Yaminawá

David J. Phillips

Autodenominação: Os Yaminawá se chamam pelos diversos nomes: Xixinawá que significa ‘povo do quati branco’, Yawanawá – ‘povo do queixada’, que não deve ser confundido com os Yawanawá do rio Gregório (veja outro perfil), Bashonawá – ‘povo da mucura’, Marinawá ‘povo da cutia’ e muitos outros. Yaminawá – ‘gente do machado’ era um nome dado durante as últimas décadas do século XIX, dado por outros povos porque procuravam machados de ferro ou porque ainda usavam machados de pedra (Saez 1999).

Outros Nomes: Jaminawá, Iaminawá, Xixinawá, Yawanawá, Bashonawá (DAI/AMTB 2010). Yaminahua no Perú e na Bolívia (Saez 1999)

População: Brasil:855; Peru:324, Bolívia:630 (DAI/AMTB 2010). 1.298 (FUNASA 2010), 630 (1997).

Localização: Acre, espalhados em oito Terras Indígenas, cinco homologadas e registradas no CRI e SPU:

T. I. Cabeceira do Rio Acre, 78.512 ha. 238 Yaminawá

T. I. Alto Rio Purus, 263.129 ha. Yaminawá com Kaxinawá e Kulina. Total: 1.860.

T. I. Jaminawa/Arara do Rio Bagé, 28.926 ha. Yaminawá com Arara Shawãdawa. Total: 169.

T. I. Jaminawa do Igarapé Preto, 25.651 ha. 210 Yawanawá.

T. I. Mamoadate, 313.647 ha. Yaminawá com Manchineri. Total: 1.105.

Três em identificação:

T. I. Jaminawa do Rio Caeté, só Yaminawá. População desconhecida.

T. I. Jaminawá do Caiapucá, só Yaminawá. População desconhecida.

T. I. Jaminawa da Colocação São Paulino, Yaminawá. População desconhecida.

No Peru em Yuruá, Mapuya e Mishagua (SIL).

Na Bolívia no noroeste do Departamento Pando (SIL).

Língua: Yaminahua 500 falantes (SIL). São bilíngues em português ou espanhol. A língua é inteligível para os Sharanahua e também os Yawanawá do Gregório, mas não para os Kaxinawá e os Amahuaca (Saez 1998).

Yaminahua (Peru) 750 falantes (2003 SIL) com dialetos Yaminshua e Chitonahua (SIL). Da família linguística Pano, Sul-Central, Yaminahua-Sharanhua. Alfabetismo menos que 1%. Uma gramática e Novo Testamento 2003 e diversos cadernos de leitura (SIL).

Yaminahua (Bolívia) 140 falantes (2000 SIL).

História: Ao princípio da sua história viviam em duas grandes aldeias, uma no rio Moa, afluente do rio Iaco e a outra entre o rio Iaco e rio Tahuamanu. Mudaram-se para as cabeceiras do rio Chandless e travaram seus primeiros contatos com os seringueiros peruanos e bolivianos. No Peru viviam com os Sharanawa, Marinawá e Mastanawa no rio Shambuyacu (Saez 1998). No começo do século XX a região era dominada pela competição entre os serigueiros que muitas vezes provocaram ‘seus’ índios uns contras os outros, e as tribos mudaram-se à procura de lugares mais seguros. Os Maya, Morubo, Jamamadi e Apurinã e outros sofreram escravidão e massacres. Em 1920 o território de Acre já tinha 90.000 ‘civilizados’. Padre Constant Tastevin descobriu 60 Yaminawá escravizados por um caucheiro peruano. Quando eles tentaram escapar foram trancados dentro uma palhoça por alguns dias e os Kaxinawá aculturados receberam rifles para atirar nos Yaminawá que tentaram escapar. Afinal um só índio escapou (Hemming 2003. 57).

Conflitos como os outros povos forçaram os Yaminawá a fugir mais para dentro do mato. Finalmente eles estabeleceram relacionamentos de cliente com os brancos entre os rios Acre e Iaco. Sofrendo as debilitações de diversas epidemias, cem deles se instalaram no seringal Petrópolis em 1968, e renderam aos vícios de alcoolismo, prostituição, exploração e desintegração social (Saez 1998). As missões SIL e Novas Tribos entram na região na década 60. Descobriram que os Yaminawá no rio Iaco eram explorados (Hemming 2003.549).

Em 1975 a FUNAI estabeleceu seu Posto Indígena e quebrou a exploração pelos seringais (Saez 1998). Os Yaminawá deslocaram-se rio acima em Mamoadate com duas aldeias Bétel e Jatobá. Ainda Bétel tem cem indígenas Xixinawá (povo do quati branco) na T. I. Mamoadate. Em 1989 o chefe José Correia Tunumã os levou para o rio Acre e juntaram-se ali com outro grupo de Yaminawá. Esta área foi homologada como a Terra Indígena Cabeceiras do rio Acre em 1998. Eles deixaram um grupo do Bashonawá, o povo da mucura, no rio Iaco que agora se acha no Bairro Samaúma, Brasiléia que vive em extrema pobreza. A mobilidade dos grupos prejudica informações acuradas do todos os grupos (Saez 1998).

No rio Purus há mais Xixinawá, o povo do quati branco. Perto da fronteira peruana é um grupo ligado a uma missão dominicana. Também no Peru vivem outros grupos nos rios Purus, alto Juruá e Mapuya e Huacapishtea. Na Bolívia a umas duas horas de canoa fica a aldeia, escola, organizada por missionários do SIL. Na década 90 o número dos Yaminawá em Rio Branco aumentou nas favelas, e em acabamentos em baixo de pontes e sofrem todos os vícios e consequências de saúde (Saez 1998).

Os Yaminawá têm participado dos projetos escolares da Comissão Pró-Índio do Acre, mas com pouco sucesso. Suas divisões internas e falta de liderança prejudicam a implementação de projetos de desenvolvimento (Saez 1998).

Estilo da Vida: Os Yaminawá se encontra distante no mato, com reputação de ser bravos, e também mendigando nas ruas de Rio Branco Acre. As aldeias consistem de um ‘velho’ com sua família de filhas com seus genros ou dois ou mais irmãos cunhados e seus filhos. As casas são chamadas peshewa (maloca), construídas em cima do barranco do rio.

Sociedade: Os Yaminawá se dividem em clãs patrilineares (kaio) conforme animais totêmicos. As aldeias são dominadas por um clã e assim funcionam como grupos exogâmicos, mas dentro duas clãs podem funcionar com duas metades (Saez 1998).

Artesanato: Os Yaminawá têm uma rica música de cantos xamânicos e românicos.

Religião: O antigo pajé era chamado Nuimuã, mas conforme o povo ele não pode existir em temo de paz. Atualmente tem o curandeiro (koshuiti), que bebe ayahuasca e canta faz curas. A nova geração não quer enfrentar o processo longo de iniciação (Saez 1998).

Cosmovisão: Os mitos são os shedipawó, as histórias dos antigos, que viviam no fundo das águas, na selva fechada e no céu. O céu não é um lugar de confiança, os homens se perdem no caminho e não há contato com eles depois. A selva é o lugar de conflito e de seres que se mudam de forma, trocam de identidade e se devoram. O fundo das águas é semelhante, porém há as grande cobras e fornecem riquezas, como ferramentas, mercadorias e a ayahuasca (Saez 1998).

Comentário: Os missionários da Missão Novas Tribos do Brasil trabalham na T. I. Mamoadate, no rio Iaco, com os Manchineri, e na margem boliviana do rio Acre, na aldeia Escola o SIL com Yaminawá (Saez 1998). 10% Evangelical (Joshua Project).

A mensagem de Cristo que tem toda autoridade e venceu o mal e que o discípulo é filho e herdeiro de Deus é necessária para os Yaminawá.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SÁEZ, Oscar Calavia, 1998, ‘Yaminawa’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/yaminawa.
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth Edition. Dallas, Tex: SIL International. Versão on line:www.ethnologue.com.