Apiaká

David J Phillips

Autodenominação: Apiaká é derivado possivelmente do tupi apiaba que significa ‘pessoa’ ou ‘gente’ (Wenzel 1996). No entanto, os caciques preferem a explicação de que o nome refere-se ao marabundo que viaja grande distancias para se vingar (Tempesta 2009).

Outros Nomes: Apiacá. Os Kaiabi chamá-los de ‘Tapê-iting’, ‘Tapyíting’, ou ‘Tapii’sin’ que significa ‘povo de pele clara’, mas os habitantes da Terra Indígena Apiaká do Pontal são chamados ‘Apiaká’ (Wenzel 1996).

População: 198 (DAI/AMTB 2010), 43 em 1989, 797 Siasi/Sesai, 2.012 (Tempesta 2009).

Localização:
Em quatro Terra Indígenas:

  • T I Mundurcu na margem direta dos rios Tapajós e Teles Pires, sudoeste do Pará, de 2.381.800 há, homologada e registrada, com 6.518 Munduruku e Apiaká (Sesai 2012).
  • T I Apiaká do Pontal e Isolados, entre os rios Juruena e Teles Pires e sua confluência formando o rio Tapajós MT, de 982.324 ha identificada e aprovada pela FUNAI com 144 Mundurucu e Apiaká e mais Apiaká isolados.
  • T I Kayabi nas duas margens do rio Teles Pires, nos dois estados de Pará e Mato Grosso, de 1.053.257 ha homologada com 387 Munduruku, Kaiabi e Apiaká.
  • T I Apiaká-Kayabi no rio dos Peixes, afluente dor Arinos formador do rio Juruena, ao norte da cidade de Juará, MT, de 109.245 ha homologada e registrada com 446 (2003) de Apiaká, Kaiabi e Munduruku.
  • Alguns vivem nas cidades de Juara MT, Pôrto dos Gaúchos MT, Belém PA e Cuiabá MT.

Língua: Português e alguns falam Munduruku e Kaiabi. Apiaká é da família linguística Tupi-Guarani. É ameaçada com extinção, tendo apenas quatro falantes. Há tentativas de reviver a língua. Nas suas escolas os Apiaká aceitam o ensino de Munduruku, mas não de Kaiabi (Tempesta 2009).

História:
O território tradicional dos Apiaká consiste dos cursos médio e baixos dos Rios Arinos e Juruena, formadores do Rio Tapajós, inclusive os seus alfuentes nas duas margens no Mato Grosso e do Amazonas. Eles também vivem no curso baixo do Rio Tele Pires e seus aluentes no Pará e Mato Grosso. Durante o século XIX os Apiaká era um povo guerreiro numeróso e Koch-Grünberg escreveu de uma aldeida com 1.500 habitantes. Enfeitaram ricamente suas lanças com muitas penas de arara e usaram arcos e flechas contra seus inimgos tradicionais Mundurucu, Tapanyuna, e Nambicuara. Construiram suas aldeias nas magrens dos rios grandes com grandes malocas, abrigando centenas de individuos, divididas no interior de um corredor central, ladeado por três fileiras de esteios que sustentavam um telhado de duas águas. Os espaços laterais eram repartidos entre as diversas famílias nucleares (Wenzel 1996).

Durante o século XIX se mudaram para o norte no Rio Juruena e uma parte se separou se tranferindo para o Rio Teles Pires e se tornar chamdo os Parabiteté, um termo da língua Mundurukú que alude a sua tatuagem em torno dos lábios. Os viajantes entre Cuibá e Belém estabeleceram relações pacíficas com os Apiaká e os empregaram como guias e remadores, combinado isso com suas habilidades tradicionais como caçadores, pescadores e seringueiros (Wenzel 1996). Estes deslocamentos eram devidos a expansão da frente de borracha e outras (Tempesta 2009).

Conforme Rondon um massacre no princípio do século XX reduziu sua população a 32 pessoas, com uma das consequencias que um grupo se separou e permanece isolado até hoje. Em 1990 92 viviam em três aldeias, misturados com outras etnias (Wenzel 1996). Eles furgiram para o rio Tele Pires da violencia dos brancos de um posto na Barra de São Miguel na confluência dos Rios Tele Pires e Juruena. Os Apiaká rejeitam a ideias dos Kaiabi do Rio dos Peixes que os dois foramara um só povo no passado (Tempesta 2009).

Na década 70 do século XX um Jesuíta, João Dornstauder, convidou um grupo de famílias instalar-se perto dos Kaiabi no Rio dos Peixes e outros se seguiram e estabeleceram as aldeias de Nova Esperança em 1968, Mairob e Tatu nos anos 80 (Wenzel 1996).

Estilo da Vida:
Vivem em sete aldeias no sudoeste do Pará e no norte de Mato Grosso próximos aos Rios Juruena e Teles Pires, os maiores afluentes do Rio Tapajós. São Bom Futuro e Vista Alegre na margem direta do Teles Pires na T I Mundurucu, Pontal na margem direita do rio Juruena na T I Apiaká do Pontal MT, e mais famílias extensas espalhadas. Duas aldeias são localizadas na T I Kayabi: Mairowy na margem esquerda do rio Teles Pires MT e Minhocuçu na margem direita , PA (Tempesta 2009).

São agricultores excelentes. O indivíduo que quer começar uma roça entra em acordo com os outros sobre o lugar e o tamanho. É considerado como pertencendo a ele mesmo depois da colheito e quando ela retorna para capoeira (Wenzel 1996). No final da seca em agosto, os homens fazem a derrubada e a coivara. Na estação de chuva fazem o plantio. Cada família pode possuir três ou mais roças, uma em repouso, outra produzindo e a terceira recém-plantada. Plantam mandioca, milho, arroz, bananas, abacaxi, inhames e arvores frutíferas. Na estação seca pescam e caçam tartarugas e seus ovos das praias e coletam frutos da mata. Também as roças estão produzindo (Tempesta 2009). As famílias compartilham carne de caça e pesca conforme a quantidade e a parentela. Eles compram sal, açúcar, roupa e pano, armas, querosene, etc. com dinheiro ganho por trabalhar nas fazendas próximas ou vender artesanatos (Wenzel 1996).

Sociedade:
O casamento preferido é monogâmico e entre primos cruzados mas alguns são interétnicos. O casal Apiaká torna-se uma unidade econômica e social após o casamento. Hoje em dia a família nuclear tem sua casa própria (Wenzel 1996). Normalmente o casal recém-casado vive matrilocal. Não há uma rígida divisão de tarefas entre os gêneros, mas conforme o costume os homens fazem a derrubada e a coivara das roças, a caça e a pesca, e as mulheres cuidam do plantio e da casa e das crianças. As crianças são consideradas pessoas quando começam a falar e andar e com dez anos os pais escolham os futuros cônjuges (Tempesta 2009).

Os Apiaká adotaram a terminologia portuguesa de parentesco e inclusive os sistema de compadre, entretanto há evidencias de uma crise de identidade étnica e alguns identificam o grupo isolado como os verdadeiros Apiaká. Eles valorizam a educação em português por suas crianças. Os homens mais velhos harmonizem os planos da comunidade, mais homens mais jovens tratam as relações com a FUNAI e a sociedade nacional. Participaram na União das Nações Indígenas (Wenzel 1996).

Artesanato: As mulheres fabricam tipoias, cestos e peneiras. As tipoias são feitas da fibra da casca interior de uma arvore. Os homens confeccionam canoas e remos, colares, brincos e pulseiras, zagaias, arpões, arcos e flechas.

Religião: Os Apiaká acreditam que a pessoa consiste de alma (ang) e corpo, e que alma pode se desligar do corpo provocando doenças. Eles dão valor ao autocontrole e temem os efeitos de doença quando a pessoa pode ser ‘desmentada’. A pessoa ‘dementada’ de doença demonstrar a possibilidade de deixar de ser humano. Uma pessoa pode transformar-se em espírito de animais. A doença é a culpa da pessoa ou outra pessoa e uma pessoa assim ‘desmentada’ deve procurar um ‘puxador’ na aldeia para aplicar cremes e massagens no corpo. O homem que atacar o boto pode adoecer e está em perigo ser atacado pelo animal e ser levado para a terra situada em baixo do rio.

A transformação controlada em bicho é feita pelos pajés. Entretanto os Apiaká afirmam que não têm curandeiros ou pajés, mas acreditam nos seus poderes e procurá-los entre as outras etnias. Os pajés que são maus, e eles, juntamente com a transformação associada com a doença, são indicações da instabilidade da condição humana. A capacidade de socializar e manter relações humana deve predominar na pessoa sobre a parte animal (Tempesta 2009). Antigamente os Apiaká tinham pajés e praticavam cerimônias de danças, mas hoje são Católicos.

Quando alguém morreu dentro de uma casa, o esposo ou a viúva permaneceu de luto por um ano com o rosto pintado preto, observando restrições de alimento. Hoje em dia a casa é abandonada e o nome do falecido nunca é prenunciado (Wenzel 1996).

Cosmovisão: Conforme Nimuendajú os Apiaká creiam em um deus criador dos céus e da terra, que revela a sua ira por meio de relâmpagos e trovões. Dois heróis míticos agora vivem na Via Láctea perto do Cruzeiro do Sul (Wenzel 1996). Na terra a mata é habitada por diversos seres malignos. O siruría um antropoide em conjunto com o cipó-alho e a jiboia pode desnortear o caçador. O macaco jurupari degola a gente à noite para chupar o sangue. O dono dos animais de caça controla a abundancia de caça, e o caçador tem de apaziguá-lo com um charuto, deixando-o em uma cavidade de um tronco de uma árvore. O mundo sob as águas é uma réplica do mundo dos homens. É habitado por seres encantados, como os botos, a dona dos peixes e a mãe d’água. Estes vivem em casas e têm roças. Se a sombra de uma pessoa é capturada por esses seres, ela adoecer e morrer (Tempesta 2009).

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2013, Lewis, M Paul, Gary F Simons, & Charles D Fennig (eds) 2013. Ethnologue: Languages of the World, 17th edition. Dallas, Texas: SIL International. www.ethnologue.com
  • TEMPESTA, Giovana Acácia, 2009, ‘Apiaká’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/apiaka
  • WENZEL, Eugenio; 1996, ‘Apiaká’, Encyclopedia of World Cultures www.arara.fr/BBTRIBOAPIAKA accessado 6 de agôsto 2013.