Tapirapé — Apyãwa

David J. Phillips

Autodenominação: Apyãwa, e o povo preferem este nome e o usam na média social, etc. O significado pode ser ‘povo macho ou viril’ do Tupi, mas é usado de todo o povo (Paula 2012.21). tori é o termo para os não índios (Wagley 1983.12)

Outros Nomes: Tapi’irape (DAI/AMTB 2010).

População: 506 (SIL), 564 (DAI/AMTB 2010), 655 (FUNASA 2010), 560 (Projeto Aranowayao – SIL 2006). 750 (Irmãzinhas de Jesus 2012).

Localização: Na região da serra do Urubu Branco, no Mato Grosso nas duas margens do rio Araguaia

T. I. Tapirapé/Karajá, MT, de 66.166 ha na margem esquerda do rio Araguaia, no município de Santa Terezinha, MT, homologada e registrada no CRI e SPU com 512 Tapirapé e Karajá (FUNASA 2011).

Parque Indígena Araguaia, TO, uns 70% na Ilha do Bananal de 1.358.500 ha na margem direita do rio Araguaia, homologada e registrada no CRI e SPU, com 3.502 Tapirapé, Karajá, Javaé e Avá-Canoeiro (FUNASA 2010).

T. I. Urubu Branco, MT, de 167.533 ha, travessada pela MT-432, A Terra Indígena Urubu Branco compreende porções territoriais dos municípios de Santa Terezinha (MT), Porto Alegre do Norte (MT) e Confresa (MT). Foi homologada e registrada no CRI e SPU, com 583 Tapirapé (Siasi/Sesai 2013).

Língua: Tapirapé, da família linguística Tupi-Guarani, grupo Tenetehara, com Avá-Canoeiro. Asurini Tocantins, Suruí do Pará, Guajajará e Tembé (SIL).

História: Os Tapirapé ou Apyãwa são um povo isolado que falam uma língua Tupi-guarani entro povos da família linguística Jê. Provavelmente são sobreviventes dos povos Tupi que migraram do litoral depois a vinda dos portugueses em 1500. Os povos Tupi eram chamados genericamente Tupinambá. A cultura Apyãwa mostra semelhanças aos Tupinambá, com a excepção dos antropagogia e a guerra endêmica. É significante que os Apyãwa têm a palavra paranyxigoo, mar, na sua língua quando nunca haviam visto o mar (Paula 2012.29). Alguns destes povos migraram para o sul e eram chamados Guarani. Outros, como os Cocama-Cocamilla e os Omagua, subiram o rio Amazonas até o Peru.

Mas podemos saber a rota de migração dos Apyãwa, somente são uma intrusão tupi entre os povos em redor (Wagley 1983.29). No século XVII viviam na área do baixo rio Tocantins e o Xingu e chegaram ao meio curso do rio Araguaia na segunda metade do século XIII (Toral 2004). Estava na região da Serra do Urubu Branco há três séculos (Paula 2012.29).

No início do século XX o território dos Apyãwa era na margem esquerda do rio Araguaia do rio Tapirapé para o norte. Esta terra era de floresta dividida por mais quatro afluentes dos rio Araguaia. Cinco aldeias ocuparam a terra firme entre este rios. Cada aldeia não estava muito longo do campo onde gostavam caçar. No sul viviam os Xavante e ao norte os Kayapó, no leste os Karajá. No oeste eles pensaram que estejam os Ampanea, que realmente não existiam; realmente os Kapapó Mantuktire viviam lá. Eles tinham medo de todos estes povos, mas por causa do espaço não tinha competição dos recursos entre entre povos. Os Apyãwa são um povo da floresta da terra firme, distantes dos afluentes do rio Araguaia, dependentes nas suas roças, mas os Kayapó eram do cerrado e os Karajá dos rios com suas roças na floresta de galeria. Mas apesar do receio de ataques eles tinham contato com os Karajá e Kayapó, porque adotaram cantos e danças com máscaras aprendidos dos povos Jê, os Karajá e os Kayapó (Wagley 1983.26-32). No fim do século XIX os Apyãwa tinham cinco aldeias do norte para o sul, cada com uma população de 200 ou 300 pessoas dando o total de 1.000 a 1.500 (Wagley 1983.31). Os Karajá tiveram contato com os Apyãwa nos campos na estação seca, as vezes contato pacíficos par tocar produtos mas também violentas em 1905 e 1910 (Toral 2004).

Acerca de 1910 a isolação do povo terminou e a aldeia mais ao norte, Anapatawa e Moutawa situada no meio foram abandonadas, os sobreviventes de uma epidemia de influenza mudaram-se para a aldeia entre elas, Chichutawa ou Xexotawa. Xexotawa localizava-se onde hoje está situada a cidade de Vila Rica, MT (Paula 2012.26). Os mais idosos em 1992 deram os nome de 26 aldeias antigas (Paula 2012.21). Mas logo depois muitos Aryãwa morreram em todas as três aldeias de gripe (Wagley 1983.32). Em 1911 um grupo de ‘Cearenses’ visitaram Tapi’itawa, procurando seringais na bacia do rio Tapirapé, mas providencialmente não havia Hevea brasilienses no território dos Apyãwa. O líder levaram alguns índios para a cidade de Conceição do Araguaia. Em 1912 o primeiro contato com o novo SPI quando o inspetor trouxe alguns dos índios de volta para aldeia. O guia da expedição era Valadar, um Karajá, que visitou aldeia diversas vezes.

No fim do século XIX os Dominicanos estabeleceram sua missão em Conceição do Araguaia, para alcançar os Karajá que eram pescadores no rio e visitaram os Tapirapé em 1914 (Hemming 2003.91). Em 1923, Benedito Profeta, um missionário batista brasileira passou alguns dias com uma banda do povo no cerrado. Ele era colportor e antropólogo, conhecia os Karajás, Xavantes e Xerentes e conduziu uma escola para os índios na Ilha Bananal. Visitou os colonos e as fazendas dando uma noção de matérias escolares às crianças. Publicou diversas obras dos seus estudos antropológicos. Em 1930 Josiah Wilding e Elizabeth Steen, missionários da Evangelical Union of South America (EUSA atualmente Latin Link) visitaram Tapi’itawa e depois no ano seguinte Adventistas tiveram contato (Wagley 1983.36). Em 1932 Peter Fleming amontou uma expedição para descobrir o fim de Coronel Fawcett e encontrou com os Tapirapé e gostou deles, seu senso de humor. Um casal francês teve contato em 1935 (Hemming 2003.86).

Os missionários Dominicanos subiram o rio Tapitrapé em 1930-32 e estabeleceram um ponto de contato onde realizaram culto e deixaram presentes de ferramenta de aço no lugar eles chamaram Porto São Domingos (Wagley 1983.34). Uma epídema de influenza e malária pelo contato com Karajá mataram muitos (Hemming 2003.87). As aldeias eram reduzidas a duas quando Mankutawa em 1932 foi abandonada e os sobreviventes transferiram-se para Tapi’itawa. Em 1932 Frederico S. Kegal, também da EUSA, era amado pelos Apyãwa de Tapi’itawa e vivia com eles até 1935. Ele caçava e dançava com eles, ensinava sobre o ‘Papai Grande’ (Deus) e ensinava cantar hinos. ‘Ele deixou uma impressão na memória do Tapirapé com um homem que amavam, e ele devia ter os amado’ (Wagley 1983.37). Kegel viu cinquenta ou sessenta Tapirapé morrer de doenças durante seu tempo com eles (Hemming 2003.88). Os antropólogos Herbert Baldbus em 1935 e Charles Wagley em 1939-40 viviam entre os Apyãwa na aldeia de Tampitawa. Os costumes do povo baseado na organização social interrompidos pela diminuição da sua população. Quando Baldus os visitou em 1947 ele achou apenas 59 pessoas e um número muito menor em Chichutaiwa.

Os Kayapó Metyktire atacaram a aldeia mais ao sul, Tapi’itawa, em 1947, com consequências sérias para os Tapirapé. Os Kayapó queimaram as malocas e a casa dos homens (Takana ou Takara) e levaram cativas mulheres e moças (Wagley 1983.31,39). Os sobreviventes se dividiram, um maior grupo fugiu para a fazenda no rio Tapirapé e ficou a mercê do fazendeiro que forneceu mandioca de sua roça. A perda da mulheres era importante porque elas preservem a cultura (Paula 2012.33). Os outros foram para o posto do SPI na foz do rio, e outros foram para a aldeia Chichutaiwa. Tiveram contato com os Iny ou Karajá, aprendendo a língua e por falta de moças Apyãwa alguns se casaram com as dos Karajá (Paula. 2012.34).

A sociedade Apyãwa quase cessou a existir até 1950, quando Valentim Gomes, colega de Wagley durante suas visitas, e agora do SPI, persuadiu os grupos para juntar-se e formar uma nova aldeia perto do Posto na foz do rio Tapirapé na margem esquerda do rio Araguaia. Os Apyãwa temiam os Karajá e os tori, os não índios, e Gomes tinham dificuldade em persuadi-los. Apesar disso houve casamentos com mulheres Karajá (Toral 2004). Em 1953 havia 53 pessoas vivendo em cinco casas tipo regional em redor de uma Takana no estilo tradicional e a aldeia era chamada Tawaiho ou Orokotãwa. Gomes enviou ao SPI uma mapa das terras Tapirapé. Na nova aldeia ele organizaram sua sociedade e a retomada dos rituais, apesar de ser reduzidos a 69 pessoas, devido de surtos de sarampo e pneumonia, mas pelo menos começaram a receber um atendimento médico (Paula 2012.36).

Em 1952 as Petites Soeurs de Jesus (Missão Irmãzinhas de Jesus) começaram a trabalhar na aldeia, em pouco tempo as francesas eram substituídas por brasileiras. Elas viveram conforme o estilo de vida dos índios, e encorajaram a comunidade para continuar a observar seus rituais e costumes, deram assistência médica e terminaram a exploração pelos comerciantes. A população cresceu até em 1976 era 136 (Wagley 1983.45).

Nas décadas 50 e 60 a cidade de Santa Terezinha tornou-se centro de especulação de terras, com pista de pouso e um hotel para compradores de terras, caçadores e pescadores que vieram. A Companhia Colonizadora Tapiraguaia reivindicou direitos a uma vasta área na margem esquerda do rio Araguaia, e ainda existia uma proposta de mudar os Apyãwa para a Ilha do Bananal. Entretanto a FUNAI em 1967 segurou uma ‘doação’ da Companhia de 9.230 ha em redor da aldeia. Também posseiros ocuparam as margens do rio Tapirapé, trabalhando nas fazendas (Wagley 1983.46). Os Tapirapé fizeram a demarcação da Terra Indígena, mas o fazendeiro ainda deixou seu gado invadir a área. A paciência do povo se esgotou e ameaçaram matar gado e até um branco. Quatro deles foram a Brasília ver a FUNAI, que decidiu em uma área reduzida para a Terra (Hemming 2003.340). A T. I. Tapirapé/Karajá foi homologada em 1983.

Nos anos 70 os Apyãwa viviam em uma só aldeia com uma população de 130 indivíduos (Wagley 1983.26). Os Tapirapé não deixaram de ocupar a região Urubu Branco, sua terra tradicional. Nesta região houve na década 80 uma série de conflitos sangrentos entre os posseiros e os milicias dos fazendeiros. Receberam o apoio do antropólogo André Toral. Em novembro 1993, 62 Tapirapé ocuparam o retiro de uma fazenda e reocuparam a aldeia Tapi’itawa. Em 1994 a presidência da FUNAI aprovou o relatório definindo a área da T. I. Urubu Branco conforma a proposta dos próprios Tapirapé. O ministro da Justiça declarou essa Terra como sendo posse permanente do povo e em 1996 a T. I. Urubu Branco foi homologada (Toral 2004).

Um evento importante na sua história foi o retorno deles à viver novamente na aldeia de Tapi’itãwa, na região da Serra do Urubu Branco. Também retomaram a autodenominação de Apyãwa (Paula 2012.21). A experiencia de lutar pela Terra demonstrou a necessidade de compreender o português, e por este motivo pediram uma escola à Prelazia de São Félix do Araguaia que, em 1973, enviou um casal de professores, Luiz Gouvêa e Eunice de Paula, para iniciar o processo de escolarização (Paula 2012.42).

Estilo da Vida: Atualmente os Apyãwa vivem em seis aldeias na T. I. Urubu Branco: Tapi’itãwa, Tapiparanytãwa, Towajaatãwa, Wiriaotãwa, Myryxitãwa e Akara’ytãwa. Vivem na T. I. Tapirapé/Karajá em uma só aldeia chamada Majtyritãwa, com uma minoria de Karajá. Também outros vivem em Itxala e Hawalora, onde são a minoria casados com mulheres Karajá (Paula 2012.19).

Os Apyãwa vivem numa região de floresta tropical, com flora e fauna tipicamente amazônicas, entremeada de campos limpos e cerrados. A aldeia e as roças estão no mato da terra firme não inundável, com um córrego 50 m das casas. Durante a estação de chuva, novembro a abril, muitos dos campos ficam em baixo de um metro ou mais de água, deixando pequenas ilhas. Sendo agricultores, Tapi’itawa, a aldeia mais conhecida do grupo, reproduz as condições ideais para a localização de uma aldeia: terreno não inundável, próximo a florestas altas para agricultura. Antes do contato no princípio do século XX as cinco aldeias consistiam de seis a dez malocas, cada com um número de famílias, trinta a quarenta indivíduos. As cinco aldeias eram Anapatawa, Chichutawa, Moutawa, Mankutawa e Tampitawa. As aldeias são mudadas de cinco ou sete anos, devido à necessidade de brocar e plantar novas roças na floresta, para que as roças não fiquem mais e mais distante da aldeia (Wagley 1983.32,50,88).

A aldeia era situada em uma clareira na floresta com um círculo de malocas. No centro do pátio era a Takana (Wagley) ou Takãra (Paula), casa dos homens que as mulheres não não são permitidas a entrar, construída da forma ovalada, 30m por 7.5m com quatro portas. É para as reuniões das Metades e para homens visitantes (Wagley1983.85). Os homens dormiram com suas famílias no círculo de casas, que era menor com uma só porta, onde viviam as famílias nucleares grupadas como família extensa sob a liderança do avô. Cada família nuclear tinha seu espácio e fogueira em redor do interior. Em Tawaiho, a aldeia nova próxima a foz do rio Tapirapé, as casas de família são substituídas por casa rectangulares tipo regional por cada família. Em 1965 o padre François Jentel e as Irmãzinhas de Jesus tinham suas casas no círculo (Wagley1983.85).

Os Apyãwa marcam as estações do ano pela constelação plêiades (é chu); sua desaparecimento em baixo do horizonte em abril é o começo das estação da seca, sua chegada de novo no fim de outubro a estação da chuva (Wagley 1983.12,71). A estação da seca, maio a outubro, é o tempo de prepara as novas roças. As roças pertencem às famílias nucleares, mas às vezes o trabalho é feito de mutirão (apachirú) organizado pelo chefe da maloca ou pelas metades (Wagley 1983.56). Nas primeiras chuvas os homens plantam a mandioca brava e mansa, milho, pimentas, batata doce, papaias, e banana. Próximo às casas plantam tabaco e urucu. As mulheres plantam amendoim, feijão e algodão. Quando faltam carne o povo comia apena farinha de mandioca. Os Apyãwa não tinham o tipiti, as mulheres estremendo a massa nas suas mãos em bolas para ser secadas no sol em cima de um jirau, torrada em cima de prata de cerâmica. Também faziam o beiju (Wagley 1983.59). No anos 60 arroz tornou-se parte do plantio e do alimento. A floresta de terra firme para abrir roças fica 10-15 km da aldeia, e algumas famílias preparam a farinha da mandioca nas roças. O terreno mais perto é capoeira ou campo que fica inundado. Por algum tempo o padre François usou um trator e carroça para transportar os produtos para a aldeia (Wagley 1983.77).

Durante a seca os Apyãwa se mudam para os campos e vivem em tapiris simples para caçar, coletar e pescar. Os peixes ficam presos nas lagos dos enchentes no campo, enquanto as águas estão diminuindo, e podem ser pegados por arco de flecha. Também quando a água é baixa no rio Tapirapé os peixes sobem o rio do rio Araguaia. As mulheres coletam caja, castanhas de bacaba e pequi.

Os homens caçam individualmente ou às vezes em grupos, usando cachorros, durante a época de chuva. A carne pertence ao caçador, mas quando volta os parentes pedem uma parte. As caças mais com sucesso eram organizadas pelas metades nos campos. Veado campeiro e caititu ficam presos na ilhas deixadas pelo enchente. Quando voltam à aldeia levam a carne em cestos, mas param fora da aldeia e dois ‘espíritos’ mascaras de palha dançam pelo meio da aldeia. A carne é levada à Takana e dividida em seis, uma monte para cada secção das duas metades. As mulheres recebem carne em troca de farinha que trazem das casas. À noitecer desafios entre as metades são dadas para lutar (Wagley 1983.62).

A pesca é produtiva especialmente na estação da seca, quando as famílias acampam nos campos. É atividade do indivíduo não das metades. Nos lagos no campo usam arco e flecha. As vezes usam o método de tinguijada. Os homens fabricam um tipo de matapi ou armadilhas de forma cônica para pegar peixinhos nos córregos na floresta. Creiam que a armadilha tem um espírito que ‘chama’ os peixes. O espírito pode chamar o espírito de uma criança e esta morreria. O espírito pode ficar doente e precisar o pajé o curar para pegar peixe de novo (Wagley 1983.65).

Depois vinte anos na Aldeia Nova, alguns homens aprenderam usar canoas, pescaram com anzóis e linhas e as crianças aprenderam nadar, todas novidades para os Tapirapé. Regatões pararam no porto da aldeia e os homens ganharam rifles e todo o mundo usavam roupa (Wagley 1983.80). Os Apyãwa não mantêm um horário diário para fazer tarefas, refeições ou dormir. O dia é dividido de uma maneira muito casual (Wagley 1983.20).

Os Apyãwa consideram que a propriedade é do indivíduo, mas muitos objetos são tomados emprestados ao mesmo tempo respeitado com a propriedade do outro (Wagley 1983.14). Pajés e chefes de casas ganharam mais objetos pela troca devido ao seu prestigio na sociedade (Wagley 1983.73). Falam muito boato e nem sempre a verdade, a mentira muitas vezes provoca consequências violentas (ibid p21). Na cidade de Confresa, MT, estão localizados o Pólo da Saúde Indígena, a Coordenação Técnica Local da FUNAI e a Assessoria Pedagógica da SEDUC-MT. Os Apyãwa vão para a cidade, 30 km da maior aldeia atual, Tapi’itãwa, por causa de atendimentos médicos, e serviço do correio, bancos e o hospital e para comprar alimento e roupas.

Sociedade: Quando os Apyãwa tinham cinco aldeias não tinham uma organização centralizada, as aldeias sendo autônimas e endogâmicas, mas compartilharam nas mesma língua e costumes. Mas ainda naquele tempo havia casamentos entre as aldeias e cada aldeia tinha os mesmos grupos de comer (tataopawa) e as metades, Wuran (Wagley) Wyrã (Paula). Quando em 1965 eles mudaram-se para a Nova Aldeia Tawaiho, todos já tinham vivido em Tampi’itawa, e sua afilação era do povo Tapirapé e não das aldeias do passado.

A família extensa é matrilocal, e consiste de duas ou três gerações de mulheres relacionadas, mãe, filhas e primas, netas, e os maridos moram com a parentela da sua esposa. Os Apyãwa praticam o casamento monogâmico. A liderança é com o homem mais velho nas gerações, e pajé e líder de canto nas metades. Os homens eram de fora e pertencia a metade do seu pai e nem sempre da mesma do líder da família extensa. Com a perda da população este ideal social não podia ser mantido (Wagley 1983.94).

Os líderes de casas são chamados de ‘capitão’. Eles não deliberam juntos para formar um conselho da aldeia, e até há tenções entre as casas e a aldeia não completamente unida em espírito, e a cooperação pode ser difícil de estabelecer (Wagley 1983.119, 123). No década 60 na nova aldeia, Tawaiho, todos viviam em casas de famílias nucleares e por isso não tinham mais os líderes de casas (Wagley 1983.124, Toral 2004). Atualmente nas diversas aldeias, embora não haja mais uma casa grande do passado, com os casais habitando em residências separadas, os laços da família extensa continuam sendo mantidos, pois as casas são construídas próximas umas a outras. Para as afeições a família se reúne a uma casinha com fogueira a lenha nos fundos da casa dos avós. As casas familiares têm fogões de gás. É o costume o genro não falar diretamente aos sogros, a esposa fala por ele (Paula 1983.48).

As metades (Wuran ou Wyrã) são dos homens, os Aves Brancos, Wuranchingó ou Wyraxigá (garça Paula ibid).) e os Papagaios (Araxã). Cada metade é dividida em três faixas etárias, os rapazes 10-16 anos, os adultos 16-35 anos e os mais maduros 35-55 anos. Os mais idosos cessam de ser membros das metades. O interior da Takana é dividido em seis conforme as faixas, as metades tendo um lado cada, com duas portas cada. São lideradas por um homem com uma boa voz para cantar e é um bom caçador. Diversos anchunga (espíritos) dos animais vem para morar na Takana, e são hospedados pelas faixas das metades, que construam as macaras que representam o espírito (Wagley 1983.103ss). As metades têm funções econômicas importantes, com organizar o trabalho comunal das roças e expedições de caça. Depois a mudança para a nova aldeia, Tawaiho, a Takana tornou se uma ‘fabrica’ para produzir artesanato para vender aos turistas (Wagley 1983.114, Paula 2012.51).

Os grupos de comer (tataopawa) são de mulheres e homens e cada um têm um tataopawa, seu lugar no pátio com uma fogueira. Os grupos reuniram-se para comer todos no mesmo tempo ou tempos separados.

Os Apyãwa praticavam no passado um sistema de amizade formal (anchiwawa) entre pessoas no mesmo sexo, que envolveu a troca de presentes. A cerimonia de Kawió era ocasião de trocar presentes. Todos que tomaram o kawi mau podem pedir presentes daqueles que não beberam (Wagley 1983.74,76).

Mantinham uma pratica de infanticídio ainda quando a população estava em declínio devido às doenças dos brancos. Pelo sistema cada casal era permitido apenas três filhos (Wagley 1983.24). Os indivíduos ganham diversos nomes durante a vida, e o nome usado na infância causa vergonha quando usado para um adulto. Os homens e as mulheres passam por faixas etárias chamadas por termos diferentes para os sexos. Então os Apyãwa, homens e mulheres, mudam de nomes nos rituais de iniciação e os pais e os avós dos iniciados também mudam de nomes conforme a faixa etária a que passam a pertencer, ganhando o nome de um antepassado seu que usava o mesmo nome na faixa etária correspondente (Paula 2012.45).

Quando as crianças podem andar tornam-se konomí e kotantaní e são permitidos brincar e imitar os adultos. Depois os jovens tornam-se churangí (adolescente) eles mudam para a Takana e é presentado com arco e flechas para matar dois aves para o pai comer, seu cabelo é raspado da cabeça e o copro é pintado preto. O comprido botoque de madeira no lábio inferior é substituído por um de madrepérola. Durante o dia eles aprendem a tecer cestos, fabricar arco e flechas e os mascaras dos espíritos. As moças com a primeira menstruação tornam-se kuchamoko sem cerimônias especiais e prontas para se casar (Wagley 1983.150).

Os rapazes crescem e tornam-se awauahu (homem novo) e eles deixam seu cabelo crescer, em preparação para cerimonia de atingir à maioridade. Este rito de passagem dos rapazes é chamado ‘Amarrar o cabelo’ quando seu cabelo é amarrado com algodão em uma trança (Wagley 1983.105). Os homens dançam cantando em ritmo acelerado e depois decoram os jovens com novo ornamentos. O cabelo, amarrado em trança, suporta um grande acangatar de penas da cauda do arara. Eles dançam por 24 horas. Depois a cerimonia eles são awachewete, homem maduro.

Não há cerimonia de casamento, o homem leva uma feixe de lenha em frente da casa da esposa e entra e começa a ser genro. Antigamente a moça antes de ser esposa sofre cicatriz no rosto, mas uma pratica abandonada na década 60 (Wagley 1983.163). Na Nova Aldeia os Apyãwa adotaram o futebol e jogaram com outros times dos vizinhos indígenas.

Os lídres atuais são indivíduos jovens, entre 30 e 40 anos, que falam bem o português, sabem ler e escrever, e são bem informados dos acontecimentos nacionais através o rádio (Toral 2004). A Associação do Povo e Organização Indígena Tapirapé ( APOIT) foi formada, cuja função principal centrou-se na administração do convênio de atendimento à saúde realizado com a FUNASA (Paul 2012.59).

Artesanato: Vendem arco e flechas, mascaras de madeira (upé), outro artesanato e peles de animais. Os Apyãwa contam cinco, dez e vinte nos dedos das mão e dos pés mas não entenderam o valor do dinheiro em 1953, mas em 1965 a maioria foram integrado no sistema comercial, as Irmãzinhas supervisando o comercio com os regatões (Wagley 1983.80).

Religião: Os Apyãwa observam diversos tabus do alimento. A carne de veado, tatu, guariba, anta, marreco-cabocolo (Dendrocygna autumnalis) e mutum não podem ser comida por mulheres, crianças e os pais de crianças pequenas. Carne de boi é tratada como carne de veado e é tabu. Queixada, caititu, paca, cotia, jabuti, coati, macaco prego, tartaruga e tracajá pode ser comidos de todos (Wagley 1983.69). Mas os tabus encorajam a troca de carnes entre as famílias. Os tabus eram ainda observados nos anos 60 (Wagley 1983.79).

Os pajés: Toda a criação, todas as coisas têm anchunga espírito e a maioria são perigosos. Este fato necessita a presença dos pajés e os Tapirapé acreditam que tanto e bem quanto o mal vem da atuação os pajés para com os espíritos; eles dependeram destes pelo sucesso na caça,na geração de filhos, proteção durante a vida, etc. (Wagley 1983.194). Os pajés não temem os espíritos, com a ajuda do fumo sua alma (iunga) se separa do corpo (été) a fim de se encontrar com os espíritos e ter o poder de não sofrer dano dos espíritos. Eles fazem amizade com os espíritos que se tornam seus auxiliares. Mas o pajé, como o notório Waré do passado remoto, fazem o mundo mais seguro para os Apyãwa (Wagley 1983.181s).

A cura dos doentes é a tarefa dos pajés, por ‘comer o fumo’ e fazer massagem ou chupar um objeto fora do corpo. Nunca o objeto foi demonstrado aos outros. Mas todos os Apyãwa usam o fumo como remédio. Soprar a fumaça sobre o corpo do companheiro ou a esposa causa o cansaço sair (Wagley 1983.193). Os pajés eram considerado dar o nenê à mulher grávida. Falta de filhos era também a culpa do pajé (Wagley 1983.193).

No passado um pajé pode ser executado, quando foi suspeito de lançar feiticeira contra alguém. A vigência pode acontecer muitos anos depois. Na aldeia em 1939, viviam oito homens que tinham matado pajés. Há um ritual especial para limpar o assassino do sangue do pajé (Wagley 1983.124, 189). Nos seus sonhos eles viajam no céu e a Via Láctea é o ‘caminho do pajé’ e os Plêiades é a ‘onça dos céus’. Quando um pajé morre o sol pode ser com raiva ou os Plêiades enviar muitas onças em redor da aldeia. Pajés poderosos podem batalhar entre si mesmos. Acreditam-se que os pajés roubam a alma de a qualquer pessoa para causar a morte. As mortes por doenças inexplicáveis são consideradas de ser causadas pela feiticeira (Wagley 1983.188).

Os mortos: Quando o Apyãwa morre seu anchunga sai do seu corpo. A morte por ataque ou acidente é entendida, mas por doença sem evidencia visível é suspeitada de ser por feiticeira, e os pajés na aldeia são suspeitos. Só os pajés têm um corpo na vida após da morte, os outros são apenas ‘almas’ (Wagley 1983.196). Há um mundo em baixo da terra onde as condições são perfeitas chamado Iungwera, para onde os pajés vão. Também falam de céu pela influencia do catolicismo. Há danças e cantos de lamento. É considerado perigoso manter os pertences do morto e são enterrados com o corpo ou queimados. Dias depois da morte os parentes saem da casa cantando e vão para a mata, dirigindo o anchunga embora.

No passado eles enterraram os mortos no chão das casas, uma cova profunda foi feita para suspender o cadáver na rede no buraco com seus pertences, e esteiras foram deitadas em cima das varas suportando a rede, e solo jogado em cima até o nível do chão. Mas na nova aldeia eles começaram a usar um cemitério (Wagley 1983.170ss). Muitas vezes os Apyãwa encontram com os anchunga dos mortos como fantasmas no mato, etc. por isso poucos vão fora da aldeia à noite. Estes anchunga dos mortos se tornam em animais ou aves (Wagley 1983.181).

Os ciclos cerimoniais do ano começa no final de setembro com os Xepaanogawa, organizada pelos grupos de comer. Hoje são seis destes grupos. Os homens pescam e as mulheres fazem a farinha de mandioca. Alguns dias depois é o ritual do Tatawytera. Depois em dezembro a construção ou renovação da Takana é feita no tempo do milho verde (Paula 2012.57). No final de fevereiro é o Marakayja e o ciclo cerimonial termina com o ritual Tawa no final de junho (Toral 2004).

No meio da estação de chuva, dezembro e janeiro, acontecem tempestades de chuva pesada, vento, relampado e trovão, que indicam que Karowãra, o Trovão, está com raiva. Uma cerimonia pelos pajés batalha com o Trovão e os Topy, suas criaturas (Paula 2012.30). Os pajés engolem a fumaça do tabaco e cantam lançando um desafio ao Trovão, depois todos os pajés com suas esposas cantaram no pátio o dia todo. No segundo dia eles correm pelas casas da aldeia e cantam em cada uma, quatro vezes. Usam um cocar grande de penas vermelhas de arara que enfurece o Trovão. Muitos pajés ficam em transe pelo fumo e caem no chão, atacado pelas criaturas do Trovão. O fumo os preserva do Trovão. A cerimonia dura por quatro dias. No fim todos os homens reúnem no pátrio com muitos das mulheres e são tocados na testa pelos chocalhos e o Trovão sai para volta no ano próximo. Talvez esta cerimonia cessou acerca de 1940 (Wagley 1983.201-210).

Os homens ganham prestígio pela capacidade de cantar bem. Por isso ele adotam bem hinos cristãos e outros cantos de fora. No fim das chuvas realizam uma estação de canto e dança chamada kaó, terminando na cerimonia de kawió, quando trocam presentes. Pares de homens cantam os cantos da sua metade e pares da outra metade se juntam para cantar com eles. Na estação das secas os anchunga, que representam os animais e outros aspectos da natureza, vão morar na Takana. Cada espírito é representam por um par de costumes de buriti e mascaras (Wagley 1983.215s).

Cosmovisão: Nos tempos longânimos o herói Anchopeterí encontro um grande número de aves numa rocha cata, divididos em seis grupos como as metades. Ele aprendeu os cânticos e o jogo de luta dos aves, e os deu aos Tapirapé (Wagley 1983.103).

Os Apyãwa crêem que este mundo é o terceiro, os outros anteriores foram destruídos por fogo e dilúvio. No princípio viviam os Karajuntuwera, primal homens que viviam somente de coletar sementes. Apenas um casal sobreviveu o diluvio por subir uma arvore. Somente quatro aves escaparam do fogo e destes desceram a humanidade de hoje. Depois os heróis vieram viver com os Apyãwa, mas os mitos sobre eles são incompletos. Petura trouxe o fogo, a luz do dia, jenipapo, ferramentas de aço e o porrete (Wagley 1983.176ss). Apuwenonu trouxe a mandioca, o milho, amendoim, inhame, algodão e todas as plantas cultivadas hoje pelos Tapirapé. A esposa de Apuwenonu ensinou tecer redes e fabricar ornamentos com as pulseiras. Anchopeteri trouxe tabaco e lenha, e ensinou os Apyãwa cantar e lutar. Foi ele que encontrou os aves da floresta dançando e cantando, e esta experiencia foi a origem da metades (Wagley 1983.179).

Os mitos etiológicos, explicando o mundo conforme a existência de anchunga em toda as coisas. Os Tupi do litoral os chamavam anhang, espíritos maléficos: O ribeirão Anhangabaú em São Paulo.

Comentário: As Irmãs de Jesus se adaptaram muito da cultura do Tapirapé e em 2013 uma delas morreu e foi enterrada no chão da sua casa. Uma Irmãzinha de Jesus morreu e foi enterrada no chão da sua casa conforme o costume Apyãwa em 1913. A Missão Novas Tribos do Brasil trabalha com este povo.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –http://instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • PAULA, Eunice Dias, 2012, ‘Eventos de Fala entre os Apyãwa (Tapirapé) na Perspectiva da Etnossintaxe:Singularidade em Textos Orais e Escritos,’ Goiana: Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Letras,Goiana.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com.
  • TORAL, André, 2004, ‘Tapirapé’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/tapirape.
  • WAGLEY, Charles, 1983, Welcome to Tears: The Tapirapé Indians of Central Brazil, Prospect Heights, IL, USA: Waveland Pr Inc .