Ofayé — Ofaié

David J. Phillips

Autodenominação: Ofaié

Outros Nomes: Ofayé-Xavante, Opayé, Ófalé, Ofaié, Ofaié-Xavante (DAI/AMTB 2010). Opayé, Opaié, Ofaiê, Faiá, Faié, Fae, Faiá, Kukura, Xavante, Chavante, Shavante, Chavante-Ofaié, Chavante-Opaié, Guaxi, entre outros. Nada têm em comum com a etnia Xavante do rio dos mortos.

População: 87 (DAI/AMTB 2010), 60 (FUNASA 2010), 103 (FUNAI 2010).

Localização: Terra Indígena Ofaié-Xavante, MS, de 1.937 ha, na margem sul da rodovia MS-040, declarada, com 105 (FUNAI 2010). 17 são Guarani Kaiowá e dois não indígena em 2001.

Língua: Ofayé , português. A maioria dos adultos fala a língua Ofaié, frequentam a Escola Municipal Ofaié-E-Iniecheki na própria aldeia (Dutra 2005).

História: Os Ofayé viviam na margem direita do alto rio Paraná no século XVII. Na primeira metade do século seguinte localizavam-se entre o alto curso do rio Paraná e a Serra do Maracaju. Em 1864 cinco aldeias eram encontradas nas duas margens do rio Paraná. Nos últimos anos do século XIX os Ofayé abandonaram suas terras, devido a ocupação por fazendas de gado, e foram para junto ao rio Samambaia e nos brejos do rio Taboco, afluente do rio Aquidauana. Mas a intensificação do avanço dos fazendeiros, forçou os Ofayé a abandonar sua terras, dividindo em dois, um grupo mudou-se para as margens do rio Samambaia, e o outro se escondeu nos brejos do rio Taboco. Depois a Guerra do Paraguai foram expelidos de novo mudando-se. Em 1903 Rondon os contatou, engajados como peões nas fazendas (Dutra 2005).

Até o início do século XX, os Ofaié eram dois mil e habitavam a margem direita do rio Paraná, desde a foz do Sucuriú até as nascentes do Vacaria e Ivinhema. Sempre em pequenos grupos, viviam em constantes deslocamentos ao longo dessa região.

O SPI reconheceu a necessidade de catequizar os Ofayé e os Capuchinhos estabeleceram uma missão na margem esquerda do rio Paraná com esta finalidade (Dutra 2005).

Em 1911, Manoel Rabelo do SPI, libertou escravos Kaingang e mulheres concubinas da casa de ‘Coronel’ Sanches, o mesmo que matou nos anos 1870 os Oti, caçadores coletadores nos cerrados, relacionados aos Ofayé, mas alguns sobreviveram e o Nimuendajú descobriu três deles em 1908 (Hemming 2003.28, 693). Nos anos finais do século XIX os Ofayé tinham uma população de aproximadamente 2.000, mas em 1957 Darcy Ribeiro os considerou ser extinto (Hemming 2003.452). Foi Nimuendajú que descobriu os sobreviventes dos Ofayé, quando estavam no ponto de extinção (Hemming 2003.223).

Expelidos de uma fazenda no território deles em 1978, foram para Bodoquena, próximos aos Kadiwéu, na sua Reserva, até 1986. Voltando para o rio Paraná trinta e nove deles trabalharam como mão de obra nas fazendas (Hemming 2003.452). Foram expulsos de nov para viver em tendas de lona na beira da estrada, ajudados pelo CIMI (Dutra 2005).

O chefe Xehitâ-ha pediu uma terra para eles e em maio de 1992 a FUNAI comprou uma fazenda por setenta um deles, e o Ministro da Justiça assinou para criar uma reserva de 4.712 ha. Um ano depois a empresa elétrica CESP revelou que o lago de uma nova barragem hidroelétrica inundaria a metade da reserva. Os protestos de organizações indigenistas e ambientalistas forçou a companhia transferir os Ofayé para uma reserva muito menor de 484 ha e construir uma enfermaria, escola, poços artesianos e prédios comunitários (Hemming 2003.452). Esta terra era contígua ao território imemorial dos Ofaié identificado pela FUNAI de 1937 ha. Infelizmente o solo é é impróprio para a lavoura e falta córregos. Depois nove anos ganharam mais 605 ha que deram acesso a dois córregos. Em 2005 a maior fazenda de 1.332 ha ainda estava contestando a posse indígena (Dutra 2005).

Estilo da Vida: O território dos Ofayé é de savanna ou šhavante, ou cerrado. A T. I. é situada no município de Brasilândia, MS. Antigamente os Ofaié eram caçadores coletadores, viviam da caça, pesca e coleta de frutos e mel em uma vasta área que ia do rio Sucuriú até as cabeceiras dos rios Vacaria e Ivinhema. Viviam em pequenos grupos em acampamentos nas beiras dos rios. Construíam tapiris circulares sem paredes. As aldeias haviam um pátio no meio das casas para os rituais. No tempo do frio dormiam em buracos no chão, envoltos em peles de animais. Na estação da seca pecaram, na estação das chuvas caçavam, ficando fora da aldeia por vários dias (Dutra 2005). Hoje criam abelhas para ganhar o mel, conforme um projeto governamental. O trabalho é repartido entre os homens e as mulheres.

Sociedade: A Escola Municipal Ofaié-E-Iniecheki atende uma turma multisseriada, de cerca de 15 alunos, com uma professora não indígena. A cartilha utilizada é a da rede municipal de ensino não indígena da 1ª a 4ª séries (Dutra 2005).

Artesanato:

Religião: Os Ofaié reverenciam o ‘Pai’ ou ‘Agachô’, Deus Criador. A música era feita pela flauta e um pequeno chocalho. O canto era formado por um coro em rituais de danças e com o consumo de cauim, uma bebida de milho fermentado. Mas hoje os Ofayé não se dedicam muito à música.

Cosmovisão:Conforme os mitos os Sol e a Lua eram gêmeos, e o Sol, que o chefe dos homens, andava sempre de intriga com a Lua, que era aliada aos homens. Os homens queriam matar o sol porque não achavam caça alguma. Tentaram queimá-lo, mas ele escapou por mergulhar em uma lagoa. Ele queria transformar os homens em bichos mas a Lua não deixava. Outro mito conta a origem do mel.

Comentário: A SIL fezum trabalho de análise fonêmica e morfológica realizado junto a um grupo Ofaié no Mato Grosso do Sul, em 1958. A língua do grupo de Brasilândia, MS, foi pesquisada por Meiremárcia Guedes (1989) e o trabalho foi continuado por Marlene Carolina de Souza, O povo Ofaié: uma breve abordagem lingüística (1991), resultando na produção de uma cartilha organizada por esta última autora. Outros trabalhos foram feitos por Lúcia Helena Tozzi da Silva (2002) e Maria das Dores de Oliveira (2004), cuja pesquisa ainda se encontra em curso. Uma Seleção de Dados de Ofaié by Sarah C. Gudschinsky (Dutra 2005).

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • DUTRA, Carlos Alberto dos Santos, 2005, ‘Ofaié’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/ofaie.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.