Makurap

David J. Phillips

Autodenominação:

Outros Nomes: Massaka, Macurap (DAI/AMTB 2010), Macuráp, Macurapi, Makurápi, Massaka, Makuráp (SIL).

População: 381 (DAI/AMTB 2010). 45 (de Olivera Braga 1992). População étnica: 130 (Crevels 2007)(SIL), 478 (FUNASA 2010).

Localização: Posto Pororoca, nos Rios Guaporé e Mequéns, Branco, Rondônia (SIL). Em três Terra Indígenas e nas cidades vizinhas:

T. I. Rio Branco: Homologada e registrada no CRI e SPU em 1986 de 236.137 ha de floresta ombrófila aberta entre os Rios Branco e São Simão, afluentes do Guaporé, com 679 indígenas Makurap com Arikapú, Aikanã, Aruá, Djeoromitxi, Kanoê e Tupari (FUNAI 2008).

T. I. Rio Guaporé: Homologada e registrada de 115.788 há de floresta ombrófila aberta na margem direita do Rio Guaporé, fronteira com a Bolívia e extenso até o Rio Sotério, próxima a cidade de Guajará Mirim com 589 indígenas, Makurap com Arikapú, Aikanã, Aruá, Djeoromitxí, Kanoê, Kujubim, Sakurabiat, Tupari, Wajuru e Wari’ (FUNAI 2005). 75 Makurap (PIB 2003).

T. I. Mequéns: Homologada e registrada em 1996 de 107.553 ha com 89 índios dos povos Makurap e Sakurabiat.

Língua: Makurap e português. Makurap é da família linguística Tupari, do tronco Tupi e falada pela metade mais velha da população. É usada por todas as etnias durante as festas de ‘chichadas’. Dos 75 Makurap na T. I. Guaporé 45 falam Makurap. Os mais jovens falantes confundam a pronuncia dos vogais com o português (PIB 2003).

História: No século XVIII os Makurap viviam na região acima das cabeceiras do Rio Branco e nas margens do alto Rio Colorado, afluentes da margem direita do Rio Guaporé. A região foi de importância estratégica devido à proximidade da fronteira entre as colônias espanholas e o Brasil. Em 1776 foi construída o Real Forte Príncipe da Beira, atual Guajará-Mirim, por segurar a fronteira no Rio Guarapé. Outras vilas eram estabelecidas, mas não prosperaram até mais tarde com a exploração da borracha no final do século XIX.

Os primeiros contatos entre os brancos e os povos indígenas do Rio Branco eram usar os índios nas guerras e na navegação no Rio Guaporé (PIB 2003).Os indígenas tiveram mais contato no princípio do século XX quando primeiro os Jabuti e os Arikapú, depois os Makuráp e os Ajurú, seguidos pelos Tupari em 1924 e os Wayoró, e Aruá, foram atraídos pela frente de borracha para ganhar os bens industriais, e impressionados especialmente com os machados de aço. Nesta época os 3.000 Tupari, mesmo temidos como guerreiros, fizeram a paz com seus vizinhos (Hemming 2003.59). Os bolivianos fundaram primeiramente um seringal chamado Pernambuco à foz do Rio Colorado em 1912. Na segunda década do século XX diversas ‘barracões’ foram fundadas nos rios Colorado e Branco. A condição dos índios piorou nesta situação. O antropólogo alemão Snethlage visitou São Luís em 1934 e achou os índios recebendo castigos físicos e suas mulheres prostituídas (PIB 2003).

Um seringalista Paulo Saldanha instalou-se nas cabeceiras do Rio Branco e os Arikapú e os Djeoromitxí abandonaram suas aldeias por 1934 para trabalhar no seu barracão em coletar o látex. Durante estes anos os Makurap tornaram-se destacados entre as etnias da margem direita do Rio Guaporé e sua língua se converteu em ‘língua franca’ da região e sua música foi adotada pelas outras etnias por ser mais desenvolvida (PIB 2003).

Os seringalistas amontaram um ‘barracão’ chamado São Luís perto da foz do Rio Branco para armazenar o látex e outros produtos da floresta como castanha do Pará, até as embarcações poderia levá-los para Guajará-Mirim. Infelizmente os agentes do SPI começou a mudar indígenas para o local da futura Terra Indígena Guaporé em cima da confluência do Rio Mamoré. Eles eram forçados de trabalhar em condições brutais e muitos fugiram (Voort 2008). Os Makurap e outros foram levados para capinar e cultivar as plantações de milho e mandioca. Muitos morreram de gripe, bronquite e outras doenças trazidas pelos brancos (Hemming 2003.59-60).

A consequência dos índios ganhando ferramentas de aço, foi que os homens foram capazes de abrir roças maiores e produzir maiores colheitas, com o resultado que não precisavam depender de caças e pesca. Com mais tempo livre, os jovens mudaram para trabalhar ao lado dos seringalistas, e adotaram as manias e comida deles. Porém nas meadas da década 30 a situação mudou, quando o agente da SPI levou à força índios para a cidade de Guajará Mirim. Ele comprou muitos seringais e oprimiu os índios. Estabeleceu um reinado de terror com um Boliviano chamado Severino e seus capangas em São Luís. Um grupo de Makuráp rebelaram e mataram Severino e os capangas. Durante a Segunda Guerra Mundial o governo organizou um ‘Exercito de borracha’ durante 1943 e 1945, muitos destes ‘soldados’ sendo nordestinos transportados a força e dados promessas falsas de puderam receber a passagem de volta no fim da guerra. A maioria ficaram endividados aos seringalistas e criaram tensões com os indígenas por tomar suas mulheres. Em 1952 um seringueiro trouxe sarampo e muitos índios morreram (Hemming 2003.60-63).

O suíço Franz Caspar viajou pela região em 1948 e subiu o Rio Branco, achando malocas Tuparis, Jabutis e uma dos Aricapú (Melatti 2011). Os Makurap mantiveram suas aldeias até cerca de 1950, quando eram persuadidos a se concentrarem no São Luís. Os Makurap tiveram a maior influencia entre os indígenas, porque a língua era usada e sua música adotada pela outras etnias. Hoje em dia a língua Makurap ainda é predominante nas festas de chicha (PIB 2003).

O SPI estava na região desde 1930 e mudou muitos dos índios para perto de Guajará Mirim e depois para o Posto Indígena Ricardo Franco, mas não podia atender à transferência dos índios do Rio Ji-Paraná para o Rio Guaporé, por ordem do Governador do Território Federal. A FUNAI montou um Posto perto da confluência do Rio Guaporé com o Rio Mamoré, que foi o início da Terra Indígena Guaporé com sua área demarcada em 1976 e homologada vinte anos depois. Em 1980 instalou o Posto no Rio Branco e a T. I. Rio Branco foi homologada em 1986, porém era apenas de 240 ha deixando sete aldeias fora do seu alcance. Os indígenas sofreram tuberculose e malaria sem assistência médica e muitos estava em ‘escravidão de dívida’ para com os seringalistas.

Estilo da Vida: As etnias dos Makurap com os Aruá, Arikapu, Jabuti, Sacurabiap e Turpari compartilham o que tem sido chamado o ‘complexo cultural do Marico’, conforme a analise da antropológica Denise Maldi Meireles (1953-96). Os caraterísticos são: Uma família extensa e patrilocal que mora em uma maloca redonda, estrutura de domo sustento por um esteio central. Plantio com a ausência da cultivação da mandioca ‘brava’, e pois a falta da farinha do mandioca, mas plantam o milho e o consumo da chicha de milho na alimentação diária. Também bebem a chicha fermentada nas festa cerimoniais. As aldeias revezem em ser anfitriã e convidada. Isso cria redes de solidariedade e reciprocidade. Este povos também confeccionam o marico (PIB 2003).

Sociedade: A sociedade Makurap é organizada em oito clãs patrilineares e exogâmicos, nomeados por animais, aves ou insetos. No passado havia 21 clãs. Cada clã tem seu território ao longo das duas margens do Rio Colorado. O casamento de preferencia é com a prima cruzada patrilateral.

Artesanato: A confecção do marico, que são cestas feitas de fibras de tucum ou buriti, são tecidas pela mulheres em pontos miúdos e médios (PIB 2003).

Religião: Em comum de outros povos do complexo do marico os pajés usam um alucinógeno feito das sementes de angico, rapé ou paricá (Anadenanthera peregrina) para comunicar com os espíritos. É inalado por um tubo de taquarinha nas narinas e outra pessoa sopra da outra extremidade do tubo. Os xamãs também usam um léxico especial, aparentemente ininteligível aos não iniciados, para cantar e recitam preces durante o processo de cura (Voort 2008).

Cosmovisão: Os mitos Makurap enfatizam a importância de manter boas relações no casamento: Havia uma vez um casal muito unido, porém o homem não era caçador proficiente. Todas as noites a cabeça da mulher iria deixar o corpo dela, a procura e ávida por carne de caça. O marido sabia e toleria a situação, porém a sogra o acusou de matar a filha. Sem esperar a volta da cabeça os pais dela enterraram o corpo. A cabeça, de retorno não conseguiu encontrar seu corpo e assim cola-se ao ombro do marido, e começou a putrefazer e demandar carne para comer. Mas de onde foi o alimento que a boca comeu? O marido, a fim de libertar se da cabeça, foi longe na mata e matou muita caça, e quando a cabeça pulou de seu ombro para comer, ele fugiu. A cabeça tornou-se um espírito de ameaça que devora homens (Mindlin 1996).

As mulheres não amaram seus maridos, porque elas estavam fascinadas por uma criatura que vivia em baixo das águas, que chamava-se Amatxutxé. Os homens vivia como solteiros e ocupavam seu tempo pela caça e em cuidar dos filhos. Os meninos descobriram um jacaré pequeno e caíram no rio com ele, descendo em baixo das águas aonde eram surpreendidos descobrir as mulheres do Arco Iris, que os trataram bem como fossem suas mães. As mulheres deram chicha e comida para os meninos levar aos seus pais, e os homens comeram e receberam os presentes diversas vezes. Afinal o cacique resolveu que os homens visitasse as mulheres do Arco Iris e os homens abandonaram sua aldeia e suas mulheres para ir em baixo das águas, aonde assistiram uma grande festa de chicha. Os homens começaram a se transformar em povo Arco Iris. Enquanto isso, as esposas dos homens ficaram decepcionadas com Amatxutxé, queriam voltar a seus maridos. O cacique enviou um jovem volta para a aldeia, a fim de ver se a reconciliação fosse possível com as esposas. O jovem quebrou a única condição o cacique deu, que não tocasse uma das moças na aldeia. Isso ele fez. Por isso os homens permaneceram entre o povo do Arco Iris e as mulheres procuraram esposos em outro lugar. É uma lição de manter a fidelidade matrimonial (Mindlin 2002.9-13).

Comentário: Uma igreja evangélica opera na T. I. Rio Branco e os conversos criam uma divisão na comunidade.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • MINDLIN, Betty, 1996, Criação, ESTUDOS AVANÇADOS 10 (27), www.scielo.br/pdf/ea/v10n27/v10n27a15.pdf‎. acessado 28 de agosto 2013.
  • MINDLIN, Betty, 2002, Barbecued Husbands and other stories from the Amazon, London: Verso.
  • PIB, Equipe da Enciclopédia, 2005, ‘Makurap’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/makurap.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.
  • VOORT, van der, Hein, 2008, ‘Arikapú’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/anikapu.