Uru-eu-wau-wau – Jupaú

David J Phillips

Autodenominação: São conhecidos como os Jupaú que eles entendem de significar ‘os que usam jenipapo'(Kanindé 2003). É um de três povos distintos, com os Amundava e os Uru Pa In, que falam a mesma língua e participam dos mesmos aspectos de cultura e habitam na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau.

Outros Nomes: Conhecidos pelos Oro-Uari e depois pelos brancos como Uru-eu-wau-wau (Kanindé 2003). Muitos outros nomes foram atribuídos aos Uru-Eu-Wau-Wau: Bocas-Negras, Bocas-Pretas, Cautários, Sotérios e Cabeça-Vermelha. São conhecidos como os bocas-negras ou pretas, porque fazem tatuagem de jenipapo em redor da boca.

População: 106 (DAI/AMTB 2010); 85 (Kanindé 2003) em quatro aldeias, Alto Jamari, Jamari, Linha 623 e Alto Jaru. Depois o contato nos anos 80 a população caiu, particularmente entre os Jupaú, devido as doenças infecciosas respiratórias, e passou de 250 em 1981 para 89 em 1993.

Localização: Na TI Uru-Eu-Wau-Wau, Rondônia, de 1.867.120 ha, homologada e registrada no CRI e SPI, com quatro aldeias, de 322 pessoas (SIASI/SESAI 2012). Também na T I são os Amondawa e os Uru Pa In, e quatro grupos isolados como os Parakuara e os Jurureís, e mais dois grupos desconhecidos no médio rio Cautário e outro no Igarapé Água Branca (Kanindé 2003). A TI está cercado por terras de agricultura ao leste em redor da cidade de Ji Paraná e ao sul seguindo a BR429.

Língua: Kagwahiva ou Uru-Eu-Wau-Wau com dialetos: Amundava, Kayabi, Tenharim, Júma, e Karipuná. Todas são semelhantes à Uru-Eu-Wau-Wau e Morerebi. Classificação linguística: Tup-Guarani- Subgrupo VI (SIL). Chamados também o grupo Kawahib.

História:
O antigo território dos Uru-Eu-Wau-Wau e dos Amondava era definido pelo rio Madeira ao norte, o Machado-Jiparaná a leste, o rio Guaraporé ao sul e o rio Mamoré a oeste.A primeira invasão europeiano território foi em busca de escravos e de ouro nos séculos XVII e XVIII e depois extrair a borracha. Rondon cortou a primeira rede telegráfica de Cuiabá atravessando a região em 1907, e contatou muitos dos indígenas no processo. O Território de Guaporé foi estabelecido em 1943. O Território passou a se chamar Rondônia em 1956, e tornou-se estado em 1981. Durante a Segunda Guerra Mundial os serigueiros e os índios estavam em conflito. Um patrão de borracha João Chaves se orgulhou que matou 118 Bocas Pretas no alto rio Jamari e tinha 600 índios como escravos extraindo látex para ele. Um oficial do Exercito foi raptado e morto provavelmente pelos Uru-Eu-Wau-Wau. Durante uma expedição em busca do oficial um colega de Chaves escravizou mais Bocas Pretas que eram reduzidos a 25 em poucos anos (Hemming 2003.297).

Na década 60 a economia cresceu pela extração da borracha e da castanha do Pará e exploração mineral. Um grande depósito de estanho foi descoberto na T. I. em 1991. A população do território cresceu com a descoberta e ouro e de terras boas para a agropecuária e milhares de indígenas morreram devido as epídemas e em conflitos. Na década 70 o projetos de colonização do governo trouxeram milhares de colonos do sul com o crescimento das cidades no eixo da estrada BR 364.

Na época ataques pelos índios e massacres dos índios era frequentes; os índios abandonaram construir sua malocas e adotaram uma vida nômade (Hemming 2003.297ss, 562). O governo de Rondônia começou a rodovia BR-429 a direção do rio Guaporé atravessando o território do Uru-Eu-Wau-Wau.

A FUNAI teve primeiros contato com os Amundava e Uru-Eu-Wau-Wau em 1981, com uma expedição subindo o rio Jamari de Ariquemes e montou um posto chamado Comandante Ary na planalto Alta Lídia. Os índios eram liderado por Djaí, um homem careca, provavelmente de descendência branca, que finalmente facilitou o contato, por convencer seu povo de fazer aliados da FUNAI contra os outros brancos (Hemming 2003.564-567). A população caiu de 250 para 89 em 1993 por causa das doenças infecto respiratórias e dos conflitos com seringalistas. O Djaí morreu de pneumonia em 1989. Depois 1993 a população começou a crescer devido em parte pela demarcação e melhor segurança da Terra Indígena.

Quando a barragem da Usina Hidrelétrica de Samuel foi construída no rio Jamari entre 1982 -1996, foram construídos diques de 45 km de cada margem para conter o lago porque não tem uma bacia natural. Produziu mais gases de efeito estufa do que teria sido emitido gerando a mesma energia a partir de petróleo. Deslocou 238 famílias agricultores e contaminou o peixe e a pesca não era mais possível (Fearnside 2004).

A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau tornou-se posse permanente do índios em 1985, mas Presidente Sarney anulou a demarcação da Terra em 1990 (Hemming 2003.568). Depois uma campanha efetiva Presidente Collor restabeleceu a demarcação e Terra foi homologada por decreto em 1991. É de 1.867.117 ha e administrada pela FUNAI com três Postos. Forma parte do Parque Nacional de Pacaás Novos. Em 2001 foi criada um corredor ecológico com Bolívia para conter o desflorestamento.

Estilo de Vida:
Vivem em quatro aldeias no limites da T. I. Uru-Eu-Wau-Wau, que consiste do planalto Alta Lídia com os rios Jaru e Muqui descendo para o Jiparaná-Madeira a leste, o rio Jamari ao norte e os Pacaias Novas e Cautário, afluentes do rio Maroré, a oeste. Antes do contato com a sociedade nacional os Amundava eram nômades com uma aldeia permanente para certas épocas do ano e muitas tapiris espalhados no território e mudaram entre estes pela maior parte do ano. Antigamente usavam malocas retangulares, com telhado altos de duas águas. Hoje a maioria habitam casas de madeira cobertas com telhado de amianto, introduzido pela FUNAI. Os índios queixam que estas casas esquentam no sol durante os dia (Kanindé 2003).

Toda a família se envolve no trabalho das roças, os homens e as mulheres. Antigamente derrubaram as arvores com machado de pedra; os homens fazem a derruba e a coivara. Plantam a mandioca e a macaxeira. A mandioca é descascada, ralhada a mão, e uma prensa de madeira em vez de tipiti é usada. Um mingau está feita da macaxeira e secado em estreias no sol. A farinha de mandioca é para consumo doméstico ou vendido pela ajuda da FUNAI. O milho é feito em farinha ou em mingau. Plantam também cara, taioba, batata doce, mamão, papaia, algodão e urucum (Kanindé 2003).

A caça é abundante na T.I. Caçam com espingardas, porém os velhos ainda preferem o arco e flecha. Imitam o som dos animais par atraí-los e tocaias para pegar aves como inambu. Os Amundava e Jupaú usam um veneno (tikyguywa) extraído do casco da tike-uba ou o jequitibá-roxo (Cariniana domestica) como um anticoagulante para caçar e contra inimigos (Hemming 2003.569).

A pesca, especialmente duranta a estação seca, é feita de redes, arco e flecha ou tinguijada.

A Associação Kanindé, em parceria com USAID, começou a trabalhar com o Uru-eu-wau-wau para estabelecer um programa de administrar a floresta e e manter uma produção e uma extração sustentáveis. Seu alvo é gastar a renda em preservar a floresta como responsabilidade aos antepassados. Eles rendam de diversos produtos inclusive óleo de copaíba, que vendem com um preço melhor para uma empresa distribuidora ultrapassando o mercado local.

Artesanato: Fazem panelas de cerâmica e cestas. O cocar ou acangatar e flechas são feitos com penas de papagaio, gavião real ou arara. Os homens usam um colar de dentes do queixada e as mulheres um de dentes dacapivara.

Sociedade:
Os povos Kawahib como os Amundava se estão divididos em metades, chamadas Arara e Mutum. As crianças ganham o nome que o pai teve quando era bebê. Os nomes mudam quando nasce cada filho. Quando seus irmão nascem ele recebe os outros nomes que o pai teve. As crianças já nascem prometidas em casamento, mas atualmente há conflitos quando as meninas não querem o marido prometido. Os casamentos são entre primos cruzados e entre as metades, alias, Mutum se casa com Arara e são também poligâmicos, mas a escassez de mulheres nos últimos anos tornam-se mais monogâmicos. O casal mora com os pais da mulher.

A liderança é divida entre o cacique tradicional e o presidente da Associação do Povo Indígena; o último trata todas as relações com as organizações municipais, estaduais e federais.

Religião:
Acreditam na existência dos espíritos da floresta. O Anhangá tem a forma de um morcego grande e pega pessoas para chupar seu sangue. Os Amundava celebram diversas festas, inclusive as festas do milho que chama-se Ipuã. Na festa Yreruá o chefe toca uma flauta chamada Yreruá e os homens dançam enrolados de cipós e com os arcos prontos para atirar flechas com gritos de guerra. As mulheres dançam agarradas nos braços dos homens.

Os Jupaú (Uru-eu-wau-wau) enterram os mortos na maloca. A cova é circular e o morto está enterrado na posição sentada, como seus pertences. Uma pena de gavião é colocado no peito para proteger dos espíritos ou um cocar de penas de gavião é colocado como uma dádiva aos espíritos pela proteção. Quando mudam a aldeia, voltam para limpar o chão sobre as covas ou depois levam os ossos para a nova aldeia.

Cosmovisão:

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br
  • FEARNSIDE, Philip M., 2004, ‘A Hidrelétrica de Samuel: Lições para as Políticas de Desenvolvimento Energético e Ambiental na Amazônia’, Manaus AM: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must: Brazilian Indians in The Twentieth Century, London: Macmillan.
  • KANINDÉ Associação de Defesa Etnoambiental, ‘Uru-Eu-Wau-Wau’, 2003, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/ Uru-Eu-Wau-Wau
  • SIL : 2009. Ethnologue: Languages of the World, Lewis, M. Paul (ed.), Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International.www.ethnologue.com