ucayali, e outros vivem nas comuidades do Kukama kukamiria.

Língua: Kambeba e português. Kambeba é da família linguística Tupi-Guarani. No Peru a língua materna é falada cotidianamente. Omagua no Peru. Todos falam espanhol e Cocama no Peru. Quatro dialetos Aizuare, Curacirari, Curucicuri e Paguara (SIL).

História: Os Kambeba viviam nas margens do rio Solimões entre os rios Coari e Purús, conhecidos como os Omágua das Ilhas. Vivem também rio acima no rio Solimões/Amazonas entre a confluência do rio Iça e o baixo Napo no Peru. Estes últimos norio Napo eram considerados os Omágua Yetê ou os Omágua Verdadeiros. No século XVII habitavam a várzea do alto Solimões/Amazonas (Maciel 2007). Alguns estudiosos pensam que os Omágua migravam da parte central do rio Amazonas para suas terras no Peru duzentos ou trezentos anos antes da chegada dos europeus. Primeiramente viviam nas margens do rio Ucaliyali (BDPI).

Francisco de Orellana foi o primeiro europeu para descer o rio Napo e depois o Amazonas até o oceano Atlântico em 1542. A expedição encontrou muitas aldeias e dos índios ganharam seu alimento. Encontrou o cacique Aparia, que provavelmente era Omágua, que os hospedaram por três meses. Mas na descida do rio eles não foram bem recebidos (Hemming 2008.28). Em 1637 Raimundo de Noronha organizou uma expedição sob o comando de Pedro Teixeira e com remadores indígenas para ganhar toda a Amazônia para Portugal e demarcar a fronteira perto do rio Napo. A expedição voltou a Belem com o jesuíta Acuña; os Omágua impressionou o padre e ele escreveu uma descrição do seu uso de roupas de algodão, suas plantações de mandioca, batata doce e feição. Criaram tartarugas em tanques perto da suas casas para fornecer ovos e carne todo o ano. Eram conhecidos como Cambebas, tupi por cabeças chatas, devido à sua prática de deformar a crânios dos infantes para que a cabeça era chata na testa e atras. O ‘rei’ deles era tratado com um ‘deus’.

Os Omágua eram pacíficos para com os europeus mas guerreavam constante contra outras tribos (Hemming 2008.56-58). Com o estabelecimento da missões, o padre Cujías contou 15.000 Omáguas em 1645, mas muitos eram perdidos pela escravidão praticada pelos portugueses (BDPI). Em 1648 o frade Laureano de la Cruz descobriu os Omágua arrasados por epidemias (Hemming 2008.63). Em 1686, o jesuíta Samuel Fritz estabeleceu 33 aldeias ou missões entre os Omágua.

A borracha era conhecida desde das viagens de Colombo, mas exploração comercial dela começou nas últimas décadas do século XIX. O francês Charles Marie de la Condamine descobriu os Omágua fabricando garrafas, botas, e bolas com a borracha. Eles chamavam a material hevé e depois a arvore recebeu o nome Hevea brasiliensis, e em 1770 foi vendido em Londrês para apagar as marcas de um lápis, e por isso foi denominado ‘rubber’ em inglês. Alexandre Rodrigues Ferreira, que trabalhou na demarcação da fronteira, deu o crédito aos Omágua pela descoberta de borracha. Uma roupa à prova da água foi enviada ao rei do Portugal, uma fábrica de borracha foi estabelecida (Hemming 1987.261).

Na década 1960, Ribeiro and Wise (1978), notaram que os Omagua viviam em comunidades de povos mixtos, especialmente com os Kukama Kuamiria, com quem eles compartilham tradições históricas e culturais. Conforme o INEI do Peru os Omágua são um de nove povos que preferem viver em comunidades com outras etnias. Os Omágua deixaram de se identificar como indígena em razão da violência e discriminação de frentes não-indígenas na região desde meados do século XVIII (Maciel 2007).

Estilo da Vida: Os Omágua constroem suas casas em uma linha, seguindo a margem do rio ou igarapé. São construídas em madeira com palafita, no estilo regional. A aldeia Nossa Senhora da Saúde de suas relações com a Prefeitura da cidade de Novo Airão, no rio Negro perto de Manaus, recebeu telhas de alumínio e também assistência em educação e saúde. Esta e as aldeias Igarapé Grande e Jaquiri no rio Solimões, perto de Alvarães, têm escolas. A aldeia Betel fica rio abaixo de Tefé.

Sociedade: Os Kambeba se organizam em famílias patrilineares, e quando se casar constrói sua própria casa e mantem laços estreitos com os pais. Os Kambeba têm feito casamento com outras etnia e os ribeirinhos, e exploram estas alianças para ligações políticas. O marido ou a esposa não Kambeba é considerado membro da comunidade. A família Cruz com o patriarca Valdomiro Cruz é respeitado como tuxaua por todos os Kambeba. Os outros tuxauas das aldeias são da mesma família. Os homens preparam as roça, a torragem da farinha de mandioca, o comércio de produtos e as negociações políticas, a pesca, caça e fabricação de canoas. As mulheres cuidam da casa, da alimentação, cuidam dos filhos e sua edução. Também plantam e limpam as roças, descascam a mandioca e coletam frutas silvestres (Maciel 2007).

Artesanato:

Religião: Os Kambeba no Brasil são católicos nas aldeias Jaquiri, Nossa Senhora da Saúde e Igarap;e Grande. Têm rezadores que rezam em latim. A aldeia Betel é pentecostal (Maciel 2007).

Cosmovisão:

Comentário:

Bibliografia:

  • BDPI-Base de Datos de Pueblos Indígenas u Originarios, Ministerio de Cultura, Perú, http://bdpi.cultura.gob.pe/pueblo/bora, acesso 13 de abril 2015.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –http://instituto.antropos.com.br/
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2008, Tree of Rivers; The Story of the Amazon, London: Thames e Hudson.
  • MACIEL, Benedito, 2007, ‘Kambeba’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kambeba/
  • PERUSIL, 2015, http://www.peru.sil.org/language_culture/family_jivaroan-witotoan/bora acessado 13 de abril de 2015.
  • SIL 2015, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Eighteenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com