Nukak — Nükak Bak’

David J. Phillips

Autodenominação: Nükak bak’ que significa ‘o povo verdadeiro’ (Franky 2011).

Outros Nomes: Nukak Maku.

População: 3.000 em 1967, 1.500 (1988) 400 em 2000.

Localização: Os Nukak vivem no interfluvial entre os Rios Guaviare e Inírida, na Colômbia, um território de 250 km de oeste a leste de aproximadamente 10.000 km, quadrados. Alguns, entre 210 e 250, vivem em Aguabonita, fora de San José del Guaviare e um número semelhante de desconhecidos ainda estão na floresta.

Língua: Nukak.É uma língua tonal da família linguísticaMaku.É inteligívelcomKakwa.’Entre os linguistas, dos pesquisadores mais recentes que realizaram estudos comparativos da família, V. Martins (2005, p.15), reconstituindo o protomaku, sugeriu que os sete povos, Nadëb, Dâw, Yuhupdeh e Húpd’äh, porém, discute-se se os Kakua, Nɨkak (Nukak) e Wããnsöjöt (Puinave), fazem parte da família, porém, os distingue em orientais (os quatro primeiros, distinguindo dois seguimentos dos Nadëb), aos quais direciona sua pesquisa, e os ocidentais (os três últimos). . . Se por um lado, o léxico e a fonologia dos Kakua e Nɨkak se distanciam das demais línguas, os traços gramaticais e socioculturais nos parecem suficientes para afirmar o parentesco. Os Wããnsöjöt (Puinave) parece de fato ser um caso à parte’ (Silva e Silva 2011.56).

Para substituir o termo pejorativo ‘Maku’ e reconhecer as limitações das outras sugestões ‘Nadahup’ que exclui os Kakwa e Nukak, Negro-Japurá ou Uaupés-Japura que exclui os Nukak Silva e Silva propõem o nome ‘Guaviare-Japurá’ (Silva e Silva 2012.57).

História: A história dos Nukak não é conhecida.É possível que os povos chamados Maku têm origem com os Hotï, que viviam na Sierra de la Maigualida e o vale do rio Orinoco, Venezuela. As línguas são possivelmente derivadas de uma família linguística hipotética Proto-Maku Puinave. Também há semelhanças entre os estilos de vidas dos Hotï e dos Nukak e Kakwa. Os Nukak e os Maku mais próximos, os Kakwa, são separados dos outros grupos Maku, os Hupdah, Yuhupdeh, Dâw e Nadëb no Brasil pelos povos Tukano, inclusive os Cubeo.

Os Cubeo têm um número de sibs que reconhecem antepassados Maku. Também Koch-Grünberg sugeriu que outros grupos eram assimilados aos povos Tukano, por exemplo os Tutuyo eram Maku que adotaram o sistema e cultura Tukano. Esta assimulação aos povos Tukano e Aruak e as diferenças linguísticas entre os Nukak e Kakwa com os demais grupos Maku no Brasil, pode explicar a separação dos Maku. Outra sugestão que é baseada na afirmação dos Nukak, que vieram do sudeste, é que os Maku vieram do Alto Rio Negro para os Rios Uapés e Alto Japurá e Apaporis (Politis 2009.37).

Hoje os Nukak vivem no interfluvial entre os Rios Guaviare e Inírida, na Colômbia, um território de 250 km de oeste a leste. A divisa das águas fica no norte da área paralelo ao Rio Guaviare. Antigamente seu território era maior includindo o Rio Papunaua, afluente do Inrírida. Os Nukak mantinham sua vida de caçador coletores mais do que os outros Maku até a década 90, quando algumas bandas tornaram-se semissedentários ao lado dos colonos. Muitas das bandas agora vivem perto das fazendas na Colômbia, fato que mudou seu estilo de vida porque vivem em uma área de conflito com os guerrilhas FARC (Politis 2009.11). Seu território é invadido para cultivar cacau, fazendas de gado e pelo exercito colombiano em combate com os guerrilhas. Alguns trabalharam nas plantações de coca. Seu líder, Mao-be, se suicidou por causa a situação e falta de recursos para uma volta para a floresta (Survival International).

Os paramilitares estabeleceram plantações de coca no anos 80. Quando os guerrilhas da FARC invadiram a região, eles encaram os missionários como agentes de individualismo capitalista, e três foram mortos no norte em 1996, e a Missão Novas Tribos saiu da região. Os guerrilhas tiveram boas relações com os índios, mas não contribuíram nada para suas vidas. Em 2002 Presidente Alvaro Uribe procurou eliminar a FARC com 3.000 tropas que seguraram a região para o governo e os guerrilhas recuaram e a cultivação do coca foi eliminada da região.

Estilo da Vida: O território dos Nukak entre os Rios Guaviare e Inírida é coberta de floresta baixa com muita vegetação no chão. É muita úmida com um período seco curto entre os meados de novembro até março.

Os homens constroem os acampamentos, cortando os ramos e fincando os postos. Os acampamentos Nukak no inverno, isto é durante as chuvas, consistem de tapiris de uma água, cada uma com uma fogueira, ligadas em redor de um pequeno espaço. A estrutura cobre aproximadamente 100 m. quadrados. Os membros da banda vivem em contato mais próximo sem possibilidade de privacidade. Eles dormem em redes. As atividades da banda aconteceram no lado de fora, o espaço no meio não sendo usado senão para as crianças brincar. Quando o tempo de residencia é prolongado a estrutura não é modificada, exceto adicionar folhas para melhor os telhados. Na seca os acampamentos não deixaram o espaço no meio. Na estação da seca os acampamentos não têm os telhados de folhas.(Politis 2009.112).

Os Nukak obtêm água do solo por cavar um buraco de um metro de profundeza. (Politis 2009.118). Às vezes os acampamento estão cercados por de varas e folhas para proteger dos espírito malignos como o espírito da onça; é claro que a barreira não é proteção do animal mesmo. Uma barraca pequena em forma de um domo é usada para a moça com sua primeira menstruação. (Politis 2009.118).

Muitas das atividades das mulheres de preparar a comida, tecer cestos, fiar fios são feitas sentadas nas redes em redor das fogueiras. As redes são tecidas de fibras da palmeira Tucumã.

Os homens fabricam os dardos para o zarabatana, apontam pontas de osso para zagaias e fabricar paneiras. Algumas bandas usam cachorros para caçar. Caçam diversos especies de macacos e aves com o zarabatana, e caçam também paca, cutia, caranguejos, tartaruga, sapos, tatu e larvas. Usam lanças para matar javali e queixada. O veado e a anta são tabu. Os Nukak pescam com arco e flecha ou linha e anzol e também com timbó. Pescam varias espécies de peixes, com peixes-gato, piranhas, pacus, traíras e raias.

Os homens passam a maior parte do dia fora do acampamento em caçar ou coletar. Cada banda considera seu território ser a área que eles conhecem para explorar seus recursos, incluindo as partes não visitadas frequentemente. A excepção é uma caça comunal de caçar queixada. As saídas diárias têm um número de objetivos com caçar, coletar mel ou frutas, buscar folhas para cestos ou pescar conforme a área para ser visitada. Coletam mel de vinte especies de abelha. Muitas desta atividades são feita sem planejamento dentro de um quilometro do acampamento. Outras expedições são em uma média de 8.4 km. Há saídas para instruir as crianças (Politis 2009.174).

Praticam a cultivação em escala pequena de bata doce, mandioca, taros, inhames, abacaxi, pimenta, mamão, banana, cana de açúcar e milho. Plantam também para fabricar cuias, canas para as flechas e urucu e crajiru para pintar o corpo. No passado fabricaram potes de barro.

Os Nukak têm um conceito complexo do seu território; ocupam uns 10.000 km2. Porque os grupos são exógamos todo casal tem conhecimento dos territórios de duas bandas dentro o mesmo povo, talvez seja de 1.000 km quadrados ou mais. Também visitam raramente os territórios de outros grupos mais distantes. Eles conhecem por tradição oral, mas não visitam, lugares ocupados pelos ancestrais, como as cabeceiras dos Rios Untilla e Itilla ou os Kakwa (Politis 2009.164).

O motivo de mudar lugar é quando o acampamento fica sujo. Os acampamentos abandonados torna-se um pomar silvestre pelas sementes deixadas. O número de locais abandonado aumenta a biodiversidade do território. Estes lugares são revisitados muitas vezes conforme o crescimento da arvores assim colecionadas em um só local. Eles mudam para realizar o ritual de baak waádn com outra banda. Péssima condições sanitárias no acampamento, especialmente durante a estação seca quando consomem muito peixe e os restos atraem as moscas. Eles mudam depois a morte ou pelo temor dos espíritos em no local. Afinal gostam de mudar sem motivo prático, e quando os recursos ainda estão abundantes. Eles se deslocam setenta ou mais vezes no ano (Politis 2009.284).

Sociedade: O conhecimento da sociedade Nukak é muito auxiliado pelo registro de nascimentos, mortes e parentela em Laguna Pavón 2, mantido pelos missionários da Missão Novas Tribos. Também os missionários colecionaram muita informação sobre o cosmovisão em relatórios para o governo colombiano (Politis 2009.77).

Os Nukuk consistem de quatro povos (munu) os Wayari e Tákayu no leste e os Meu e Muhabeh ao oeste. Os Nukak se organizam em bandas autônimas chamadas munu, compostas de no máximo cinco famílias nucleares ou às vezes mais. A maioria com 20 a 30 indivíduos; os máximo e mínimo é de 63 e 12 pessoas. Por algumas dias duas bandas acampam juntos por uma festa. Antes de contato nos anos 80 haviam 20 bandas, mas o número talvez tenha diminuído um pouco entre 13 e 20.

Os grupos podem dividir ou unir por motivos de co-residência ou econômicas mas os laços de parentela continuam. A banda é a unidade para a procura e distribuição de alimentos (Politis 2009.82). O casamento é são exógamo entre as bandas, preferidamente entre primos cruzados bilaterais e depois da mulher aceitar presentes do homem. O homem tem que se provar capaz de sustentar a mulher por um ritual de iniciação e beber um alucinógeno. Depois casamento a residência é bilocal. Com o primeiro filho o casal é aceito ser estabelecido. Poligamia é praticada.

A sociedade Nukak é dividida aparentemente em grupos patrilineares e designados clãs por alguns estudiosos, e são chamados diwaji ou etaji e denominados segundo animais com significado simbólico forte; onça, anta, queixada (Politis 2009.83). Uns dez clãs já foram identificados. Cada Nukak é identificado por seu clã que tem um território especifico.

Artesanato:

Religião: Os Nukak pintam seus corpos para indicar clã, sexo, etc. A pintura do corpo é considerada ‘roupa’ e representa o genro e a identidade social; cada banda tem seu próprios desenhos (Politis 2009.83).

A estrutura dos acampamentos com sua cerca de folhas da palmeira patauá (Oenocarpus batauá) não é uma defesa contras as onças, e deve representar o temor dos espíritos que os predadores representa, especialmente à noite (Politis 2009.125). A anta e o veado são importantes espíritos ancestrais, descendentes do mesmo ramo de criaturas dos humanos, e são tabu para comer. Um ritual de recitar certas preces inaudíveis para negociar com os espíritos para soltar os recursos naturais para o caçador.

O ritual baak wàadn é um encontro entre bandas no acampamento de uma das bandas do mesmo munu e associado com as lembranças dos mortos queridos. A dança começa pelos homens da banda do local e os convidados se juntam e participam na dança que se torna mais e mais furiosa, os homens insultam ritualmente e batem nos outros. As mulheres entram na dança para acalmar os homens. Depois os homens se assentam em grupo de dois ou três e começam a chorar e cantar lamentos enquanto as mulheres dançam e depois se juntam com os homens para lamentar (Politis 2009.83). Outras festas são associadas com a colheita de diversos frutos.

Cosmovisão: Uma dimensão do território Nukak é mitológico e considerada uma parte verdadeira do mundo. Consistem de quatro camadas come seus próprios caraterísticos e interligadas por entradas no paisagem terrestre. Os ancestrais espíritos passam entre as camadas e há uma continuidade entre elas (Politis 2009.165). Para ser o Nükak baka’, o povo verdadeiro, os Nukak vivem sob ameaças de suas próprias falhas e dos ataques dos outros seres no cosmos e sempre a vida está em tensão (Franky 2011).

Comentário: Sophie Muller chegou em 1994 no Departamento de Guainía e evangelizou os Curripacos nas margens dos rios e é visto hoje pelos índios de ter resultados bons e negativos. Ela deu dignidade aos indígenas nas suas relações com os brancos. Os missionários da Novas Tribos continuam trabalhar com os Nukak. 2% são considerado evangélicos.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • FRANKY Calvo, Carlos Eduard, 2011: ”’Acompañarnos contentos con la família’ Unidad, diferencia y conflicto entre los Nükak (Amazonia colombiana)”, Wageningen, NL:Thesis Wageningen University,
  • POLITIS, Gustavo: 2009, Nukak: Ethnoarchaelogy of an Amazon People, Left Coast Press, Walnut Creek, California: Unversity College London Institute of Archaelogy Publications.
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth Edition. Dallas, Tex: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com.
  • SILVA, Cácio e SILVA, Elisangêla, 2012, A Língua dos Yuhupdeh: Introdução etnolínguística, dicionário Yuhup-Português e glossário semântico-gramatical, São Gabriel da Cachoeira, AM.