Naua — Nawa

David J. Phillips

Autodenominação: Nawa que significa ‘outra gente’, da língua Pano, como o sufixo -nawa dos povos pano. Há indivíduos que se autodenominam Nawa que são Nawa, Poyanawa, Shawãnawa (Arara), Nukini e Amoaca. O nome foi reivindicado como parte de ser reconhecido para reconhecimento oficial da sua terra, cujo processo foi iniciado pela FUNAI (Correia 2005).

Outros Nomes: Nawa, Náua (DAI/AMTB 2010).

População: 422 (DAI/AMTB 2010), 423 (Correia 2005).

Localização: Acre, a maioria vivem nos igarapés Jordão, Pijuca, Novo Recreio, Jarina, Venâncio e Jesumira, da margem direita do rio Moa e no município de Mâncio Lima. Reivindicam a demarcação da sua Terra Indígena:

T. I. Nawa (AC), ainda em identificação com 306 (Iglesia e Aquino 2005).

Na cidade Mâncio Lima: 117 pessoas ou mais.

Língua: Português. Muitos conhecem um vocabulário pano considerável, sem falar a língua com fluência. Devido ao desprezo pelos brancos não ensinavam a língua às crianças, mas agora estão transmitindo o que conhecem e acrescentando o que aprendem por contato interétnico (Correia 2005). A língua não é listada pelo SIL.

História: O alto rio Juruá, o leste do Peru e o noroeste da Bolívia, era o território dos povos pano e aruak antes da vinda dos europeus. O termo ‘pano’ é pejorativo que vem de panobu que significa ‘os chorões’. Suas autodenominações usam o sufixo –nama ou -nauá ou -bo e falam línguas semelhante dos 27 línguas da família linguística Pano. Também possuem semelhanças de cultura.

No começo do século XIX comerciantes subiram o rio Juruá para trocar bens industrializados por produtos silvestres como salsaparrilha, a copaíba, o pirarucu, a carne de caça, peles de animais, os ovos de tartaruga, a castanha do pará e a baunilha. Muitos dos índios eram escravizados não somente na coleta florestal mas levados rio abaixo para as plantações ou o serviço domestico nos centro urbanos. Os europeus alcançaram o atual Acre nos meados do século XIX. O Diretor dos Índios João da Cunha Correia chegou no alto Juruá no ano de 1858. Mas ‘os coletores de drogas’ lhe contaram do seu contato com os Nawa no rio Tarauacá em 1847, que eram hostis. O explorador William Chandless foi atacado mais que 500 km em cima da foz do rio Tarauacá. Outros viajantes como os italianos Cani, Brozzo e Stulzer em 1884 e o pernambucano Antônio Marque de Meneses em 1894 distribuíram brindes mas foram expulsos pelos Nawa (Correia 2005).

Depois 1888 as expedições para descobrir seringais penetraram o rio Moa, mas descobriram que os Nawa já se deslocaram. Os vales dos rios Juruá e Purus tinham muitos seringais de Hevea brasiliensis e o Acre, sendo transferido da Bolívia em 1904, sofreu uma grande invasão de seringueiros e por 1920 tinha uma população 90.000 com diversas povoações nas margens dos rios, e os índios decimados ou escravizado nos seringais. Os seringueiros mataram os índios e roubaram as mulheres e as crianças. Caucheiros peruvianos usavam uma banda de Kaxinawá ‘civilizados’ para guardar e matar 60 Yaminawa, que tentaram escapar. Muitos dos povos pano se desintegraram espalhados na mata, e incapazes de manter suas roças. O SPI encontrou uma remanescente miserável dos Nukini, e os Nawa que ocupava as colinas, onde é a cidade de Cruzeiro do Sul tiveram apenas um sobrevivente (Hemming 2003.57-59). A maloca nawa no estirão dos Nawa, o local do seringal Centro Brasileiro, depois Cruzeiro do Sul, foi queimada. Os Nawa migraram para diversos lugares, também sofrendo uma epidemia de gripe (Correia 2005).

O Território do Acre foi dividido em três Departamentos, e o prefeito do Departamento do Alto Juruá, cel. Gregório Thaumaturgo de Azevedo, procurou limitar ao autoritarismo dos patrões dos seringais e dos regatões. Pediu a Igreja Católica enviar padres para catequizar os índios. Cruzeiro do Sul foi elevada à categoria de cidade que representava o início da ocupação e violência aos Nawa. Seus sobreviventes eram integrados no sistema dos cinco seringais nas margens do rio Moa, e como os seringueiros entram na escravidão de dívida pelos seringalistas (Correia 2005).

A FUNAI começou a atuar na região do rio Juruá durante os anos 70 e 80 e Delvair Montagner Mellati, antropóloga a serviço da FUNAI descobriu a presença de índios no igarapé Novo Recreio, afluente do rio Moa, mas não eram considerado Nawa. Em 1999, depois uma visita de representantes do CIMI que foi confirmado a existência dos Nawa morando nos igarapés Jordão, Pijuca, Novo Receio, Jarina, Venâncio e Jesumira e também na margem direita do rio Moa.

No 15 de outubro de 2003 foi reconhecido ‘a etnia “Nawa”, bem como concordaram que os limites da terra indígena “Nawa” que serão: O divisor de águas ao Sul, o Rio Moa ao Norte, o Rio Jordão a Leste e o Jesumira a Oeste, ficando assina lado o prazo de 03 (três) meses para a identificação e delimitação da terra indígena “Nawa” pela FUNAI, respeitados esses limites como indicativos.’ na 1a. Vara da Justiça Federal em Rio Branco, AC.

Os Nawa herdaram o seringal Novo Recreio e passaram a comercializar a borracha independente dos patrões. Mas com a queda do preço da borracha depois os anos 80, ele abandonaram a extração da seringa.

Estilo da Vida: Antigamente os Nawa viviam em grandes malocas, habitadas por uma família extensa. Os restos destas malocas ainda se encontram nas cabeceiras dos igarapés Boca Tapada, Novo Receio e Jesumira. Hoje residem em casa pequenas de uma família nuclear. Na época da borracha passaram a residir nos seringais, uma família sendo responsável por uma estrada de seringueiras, muitas vezes no ‘centro’ do mato. As casas são construídas em regime de mutirão, com paredes de madeira e telhado de palha ou alumínio. As casas são dispersas ao longo a margem direita do rio Moa e nos igarapés, mas com a reivindicação da Terra Indígena começaram a se organizar em aldeias.

Vivem nos seguintes igarapés e rios com a população en2003:

Novo Recreio (141), Jesumira (24), Moa (72), Jarina (13), Venâncio (7), Jordão (4), Pijuca (45), total 306 (Correia 2005). O meio ambiente é de floresta aberta e densa na bacia do rio Juruá; o rio Moa é um afluente da margem esquerda (Correia 2005).

A estação das chuvas é mais propício para caçar e a área é no ‘centro’ algumas horas de caminhada da casa, e fazem acampamentos de caça por dois ou três dias. Usam armadilhas e cachorro, mas estão abandonando o último para não afugentam as caças para áreas mais distantes. A pesca é mais fácil na estação da seca, quando as águas são mais baixas e limpas. Quando os homens estão fora na caça, as mulheres e crianças costumam pescar om anzol na margem dos rios.

Criam também galinha, pato, porco, ovelha, cabra e o gado. Os animais andam soltos na floresta ou pasto próximo as residencias. O gado e os porcos podem gerar danos à saúde, gerando um acúmulo de excrementos em volta da casa e poluindo as água. O porco é o mais comerciado na cidade de Mâncio Lima. A coleta de frutos silvestres é feita: abiu, bacaba, caju-do-mato, embaúba, ingá, jarina, kutinake, pupinha, açaí, apuruí. A madeira é tirada para fabricar canoas, remos, pilões, concerto dos barcos maiores, etc.

Os Nawa praticam a agricultura de coivara e cultivam mandioca, arroz, batata-doce, cana-de-açucar, feijão, cará, ingá inhame, macaxeira, milho, pimenta, pupunha e tabaco. O maior produto é a mandioca. Também as frutas, abacate, abacaxi, acerola, banana, caju, cajuí, coco da bahia, cupuaçi, goiaba, graviola, jaca, laranja, limão, mamão, mana, melancia. Distingue-se entre o terreiro perto da casa, a ‘roça’ para plantar a mandioca, e o ‘roçado’ para os demais plantações. As roças segue um sistema de plantio rotativo, e são usadas de nov depois uns anos de descanso de capoeira, para evitar o mais trabalho de derrubar a mata bruta (Correira 2005).

Sociedade: Os Nawa usam a cidade de Mâncio Lima para vender o excedente de arroz, feijão, milho e farinha para comprar sal, açúcar, café, óleo de cozinha, roupa, calçado, munições, anzol, gasolina e óleo de motor, ferramenta e material escolar. São hospedados na casa de parentes na cidade. Também buscam atendimento médico, mas há dois agentes de saúde na Terra Indígena, mas o posto sempre falta remédios e barcos para levar pacientes à cidade. Existem cinco escolas de ensino fundamental na T. I. Para estudar alem da 4a. série precisam morara na cidade ou frequentar as escolas na T. I. Nukini, no rio Moa.

Artesanato: Raladores, vassouras, cestos e potes de barro são fabricado por uo doméstico. Colares e pulseiras são comerciados.

Religião: A festa Shãnãndãiã é dançada em trajes e adornos indígenas, com os corpos pintados. Seguem também os rituais da Igreja Católica, as missas sendo realizadas em casas por não tem capela, há uma igreja na T. I. Nikini. Os Nawa têm um pajé.

As mulheres gestantes observam resguardas de alimento. O caçador deve evitar ‘panema’, a incapacidade de caçar, por uma defumação especial e sua mulher não deve varrer a casa antes que ele saísse para caçar.

Cosmovisão:Lugares sagrados são os cemitérios, antigas malocas, e alguns barreiros nas cabeceiras dos igarapés.

Comentário:

Bibliografia:

  • CORREIA, Cloude de Souza, 2005, ‘Nawa’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/nawa.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.