Tapuia

David J. Phillips

Autodenominação: AceitamTapuia, mas não é uma auto identificação de nenhuma etnia. Eles reivindicam pelas tradições orais outras origens parciais com Xavante, Xerente, Javaé e Karajá. Tapuia vem do Tupi ‘fugidos da aldeia’ de taba (aldeia) e puir (fugir).Os portugueses demoraram quase cem anos para produzir relatos sobre as populações indígenas do Brasil (Monteiro 2001.12). No relatório de Gabriel Soares de Sousa (1971 escrito 1587) ele diferencia entre os Tupinaé, um grupo Tupi vindo do sertão, que expulsaram fora da terra da Bahia e da vizinhança do mar a mais antiga ‘casta de gentio’, os Tapuia (Monteiro 2001.17).

Os Tupinambá da Bahia, considerado o exemplo dos Tupi, tornaram um padrão para julgar e classificar as outras etnias, especialmente os Tapuia, descritos quase sempre em termos negativos, porque eles não falavam Tupi e tinham muitos divisões e costumes diferentes (Monteiro 2001.18). Mais tarde no século XIX este binômio foi renovado pelos historiadores do Império; os Tupi eram do passado remoto que deixaram marcas na cultura, vistos por uma ótica romântica dos europeus.

Os Tapuia, por seu turno, situavam no polo oposto, retratados como inimigos e selvagem, por exemplo por Varnhagen: História Geral do Brasil 1854. Mas os Jesuítas e outros missionários esforçaram aprender tudo destes Tapuia. Por exemplo, uma aldeia dos Kaiowa era produtiva sob os capuchinhos era considerada como ‘Tupi’, mas uma aldeia Kaingang, porque viviam no mato, eram considerados como ‘Tapuia’ (Monteiro 2001.151). Somente mais tarde este esteriótipo foi desafiado. Mas diversos grupos indígenas ainda são chamados de Tapuia do nordeste ao sul. O termo não é uma auto identificação mas é dado em cada caso, como o povo deste perfil pelos outros moradores da região (Almeida 1999).

Outros Nomes: Tapuio, Tapua-Xavante, Tapuya (DAI/AMTB 2010). Tapuya não é expressão designativa de uma etnia. É muito mais expressão de identificação por outros moradores da região do que uma auto identificação, pois tanto os registros históricos quanto a tradição oral asseveram uma procedência étnica de índios Xavante, Xerente, Javaé e Karajá que foram lá conduzidos a partir do último quartel do século XVIII (MNTB 2010).

População: 235 (DAI/AMTB 2010), 298 (FUNAI 2010), 50 (MNTB 2010), 180 (Moura 2006).

Localização: Goias em duas Terra Indígenas:

T. I. Carretão I de 1.666 ha homologada e registrada com 136 Tapuia.

T. I. Carretão II de 77 ha Homologada e registrada, travessada pelo GO-156 no oeste do município de Rubiataba, GO, com 162 Tapuia.

Língua: Português.

História: Os Tapuios têm origem na mescla de povos indígenas e negros fugidos que foram aldeados em Carretãoentre o Ribeirão Carretão e a Serra Dourada, no século XVIII, atualmente nos municípios de Rubiataba e Nova América. A aldeia do Carretão foi estabelecida pelo governo colonial de Goias para receber indígenas Xavante, que tinham atacado os arraiais garimpeiros entrando no seu território. A politica colonial era à busca da paz com os índios por colocá-los em aldeamentos. O Alvará de 6 de junho de 1755 garantia liberdade a todos os índios e o Diretório do Índios cumpriu por organizar os índios em aldeias. A aldeia do Carretão foi construída nas encosta da Serra Dourada junto ao ribeirão do mesmo nome na década 80 do século XVIII. Começou com 30 índios Xavante e depois 2.200 outros da mesma etnia aumentaram a população, porém este número foi muito reduzida no século XIX devido às epidemias e numerosas fugas por causa do regime de trabalhos na aldeia. Ele tinham que prestar serviço ao governo de Goias e outros como remadores, carregadores e guias. Mais Kayapó, Javaé, Karajá e Xerente foram trazidos suprir as vagas. Em tempo a organização enfraqueceu e os índios eram deixados em miséria e tratados como escravos. Outros aldeamentos da região foram por estes motivos extintos. Em 1888 a população consistia apenas de três índios e caboclos, descendentes de índias casados com negros (Almeida 1999). As índias eram de descendência Xavante, Javaé e Kayapó.

A FUNAI descobriu nas suas primeiras visitas em 1972 e 1980 que os habitantes de Carretão não tinha nada de uma cultura tradicional e seus traços físicos eram dos outros sertanejos, e viviam dispersos em famílias e indivíduos isolados. A própria aldeia estava em ruínas e ficava dentro de uma fazenda. Eram assimilados falando exclusivamente o português. Eram chamados pelos vizinhos Tapuia ou Tapuio. Os prórios Tapuia reconhecem a forma descriminatória do termo. Em 1982 o cacique Simão Borges foi encontrado morto em um buraco com vária fraturas no ossos, resultado dos conflitos devidos à invasão do seu território e os tapuia eram condenados a viver ilhados em pequenos lotes de terra (Moura 2006.41).

Estilo da Vida: A expressão Tapuio ou Tapuia identifica um conjunto de famílias que são os descendentes dos índios que viveram na aldeia do Carretão. Há 180 pessoas que habitam a reserva Área Indígena Carretão, também conhecida como ‘Fazenda dos Tapuios’, situada entre a Serra Dourada e o rio São Patrício (Moura 2006.29). A área é serrana com cerrado de vegetação natural e é recortada por vários córregos. Porém o cerrado hoje é ocupado por fazendas e não há condições nos pequenos lotes deixados para os Tapuias se sustentar. A grande maioria trabalham braçal nas fazndas ou nas cidades próximas. As mulheres trabalham como diaristas em casas de família e os homens como vagueiros. Muitos trabalham fora em Rubiataba e Nova América (Silva e Vasconcelos 2012.76)

Sociedade: A reserva recebeu projetos de uma escola indígena, lavoura comunitária, a fábrica de mandioca, realizada em parceria com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Criaram a Associação dos Índios Tapuia do Carretão (AITCAR) (Silva e Vasconcelos 2012.76).

Artesanato:

Religião: Católico e evangélico.

Cosmovisão:A história torna-se mítica no tratamento indígena. O tempo mítico Tapuio foi construído a partir de uma cosmogonia: a origem da criação desse povo e de seu território. Ali foi identificado um herói primevo, civilizador, responsável pela criação do aldeamento: a Rainha Maria I de Portugal, a qual, segundo os Tapuios, mandou dar as terra aos seus antepassados (Moura 2006.44).

Comentário: A MNTB deu início a este trabalho em 06/08/2003. O casal Joel e Cássia Durães tem desenvolvido um trabalho de contato com este povo, dando estudo bíblico para duas pessoas (MNTB 2010).

Bibliografia:

  • ALMEIDA, Rita Heloísa de, 1999, ‘Tapuio’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/tapuio.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • MONTEIRO, John M., 2001, Tupis, Tapuias e Historiadores: Estudos de História Indígenas e do Indigenismo, Departamento de Antropologia: Tese Apresentada para o Concurso de Livre Docência Área de Etnologia, Subárea História Indígena e do Indigenismo- Disciplinas HZ762 e HS119, Campinas MG: IFCH-Unicamp.
  • MOURA, Marlene Castro Ossami de, 2006, ‘Aldeamento Carretão: “marco zero” da história das relações interétnicas dos tapuios’, Universidade Federal do Espírito Santo- Departamento de História.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.
  • Da SILVA, Lorranne Gomes, VASCONCELOS, Eduardo Henrique Barbosa de, ‘Os Tapuia: Uma história de resistências e esperança’, em Tapairiú, Ano III-Vol1 Número 04-Abr/Mai 2012, pag. 64-78, Campina Grande, aberto 20 agosto 2014.