Sateré-Mawé

David J. Phillips

Autodenominação: Sateré-Mawé. Sateré, quer dizer “lagarta de fogo”, refere ao clã mais importante dentre os que compõem esta sociedade, do qual é a linha sucessória dos chefes.Mawé, quer dizer “papagaio inteligente e curioso” (Lorenz 2000).

Outros Nomes: Andirá, Sateré-Maué (DAI/AMTB 2010). Andira, Arapium, Mabue, Maragua, Maué, Mawé (SIL). Receberam diversos nomes durante a história de contaot: Mavoz, Malrié, Mangnés, Mangnês, Jaquezes, Magnazes, Mahués, Magnés, Mauris, Mawés, Maragná, Mahué, Magneses, Orapium. São chamdos ‘Mawés’ na região (Lorenz 2000).

População: 10.030 (DAI/AMTB2010); 9.160 (FUNASA 2008).

Localização: No estados doPará e do Amazonas, nos rios Andirá e Maués, entre o baixo Rio Tapajós e baixo Rio Madeira, em mais que 14 aldeias.

Em duas Terras Indígenas e um dominial:

T. I. Andiré-Marau: Homologada e registrada com 788.528 ha cortada pelos rios Andirá, Mariaque e Urupadi, afluentes da margem direita do Paraná dos Ramos, na divisa do Pará e do Amazonas, e população 7.376 Sateré Mawé. Em 1999, 3.872 em 42 aldeias na região Andirá e 3.078 em 31 aldeias na área Marau (FUNASA e Ameríndia Cooperação).

T. I. CoatáLaranjal: Homologada e registrada com 1.153.210 ha cortada pelos rios Canumã e Araçu afluentes do rio Madeira, e população 2.484 Munduruku e Sateré Mawé.

Aldeia Beija Flor: Dominial indígena, com 41 ha, entre os rios Tefé e Juruá, com Sateré Mawé e oito outras etnias.

Manaus: 500 habitantes na zona Oeste de Manaus (Lorenz 2000).

Língua: Da família linguística Tupi, e com Aweti formam provavelmente um sub-grupo da família. Bilíngue na língua e em português, uso vigoroso por todas as idades na sociedade. Tupana Ehay : Sateré Mawé pusupuo; o Novo Testamento na língua Sateré Mawé, 1986, (SIL). A maioria das mulheres falam só a língua Satere-Mawé. A gramática é tupi, mas muitos vocabulos são completamente estrnahos ao Tupi (Lorenz 2000).

História: Em 1669 os europeus se encontraram com os Sateré-Mawé, e eles descobriram o guaraná, feito pelos índios por séculos por assar a castanha do cipó guaranazeiro. O nome vem da palavra warana da língua Sateré-Mawé que significa ‘fruta como os olhos de gente’. Usado como estimulante na caça e no tratamento de febre e dor de cabeça. É ainda cultivada próximo ao município de Maués, PA, e os índios têm uma lenda sobre a origem da planta e o comércio é ainda importante (Watson 2000.34).

A Terra Indígena Andrá Marau experimentou um aumento dramático de população depois 1980, que destruiu a capacidade dos Sateré -Mawé manter um nível adequado da sua subsistência, e criou uma falta de alimento nas aldeias e a perda de caça e pesca no ambiente das cem aldeias. Comprando comida nas cidade de Parintins e Maués não era economicamente viável. O comércio de guaraná e de outros produtos silvestres foi negligenciado por algum tempo. Para os índios a produção é pelo indivíduo e depois a perda dos lídres anteriores causou muitas divisões internas. Também uma empresa na cidade de Maués tentou introduzir guaraná geneticamente modificado, que ameaçou o guaraná natural e seu comércio como orgânico (Wright et al 2012).

Estilo da Vida: Os assentimentos são organizados em famílias extensas, com os chefe e seus filhos e seus netos. Cada família nuclear tem sua casa, uma cozinha construída entre a casa e o porto no rio ou no igarapé. Na cozinha os homens torram o guaraná e as mulheres preparam a farinha de mandioca.Cada família tem suas plantações: os guaranazais, as roças de mandioca, cará, batata doce e arvores frutíferas (Lorenz 2000). A cultivação da mandioca é na estação seca e as famílias dispersam para suas roças, mas durante a épocas das chuvas as famílias se concentram nas aldeias para a produção do guaraná. A primeira reflete a divisão clânica, a segunda a sociedade antes de ter os clãs (Wright et al 2012).

Sociedade: Os sítios ou assentimentos são a unidade social. São organizados sob a autoridade dos chefes das famílias extensas, eles mandam construir casas, organizam a produção da família e convida parentes ou amigos de outros assentimentos para ajudar. Eles organizam as caças, pescas, coletas de frutas, abertura de novas roças e a limpeza dos guaranazais. Mas cada família nuclear é dono da sua casa e suas roças e plantações. Quando a população de um sítio aumento pode se transformar em aldeia, especialmente conforme o prestígio do chefe da família (Lorenz 2000). Há o capitão, instituído pela FUNAI para intermediar as relações com os brancos.

Artesanato: Os Sateré Mawé inventaram o guaraná do fruto do cipó Paullinia cupana. Os homens confeccionam peneiras, cestos, tipitis, abanos, bolsas, chapéus, paredes, coberturas de casas com talos e folhas de caranã, arumã e outros.

Religião: Os mitos das origens do guaraná e da guerra são gravados nos lados do Porantim, que é uma peça de madeira, semelhante uma clava de guerra com 1.50m de altura. É coberto com desenhos geométricos e argila branca ou tabatinga e é considerado de ter poderes mágicos, pode andar sozinho e é a lei básica ou ‘constituição’ da sociedade com autoridade política e jurídica (Lorenz 2000).Os rituais do Porantim são realizados quando a sociedade é reunido para a produção do guaraná, e o consumo cerimonial do mesmo. Os evangélicos deram enfase a este aspecto da sociedade unida e integraram a religião, economia e ecologia no ‘Fair Trade’ projeto de guaraná contra a a divisão de clãs e a ritual de iniciação. Depois da morte dos primeiros líderes os evangélicos recuaram de envolvimento político e econômico. Mas a nova liderança evangélica está criticando a civilização e os vícios da sociedade nacional para encarar a floresta como o paraíso (Wright et al 2012).

Cosmovisão: O cosmo está em conflito devido a morte de primórdio ser, do cadáver vem as plantas que sustentam a vida como a mandioca. O herói luta contra uma onça que ele chama sogro. Os Sateré-Mawé encaram o mato como uma entidade materna que providencia alimento para seus filhos. Miat ehary é a ‘mãe dos animais’ que é generosa, e o pajé (paini) só precisa encorajá-la dar; não há conceito de reciprocidade, necessitando os homens fazer ou dar algo à natureza. Porém este relacionamento pode ser interrompido pela reação da Uniamoire’i, a ‘mulher-cobra’. Então o povo depende dos rituais do pajé para defender de doença e da morte, que são causadas por plantas e animais classificados ‘frios’, que pertencem ao mundo subterrâneo do Moi’ok, ‘grande cobra’. O consumo de alimentos ‘quentes’ volta a pessoa à saúde boa (Wright et al 2012).

Comentário: Albert e Sue Graham, e Sérgio Meira da SIL estudaram a língua. Os evangélicos começaram entre os Sateré-Mawé na década 60. O povo já era contato pelos Adventistas do Sétimo Dia (Hemming 2003.263).

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • LORENZ, Sonha da Silva, 2000, ‘Saterá-Mawé’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo.pib.socioambiental.org/pt/povo/satare-mawe.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.
  • WATSON, Fiona et all, 2000, Disinheirted: Indians in Brazil, London: Survival International.
  • WRIGHT, Robin M, KAPTHAMMER, Wolfgang, WIIK, Flavio Braune, 2012, ‘The clash of cosmographies: indigenous societies and project collaboration – three ethnographic cases (Kaingang, Sateré-Mawé, Baniwa)’, Vibrant v 9 n 1, www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-43412012000100014&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt