Waurá

David J. Phillips

Autodenominação: Waurá.

Outros Nomes: Wauja, Uaurá (DAI/AMTB 2010).

População: 410 (DAI/AMTB 2010), 320 (SIL 2006), 529 (SIASI/SESAI 2012).

Localização: Mato Grosso (DAI/AMTB 2010). No Parque Indígena Xingu nos rio Steinen e Batovi no oeste do território. O Parque Indígena Xingu (PIX), MT, de 2.642.004 ha nas duas margens do rio Xingu e seus formadores, a primeira Terra Indígena, homologada em 1961 por Presidente Jânio Quadros e registrada no CRI e SPU com uma população de 5.982 indígenas de 16 etnias.

Língua: Waurá (DAI/AMTB 2010). Da família linguística Aruak – Maipurean, Sul, Central, Waurá, Waurá-Meinaku. Os povos Aruak do Alto Xingua são Waurá, Mehinaku e Yawalapití. Outros nomes: Aura, Uaura, Wauja. É inteligível parcialmente com Mehináku. Falam português. Alfabetismo 1-5%, em português 5-15%. Porções bíblicas produzidas entre 1997-2003 (SIL).

História: Antigamente os Waurá viviam no baixo rio Baávi, entre os formadores do rio Xingu. Eles, com outro povo Arawak, os Mehinako, migraram para o extremo sudoeste da bacia amazônica e estabeleceram suas aldeias a partir do século IX. Até o ano 1600, as investigações arqueológicas indicam uma sociedade com aldeias sedentárias grandes de forma circular com uma praça central e valetas e paliçadas para suas defesa. Tinham uma tecnologia cerâmica particular à região. Foi na primeira expedição do etnólogo alemão Karl von den Steinen em agosto de 1884, os índios o informaram da tribo ‘vaurá’ (Barcelos Neto 2002). Da longa ocupação de uma mesma área geográfica e da frequência de casamentos interétnicos resultou um padrão cultural muito próximo, denominado de Cultura do Alto Xingu, demonstrado na estrutura das aldeias e das casas, dieta alimentar, crenças, festas e cerimônias, pinturas e adornos corporais. Em 1961, foi criado o Parque Indígena do Xingu, pelos esforços dos irmãos Villas Boas em resposta à venda indiscriminada de terras pelo governo de Mato Grosso, pondo em risco territórios habitados por tribos indígenas.

Estilo da Vida: Em 2001 os Waurá viviam em três aldeias, que aldeias estão situadas na margens dos rios Steinen e Batovi do qual tiram seus pescados, como a matrinxá e o pintado que os índios tanto apreciam. As casas estão em redor do pátio central com a casa das flautas, kuwakuho, no meio. Aqui os homens congregam ao anoitecer para tratar os negócios do dia. A maior aldeia, Piyulaga, tinha uma população de 268 indivíduos em 2001. Entre os Waurá toda casa é auto-suficiente na produção domestica da mandioca, cada Waujá adulto possui pelos menos uma roça plantada por ele e seus filhos solteiros. Trocas de comida são feitas entre famílias de parentes cruzados.

Sociedade: Os Waurá são divididos em grupos que servem o anumaw ou donos do poder ritual. Os amunaw são pessoas de status de poder tanto com o sobrenatural quanto no ritual na comunidade, que depois seus rituais funerários pode passar seu poder para seus descendentes, o poder é mantido pelos rituais dos quais ele é ‘dono’ do patrocínio das festas em homenagem aos espíritos (Barcelos 2012.71). Os rituais pode conferir prestígio para ser chefes, e a posição na hierarquia podem ser herdada. O ‘dono’ que mais prestígio inclusive mais objetos rituais tem prestígio entre as outras aldeias no Xingu.

Depois o casamento a residencia é uxorilocal e recentemente muitos genros mudam para estabelecer uma unidade domestica independente para terminar as obrigações ao sogro como anumaw. Muitos dos conflitos domésticos são sobre a distribuição do peixe e a quantidade de trabalho requerido pelo sistema dos ‘donos’ (Barcelos Neto 2012.85). A população recebe cuidados médicos da Escola Paulista de Medicina. O primeiro contato da Escola com os Waurá e demais etnias do Alto Xingu se deu em 1965, a convite de Orlando Villas Boas. Já houve um caso de AIDS ou virús do HIV. Os índios escovam os dentes três vezes ao dia num programa que distribui escovas e tubos de pasta de dentes todo o ano.

Artesanato: A cerâmica wauja é sofisticada e a mais elaborada classe de artefatos do sistema de objetos do Alto Xingu. A técnica de fabricação é por modelagem e não por acordelamento. Encomendas são recebidas dos outros povos do Parque Indígenas do Xingu. A cerâmica é a especialização dos Waurá que dá sua ‘identidade’ entre as outras etnia do Xingu, dizem que é sua ‘vida’ e ensinam a modelagem a serem Wauja (Barcelos Neto 2006.356).

Creem no mito da grande cobra-canoa chamada Kamalu Hai quee lhes conferiu o conhecimento exclusivo sobre a arte oleira aos Waurá. Antes de ir embora ela defecou enormes depósitos de argila ao longo o rio Batovi. Este conhecimento é exclusive aos Waurá, por isso nenhum outro povo do Alto Xingu sabe fazer cerâmica (Barcelos Neto 2006.359). As ‘panelas’ são de diversos tamanhos, de 115 cm a 10 cm diâmetro da base; as usadas nos rituais são pintadas. Muitos potes são zoomorfas, que são apresentados às crianças, logo que ela aprende a comer sozinha.

Algumas das argilas mais desejadas pelos Waurá estão hoje praticamente fora de seu alcance, quando a delimitação do Parque deixou fora uma parte significativa de seu território tradicional. Essa área inclui a caverna sagrada Kamukuaka, ao lado de uma queda d’água no rio Batovi-Tamitatoala. Foi tomada pelos fazendeiros de gado. À boca da caverna estão esculpidas imagens das partes do corpo da mulher que geram a vida. Acreditam que essas esculturas têm o poder de aumentar a fertilidade (Blogspot Waurá 2014). Os Waurá são também peritos em cesteira.

Religião: Os Waurá observam diversos rituais: O Pohoká é o ritual de iniciação masculino. Os meninos entram em um tempo de reclusão pubertária. A iniciação é associada com a época e festa da maduração do pequi, o Kaumai, entre outubro e dezembro. O menino que é escolhido para ser um amunaw passa por um período de reclusão mais prolonga para aprender que um anumaw jamais se encoleriza (Barcelos Neto 2012.83). O Kaojatapá é ritual de iniciação feminino em que algumas meninas pré-púberes recebem uma tatuagem no braço direito como sinal de confirmação de seu status de amuluneju (feminino de amunaw). O Kaumai e o Yawari são rituais do fim da vida.

Os rituais dos apapaatai, os espíritos-monstros, são os rituais do meio da vida. O poder dos espíritos pode passar para o humano pelos rituais para curar de doenças graves da pessoa, que depois passa a acumular e controlar um excedente de poder dos apapaatai (Barcelos Neto 2012.75). O doente torna se “dono” de ritual (nakai owokeho), que tem a obrigação de cuidar e alimentar ritualmente os apapaatai que o adoecerem. Estes ‘donos’ e seus auxiliares nas rituais por seu espírito formem grupos na sociedade. Os amunaw ou ‘donos rituais’ acumulam prestígio social como meio para ser um chefe. O amunaw que sustentar mais rituais tem mais pessoas que confiam na sua generosidade e trabalham para ele.

Treze grupos permanentes de trabalhos rituais existem entre os Wauja: três de flautas Kawoká, cinco de clarinetes Tankwara e cinco de cantoras Yamurikumã (Barcelos Neto 2012.77). As Kawoká são flautas feitas de madeira dura, guardas em kuwakuho, uma casa especial, no centro da praça da aldeia e não ser vistas pelas mulheres.

Cosmovisão: Os Waurá acreditam que a caverna sagrada Kamukuaka, ao lado de uma queda d’água no rio Batovi-Tamitatoala, é residencia dos espíritos e do sol, e existia antes da criação. Os espíritos lhes ensinam por visões como curar os doentes e que a guerra é degradação moral. No passado os meninos na sua iniciação, depois de furar as orelhas era levados para a caverna. Hoje isso é impossível (Blogspot 2014).

Creem nos apapaatai, espíritos-monstros, seres prototípicos da alteridade, cuja potência xamânica, pode ser capturada pelos objetos rituais, seus próprios duplos, que serão usados para curar o doente. Por exemplo os apapaatai Arco-íris e Jatobá que participam nos rituais na forma de máscaras gigantes Atujuwá. Os apapaatai representam sapos, fogos, onças, águia harpia, morcegos, fêmea de sopos, morcegos e o peixe Tracajá. Os apapaatai produzam situações patogênicas que são curadas pelos rituais. A sua potência xamânica pode ser capturada pelos objetos rituais que serão usados para curar.

Os apapaatai apenas subsistem objetos ou personagens rituais entre os humanos quando há uma relação contínua entre a oferta de alimentos e a produção de artefatos utilitários. É um sistema de reciprocidade entre o curado e o espírito de alimento pelos rituais por receber a cura (Barcelos Neto 2012.78). Os alimentos são alimentos cozidos de mandioca, dados como pagamentos ao espírito. A produção excede o consumo para segurar suficiente depois perdas acidentes e naturais.

As roças são dividas entre as de uso domestico e as outras, de 18% do total, para os apapaatai, que são plantadas todo ano (Barcelos Neto 2012.79). Os kawoká-mona dependem na roças domesticas para o alimentação domestica. A farinha e o polvilho das roças rituais ficam estocados no interior da casa dos seus ‘donos’, em silos próprios, separados dos silos da produção doméstica. Outros artigos como canoas também são dos espíritos; por exemplo três dos catorze canoas na aldeia. O ‘dono’ dá alimentos aos seus kawoká-mona, participantes dos rituais de seus apapaatai, que sentam obrigações trabalhar na sua roça. Por a aldeia pesquisada 54 kawoká-mona trabalham para manter os rituais de sete ‘donos’ (Barcelos Neto 2012.78).

O ‘dono’ que acumular os recursos e é generoso em distribuir tem o poder de intimidar e influir sobre muitos da comunidade. Os pajés (yakapá) atestam que os amunaw são ‘donos’ dos diversos apapaatai e seus kawoká-mona são os especialistas que participarem dos seus rituais (Barcelos Neto 2012.82).

Comentário: Joan Richards (SIL) trabalhou com esta língua. A aldeia Sobradinho fez pacto com a Assembleia de Deus. Os pastores pediram permissão ao cacique Matari para converter sua tribo, e o cacique pediu que ele e seu filho Aturi deviam ser nomeados pastores da Assembleia de Deus.

Bibliografia:

  • BARCELOS NETO, Aristóteles, 2002, ‘Wauja’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/wauja/
  • BARCELOS NETO, Aristóteles, 2006, ‘A cerâmica wauja: etnoclassificação, matérias-primas e processos técnicos’, Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 357-370, 2005-2006.
  • BARCELOS NETO, Aristóteles, 2012, ‘Objetos de poder, pessoas de prestígio: a temporalidade biográfica dos rituais xinguanos e a cosmopolítica wauja’, Mundo Amazónico 3, 2012 pag.71-94.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –http://instituto.antropos.com.br/
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2015, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Eighteenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com