Kaxinawá — Huni kuin

David J. Phillips

Autodenominação: Huni Kuin que significa ‘homens verdadeiros’ ou ‘gente com costumes conhecidos’. São da família linguística Pano. Parentes são chamados Huni Kuin mas os outros são denominados de -nawa. Kaxi significa morcego ou canibal ou gente que anda à noite. Mas os próprios Kaxinawá chamam todos os grupos aparentados de ‘Yaminawa’ (Lagrou 2004).

Outros Nomes: Huni-Kuin, Cashinauá, Caxinauá (DAI/AMTB 2010).

População: Brasil: 4.500, Peru: 1.400 (DAI/AMTB 2010). Brasil: 7.535 (FUNASA 2010), Peru: 2.419 (INEI 2007).

Localização: No Brasil onze Terras Indígenas homologada e uma em identificação no Acre e também no sul do Amazonas:

T. I. Kaxinawa do Seringal Curralinho, AC, em identificação na margem esquerda do rio Embira com 89 Kaxinawá (Iglesias e Aquino 2005).

T. I. Alto Rio Purus, AC, de 263.129 ha na margem direta do rio Purus, homologada e registrada no CRI e SPU com uma população de 1.736 Kaxinawá, Kulina e Yaminawá (SIASI/SESAI 2013).

T. I. Igarapé do Caucho, AC, de 12.318 ha homologada e registrada no CRI e SPU com 456 Kaxinawá (FUNAI 2003).

T. I. Katukina/Kaxinawa, AC, de 23.473 ha na margem esquerda do rio Embira, ao norte da BR- 364, homologada e registrada no CRI e SPU com 708 Kaxinawá e Shanenawa (Iglesias e Aquino 2005).

T. I. Kaxinawa/Asaninka do rio Breu, AC, 31.277 ha na fronteira com o Peru formada pelo rio Breu e a Reserva Territorial Murunahua, homologada e registrada no CRI e SPU, com 400 Ashaninka e Kaxinawá (FUNAI 2003).

T. I. Kaxinawa da Colônia Vinte e Sete, AC, de 105 ha homologada e registrada no CRI e SPU, com 70 Kaxinawá (FUNAI 2003).

T. I. Kaxinawa do Baixo Jordão, AC, de 8.726 ha na fronteira peruviana, homologada e registrada no CRI e SPU, com 319 Kaxinawá (Iglesias e Aquino 2005).

T. I. Kaxinawa do Rio Humaitá, AC, 127.383 ha entre os rios Muru e Embira, homologada e registrada no CRI e SPU, com 287 Asaninka, Kaxinawá e Kulina (Iglesias e Aquino 2005).

T. I. Kaxinawa do Rio Jordão, AC, de 87.293 ha nas duas margens do rio Jordão na fronteira peruviana, homologada e registrada no CRI e SPU, com 1.230 Kaxinawa (Iglesias e Aquino 2005).

T. I. Kaxinawa Nova Orlinda, AC, de 27.533 ha dividida pelo rio Embira, homologada e registrada no CRI e SPU, com 247 Kaxinawa (FUNAI 2003).

T. I. Kaxinawa Praia do Carapanã, AC, de 60.698 ha na duas margens do rio Tarauacá, homologada e registrada no CRI e SPU, com 485 Kaxinawá (FUNAI 2003).

T. I. Kaxinawa Seringal Independência, AC, de 14.750 ha dividida pelo rio Tarauacá, Dominial Indígena registrado no CRI, com 166 Kaxinawa (Iglesias e Aquino 2005).

No Peru: Em aldeias nos rios Purus e Curanja no Parque Nacional Alto Purús de 2.510.694 hectares, na Província de Purús y Atalaya (Departamento del Ucayali) e na Província de Tahuamanú (Departamento de Madre de Dios), criado em 2004.

Língua: Kaxinawá (DAI?AMTB 2010). Kashinawa ou Cashinahua (SIL). Todas as crianças (no Peru) aprendem a língua e sabem ler e escrever das escolas bilíngues. 5% – 10% falam espanhol. Alfabetismo em Kashinawa é 40%, em espanhol 20-30% (SIL). Dicionários e Novo Testamento produzidos entre 1980 e 2008 (SIL).

História: Os Kaxinawá são dos povos da família linguística pano que habita a floresta amazônica do Peru do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil. São entre o grupo com culturas e e línguas semelhantes, denominado com o sufixo -nawa. O território original dos Kaxinawá ou Huni Kuin eram os três afluentes do rio Envira, os rios Muru, Humaitá e Iboiçu, no lado direto, enquanto os Kulina ocuparam a margem esquerda. As expedições de ‘regate’, a busca de escravos indígenas, até penetraram a região no século XVIII, mas sabemos pouco deste contato.

No final do século XIX invadiram os caucheiros peruvianos, mas por 1910, sendo necessário derrubar as arvores para extrair o caucho, a região ficou esgotada, mas os brasileiros buscaram o látex da Hevea Brasiliensis que é extraída dos cortes no caule por anos, e assim o contato durou décadas. Em 1913 a região do rio Juruá recebeu quarenta mil nordestinos, em sua maioria Cearenses. Organizava-se a violência para abrir estradas de seringa, ‘limpar’ a área de índios ‘bravos’, e por acaso trouxe as doenças dos brancos. Os Kaxinawá responderam por assaltar e roubar. Mas um grupo do rio Iboiçu aceitou trabalhar para o seringalista Felizardo Cerqueira. Alguns ainda estão marcados no pele com ‘FC’ com fossem pertences do seringalista. Este os levou para o alto rio Envira e em 1919 para o rio Tarauacá. Foram usados para massacrar os Papavó. Chegaram ao rio Jordão em 1924 (Lagrou 2004).

Os Kaxinawá do Peru mantinham sua independência e ficavam longe dos rios navegados pelos regatões. Mas em 1940 mandaram seis homens para o Rio Taraya para negociar ter mais ferramentas e produtos industriais. Em 1951 chegaram os alemães Schulz e Chiara visitaram a aldeia e fez filmagem que calcularam 450 a 500 pessoas em oitos aldeias, porém por consequência da visita uns 80% morreu numa epidemia de sarampo. Os sobreviventes fugiram para os rios Envira e Jorão no Brasil. Entretanto depois de trabalhar para o seringalista por um ano, resolveram voltar ao rio Curanja no Peru.

A FUNAI abriu postos em Boca do Acre e Fronteira em 1976 e identificou quatorze área indígenas, que provocou conflitos com os não índios. Os lídres das étnias se encontraram em Rio Branco e o CIMI e a CPI, liderada pelo antropólogo Terra Valle de Aquino auxiliaram os indígenas. No remoto rio Jordão 240 Kaxinawá estava em escravidão de dívida com seis seringalistas. Porém um seringal foi dado aos índios pela viúva do dono que permitiu os Kaxinawá plantar sua roças e praticar sua cultura. Isso provocou os outros que trabalhavam para os outros seringais para revoltar e escapar, que resultou no empobrecimento dos seringalistas. Aquino levou os lídres dos Kaxinawá a Brasília e organizou as finanças para os seringais indígenas. 250 Kaxinawá no rio Humaitá também tomaram controle de seus seringais. Os Kaxinawá no alto rio Purus perto Posto Fonteira pouparam fundas para comprar para comprar o seringal Receio (Hemming 2003.550s). A antropóloga Cecilia McCallum estudou as tentativas dos Kaxinawá para quebrar a barreira hostilidade entre os brancos e os índios e o avivamento das festas tradicionais. Terri Aquino recebeu com outros o titilo honorífico de Txai de Inca. Outro sertanista era Antônio Batista Macedo que suportou os Kaxinawá e os Apurinã (Hemming 2003.556).

Os Kaxinawá trabalharam no seringal no rio Envira no início do século XX, quando houve uma rebelião contra o seringalista e alguns passaram para as cabeceiras do rio Purus no Peru e outros mudaram-se para o rio Purus na aldeia Fronteira e outros assentimentos próximos ainda dentro do Brasil. Nas últimas décadas do século outros vieram do Peru, do Envira e do Jordão para se estabelecer no rio Purus (Lagrou 2004). As pescaria com timbó e a abertura de novas roças são coletivas. Na aldeia Cana Recreio e nas outras o comercio com os regatões de trocar borracha, couro de gado e galinhas é controlado pelas lideranças, mas em Fronteira é pela iniciativa individual (Lagrou 2004).

Em 1984 os lídres dos Kulina e Kaxinawá do alto Purus e do rio Jordão, impaciente com a FUNAI em demorar demarcar as Terras Indígenas decidiram abrir as trilhas dos perímetros. A produção do látex prosperou e a população aumentou a 1.085 em 1992. No anos 80 os seringueiros, liderado por Chico Mendes lutaram para preservar as florestas contra os rancheiros de gado. A rodovia BR-364 chegou de Porto Velho a Rio Branco no Acre e a população da última avançou até 250.000 e ganhou quarenta serrarias para receber a madeira da floresta. Um madeireiro matou Chico Mendes em 1988. Aquino cooperou com os missionários do CIMI e pastores Luteranos para motivar a demarcação de mais Terras Indígenas e os índios criaram a União de Nações Indígenas Norte, sua força politica principal (Hemming 2003.555). Os Kaxinawá persuadiram dois professores para melhor o comércio da cooperativa (Hemming 2003.557).

Estilo da Vida: As casas são construídas com o chão um metro em cima da terra, sem paredes e com um telhado de duas águas coberto de palha.

Sociedade: Há uma tendência à cisão de aldeias que é comum entre os Pano e reflete a base democrática que constitui a comunidade. Todo pai de família pode decidir, por quaisquer motivos, mudar-se para outro lugar a fim de construir uma nova comunidade, se tiver habilidade de persuadir outros a segui-lo. A maior comunidade no Peru é Balta, com 800, criada pelo SIL com pista de pouso e rádio. A segunda maior é Conta no rio Purus perto de Porto Esperanza, estabelecida em 1968 pelos Kaxinawá vindo do Envira. Muitos passaram a viver em Conta, porque esta têm mais oportunidade de obter produtos. Os Kaxinawá no Peru são considerados mais tradicionais devido ao menos contato com os brancos (Lagrou 2004).

Os do lado brasileiro tinham mais contato com os seringalistas, mas hoje vive no processo de retomar as tradições. O Posto da FUNAI é instalado em Fronteira, a mais antiga aldeia no rio Purus (Lagrou 2004).

A criança recebe um nome próprio e os pais usam este nome até a criança aprende os termos de parentesco que depois isso são usados em vez do nome próprio. A sociedade é dividida em metades, secções e idades. A iniciação da criança é quando tem os dentes permanentes, quando aprende seus deveres e tarefas.

O casamento é como primos cruzados na mesma aldeia. O líder da aldeia dá conselhos ao marido para ser um bom marido, tem que fazer uma roça para sua mulher, plantar muito milho, macaxeira e banana e ser um bom caçador, etc. À noiva dá conselho de cuidar do marido, prepara a comida por ele, cuidar dos filhos, etc.(Lagrou 2004).

Artesanato:

Religião: Katxanawa é o ritual da fertilidade e o taxirin é de iniciação da criança. A falta de pessoas idosas no Brasil com experiencia das aldeias no Peru resulta um esquecimento da cultura e dos rituais. O desenho geométrico de pintura corporal é chamado kene kuin (Lagrou 2004). Muitos adultos têm a capacidade de comunicar com os yuxin, para curar ou causar doenças, mas os verdadeiros pajés morreram. Todos os homens adultos tomam a ayahuasca e as caminhadas solitária na floresta são tentativas renovar contato com os espíritos que manifestam a força vital em todas as coisas. Pessoas são formadas de carne e de yuxin, como toda a flora e fauna. Os yukin de animais poderosos podem aparecer como gente, esta capacidade de transformar-se é chamada muka.

O ritual iniciação, chamado nixpupimá acontece de três ou quatro anos na época do milho verde. As crianças que têm perdidos suas dentes da infância são chamadas para a casa do líder, são escondidas em um canto da casa. Os pais dançam em redor do fogo para que fiquem fortes e aprendam ligeiro. As crianças (bakebu) tornam-se beduban (meninos) e txipax (meninas) e são iniciados nas tarefas e nos papéis de seu sexo. O nixpu é uma planta silvestre que tinge os dentes preto. Depois realizam corridas no pátio da aldeia. Na noite do último dia as crianças mastigam o nixpu e cospem num prato e fazem jejum por cinco dias.

O ritual Txidin é realizado cada ano na época do milho verde por cantos e danças e se usam o cushima, um vestido comprido com um cocar de penas brancas e vermelhas da cauda da arara e um adorno nas costas com penas de gavião e as penas de outros pássaros. O líder de canto enfeitado representa o Inca e seus aliados ligado à metade dos ‘filhos da onça’ com um conjunto de associações simbólicas : o milho, o frio, a vida eterna, jenipapo e o sol . A metade dos ‘filhos do brilho’ é ligada à cobra, ao vermelho, à ciclicidade, ao apodrecimento, à lua. O txidin faz parte do ritual da iniciação. Na primeira parte os cantos conta a visita dos homens à aldeia dos Inká. Os espinhos de pupunha são usadas para perfurar o lábio inferior e as narinas.

O Katxanawá é o ritual da fertilidade. Primeiramente uma caça coletiva é feita por cada metade. O ritual é caracterizado pela dança de homens vestidos de palha para representar os yuxin da floresta ao redor de um tronco oco de paxiúba. O tronco é preparado, cortado, descascado e esvaziado na mata pelos homens da metade que ficou com o papel de invasor, e entram na aldeia cantando ho ho ho. A outra metade pega suas arma para repelir os invasores. Mas quando aparecem os yuxin todos dançam juntos. O tronco era usado para guardar a caiçuma para fermentar e o povo dançava em redor por cinco dias. Os missionários evangélicos ensinaram sobre o vicio de bebida fermentadas, que implica que o tronco é hoje em dia vazio. A caça das duas metades é trocada entre elas. No sexto dia os convidados das outras aldeias chegavam para beber até o tronco fica esvaziado, e depois ele recebe o vômito dos bebedores. O tronco representa de onde vieram os primeiros Kaxinamá.

Cosmovisão: Os mitos Kaxinawá atribuem os bens da sua cultura aos animais encantados. O yuxin que estava no animal, por exemplo, é o esquilo que ensinou ao homem a arte de plantar, por que tem a praticar de estocar comida. O macaco prego ensinou o sexo (Lagrou 2004).

Comentário: Robert E. Cromack (SIL) analisou ‘Cashinahua’ e produziu a Gramatica; Susan Montag e Mary Ruth Wise produziu o Diccionario cashinhua em1981. Eliane Camargo e Sabine Reiter produziram muitos textos na língua (SIL).Voluntários do CIMI vieram em 1978.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • LAGROU, Elsje Maria, 2004, ‘Kaxinawa’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/kaxinawa.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.