Tumbalalá

David J. Phillips

Autodenominação: Tumbalalá é derivado da expressão africana ‘tumba lá e cá’, um canto de capoeira.

Um gritava para o outro
Tumba ê ê ê, caboclo
Tumba lá e cá
Tumba ê ê ê, guerreiro
Tumba Lá E Cá
Tumba ê é ê, Popó
Tumba lá e cá
Não me deixe só
Tumba lá e cá

Outros Nomes:

População: 1.469 (DAI/AMTB 2010), 1.160 (FUNASA 2010). 180 famílias eram contados em 2001, mas conforme os dados das lideranças podem somar 400 famílias (Andrade 2003).

Localização: Vivem nas margens do rio São Francisco, no norte da Bahia, entre os municípios de Curaçá e Abaré e próximo a cidade de Cabrobó. A Terra Indígena Tumbalalá, BA, de 44.978 ha de ambiente caatinga, na margem direita do rio São Francisco e estendido para o sul para incluir o riacho Santo Antônio, identificada e aprovada pela FUNAI e sujeita a contestação, como 1.199 Tumbalalá (SIASI/SESAI 2013).

Língua: Português. Conhecem alguns termos de Kariri, usados no Toré, o Kariri era outrora usado como uma língua franca em uma extensa área no interior desta região, dois dialetos eram falados no sertão do São Francisco (Andrade 2003).

História: O sertão do vale do rio São Francisco foi colonizado por fazendeiros que receberam sesmarias para criar gado no século XVII. Os missionários, jesuítas e outros, seguiram para estabelecer os aldeamentos. O aldeamento do Pambu existia em 1671 e entre 1680 a 1701 foi administrado pelos carmelitas. É difícil interpretar as informações, devido às descrições vagas e os deslocamentos, mas a Missão de Rodelas incluiu Pambu que existia uma ‘bonita aldeia de cariris’ que tinha três missionários. Foi elevado a paróquia em 1714, e tornou-se conhecido como Ilha de Assunção, e vila em 1832 (Batista 2001.14,16, 31).

Então os Tumbalalá eram antigamente do Aldeamento do Pambu, no sertão de Rodelas, Bahia. Eram relacionados com os Kariri e os Procás. A comunidade tem sua formação dos antigos povos indígenas em um processo integrativo de famílias que ao longo dos anos se casaram entre as etnias. Povos e famílias eram deslocadas no sertão do São Francisco e depois deixaram de ser comunidades isoladas para formar novas entidades sociais, como os Tumbalalá e seus vizinhos os Trukás.

Sua ligação aos Truká era quando o líder Acilão Ciriaco da Luz prometeu de depois de resolvido o problema de reconhecimento dos Truká, que seria iniciada a luta pelos Tumbalalá. Ele convidou os Tumbalalá participara do Toré, mas os Tumbalalá resolveram lutar por seu próprio reconhecimento. Suas reivindicações de ser indígenas eram iniciadas em 1998, e eram reconhecidos pela FUNAI em 2001.

O projeto de uma pequena barragem que faz parte do grande empreendimento da Transposição do Rio São Francisco poderá colocar debaixo d’água parte do território Tumbalalá, já identificado pela Funai. Os indígenas praticam um método de agricultura com a terra é irrigada pelas cheias do rio São Francisco. Mas com a barragem os indígenas serão empurrados da margem do rio para o centro da terra, onde eles entram no terreno de dezenas de agrovilas do Incra instaladas no centro do território Tumbalalá, com sertanejos expulsos de suas terras pelas barragens de Sobradinho e Itaparica durante o tempo do governo militar e reassentado pelo Estado. A situação cria tensão e em maio 2015 um Tumbalalá foi assinado a tiros (CIMI 2015).

Estilo da Vida: Vivem no povoado de N. Sra. da Conceição do Pambú, às margens do rio São Francisco. O povo não tem um território demarcado e barragens de Itaparica e Sobradinho já atingem as terras indígenas. Devido a clima semiárido e o solo sendo caatinga hiperxerófila a agricultura é mediante a irrigação, cultivando a mandioca, feijão, cebola e as vezes arroz. A estação de chuva é entre dezembro a março e os imbuzeiros são carregados de fruto e pastagens surgem para os bodes e gado criados soltos na caatinga. Outras arvores são a jurema, faveleiras, xiquexiques e cactos. A caça é apenas de animais de pequeno porte: codorna, cutia, cameleão, preá e raramente tatu. O rio não fornece mais peixe devido às várias intervenções, apesar de existir peixe, jacaré, capivaras e tartarugas (Andrade 2003).

Sociedade: A população total é difícil de precisar, mas em 2001 houve 187 chefes de família e estimada de um total de 1.500 indivíduos (Batista 2001.13). O Toré fornece a base da sua alteridade como uma comunidade indígena, e uma revelação pelos encantados na década 40 deu sua identidade específica das outras etnias vizinhas. Há dois núcleos político-rituais que desenvolveram separadamente nos terreiros de Toré do São Miguel e da Missão Velha, mas cooperam politicamente entre si. As famílias nucleares são autônomas e podem cooperar economicamente segundo afinidade, compadrio ou parentesco. Os casamentos entre primos são comuns. A organização política, recém-implantada, tem a liderança de cacique e pajé (Andrade 2003). Os Tumbalalá têm um chefe ou cacique que trata as relações externas da comunidade. Postos de saúde e o SUS são distantes.

Artesanato:

Religião: São Católicos e alguns são evangélicos com uma igreja dentro do território indígena liderada por não índios.

Também praticam os rituais tradicionais dos encantados usando um tipo de jurema, ingerido durante o Toré. Estes encantados são pessoas importantes politicamente durante a vida e passam por um processo de encantamento após a morte e comunicam com os índios vivos através de sonhos ou de um mestre do Toré que os incorpore. Existem dois terreiros com cruzeiros, São Miguel e Missão Velha. Usam nos rituais diversas expressões do Kariri.

O Toré tem duas formas, a mesa do Toré que é privada dentro uma casa para um pequeno grupo de pessoas, para ganhar uma cura ou outro favor dos encantados. Os doentes buscam a cura domestica ou pelas benzedeiras. O alguidar da jurema está colocado no centro, em torno do qual estão os cachimbos, os maracás, as poções de fumo, uma cruz, as velas e a cura que consiste de cachaça, alho e diversas ervas. Com as velas acessas o local é defumado os participantes estão sentados em redor da mesa e a jurema e a cura são distribuídas. O ‘trabalho’ prolonga-se toda a noite (Batista 2001.67). Durante o trabalho de mesa podem aparecer espíritos que são alheios dos encantados, querendo tomar jurema, etc, e são recusados. Também os encantados podem dar aconselhamentos. O chefe do trabalho permite ou não o acesso dos encantados.

A outra forma é o Toré público feito no terreiro, seu alvo sendo a interação social. Os participantes se dividem entre as seguintes funções: cantadores e assistidores. Presentes são U-Ká o encantado mestre de todas as aldeias, a Mãe d’água, Deus e Jesus (Batista 2001.46). O grupo se distribui em duas filas paralelas. Os cantadores se sentam em um banco no lado oposto ao cruzeiro. Os participantes podem vestir de forma cotidiana ou com sia e peitoral de fibras de caroá (bromeliácea brasileira). Eles carregam maracá e apitos. A coreografia da dança é variada. Quando uma linha do canto termina grita-se ‘viva’ a alguma pessoas, por exemplo aos Encantados, aos Tumbalalá, a Nossa Senhora ou a Deus (Batista 2001.65).

Cosmovisão: A cosmologia dos Tumbalalá é um síntese de diversos elementos emprestados de outras tribos, porém estes elementos tornam-se particular ao povo.

Comentário:

Bibliografia:

  • ANDRADE, Ugo Maia, 2003, ‘Tumbalalá’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/tumbalala/
  • BATISTA, Mércia Rejane Rangel, 2001, ‘Laudo Antropológico do Grupo Autodenominado Tumbalalá-Bahia’, Vol 1, UFPB/UFRJ.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –http://instituto.antropos.com.br/
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.