Xukuru

David J Phillips

Autodenominação:

Outros Nomes: Sukuru, Xucuru, Shucuru ou Xacururu (Fialho e Neves 2009).

População: 12.139 (FUNASA 2010), 9.064 (DAI/AMTB 2010), 8.500 (Rabben 2004.150).

Localização: Em duas Terras Indígenas:

T. I. Xucuru, no norte de Pernambuco, perto da cidade de Pesqueira ao lado norte da rodovia BR 232, de 27.555 ha, homologada e registrada no CRI, com 10.536 Xukuru.

Reserva Indígena Xukuru de Cimbres ao sul da BR232, de 1.666 ha, reservada, com 12.006 que deve ser a população combinada das duas terras. Território de 28.300 ha (Rabben 2004.150). O biomas da Serra Ororubá é de savana estépica ou caatinga árida. Muitos habitam nos bairros pertos da Serra da cidade de Pesqueira, PE.

Língua: Falam o português, mas conhecem uns 800 palavras de uma língua indígena antiga (Fialho e Neves 2009).

História: No princípio da colonização, o Nordeste era valoroso pelos engenhos de açúcar, para exportar à Europa. A indústria necessitava de muito mão de obra, primeiro os índios e depois africanos eram escravizados. Em 1654 um alvará do rei de Portugal concedeu o território da Serra Orobaense ao fidalgo João Fernandes Vieira e permitiu o expulso dos índios conhecidos como os Ararobá. Primeiramente eram conhecidos como Urubá (corrupção de uru-ibá uma ave da região) e depois Ororubá (Fialho e Neves 2009). Os Xukuru eram reconhecidos como uma etnia indígena acerca de 1700, porque guerrearam contra os criadores de gado em Pernambuco desde os princípios da época colonial. Lentamente eles perderam suas terras para os coloniais, para a criação de gado e produção de couro para exportar à Europa. Este território estendia 90 km de Arcoverde a Brejo da Madre de Deus. A Vila de Cimbres era o centro de conflito, que é hoje a aldeia do Xukuru. Antigamente chamada Nossa Senhora das Montanhas a aldeia Ararobá, foi fundada em 1669, e a igreja era a matriz da região (Fialho e Neves 2009).

Os jesuítas chamaram a aldeia Ararobá Monte Alegre, mas o nome Cimbres permaneceu que significa na língua indígena ‘Lugar de Ensino’. A Congregação do Oratório da Madre de Deus era responsável pela catequese do índio na Missão Ararobá (Fialho e Neves 2009). Eles sofreram as desvantagens dos aldeamentos dos missionários católicos, porque diversas etnias eram misturadas, eram obrigados se casarem com outras etnias e foram explorados e escravizados em projetos comerciais. Foram proibidos falar suas línguas e foram dados sobrenomes portugueses e forçados de construir casas regionais para famílias nucleares. Também com a vinda de escravos africanos houve a miscigenação (Rabben 2004.154).

Em 1813, 243 ‘Shucurú’ viviam em Cimbres. O aldeamento foi extinguido em 1822 e todas as terras dos índios reverteram para o patrimônio da Câmara (Fialho e Neves 2009). Em 1850 uma lei deu o direito de tomar terra indígenas aos brancos. Em 1894 uma invasão de fazendeiros foi resistida por arco de flecha pelos Xukuru (Rabben 2004.154).

Era conveniente à sociedade nacional fazer os índios ‘desaparecer’. De um lado eram considerados ‘degenerados’ e ‘primitivos’ e do outro já assimilados! Na segunda metade dos ‘seculo XIX foi afirmada oficialmente o desparecimento dos índios em Pernambuco e que estavam ‘confundidos com a massa da população’. A declaração legal da extinção dos aldeamentos foi justificada devido do suposto disparecimento dos grupos indígenas. Posseiros, senhores de engenho e latifundiários ampliaram suas invasões da terras indígenas. Os índios passaram a ser chamados ‘caboclos’ (Silva 2009.28). Os índios temiam por revelar que eram indígenas.

Os Xukuru eram considerados um povo extinto ao princípio do século XX, mas na década 30 cinquenta foram descobertos que reconheceram sua identidade e falavam sua língua, e em 1944 o SPI contou 2.191. Três foram a pé ao Rio de Janeiro, a viagem levou três meses, para reclamar ao governo sobre as ameaças dos fazendeiros (Rabben 2004.155). O governo militar agiu contra todos os movimentos de base, inclusive protestos indígenas. Nos anos 70 o CIMI acompanhou as lutas para territórios indígenas encorajar as tradições. Também o Concílio fundou as organizações indígenas. Em 2000 41 etnias ‘invisíveis’ eram reconhecidas no Nordeste com uma população de 80.000 (Rabben 2004.158). Só 160 famílias possuíam lotes de terra de aproximadamente 0.5 hectare e os outros trabalhavam nas terras de outros índios ou na criação bovina dos fazendeiros (Silva 2009.36).

Nos anos 80 os Xukuru participaram nos debates em torno da Assembleia Nacional Constituinte apoiados pelo CIMI NE e seus representantes viajaram para a Brasília para participarem em estudos e seminários e influenciar os deputados que elaboraram a nova Constituição. Destacou-se a liderança de Francisco de Assis Araújo, que foi escolhido ser o cacique e o povo iniciaram as retomadas das terras invadidas pelos fazendeiros. Justificaram isso pelas memorias orais dos índios, inclusive sua participação na Guerra do Paraguai. Pedra d’Água foi ocupado pelos índios em 1990; mas a oposição argumentou não eram índios porque não falavam uma idioma indígena (Silva 2009.30, 34).

Seis caciques escreveram uma carta à FUNAI: ‘Não queremos tomar terra de ninguém, mas queremos que a FUMAI demarque nossa área, que é a mais antiga em Pernambuco não mal definida. Estamos com medo. Não sentimos seguros andar sós, somos obrigados andar em grupos . . . Somos verdadeiros homens somente quando plantamos feijão, mandioca, beiju e milho para comer. Morremos de fome . . ‘ Afinal a FUNAI demarcou 26.980 hectares em março 1991, porém nada foi feito para expulsar os posseiros. Os índios ocuparam apenas 4.300 ha e Francisco de Assis Araújo, que era um dos autores da carta, começou a ocupar as fazendas, e os fazendeiros era armados contras os índios. Mas muitos índios queixaram que Araújo os intimidou para apoiar seu grupo. Um advogado apoiando os índio foi morto e um decreto pediu os posseiros revindicar suas terras dentro a reserva (Hemming 2003.597). Com a demarcação da Terra em 1991 o conflito intensificou. Depois os assassinatos de Araújo em maio 1998 e de outros seus lídres e muitas invasões, o governo reconheceu sua terra. O bispo católico deseja transformar seu território em sítio de peregrinação. Em 1998 seu líder de doze anos, Xicão foi morto. Em 2001 seu líder, Chico Quelé foi morto. A T. I. foi homologada em 2001 (Fialho e Neves 2009).

Estilo da Vida: Os Xukuru habitam as montanhas que têm uma altitude de 1.125 m., da Serra do Ororubá, distribuídos em 20 aldeias. A Terra é cortada pelos rios Ipanema e Ipojuca, que contribuem a fertilidade do solo e fornecem água para a cidade de Pesqueira. Vivem de plantações de feijão, banana, mandioca e milho. Também criam cabras e gado leiteiro. Muito dos produtos são vendidos em Pesqueira. O mercado reserva os sábados para o comércio Xukuru (Fialho e Neves 2009).

Sociedade: Desde 1988 o povo tem um Conselho de Representantes da aldeias com 24 membros que se encontra mensalmente. Em 1992 foi criada a Comissão Interna composta de treze líderes escolhidos pelo cacique para resolver questões mais urgentes. Há outras organizações que tratam a educação a saúde e a assistência técnica.

Artesanato: Peças são fabricadas pelas mulheres em todas as aldeias para o comércio nas feiras de Pesqueira e Poção.

Religião: Os Xukuru são católicos, mas preservam parte da sua própria religião que envolve o respeito à natureza. A Terra Mãe supre tudo que o índio precisa para sua vida, e ele deve a respeitar (Rabben 2004.152). Ensinam sua tradições nas suas escolas com o currículo nacional.

Um lugar segredo é uma clareira num bosque com uma pedra grande de sete metros de altura e os túmulos dos três lídres mortos. Centenas de Xukuru congregam no lugar para honrar os mortos. Aqui celebram o Toré que consiste em uma dança dos homens e as mulheres que andam ou correm em um círculo, batendo o chão com os pés, seguindo o ritmo de maracás. O jupago é o instrumento que marca o ritmo dos passos. Enquanto eles dançam eles cantam e os líricos demonstra a influencia do catolicismo popular, porque dizem Joana d’Arc está presente no terreiro. Esta é a padroeira da França e foi uma heroína da Guerra dos Cem Anos, morta pelos inglêses acusada ser feiticeira em 1431. É uma história remota dos índios, mas é símbolo de resistencia contra invasores (Rabben 2004.151). Os ancestrais, os encantados, escolham os lídres.

Os caboclos e encantados podem ser encontrado nas matas, nos lajedos e nas fontes d’água para fazer pajelança. Diversas pedras grandes ou lajes são importantes para realizar os rituais xukuru. Os Xukuru entoam canções sobre os encantados reis como Orubá, Canaã, Jericó, Pai Tupã, Mãe Tamain e São João. A Mãe Tamain é uma estátua da Nossa Senhora das Montanhas que os Xukuru acharam na mata, portanto é da natureza e não de crença católica.

Cosmovisão:

Comentário: Durante os séculos na Europa o Cristianismo tornou se uma religião urbana, e perdeu o ensino bíblico sobre o meio ambiente e a responsabilidade do homem como a imagem de Criador para governar a natureza (Gen 1:28). O homem falhou em dos primeiros desafios com a serpente, a natureza com a capacidade de rebelar, demonstrando a necessidade do homem, como a imagem de Deus, e ter ‘domínio’ para aplicar a vontade do Criador à natureza pela sua obediência (Gen 3:1,6). Também o valor do meio ambiente e seu cuidado é indicado pela Canaã. A terra prometida era tratada como um padrão de toda a terra e ela mesma era corrompida pela idolatria dos cananeus. A providencia divina dos recursos naturais da terra cessaria conforme a desobediência do povo, e ela mesma vomitaria o povo.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • FIALHO, Vânia, NEVES, Rita de Cássia M. 2009, ‘Xukuru’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/xukuru
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • RABBEN, Linda, 2004, Brazil’s Indians and the Onslaught of Civilisation, Seattle & London: University of Washington Press.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com
  • SILVA, Edson, ‘História Xukuru: Por uma História Indígena no Nordeste em Novas Abordagens’ , Laboratório de Estudos em Movimento Étnicos. Cadernos do LEME, Campina Grande, vol.1, nº1, p.28,46 jan/jun 2009