Dentro das Tendas, Cristo sente-se em Casa
O vento norte bate contra o nosso casaco longo e pesado e joga cascalhos e areia em nossos rostos congelados. O frio penetra mesmo sendo o nosso casaco bem grosso. À medida que titubeamos pelo chão pedregoso precisamos mover os nossos chicotes para manter os cães tibetanos (mastins) afastados. Nossos pés escorregam no gelo que só vai derreter por volta do meio dia para aguar o campo.
As lombas que se veem por todos os lados são de ovelhas e bois tibetanos, os iaques. Finalmente nos atiramos para dentro da tenda grande e quentinha, de cor preta estendida como aranha pelo alto planalto tibetano. Nossos anfitriões nos levam até um espaço vago em um círculo à volta de uma fogueira no centro da tenda em direção ao quê estendemos as nossas pernas cansadas. Todos os vizinhos da redondeza estão ali; todos pastores nômades. Paira no ar uma expectativa silenciosa em vez daquela costumeira conversa animada, daquela conversa divertida sobre os últimos boatos, sobre caças, sobre religião e sobre o preço da lã.
Em meio àquela penumbra, observamos acontecer algumas coisas diferentes do habitual. A avozinha não está girando sua rodinha de orações, o anfitrião não está murmurando orações enquanto conversa, as placas e os rosários budistas sagrados não estão na cômoda do fundo da tenda. A nossa anfitriã muito atarefada serve o chá tibetano com manteiga de leite de iaques e sal, mas por que estará ela vestida elegantemente usando o seu avental clarinho, como se estivesse assistindo uma corrida de cavalos tribais ou indo à uma peregrinação à Lhasa?
No lugar de honra está sentado um estranho que como os demais veste um casaco de pele de ovelha; seu rosto nos parece familiar apesar de nunca o termos visto antes, o rosto moreno como o do dono da tenda, com sombra de fuligem do fogo de estrume de iaques, espalhado no rosto com manteiga de iaques. Lambe a tigela de chá depois de beber onde logo colocam mais chá. Ele se sente à vontade com estas pessoas simples, aceita o conforto, a vida dura deles, os pequenos prazeres e os problemas. Olha os rostos à sua volta, jovens e gordinhos, idosos e alinhados com uma autoridade cordial, um olhar perspicaz que vê a esperança, os medos e a profunda escuridão de cada vida. É como se ele conhecesse a todos muito bem.
À medida que uiva o vento e bate fortemente contra a tenda, o Estranho levanta a Sua voz: “Eu sou o bom Pastor e meu Pai é o Grande Pastor …”, ensina Ele pela noite a dentro. Depois de muitos chás e da queima de muito estrume de iaques a nossa anfitriã chora arrependida. Sobre a fogueira duas mãos se estendem para se tocarem, uma a de nosso anfitrião , bronzeada e deformada devido à uma vida dura, mão que buscava aprovação divina através de rituais e a outra é a mão do Estranho que trabalhava com madeira em uma terra distante, uma mão que tinha profundas cicatrizes de pregos. O nosso anfitrião havia encontrado o Grande Pastor e o Estranho tinha ganho um irmão Drokpa, nômade tibetano.
Longe de Tibete no extremo sul, ao lado de uma rua cheia de gente no norte da Índia, uma mulher franzina que aparenta ter idade superior à idade que tem, mas ainda atraente, abaixa-se perto do forno pequeno e da bigorna. Ela segura um pedaço de metal incandescente com pinças, enquanto o filho move a marreta. Juntos eles transformam um ferro velho em um instrumento útil, uma enxada, uma pá, uma picareta, um arado, uma faca ou uma foice para ajudar sustentar a família. Ela tem cinco filhos, todos nasceram e estão crescendo embaixo e ao lado da pesada carroça de bois que está atrás dela. Ela se orgulha em ser uma Ferreira Itineirante, os Gaduliya Lohar, um povo separado diferente das pessoas da cidade! Mas, viver sempre à beira da estrada é uma vida muito dura.
“Precisamos de toda a ajuda que a Kali, deusa da destruição, possa nos dar. A mal humorada Senhora nos deve este favor”, pensa ela: “afinal o marido dela e os cunhados cantam nos festivais Hindus e ela mesma também já praticou muitos “pujas” ou atos de culto. Não deram eles aquele boi branco para a Nandiwala, que vê a sorte das pessoas através dos animais sagrados que se movem através dos deuses?”, arranjando o sári à sua volta.
“Qual o problema deste menino? Distraído de novo?”. Sempre que ela e seus filhos ali aparecem despertam a curiosidade dos transeuntes; ela olha o círculo de clientes e espectadores ao redor, um homem conversa com o filho dela. Ele se veste como os demais clientes, com uma longa túnica : “Mamãe este homem é itinerante como nós e quer pousar esta noite conosco!”. Ela passa os olhos pela carroça coberta por aquele encerado rasgado e empoeirado, por aqueles colchões manchados e maltratados e por aquelas poucas trouxas, que que eram o lar onde moravam! “Quem, em sã consciência quererá passar a noite ali, a não ser um ferreiro tal como nós!” e como ela tinha experiência de rua e estava acostumada a lidar com homens, voltou-se para o itinerante ali parado no pó e nas cinzas, olhou para os pés dele e viu que tinham sido perfurados com pregos e ela sabia quanto aquilo doía. Talvez por isso ele quisesse passar ali a noite, “Volte quando o sol se pôr e nos conte o que aconteceu com os seus pés!” convida ela desajeitadamente.
No extremo norte ou no Ártico Siberiano, o pastor nômade prestava atenção aos sons que denunciavam os movimentos dos renos entre as árvores bétulas da Taiga Siberiana num dia de inverno muito frio. Ele não sabe como o homem que estava à frente dele se aproximou sem ser percebido. A sua tez era muito escura para ser um homem russo, mas estava vestido exatamente como ele, um pastor Nenet de reno do Ártico.
O pastor desabafou com o homem sobre as dificuldades das pessoas do Ártico; durante o período das trevas do chamado ”Paraíso do Povo” comunista, suas vidas tinham sido destruídas, haviam sido forçados a viver em assentamentos como se fossem trabalhadores de fábricas. Seus filhos tinham sido levados para serem ensinados sobre a “lutas das classes”. Ele bem sabia que os nativos não eram beneficiados pelo “progresso”! Agora que retornaram para sua antiga vida de pastores de renos, os oleodutos russos estavam poluindo o campo. Também o “Urso-deus” e os ancestrais deles, não ajudaram muito.
O homem desconhecido simpaticamente a tudo ouvia como se estivesse bem familiarizado com aquela forma de vida, como se fosse um deles! O pastor atraído pelo estranho Itinerante, que havia tirado o capuz para ouvir suas lamúrias. A testa do estranho tem uma cicatriz como se espinhos tivessem ali sido fincados. O homem parecia que iria retomar a sua jornada misteriosa. O pastor de um relance entre as árvores olha para o tepi feita com varas de bétula, pele e lona, onde sua família estava passando com ele as breves férias de inverno. Sua esposa estava fazendo uma saborosa refeição. O pastor rapidamente o convida: “Venha comer conosco a comida é simples, mas é boa, e, por favor, conte-nos tudo sobre você”.
Jesus está entre os nômades que estão diante de nós, esperando pela nossa vida, pela nossa voz para revelar a Sua presença! A grande maioria das pessoas se tornou cristã porque conhecia outro cristão. Os nômades precisam que vivamos como cristãos, em sua maneira nômade de viver tanto quanto possível. O Grande Pastor procura discípulos que se comprometam em fazer amizade com os nômades do mundo, em aprender a língua e as suas habilidades, em participar da experiência de vida deles e desta forma torná-LO conhecido. Os nômades precisam de ajudas práticas que melhorem o seu nomadismo, na área de educação, saúde comunitária, veterinária, ajuda médica e práticas de gerenciamento. Os cristãos precisam entender as práticas religiosas nômades, seus medos e ensinar sobre o Deus Pastor nômade da Bíblia. Eles precisam demonstrar que o Grande Pastor Jesus sente-se em casa naquele estilo de vida em tendas.
Os nômades foram deixados por último entre os povos não alcançados por Cristo, mas foram os primeiros a ser chamados com Abraão! Através de uma forma nômade de vida precisamos demonstrar o amor de Cristo por eles.