Makuna — Yeba-masã

David J. Phillips

Autodenominação: Yeba-masã. Makuna é nome alheio, possivelmente de origem da língua geral, os Makuna usam os nomes dos clãs para se identificar (Arhem:1981).

Outros nomes:

Colombia: Makuna, Buhagana, Roea, Emoa, Ide, Yeba, Suroa, Tabotiro Jejea, Umua, Wuhána, Paneroa, Jepa-Matsi, Yepá-Mahsá.

Brasil: Makuna, Buhagana, Baigana, Wuhána, Jepa-Matsi, Yepá-Mahsá, Yehpá Majsá, Yepá Maxsã, Yebamasã, Paneroa, Yeba-masã.

População: No Brasil:100 (1973 RC), 32 (Dsei/Foirn 2005); na Colômbia: 528 (1988) 450 (1991 SIL). 1,010 na Colômbia ( 2001 SIL). 900 (Mekler). 600 (1989 Arhem). Instituto Antropos-DAI/AMTB (2009): 728 (Brasil: 200; Colômbia: 528).

Língua: Uma de duas do ramo sulista da Tukano Oriental. Os adultos falam também as línguas dos vizinhos, Barasana, Tuyuka. Alfabetizados: 5% – 10%. Dicionário. Novo Testamento: 1989 (SIL). Alguns sibs da fratria Yiba Masa falam Barasana (S. Hugh-Jones in Goldman 2004.409).

Localização: Na Colômbia moram no rio Pirá-Paraná afluente do rio Apaporis e no rio Komenya, e entre o rio Tiquié e rio Apaporis, afluente do rio Japurá. No Brasil moram no Alto Tiquié e nos seus afluentes, no alto Igarapé Castanha e no alto Ig. da Onça.

Terra Indígena Alto Rio Negro de 7.999.380 ha homologada e registrada no CRI e SPU com 32 Makuna entre 26.046 indígenas de 20 etnias (SIASI 2013).

História: Antigamente havia um sistema de comércio entre os povos da região do rio Vaupés. Cada povo eram reconhecidos como especialistas em fabricar certos produtos. Os Maku era peritos em preparar o veneno, os Tuyuca a cerâmica, os Barasana a cesteira e os povos Aruak os raladores. Os Makuna fabricam e vendem remos leves, muito procurados dos outros povos.

Os Makuna eram conhecidos pelos outros indígenas da região como ‘matam gente’ (Smothermon 1979). O primeiro contato com europeus aconteceu em 1776 com um Português; depois os missionários católicos tentaram trabalhar entre eles durantes os próximos dois séculos, mas eram impedidos pela violência indígena. Durante esta época os Makuna guerreavam contra outras tribos especialmente os Yaúna e Tanimuka (ambos povos antigos dos Tukano Orientais), porque pensaram que os feiticeiros destes estavam os prejudicando.

Muitos Makuna foram escravizados nos anos 1900-10 para trabalhar como seringueiros, e calcula-se que em geral mais de 40.000 indígenas faleceram devidos às condições e às doenças. O trabalho esforçado para extrair a borracha foi repetido durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da queda do mercado da borracha os patrões de plantações exploram os índios até os anos setenta. Uma missão católica permanente se estabeleceu em Pirá-Paraná nos anos 1960 e os missionários evangélicos vieram ‘fingindo de traduzir a Bíblia’. (Mekler 2001). Um comércio de peles de animais existia até proibido. Os Makuna plantaram e forneceram coca para o comércio com os brancos, mas esta atividade ilegal também terminou acerca de 1985, e os comerciantes saíram da região. Depois 1980, ouro foi descoberto no rio Taraira perto do território dos Makuna e muitos pessoas foram tirar o ouro, poluindo os riachos e derrubando a floresta. Alguns Makuna trabalham em extrair o ouro por si mesmo ou para patrões, e ganham artigos dos brancos.

Atualmente há assentimentos de brasileiros pobres na região. ‘Eles trazerem a violência e uma exploração não experimentado pelos Makuna desde a época da borracha’ (Mekler 2001). Dois territórios indígenas são designados, que ajudam os Makuna (Arhem 1981).

Estilo de vida: Até os anos 1970 os assentimentos consistiam de um grupo de três ou cinco famílias morando em uma maloca. Há dois tipos de maloca: Em geral é retangular, 30-40 m. de comprimento, 20 m. de largura e 9 m. de altura; no Rio Apaporis é construída um tipo circular com diâmetro de 10m. Hoje em dia as famílias moram em casas separadas e a maloca é usada para as atividades comunais. As famílias extensas de cada aldeia são parentela de irmãos ou cunhados, mas na médio são pequenas, de 12 ou 13 pessoas. Dois terços das famílias extensas dispersam depois da morte do pai ou chefe de família.

Há uma divisão de responsabilidades entre os homens e as mulheres. Na cosmovisão a terra é associada com a fertilidade, por isso as mulheres cultivam as roças, preparam a comida e fabricam potes de barro. Conforme o mito a filha da anaconda Hino cortou e plantou seus dedos e assim deu as plantas cultivadas aos Makuna. Plantam mandioca, coca, batata doce, banana, tabaco, pimentas e cana e o cipó para fazer o timbó.

Os homens são associados com o mato; preparam as roças, caçam anta, paca, pecari, macaco e jacaré. Porém a pesca é mais importante do que a caça, e as mulheres e os homens a fazem juntos. Fabricam coisas de matérias tiradas da mata, como canoas, as casas, cestos, tecem as redes e colhem castanhas e frutos. Os homens são responsáveis cultivar o tabaco e a coca. Têm comércio de farinha com os colombianos e ganham em troca ferramentas de aço, panelas de alumino.

Os homens construem as malocas em uma roça alqueivada, depois de ganhar a permissão dos espíritos da floresta. O estilo é como entre outros povos Tukano; a porta da frente é para os homens e dá para um trilho para o ‘porto’ no rio. A fachada é construída em cima de palha e em baixo de tabuas, pintadas com símbolos tirados das visões sob influencia do alucinógeno, yagê. O interior dianteiro é para os ritos, danças e cerimônias. Os postos principais são nomeados com os nomes dos ancestrais. O espaço aos lados é divido em compartimentos por armações de pari para as famílias nucleares; os fundos são para as mulheres e a preparação do alimento. A porta dos fundos é das mulheres e dá para as roças. O telhado de palha é renovado em seis ou oito anos.

Depois de construir a maloca o pajé sopra fumaça de tabaco, água está salpicada no chão, os homens dançam e a maloca é considerada de ter vida própria. Hoje os assentimentos usam a maloca como um centro comunal, durante as festas e acomodando até setenta visitantes, mas os habitantes vivem em casas familiares, de irmãos parentes. Há escolas públicas nas aldeias.

Artesanato: Fabricam canoas, remos, zarabatanas e curare (FOIRN).

Sociedade: Os Makuna são do grupo de povos Tukano orientais: Tukano, Desana, Tuyuka, Wanano, Makuna, Bará, Pira-Tupuya e Mirití-Tupuya, Arapaso, Karapanã, Tatuyo, Yurutí, Taiwano, Barasana, Kubeo, Siriano, e Yurutí. (Acrescentados Letuana, Pisá-mira, e Tanimuka por Hugh-Jones, Goldman 2004.406). Estes povos usam Tukano como língua franca e praticam uma exogamia linguística, e assim mantêm uma unidade regional, mas mantêm suas identidades étnicas por suas distintas tradições religiosas praticadas pelos homens. Porém os Kubeo e os Makuna são as excepções por praticar endogamia linguística entre suas fratrias (Cabalzar 2000, Goldman 2004.15, 57, Lasmar2005.53).

Os Makuna se dividam em duas fratrias, o Povo d’água (Ide masa) e o Povo da terra (Yiba Masa); pois são descendentes dos dois irmãos, Ide Hino e Yeba Hino, filhos de Hino, a Anaconda mitológica. As fratrias são grupos exogâmicos de clãs. Então numa família os irmãos são da fratria do clã e os cunhados da outra. As fratrias e o tabu de se casar entre os clãs da mesma fratria são explicadas por ser ‘irmãos’ do mesmo ancestral mitológico, classificados em acordo com seus ‘habitats cósmicos, no caso dos Makuna – ‘terra’ e ‘água’ (Laşmar 2005.58). Há em geral uma ‘regra de exogamia linguística’ no grupo de povos tucano, pois a ideia de ser ‘irmãos’ é reconhecida nas diferenças de língua ou dialeto. Do ponto de vista indígena a qualquer diferença é suficiente para manter o conceito de ser descendentes nos irmãos ancestrais (Hugh-Jones em Goldman 2004.410).

As fratrias estão divididos em cerca de 12 clãs. Cada clã é reconhecido em uma hierarquia também conforme uma função tradicional como chefe, dançarino e cantor, guerreio, xamã, e servo e conforme a idade do ancestral, e referem se com ‘irmão’, etc. Os mitos antropogônicos indicam os territórios dos clãs e os direitos a roçar e caçar, etc. dos indivíduos. Hoje esta ordem social é apenas considerada o ideal (Arhem: 1981). Não existe uma liderança central do povo. A sociedade vive em redor das malocas, com chefes (übü), que mantinham sua influência por seu conhecimento, habilidade e ser o anfitrião das festas. Hoje cada aldeia tem um administrador chamado capitán.

O casamento é exógamo entre os clãs da outra fratria ou entre primos cruzados e negociado pelos os anciões; não há uma cerimônia de casamento. Três ou até nove grupos residenciais de famílias extensas são assim ligados pelos casamentos entre eles (Cabalzar 2000 citando Arhem). O casal novo mora com os pais do homem. Quando uma criança nasce ela recebe o espírito dum dos avos e o nome do avô ou avó conforme o seu sexo; e as gerações alternadas podem ter o mesmo nome. Cada clã guarda um ‘depósito’ de nomes a ser usados.

Iniciação: Os jovens estão separados antes da cerimônia para aprender fazer a cestaria e fabricar as ferramentas; depois eles entreguem as cestas às mulheres, que por sua vez pintam os rapazes.

Religião: Os Makuna têm muitos dos mesmos ritos e mitos dos Yakuna (nos rio Miriti-Paraná e Caquetá-Japurá na Colômbia, população 1.800 em 2001 SIL), porém as línguas são diferentes. As danças são realizadas para a iniciação dos jovens, as estações do ano, a migração do peixe, e outras ocasiões decididas pelos pajés. Nas cerimônias usam uma língua ritual que não é inteligível, mesmo para os que têm a aprendida. Consome muito de chucho, uma bebida fermenta feita da cana. O pajé os acompanha durante a caça, cantando canções encantadoras para atrair os animais.

Os Makuna crêem que o alimento é o meio usado por doenças atacar o corpo e pode ser perigoso. Todo alimento, seja carne ou da roça deve ser abençoado pelo chefe (übü) antes de comer, para expulsar os espíritos que causam doenças. Os Makuna creiam que os espíritos dos animais e das plantas podem os punir se caçar ou colher de mais, alem da necessidade da comunidade. Os Macuna não usam ervas medicinais como os outros povos Tukano, os pajés yaia (onças) praticam curas por usar ‘água benta’ ou chupar no membro do corpo afligido (Arnhem 1981).

A festa da Pupunheira (hota basa): A pupunheira (Bactris gasipaes) providencia fruto e palmito, e está explorada comercialmente, e precisa de medidas de conservação. A data da festa é marcada pelos espíritos e é durante a colheita, e um clã é escolhido como anfitrião. Os homens colhem o fruto da palmeira, e pescam e caçam mais provisões. O pajé oferece coca e tabaco para os espíritos não invadir a festa. As mulheres preparem mais farinha e fazem um purê do fruto, que é servida como uma bebida. Os convidados preparam mascaras e costumes, que representam diversos espíritos; os mais importantes representam diversas espécies de peixe. Homens entram na maloca com as mascaras representando os espíritos de macacos, sexo, abelhas aves, onças, etc. A dança dos espíritos continua durante a noite renovando a conexão com as ‘casas de acordar’, a origem dos clãs, e uma conexão com os espíritos dos mortos. A festa dura por dois dias.

Os Makuna crêem que a pessoa consiste do espírito dado pelo pai e do corpo dado pela mãe. Eles crêem na reincarnação, os espíritos dos avós falecidos entra nas crianças com seu nomes. Logo a morte acontece as mulheres levantam um lamento barulhento para propiciar os espíritos e não somente por causa da perda de um querido. Na cerimonia homens mascarados como o povo peixe, representando os mortos que estão esperando se reencarnar no meio da aldeia. Se a cerimonia não está realizada da maneira certa os mortos podem causar desastres.

Os mortos são enterrados com algumas coisas deles em baixo da casa na posição fetal, para representar a reincarnação da alma, e depois o pajé queimar cera de abelha na casa para limpá-la. Entretanto os mortos são considerados de vagam como espíritos pelo céu ou no mundo subterrâneo para depois terminar em Manaitara, a ‘casa de acordar’. O corpo desce para um rio subterrâneo e é perdido. Se o cadáver é tratado bem, depois um tempo da casa dos mortos, o espírito se reencarne em uma pessoa, animal ou planta. Se a família não cuida do cadáver o espírito vai para o mundo subterremo e pode assombrar a família, causando desastres e a morte dos familiares. Manaitara é considerado o portão entre os dois mundos, este dos vivos e o outro dos espíritos, que esperam reencarnar em um corpo novo. Este mundos correspondem às fratrias, Povo d’água (Ide masa) e o Povo da terra (Yiba Masa), e casamento unem pessoas reincarnadas de espírito e corpo.

Os Pajés (cumu ou yai) ensinam que as doenças têm diversas causas, por exemplo, comer alimento sem a bênção, ou comer algo sujeito a um tabu, sofrer um feitiço ou ataque de um espírito durante um rito. Se o pajé não tratar a pessoa doente, ela vai morrer. Os pajés curandeiros (yaia = onças) fazem curas por recitar silenciosamente canções e soprar fumaça de tabaco sobre o doente. O cantador (yuam) canta os mitos da criação na festas. São mediadores para manter a reciprocidade entre a natureza e o consumo do povo. No mundo invisível os animais têm sociedades organizadas semelhantes aos homens.

Cosmovisao: No princípio havia nada, nem terra nem céu, apenas um caos. O espírito He era xamã, onça e anaconda; ele era todos os três de uma vez, e estes se multiplicaram e devoraram um aos outro. Uma mulher pajé, A Mãe Ancestral (romi cumu), representada hoje pela constelação os Plêiades, destruiu este mundo primordial, que se tornou o mundo subterrâneo, o céu velho se tornou o mundo atual. Esta Mãe é parte da visão dos Barasana (Goldman 2004.302). O mundo makuna consiste de duas dimensões, este mundo de experiência normal, da vida, rios, animais e da floresta, e o mundo duplo que contem as copias espíritas de todas as coisas deste mundo. Todos os animais são um tipo de gente e têm organização social. É importante ter relacionamentos baseados na reciprocidade tanto com os animais quanto com outros homens. O mundo está em processo de acabar e renovar.

Este mundo foi criado pela união sexual de Romi Cumu, com quatro heróis que são representados pelo trovão. Dois trovoes, Adyawa e Adya, na forma de papagaios, ficaram no leste com um pouco ar e protetores nos ouvidos. Adyawa disse que os protetores eram para criar o mundo. Ele começou a zunir e um dos seus protetores começou a flutuar no ar e a girar e o ar se estendeu criando o primeiro espaço. Depois os dois trovoes roubaram as flautas e trombetas sacras Yurupari da Mãe Ancestral, e estabeleceram o predomínio masculino. As flautas e trombetas, feitas do estipe da paxuíba, são vistos como os ossos dos ancestrais e escondidas das mulheres.

Os ancestrais makuna eram anacondas e vieram à ‘porta d’água’ no leste, onde os rios saem deste mundo, e como anacondas gigantes subiram os rios até chegaram à terra dos Rios Apaporis e Pirá-Paraná. Aqui as anacondas saíram do rio e se transformam em seres humanos; os lugares aonde elas desembarcaram são ‘as casas de acordar’ de cada clã, aonde os clãs nasceram. As anacondas deram as flautas de Yurupari, de dois tipos, um para a iniciação (yurupari), e outro para a festa da colheita (hota basa). Hoje o espírito de He é considerado de estar dentro das flautas; cada clã possui suas próprias flautas. Os pajés consideram que existam lugares em baixo d’água que sejam malocas para onde vão os espíritos dos mortos para se transformar em pessoas espirituais.

Bibliografia:

  • ARHEM, Kaj, 1981, Makuna Social Organization, Uppsala Studies in Cultural Anthropology, Stockholm: Almqvist & Wiksell International.
  • ARHEM, Kaj, 2004, Makuna, Portrait of an Amazon People, Washington: Smithsonian Books.
  • CABALZAR Aloisio, 2000, ‘Descendência e aliança no espaço tuyuka. A noção de nexo regional no noroeste amazônico’. São Paulo: Revista de Antropologia, vol. 43. No. 1.
  • CABALZAR, Aloiso, 2006, (Redator) Povos Indígenas do Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira: FOIRN e ISA.
  • GOLDMAN, Irving, 2004, Cubeo Hehénewa Religious Thought, Peter J. Wilson, Ed., New York: Colombia Univerisity Press (texto original preparado em 1988). Afterword por Stephen Hugh-Jones.
  • ISA – Instituto Socioambiental, www.socioambiental.org..
  • LAŞMAR, Cristiane, 2005, De Volta ao Lago de Leite, São Paulo: Editora UNESP.
  • MERKLER, Adam, et al, 2001, Under the Canopy – Myth and Reality in Western and North-western Amazonia, Fresno Art Museum.
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