Latundê – Yâlãkuntê

David J Phillips

Autodenominação: Yâlãkuntê

Outros Nomes: Os Nambikwara-Latundê sempre eram um povo de diversos grupos dispersos e a autodenominação é conforme o local de nascimento e patrilinearidade (Miller 2008). Os grupos são chamados para ser distinguidos pelo menos pelos outros:

Os Nambikwara do norte da Chapada dos Parecis (Serra do Norte): os Da’wandê, os Da’wendê, os Âlapmintê, os Yalakalorê e também os Yâlãkuntê (Latundê), (T I Tubarão/Latundê, Pinneus de Souza) e os Mamaindê (T I Vale do Guaporé) e os Negarotê (T I Lagoa dos Brincos) veja perfis separados .

Os Nambikwara do sul da Chapada: os Halotésu, os Kithaulhu, os Sawentésu, os Wakalitesu e os Alakatesu. (TIs Nabikwara e Tirecátinga).

Os Nambikwara do Vale do Guaporé: os Wasusu, , os Alãntesu, os Waikisu e os Hahãitesu (TIs Vale do Guaporé, Alantesu, Taihãntesu, Pequizal, Lagoa dos Brincos e Paukalírajausu). No sul os Sararé vivem separados na TI Sararé.

População: 95 (DAI/AMTB 2010), Em 2008 17 Latundê viveram em Barroso e três mais na aldeia de Gleba (Anonby e Eberhard 2008).

Localização: Os Latundê vivem na T. I. Tuberão-Latundê, a maioria na aldeia chamada Barroso, com outros em Gleba que tem uma população mista de Aikanã, Kwazá e Latundê. A cidade de Chupinguaia fica perto de Gleba 19 km. e Barroso mais 31 km em una estrada péssima. Na Terra há também a aldeia de Rio do Ouro com os Aikunã (Anonby e Eberhard 2008).

T. I. Tuberaão-Latundê , Acre, é homologada e registrada no CRI e SPU com 116.613 ha e 180 indígenas das etnias Aikanã, Nambikwara, Sabanê, Latundê, Kwazá (Vasconcelos 2005). Praticamente toda a área é coberta por vegetação de transição entre floresta e savana.

São uns grupos dos Nambikwara que vivem em dez aldeias (SIL), no oeste de Mato Grosso, divididas pela Rodovia BR170, nas Terras Indígenas Nambikwara, Paukalirajausu, Pequial, Pirineys de Souza, Sararé, Taihantesu, Tirecatina, Tuberão/Latundê, Umutina e Vale do Guaporé; Os Negarote estão ao norte e os Wasusu ao sul.

Língua: Nambikwara sul, a Mamaindé é Nambikwara norte.

200 falantes de Nambiquara em Mato Grosso (Lowe 1986). 950 só falam Nambikwára (SIL 2000). Os dialetos são: Manduka, Khithaulhu, Halotesu, Saxwentesu, Wakalitesu, Serra Azul, Hahaintesu, Wasusu, Alatesu, Waikisu, Galera, Sarare, Alaketesu, Anunsu.

Eles têm uma atitude positivo para com a língua mas alguns falam português. 10% sabem ler a língua e tem dicionário e gramatica. O Novo Testamento foi traduzido em 1992. Porém em 2008 as crianças já não poderem ler em Latundê. Há aproximadamente 76% entendimento entre Mamaindê e Latundê (Anonby e Eberhard 2008).

Stella Telles concluiu que existem dois ramos da Nambikwara Setentrional: Primeiro: Latundê, Lakonde e Tawande (as últimas duas com um falante cada) e segundo: Mamaindê e Negarotê (Telles 2002:28).

História: Em 1907 Rondon foi pedido montar uma linha telegráfica de Cuiabá, 1.000 km. para o Acre. Na época o povo teve sofrido recentemente uma ataque de serigueiros e conseguiram dissuadir seus inimigos invadir a floresta do alto rio Tapajós, e quando Rondon os encontrou colhendo mel de abelha, ele foi atacado.

Rondon anotou a físico forte dos homens e a ordem e limpeza das aldeias. Dormiram no chão e não em redes. Eram mais coletores de frutos nos cerrados do que caçadores. Os grupos nômades andavam em fileiras procurando insectos e animais pequenos, os homens com arcos compridos e flechas e as mulheres carreando aturas com todas pertences da família. À noite acampavam em tapiris circulares simples ou para-ventos. Durante a estação de chuva, outubro a março, eles voltavam às aldeias e brocavam e plantavam roças de mandioca, milho, feição e amendoim (Hemming 2003.49).

Os Nambikwara Latundê abandonaram as aldeias e queimaram uma cabana da expedição para evitar encontrar mais com os brancos. Em atravessar o rio Juruena a expedição de Rondon foi atacada de novo e foi nesta altura que Rondon adotou a política de não atirar, pois os índios tiveram direito de proteger seu território (Hemming 2003.9-11).

Em 1913 Rondon voltou a terra dos Nambikwara com ex presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, e um grupo de Nambikwara visitou seu acampamento, entrando em uma grande fileira, com mulheres e crianças, todos nus (Hemming 2003.45). O novo SPI montou um Posto em Pontes de Lacerda em 1919 para atrair os Nambikwara mas não conseguiu o contato. Um segundo Posto estabelecido em 1924, mas não podia manter contato com o povo (Netuno 2010).

Infelizmente as relações entre seringueiros e os Nambikwara continuavam hostis. Lévi-Strauss passou algum tempo com 20 Nambikwara no rio Papagaio, anotou seu estilo de vida mais simples que os outros povos. A sua população foi arrasada de 10.000 a 600 na década 20. Em 1933 uma missão protestante norte americana tentou contato, mas os índios não eram satisfeitos com presentes, um índio morreu depois tratamento médico inadequado e os Nambikwara mataram os seis missionários (Hemming 2003.48).

Em 1968 o governo federal incentivou a agricultura na área do Nambikwara e demarcou uma Área Indígena pequena e árida para todos os grupos do povo. As terras mais férteis dos Nambikwara no Vale do Guaporé foram vendido as empresas agrícolas. A FUNAI demarcou pequenas ‘ilhas’ para o povo morar. T.I. a Lagoa dos Brincos (para os Mamaindé e Negaroté) T.I. Pequizal, e T.I. Taihãntesi foram demarcadas. A abertura da BR 364 facilitou a maior invasão de posseiros na área (Netuno 2010). Os Nambiwara do alto Guaporé foram mudado para a nova T.I., reconheceram que não puderam sobreviver lá e marcharam de volta, 30% morreu na viagem. David Price organizou com a FUNAI uma campanha de vacinação contra tuberculose.

Em 1975 uma aldeia pequena de Latundê foi descoberta pelos Aikanã com 19 pessoas que os temeram. Os Aikanã os persuadiram visitar sua aldeia de Gleba. Em 1980 sarampo matou onze Latundê.

Estilo da Vida: Dos três povos dos Mamaindê, Negarotê e Latundê os últimos segue mais a vida tradicional. A geração mais velha entre os outros dois povos também caçam e cultivam as roças (Anonby e Eberhard 2008). Os Nambikwara são essencialmente caçadores colectores, vivendo nos cerrados e nas margens da floresta, aonde praticam a agricultura de coivara. Antigamente viviam nas cabeceiras dos rios Juruena e Guaporé e Madeira (Miller 2008). Para os Nambikwara suas armas de caça, seja o arco de flecha ou mais tarde a espingarda, são os símbolos da sua masculinidade, eles gostam de caçar (Hemming 2003.312).

Artesanato: Os Latundê e Negarotê confeccionam colares e outros adornos para vender. Os Negarotê com os Mamaindê estão envolvidos com o projeto de criar gado, cercando grande áreas de terra (Anonby e Eberhard 2008).

Sociedade: Veja do perfil Nambikwara. Os Latundê têm pouco contato com os Mamaindê e os temem. Têm contato com os Aikanã na aldeia Gleba. Eles são cultivadores e caçadores diligentes e enviam produtos agrícolas para os Aikana, que os consideram de ser uma classe inferior (Anonby e Eberhard 2008).

Religião: Veja o perfil Nambikwara.

Cosmovisão: Veja o perfil Nambikwara.

Comentário: Rev. L. L Legters da Igreja Reformada, trabalhou entre os indígenas nos Estados Unidos e formou a South American Indian Mission com Cameron Townsend e depois a Wycliffe Bible Translators. Legters fez uma pesquisa dos índios do Brasil em 1925 e um colega da Inland South American Missionary Union foi morto pelos Nambikwara (Hemming 2003.255). Conforme David Price (1989) as mulheres sobreviveram o ataque aos seis missionários em 1926 e voltaram aos Estados Unidos para levantar recursos para continuar a obra. Entre 1936 e 1948 outro posto da missão foi estabelecido. Em 1959 a Missão Cristã Brasileira fez contato no Vale do Sararé. A SIL começou a analisar a língua em 1960 e enviou Menno Kroeker e Ivan Lowe em Serra Azul, seguidos por David Meech, Peter Weisenberger, Cliff Barnard. Mais tarde Peter Kingston começou estudo da língua Mamaindé (Nambikwara do Norte) (Netuno 2010). Em 1965 Peter e Shirley Kingston começaram a estudar a língua. Ivan Lowe trabalhou analisando a língua entre 1960 e 1976.

Bibliografia:

  • ANONBY, Stan, e EBERHARD, David, 2008, ‘A Survey of Three Northern Nambiquara Groups: The Mamaindê, Negarotê, and Latundê’, SIL Electronic Survey Report 2008-21, December 2008, Dallas, Tex: SIL International.
  • CAHILL, Michael, 2004, ‘ From Endangered to Less Endangered – Case Histories from Brazil and Papua New Guinea *SIL Electronic Working Papers 2004-004, August 2004. (Revised edition of SIL Electronic Working Papers 1999-006, October 1999).
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • LOWE, Ivan, 1986, ‘Marked Topicalization Processes in Nambiquara’ em Fifty Years In Brazil – Um Tributo aos Povos Indígenas, Eds: Mary Ruth Wise, Robert A. Dooley, Isabel Murphy, Dallas TX: SIL International, pag. 125-143.
  • MILLER, Joana, 2008, ‘Nambikwara’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, SP, Brasil. pib.socioambiental.org/pt/povo/nambikwara.
  • NETUNO Boran Guanri, 2010, Blog do Netuno, blog-do-netuno.blogspot.com/2010/06/indios-da-etnia-nambikwara.html
  • PRICE, David 1989, Before the Bulldozer – The Nambiquara Indians And the World Bank, Washigton DC: Seven Locks Press.
  • SIL : 2009. Ethnologue: Languages of the World, Lewis, M. Paul (ed.), Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International, www.ethnologue.com.
  • TELLES, Stella. 2002. Fonologia e Gramatica Latundê/Lakonde. Amsterdam: Vrije Universiteit.