Apinajé

David J Phillips

Autodenominação: Apinayénão é a autodenominação, mas é o nome usado por eles e seus vizinhos Timbira (Ladeira e Azanha 2003). O nome da tribo foi citado por Souza Villa Real, em 1793, como Pinarés ou Pinagés. Mais tarde prevalece a forma Apinagé. Fr. Rafael Tuggia a designa como Oupinagees (MNTB 2010).

Outros Nomes: Nimuendajú forneceu outros nomes derivado do termo hôt ou hôto que significa ‘canto’ de território entre os Araguaia e o Tocantins, conhecido como o Bico do Papagaio (Ladeira e Azanha 2003).

População: Conforme Socioambiental (Ladeira e Azanha 2003) Nimuendajú deu o mais baixo número do povo: 150 em 1928. Desde então a população tem crescida: 364 (Waller 1977), 413 (Galvão 1980), 565 (FUNAI 1993), 780 (CTI 1997), 1.025 (FUNAI 2003), 1.262 (FUNASA 2003), 1.460 (MNTB 2010) com 198 na aldeia de Mariazinha é e 693 em São José, 1.500 (DAI/AMTB 2010).

Localização: Os Apinajé está localizado perto da confluência dos rios Araguaia e Tocantins (Ladeira e Azanha 2003), na TerraIndígena Apinajé.

Terra Indígena Apinajé: de 141.904 ha homologada e registrada no CRI e SPU, na margem esquerda do rio Tocantins, uns 20 km a noroeste da cidade de Tocantinópolis, TO.A população é 1,100 em 18 aldeias, seis próximas às margens dos afluentes do rio Tocantins, estas formadas de famílias oriundas da aldeia principal, que é Mariazinha. As outras aldeias ligadas ao rio Araguaia com sua aldeia principal de São José. Nas aldeias de Cocalinho, Patrirzal, Butica, Bonito, Riachinho, Buriti, Mariazinha e São José (MNTB 2010).

Língua: Apinayé, uma da família linguista Jê Noroeste com Kayapó, Timbira, Suya e Kreen-Akarore (SIL). Outros nomes da língua: Apinagé e Apinajé. Alguns falam português e alfabetismo é de 15-25%. Alfabetismo em sua própria língua 5-10%. Uma Gramatica existe. A tradução do Novo Tesamento completa em 1999 (SIL). ‘Os índios são bilíngues, porém nada entendem de assuntos mais profundos em português; especialmente assuntos espirituais. As crianças têm dificuldade para falar o português (MNTB 2010).

História:
Os Apinajé, um does maiores povos da região com 4,200 índios, guerreavam com os outros povos indígenas, como os Karajás. Isso não diminuiu depois dos contatos com os brancos. Os jesuítas vindo do Pará penetraram a região no século XVII e tentaram persuadir os índios ‘descer’ para os aldeamentos no Pará. O segundo contato dos Apinayé com os não indígenas deu-se em 1774 durante a viagem de Antônio Luiz Tavares de Goiás ao Pará (MNTB 2010). Houve contato permanente depois 1797 quando o governo português abriu um posto militar na boca do Araguaia para defender os colonos à procura do ouro. O posto foi abandonado devido aos ataques do Apinajé (Ladeira e Azante 2003). Sofreram uma epidemia de varíola no ano 1817. Sua a população diminui até 150 índios em 1928 (MNTB 2010).

Na primeira metade do século XX os regionais viviam da agricultura de subsistência e mantinham relações personalizadas com os Apinajé, como, por exemplo, as relações de compadrio. Em 1939 Nimuendaju escreveu uma monografia etnológica sobe eles. Acerca de 1944 o SPI estabeleceu um posto em São José (Ladeira e Azante 2003). A FUNAI obrigava os índios trabalhar na coleta de babaçu e roça de arroz, entregando o produto somente à FUNAI, que permitia a caça e outras atividades tradicionais somente no domingos. Revoltados a este regime a maioria dos indígenas dispersaram em 1990 para longe do posto para recomeçar a viver a sua vida tradicional. Até 2010 a delineação de um território Apinayé ainda não está completa.

Atualmente, três rodovias interferem com o território dos Apinayé. As TO 126 e TO134 que seccionam toda a reserva no sentido norte-sul e a BR 230, onde ao longo de seu eixo, estão localizadas três aldeias: São José, Patizal e Cocalinho. Já ao longo da TO 126, estão localizadas as outras quatro aldeias: Mariazinha, Riachinho, Bonito e Botica (Albuquerque 1999). Antes da demarcação da área Apinayé, os índios eram distribuídos apenas em duas aldeias, São José e Mariazinha. Porém, após a demarcação, os Apinayé se distribuíram pelo território, formando novas aldeias e, deste modo, passando a ter um maior controle sobre a área.

Estilo da Vida:
São caçadores colhedores e agricultores de roças de mandioca, algodão, etc.Os Apinayé, os outros Jê e Timbira, preferem localizar suas aldeias no campo ou na chapada (põpej) e não na floresta, e por isso estão situadas em terrenos mais elevados. Usam a mata para caçar, cultivar nas roças e pescar, e estão pertos de ribeiro perenes (Albuquerque 1999). Os Apinayé dependem mais da agricultura e da coleta de coco babaçu para vender no mercado regional. As roças são abertas nas floresta de galeria aonde os solos são ricos em nutrientes. O uso útil de uma roça é determinada pelo ciclo da mandioca (9 a 10 meses) e da banana (Ladeira e Azante 2003).

Contrário à impressão comum, ‘Não se pode dizer que a mulher Apinayé trabalha mais, ou mais pesadamente, que o homem e que tem menos divertimentos que ele; antes pelo contrário. Roça: A derrubada e a queimada da roça cabe exclusivamente ao homem. O plantio é feito por ambos os sexos, a capinação e a colheita, igualmente’ (MNTB 2010). As roças pertencem às mulheres o plantio do arroz é feito pelos homens e as outras plantações pelas mulheres: milho, mandioca, feijão, fava, inhame, bata-doce, melancia, amendoim, mamão e banana e abóbora (Ladeira e Azante 2003).

A caça é feita pelos homens com arco e flecha ou arma de fogo. A pescaria é de menos importância, sendo mais um substituto para a caça e para pessoas de resguardo. A mulheres usam anzóis importados, os homens preferem pescar com arco e flecha ou tinguijada (com veneno timbó) (MNTB 2010). É possível os Apinayé aprenderam o método de ‘espera’ ou à espreita dos caçadores brancos. Porém a caça não atrai as novas gerações, os animais estão ficando escassos, principalmente queixada e caititu. Atualmente muitas aldeias comprem carne de boi que é indispensável nas rituais das festas. Os índios criam porcos e galinhas que correm soltos na aldeia (Ladeira e Azanha 2003).

Artesanato:

Sociedade:

Antigamente as sociedades Jê possuíam aldeias de forma circular com populações de 2.000 ou 3.000 com uma cultura de cerrado. As aldeias são autonomias, criada por cisão de algumas famílias da aldeia original. Os motivos de separar muitas vezes são por acusações de feitiçaria ou boataria. A nova aldeia é reconhecida quando tem condições próprias de realizar os rituais do ciclo anual, com uma chefia (pa’hi) consiste de representantes dos grupos domésticos para tomar responsabilidade para a vida da aldeia e com um acordo da aldeia original ter delimitado um território de caça (Ladeira e Azanha 2003).

A planta circular da aldeia apinayé em comparação da extensão linear da cidades não indígenas, os Apinayé considera finito e definido ou ‘fechado’ como o universo é completo e definido (Albuquerque 1999). Também a planta da aldeia consiste da periferia das famílias e a praça ou patio representa os dois pares de metades cerimoniais. Os Apinayé têm dois sistemas de relacionamento, o familiar e biológico e o cerimonial que estabelece uma nova identidade da sociedade (Matta 60). É uma divisão entre a vida familiar e privada das casas e a vida social e pública da praça.

Cada casa é uma unidade de residencia (ikré) e os Apinayé não distinguem entre família nuclear ou extensa. O relacionamento da periferia é das casas que pertencem às mulheres com famílias nucleares ou extensas uxorilocais. Devido a isso homens solteiros não podem construir casas por si mesmos, nem há uma casa dos homens no centro da praça (Albuquerque 1999). A área atrás as casas é associada com as tarefas domesticas e a frente da casa que dá para a praça o referencial da família na sociedade (Da Matta 75).

O relacionamento cerimonial divide a sociedade em duas metades ou ‘moities’ (pikiyê-re) chamados Kolti e Kolre. Todos os homens e as mulheres pertencem a uma ou a outra, que funcionam ao tempo das festas. Este sistema tenta eliminar as desigualidades da vida de famílias, de diversos tamanhos e habilidades. As metades formam as equipes das corridas de tronco e também um jogo de jogar bolas; o alvo não é para vencer os outros mas para participar juntos. Os Kolti se enfeitam com penas vermelhas e os Kolre com penas pretas, e cada metade usam um estilo de dança e canto diferente e tomam posições diferente os Kolti no lado setentrional e os Kolre no lado sul. Os filhos estão iniciados por receber um nome e são aceitos em uma metade. Um homem é escolhido para facilitar este processo entre quem dá o nome e o filho que recebe. Os rapazes a serem iniciados residem na mata, por algum tempo com sua classe de idade durante a época das iniciações. Um relacionamento como ‘adoção’ está estabelecido diferente e separado da realidade dos relacionamentos familiares (Da Matta 73).

O pátio ou espaço no centro da aldeia é o lugar aonde os homens reúnem de manhã e a tardinha para decidir as atividade quotidianas. Dois jovens, os ‘governadores’, escolhidos pelos velhos da metade que predomina conforme a estação do ano. No Verão (a seca) eles pertencem à metade Wacmejê, no inverno (a época das chuvas) são da metade Catãmjê.

Religião:
Nimuendajú disse que até 1925 os Apinayé praticavam o enterramento duplo. Os ossos eram recolhidos de dentro da sepultura e colocados em uma esteira na casa materna do defunto, eram lavados com água. Secos ao sol, eram pintados de urucu dentro de casa, sendo então levados ao cemitério (Ribeiro 2002.72, 123).

Depois da perda drástica de população que sofreram, como o sistema de extração de coco imposto pelo SPI e posteriormente pela FUNAI, os Apinayé abandonaram o sistema do calendário ritual. Atualmente, os Apinajé vem retomando com maior empenho alguns de seus rituais (Ladeira e Azante 2003).

Cosmovisão:
O universo é um tudo fechado e organizado em pares de elementos que são opostos e complementares, isso é um dualismo (Matta 62). O sistema cerimonial integra a humanidade no universo e dá sentido humano ao tudo. Por exemplo o Sol e a Lua são dois seres masculinos que desceram para uma terra que já existe mas em caos e eles criaram o mundo e a humanidade. O Sol é principal dos dois e tomou a iniciativa, porém a sua existência é inconcebível sem a existência da Lua, que é necessária para complementar o Sol. A metade Kolti, associada com o Sol, tem prioridade nos rituais, mas ao mesmo tempo é complementado pela metade Kolre, associada com a Lua (Albuquerque 1999).

Todos os animais têm espírito e antigamente eram humanos. Há também espíritos guardião dos especies que conserva seus animais para não caçar de mais.

Os espíritos dos mortos residem no local onde viviam e no cemitério, mas não são imortais (Ribeiro 2002.107). Os mortos entrem num cadeia de transformações, usando primeiramente os corpos de animais maiores, e passam para os animais menores até ser insetos, plantas cultivadas e finalmente se transforma em pedras. Estes espíritos humanos (carõ) podem comunicar como os vivos, um contato que é perigoso. Os carõ podem oferecer certos termos para os homens para ser pajé (wajaka) e receber o poder de contato continuo e de fazer curas (Ladeira e Azante 2003, Ribeiro 2002.123).

Comentário: O trabalho foi iniciado pela SIL em 1958 por Patrícia Ham, Helena Waller e Linda Koopmam. Patrícia Ham já concluiu a tradução do Novo Testamento na língua Apinajé. Em 1977 elas foram mandadas pela FUNAI a deixar o trabalho. Em 1980 a MNTB obteve permissão para entrar nesta tribo iniciando o seu trabalho Alexandre e Alessandra Conde, Elizabeth Mosti, Maria de Fátima Andrade e Rogério e Isis Inácio atuam na aldeia Mariazina (MNTB 2010).

Bibliografia:

  • ALBUQUERQUE, Francisco E, ‘Contato dos Apinayé de Riachinho e Bonito com o português: Aspectos da Situação Sociolingüística’, Dissertação de Mestrado. Goiânia: UFG, 1999. p. 5; 8-10; 45-46; 48-52.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • LADEIRA, Maria Elisa e AZANHA, Gilberto 2003, ‘Apinayé’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/apinaje
  • MATTA, Roberto Da, 1982, A Divided World – Apinyé Social Structure, Havard University Press.
  • MNTB 2010 Relatório de Atividades, Missão Novas Tribos Brasil, Anapolis, GO www.mntb.org.br
  • RIBEIRO, Liliane Brum, 2002, ‘Limpando Ossos e Expulsando Mortos, Estudo comparativo de Rituais funerários em Culturas Indígenas Brasileiras através de uma revisão bibliográfica’, Dissertação de Mestrado de Antropologia, Centro de Ciências
  • Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
  • SIL 2009: Lewis, M Paul (ed), 2009. Ethnologue: Languages of the World, 16th edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com