Paiaku — Jenipapo-Kanindé

David J. Phillips

Autodenominação: Jenipapo-Kanindé era nome descoberto em pesquisas mais aprofundadas e o povo o adotou como a autodenominação (Porto Alegre 1998).

Outros Nomes: Da família de povos Tarairiú. Payaku ou Baiacú é nome do peixe, sapo do mar ou peixe balão da ordem dos Tetradontiformes. Este nome está na memória dos velhos do povo.

População: 220 (DAI/AMTB 2010), 302 (FUNASA 2010), 304 (FUNAI 2011). A população cresceu de 96 pessoas em 1982, 180 em 1997, 302 em 2010 e 304 em 2011.

Localização: A Terra Indígena Lagoa Encantada, no município de Aquirás, CE, de 1.731 ha, declarada, com 304 Jenipapo-Kanindé (FUNAI 2011).

Língua: Português.

História: Os Paiaku era uma nação indígena numerosa da família Tarairú que habitava a faixa sublitorânea dos atuais estados do Ceará e do Rio Grande do Norte (Porto Alegre 1998). Nas ultimas décadas do seculo XX, um número de grupos emergem no cenário politico reivindicando uma identidade indígena. O número no Nordeste cresceu de dez etnias em 1950 para 23 em 1994, conforme João Pacheco de Oliveira. Era aceito que o índio não podia mudar seus sistemas culturais sem perder sua identidade, e por isso desapareceu do cena social.

Os Paiaku viviam entre a margem direita do baixo Jaguaribe, o Apodi; e o rio Acu, da capitania do Rio Grande. Eram destacados por diversos historiadores como um dos mais hostis da região e em oposição constante à ocupação da terra pelos colonizadores (Vicente 2011.16). A denominação ‘Tapuia’ foi dada a grupos que, alem de diferenciados socialmente do padrão tupi, eram pouco conhecidos dos europeus.

No vale do rio Jaguarribe viviam diversas etnias. Na barra do rio Jaguaribe eram os Potiguara, de origem Tupi, que fugiram dos Portugueses na Paraíba e Rio Grande do Norte, e que auxiliaram os holandeses contra os portugueses. Após a saída dos holandeses os Potiguara eram aldeados pelos jesuítas e ajudaram combatar os índios do sertão (Vicente 2011.25). Rio acima eram os Paiaku nas duas margens do rio. Os Anacé combateram os portugueses, foram aldeados e depois rebelaram. Rio acima deles eram na margem direita os Icó e na esquerda os Kariri e Kariú. Ao oeste do vale eram os Jucá e Genipapo e Kanindé. Os Tremembé eram seminômades no norte da capitania. Na formação montanhosa que marca as fronteiras entre Ceará e Piauí viviam os Tabajara e eram aliados aos franceses. Mais perto do litoral, na região entre margem esquerda do rio Jaguaribe e Baturité viviam os Jaguaribara que participavam das tropas portugueses contra os Paiaku. Depois resistindo seu aldeamento os Jaguaribara aliaram-se com os Paiaku para atacar a vila de Aquiraz no ano 1713 e com os Anacé atacando as fazendas de gado no sertão (Vicente 2011.29).

Os Paiaku eram povo seminômade. Na época da seca desciam para o litoral para coletar o caju. O caju era importante para alguns grupos indígenas para produzir uma bebida alucinógena de caráter místico à base da fermentação do fruto (Vincente 2011.34). Outro aspecto da cultura era que o pajé invocaria os espíritos para predizer aos guerreiros o sucesso da batalha. Cobririam os corpos com penas e especializavam em emboscadas. O rito de passagem do jovem era quando um furo foi aberto nas orelhas, onde era colocados pedaços de madeira. Também lhe abriam um furo no lábio inferior, onde era introduzida uma pequena pedra colorida. Os Paiaku eram povo seminômade, seguindo um ciclo migratório, estimulado pelas secas da região. Nos acampamentos as mulheres armariam tipiris e ascenderam fogueiras a noite. Os homens eram caçadores muito habilidosos mas comeram muito de uma vez e depois passar quatro ou cinco dias sem comer nada. Fabricavam artefatos de palha e vaso cerâmicos. Para seus mortos havia uma cerimônia antropofágica (Vincente 2011.45).

A colonização da costa nordestina tomou a forma de engenhos de cana-de-açúcar, que em média cada um precisava 80 a 100 mão de obra escrava. Durante o tempo quando Portugal estava sob a coroa da Espanha ele perdeu todas suas colônias no Oriente, e a produção brasileira era o único meio para a recuperação da economia portuguesa. Por isso inicia-se a penetração nos sertões pela pecuária. O gado era utilizado não apenas para abastecer os engenhos de carne e de transporte, era a principal fonte de recursos para as tropas que eram usadas para combater os inimigos internos, isso é, os negros fugidos e os índios rebeles. No Ceará se destacou a criação de gado para a curtição do couro no Vale do Jaguaribe. As casas-fortes eram instaladas para auxiliar na defesa contra os indígenas do local, como o presídio de São Francisco Xavier. Os índios eram recrutados, e bastavam alguns peões para pastorear e o trabalho não foi desagradável, em comparação com o serviço pesado na lavoura no litoral. O sistema de quartição deu um de cada quarto bezerros nascidos ao vaqueiro (Vicente 2011.48-52).

Nos meados do século XVII se inciou a ocupação do vale do Jaguaribe e começou o conflito com os Paiaku. Os Potiguara, que eram avassalados aos portugueses, solicitaram guerra contra os Paiaku em 1666. Muitos prisoneiros foram escravizados. Em 1672 os Paiaku fizeram as pazes com os portugueses, mas os prisoneiros não foram devolvidos. A Guerra dos Bárbaros, durou do último quartel do século XVII e era um movimento onde os indígenas, se levantaram contra o invasor português numa tentativa desesperada de garantir a posse de suas terras. Frei Manoel da Ressurreição no ano de 1689 aldeou os Jaguaribara e depois, em 1696, dirigiu-se ao Vale do Jaguaribe com o objetivo de tratar com os Paiaku e Janduí (Vincente 2011.82). Os jesuítas colocaram os Paiaku em aldeamentos em 1707 no rio Choró, em Aquirás. É próximo de onde vivem hoje, no município de Pacajus. Os Jenipapo e os Canindé foram aldeados entre 1731 e 1739 no rio Banabuiú e depois em Monte Mor o Novo d’ América entre 1768 e 1858, hoje é o município de Baturité.

Nas primeiras décadas do século XX, houve uma séria de conflitos na Vila de Guarany, atualmente Pacajus, Ceará, entre indígenas da etnia Paiaku, um padre e proprietários de terras da região. Os indígenas eram da aldeia Madre de Deus, no Arere, distrito do Jaguaribe, atual Pacajus. O argumento afirmava que os indígenas não eram ‘índios puros’ e sim ‘caboclos’. A FUNAI começou o processo de demarcação da T. I. Lagoa Encantada em 1997.

Estilo da Vida: Os Jenipapo-Kanindé são descendentes dos Paiaku e habitam a Lagoa da Encantada, no município de Aquirás. Plantam mandioca, milho, feijão, batata-doce, jerimum, maxixe e outras hortaliças. Pescam e fazem coletas de caju, murici, manga, coco e outras frutas. Entre outros povos do Nordeste os Paiaku domesticaram a abelha Melipona scutellaris Latreille chamada ‘Uruçu do Nordeste’ ou ‘Uruçu Verdadeira’ para seu melo (Alves 2012).

Sociedade: A maioria nasceram e se criou na Lagoa da Encantada. O casamento preferido é entre primos, cruzados ou paralelos. Quase não existe casamentos interétnicos (Porto Alegre 1998).

Artesanato: Os homem fabricam cestos, chapéus e caçuás de cipó e palha de carnaúba, e tarrafas e redes de pesca. As mulheres fazem louça de barro (Porto Alegre 1998).

Religião: Católica?

Cosmovisão:

Comentário:

Bibliografia:

  • ALVES, Rogério M.O.; Carvalho, Carlos A.L.; Souza, Bruno A.; Santos, Wyratan S. ‘Areas of natural occurrence of Melipona scutellaris Latreille, 1811 (Hymenoptera: Apidae) in the state of Bahia’, Anais da Academia Brasileira de Ciências, vol. 84, núm. 3, septiembre, 2012, pp. 679-688, Rio de Janeiro, Brasil.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • PORTO ALEGRE, Maria Silvia, 1998, ‘Jenipapo-Kanindé’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/jenipapo-kaninde.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.
  • VICENTE, Marcos Felipe, 2011, ‘Entre São Francisco Xavier e a Madre de Deus: A Etnia Paiaku nas Fronteiras da Colonização’, Campinas Grande: Centro de Humanidades, Universidade Federal de Campina Grande.