David J Phillips
Autodenominação: kacha edze que significa ‘gente’ Kachá que significa pessoa.
Outros Nomes: Shimaku é nome pejorativo usado na região dos Urarina que significa ‘inconfiável’. ‘Urarina’ talvez venha do Quechua que significa ‘o povo rio abaixo’.
População: 2.000, 3.490 (Joshua Project), 4.854 (INEI 2007), 4.000 (Walker 2009).
Localização: No Departimento de Loreta, Peru, nas margens dos rios Chambira, Urituyacu, e Corrientes, afluentes do rio Marañón.
Língua: O único povo com uma língua da família linguística shimaco. Chamam sua língua Kacaeje (Dean 1999.41). Nas últimas três décadas, começaram alfabetismo adulto e o treinamento de professores para as escolas bilíngues.Alguns Urarina recebem ensino sobre a higiene e programas de alfabetização. Outros têm pastores que ensinam as Escrituras. A tradução do Novo Testamento foi completa e publicada em 2006 (SIL-Peru 2015).
História:
Os Urarina tiveram primeiro contato com os europeus quando os missionários católicos chegaram em 1651. Missões eram estabelecidas entre eles às diversas vezes durante o século seguinte. Durante o cílio da borracha do século XIX e no início do século XX os seringalistas perseguiriam os Urarina, tentando escravizá-los e os levaram para vários pontos no rio Marañon, onde muitos morreram pelas condições do trabalho e pelas epidemias; os sobreviventes se espalharam pelos rios. Alguns escaparam para esconder nas cabeceiras do rio Chambira (SIL Peru 2015).
Em setembro 1991 e outubro 1993 epidemias de cólera penetraram a bacia do rio Chambira. Algumas comunidades sofreram uma taxa de mortalidade de 20%. Pessoas eram treinadas na aldeias para tratar a doença e outras como malária, disenteria, verminose e infecções pulmonárias. Em 1995 a forma de malária Plasmodium falciparum foi descoberta entre os ribeirinhos mas a falta de recursos e sua isolação de muitos deles não permitiu que os Urarina podia ser tratados.
Em novembro 1995 um mapeamento da população Urarina foi feito pelo Centro Para el Desarrollo del Indígena Amazónico, sendo o primeiro passo em designar um território para o povo. A SIL têm trabalhado entre os Urarina desde da década 50, e foram os únicos para analisar a língua.
No começo do século XXI os Urarina sofrem por ser tratados como amostras de ecologia primitiva para turistas, numa viagem no rio Chambira, invadindo as aldeias para fotografar ‘os índios na mata’. As invasões trazem infecções e os Urarina sabem que os operadores da empresa turística são armados e zombam das costumes indígenas. As aldeias organizaram um protesto aos Ministérios do Interior e de Turismo. A ameaça atual do povo é a política nacional de assimilar todos os indígenas em uma cidadania nacional.
Estilo da Vida:
A maioria dos Urarina vivem em aldeias reconhecidas pelo governo como Comunidades Nativas. Uma minoria vivem em assentimentos isolados ou de três ou quatro casas. A subsistência é baseada na cultivação de roças, especialmente de mandioca e banana de terra, da caça e emprego casual com regatões e comerciantes locais(Walker 2009.53). A pesca é importante também.
As aldeias consistiam de um número de malocas, localizadas nos restingas ou barrancos altos nas margens dos rios da bacia do rio Chambira. Em redor são áreas baixos que são inundas durante a estação das chuvas (novembro – maio). Hoje as malocas são substituídas por casas de famílias nucleares, construídas em palafitas, cobertas de palha (SIL-Peru 2015). Os homens trabalham nas roças e as mulheres coletam a mandioca, etc., para preparar a comida.
Sociedade:
Os Urarina têm uma organização social muito fluida e flexível. Vivem em grupos residenciais chamados lauri, centrado em um homem com seus genros e filhos e suas famílias. Os membros do grupos são chamados laurijera, que enfatiza co- residencia e a localidade. Não há evidencia firme que os Urarina tinham clãs ou outros grupamentos maiores. O lauri não refere a consanguinidade (Walker 2009.60).
A única regra de casamento é proibição em se casar com parentela próxima. A preferencia é para se casar com parentela distante, que resulta em grupos endogâmicos definidos somente pelo número de casamentos entre os membros (Walker 2009.53).
Casamento é pelo o noivo pedir permissão dos pais da moça. Residencia é uxorilocal e os genros servem o sogro nas roças, na caça e na pesca por dois a cinco anos. Se os sogros não são satisfeitos com o genro, param de lhe dar comida e deixam de lavar sua roupa para ele saia. A esposa e seu filhos ficam com os sogros e são dados ao outro rapaz que pede permissão. Os Urarina praticam sororal poligínia, o noivo se casa com duas ou mais irmãs. A mobilidade das famílias dentro da comunidade e entre as comunidades é alta. Os Urarina não reconhecem grupos de descendência linear e a memoria genealógica é minimal. Mas certos conhecimentos rituais de encantações (baau) são passados de pai ao filho (Walker 2009.54). A esposa que não pode produzir mais filhos é abandonada e chamada jaole (lixo) e ter uma vida peripatética vivendo entre as casas dos filhos. O marido toma uma mulher mais nova e muda-se para viver com um dos seus filhos. As mulheres ficam juntas, usam roupa idêntica e resistem novidades como medicina moderna. Os homens adotam coisas novas, usam roupa diferente para se destacar uns dos outros (Walker 2009.62).
Os Urarina formam relações de parentela ritual semelhante ao sistema de compadre, que existia antes seu contato com o sistema Iberino de compadrazgo (Walker 2009.52). Havia no passado chefes com autoridade sobre grandes áreas, mas não existem mais (Walker 2009.54). Hoje cada assentimento escolha um homem mais idoso como líder (SIL-Peru 2015).
A ameaça atual do povo é a política nacional de assimilar todos os indígenas em uma cidadania nacional. Também o sistema escolar nacional não reconhece outras línguas e culturas; e o calendário escolar é da vida urbana e não conforme as exigências rurais (Dean 1999.40). Somente a SIL fez o análise da língua desde da década 50, mas apesar dos seus esforços de estabelecer uma escola bilíngue, estava em uma só comunidade e em1995 não funcionava por falta de instrutores. Mas as comunidades reconheceram as vantagens de ter escolas do estado que também dão reconhecimento das comunidades e por isso ajuda na reivindicação dos seu direitos. A nova geração de lídres encaram a introdução das escolas ser responsável pelo surgimento dos Urarina da ignorância e primitivismo cultural dos seus ancestrais. Mas as escolas faltam equipamento e supervisão. A revalorização da língua pelo programa escolar é o meio de garantir a sobrevivência da cultura.
Em 1995 a Programa de Formación de Maestros Bilingiies de la Amazonia Peruana com a Peoples’ Resources Initiative (APRI) começou a desenvolver um programa de educação para promover a capacidade dos Urarina de defender sua cultura, língua, recursos naturais e economia no ambiente político (Dean 1999.41). Envolve trabalhar com o Programa de Formación de Maestros Bilingües de la Amazonía Peruana da federação de indígenas (AIDESEP) em treinar uma nova geração de professores transculturais. Onze etnias participavam no programa com 132 estudantes em 1998. Os Urarina são os últimos para se organizar. Também enquanto o alfabetismo dos homens cresce, as mulheres ainda permanecem monolíngues (Dean 1999.42).
Artesanato: Os homens têm prestígio pelo sucesso em caçar e ser pajé. As mulheres são reconhecidas pelo artesanato, fabricando esteiras, redes e sacos de rede. Vendem banana da terra, arroz, galinhas e madeira aos comerciantes.
Religião:
Os Urarinas crêem que eram criados por um ser sobrenatural que chamam Nosso Criador. Dão graças ao Criador depois uma refeição. Outros povos são inferiores e os Urarinas não devem se casar com eles. Desta maneira eles aceitam muitas coisas dos outros mas mantêm sua cultura e língua. As crenças são baseadas nas trances e sonhos induzidos pelo consumo de ayahuasca (Brugmansia suaveolens) pelos pajés.
No passado os Urarinas praticaram cerimonias de dar nomes às crianças. O pajé reunia todos os nenês e as crianças pequenas na noite de lua cheia, bebia ayahuasca e dava o nome especial para cada pequeno. Criam que o ‘Nosso Criador’ lhe deu os nomes e que significava que o pequeno era conhecido pelo Criador e seria recebido por ele quando morrer. A cerimonia não é praticada mais (SIL-Peru 2015).
O preparo do masato, cerveja de mandioca era no passado uma atividade importante na sociedade para ser consumado nas festas (SIL-Peru 2015).
9% Cristão (1.4% Evangelical 7.6% Católico) (Joshua Project).
Cosmovisão:Os mitos dos Urarinas contam uma estória de um grande dilúvio e é possível o ensino bíblico dos missionários católicos seja combinado com suas próprias ideias. Em preparar suas chacras (roças) machados de pedra e cacos de cerâmica antiga são desenterrados, demonstrando a antiguidade de ocupação (SIL-Peru 2015).
Comentário: Ronaldo e Phyllis Manus (SIL) analisaram a língua e publicaram Textos y Concordancias. A tradução do Novo Testamento completa e publicada em 2006 e o culto de dedicação foi realizado na comunidade de Nueva Esperanza em abril 2007(SIL-Peru 2015).
Bibliografia:
- BDPI, Base de Datos de Pueblos Indígenas u Originarios, Ministerio de Cultura, Perú, bdpi.cultura.gob.pe/pueblo/urarina. acesso maio 2015.
- DEAN, Bartholomew, 1999, ‘Language, Culture and Power: Intercultural Bilingual Education among the Urarina of Peruvian Amazonia’, Practicing Anthropology, Vol.20, no.2 Spring 1999, 39-43.
- SIL 2014, Lewis, M Paul, Gary F Simons, & Charles D Fennig (eds) 2014. Ethnologue: Languages of the World, 17th edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.
- SIL-PERU, 2014, SIL International – Peru, www.peru.sil.org/language_culture/family_isolate/urarina.
- WALKER, Harry, 2009, ‘Transformation of Urarina Kinship’, JASO-online N.S. Vol. I, no. 1, www.anthro.ox.ac.uk/fileadmin/ISCA/JASO/walker.pdf