Yawalapiti

David J. Phillips

Autodenominação: Yawalapiti significa ‘aldeia dos tucuns’ que era sua localização mais antiga próxima à confluência dos rios Kuluene e Batovi, nas cabeceiras do rio Xingu.

Outros Nomes: Iaulapiti, Iauanauá (DAI/AMTB 2010); Jauapiti, Yaulapiti (SIL).

População: 231 (DAI/AMTB 2010); 156 (IPEAX 2011); 220 (SIL 2006).

Localização: No Alto Xingu, na parte sul do Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso. O Parque é de 2.642.004 hectares com 16 povos indígenas com uma população total de 5.982 (SIASI/SESAI 2012). A aldeia Yawalalapiti é situada na confluência dos rios Tuatuari e Kuluene, cinco km. do Posto Leonardo Villas Bôas.

Língua: Yawalapiti (Kuikuro/ Kamayurá) (DAI/AMTB 2010), é da família linguística Aruak. A língua é classificada da família linguística: Maipureana Central ou as línguas pareci-xingu entre as línguas Aruak e quase extinta (SIL). Outras línguas semelhantes faladas no Parque são Mehinako e Wauja. As línguas Kuikuro e Kamaiurá predominam na aldeia, devido aos casamentos mistos. Apenas quatro ou cinco pessoas falam Yawalapiti (Viveiro de Castro 2003).

História: O primeiro contato entre os Yawalatipi e os europeus ocorreu em 1887 pela expedição de Karl von den Steinen. Até aquele momento as cabeceiras do rio Xingu ainda eram território desconhecido. A expedição teve primeiro contato com Bakairi isolados. Von den Steinen descobriu que os povos do Alto Xingu, inclusive os Yawalapiti, tinham comercio e participavam de jogos interétnicos e tem costumes e artefatos semelhantes (Hemming 1987.403). Nesta época os Yawalapiti viviam no alto rio Tuatuari e a expedição receberam a impressão que o povo era pobre com pouco alimento. Von Steinen descreveu a alegria do índios quando usaram ferramenta de aço pela primeira vez. Antes derrubaram as arvores com machados armados das dentes de piranhas. Dançaram pela mata com facas e machados de aço cortando ramos com abandono delirante (Hemming 2003.78).

Em 1915, Cel Rondon enviou uma expedição para mapear a região ao oeste do rio Xingu e encontraram os Kayabi, que a ameaçaram por muito tempo das margens dos rios. Os mesmos Kayabi atacaram os povos do alto Xingu, inclusive os Yawalatipi. Em 1924 outra expedição do SPI com uma equipe cientifica suíça fez um mapeamento os rios Ronturo, Jabotá e voltou pelos Culuene e Culiseu. Visitaram as aldeias dos Yawalatipi entre outras (Hemming 2003.77).Os Yawalapiti sofreram uma decadência como grupo e a aldeia, ‘Aldeia dos tucuns’, dissolveu-se na década de 1930, devido aos ataques dos Trumai ou os Manitsawá. Um grupo sob a liderança de Yanumaka subiu o rio Kuluene e o rio Tuatuari até Yakunipi, primeira aldeia dos atuais Yawalapiti. Um outro grupo continuou subindo o rio Kuluene até as cabeceiras.

Os irmãos Villas Boas passaram o maior tempo de 1947 nas cabeceiras do rio Xingu. Eles tornaram-se amigos dos Kamayurá e depois dos Yawalapiti. Eles descobriram os Yawalapiti dispersos entre os Kuikuro e sem uma aldeia própria depois da morte do seu chefe Aritana. Os Villas Boas os encorajaram a construir sua aldeia de novo e pagaram pela comida e pela ferramenta. O novo chefe era outro Aritana, que se tornou o chefe representante de todo o Alto Xingu (Hemming 2003.137). Em 1954 uma epídema de sarampo arrasou a região e 20% da população morreu, incluindo dos Yawalapiti. 393 índios foram tratados pelos médicos do SPI e depois 1965 por médicos voluntários da Escola Médica de São Paulo (Hemming 2003.155).

Os Txikão raptaram duas moças Waurá e estes tentaram libertar as moças, matando doze Txikão, que se retiraram no mato. Os Villas Boas montaram uma expedição de contato. Os Txikão voltaram para ameaçar as aldeias dos Aweti e Yawalapiti, uma situação que foi resolvida quando o contato sucedeu e os Txikão foram transferidos ao Parque do Xingu (Hemming 2003.164). O Parque foi criado em 14 de abril, 1961 com uma área de 26.420 km. quadrados dentro de nove municípios de Mato Grosso. Por muitos anos o Parque é administrado pelos indígenas, as quatorze etnias são unidas politicamente pela Associação da Terra Indígena Xingu e o diretor da FUNAI do Parque é indígena Aritana Yawalapiti.

Estilo da Vida: As aldeias dos Yawalapiti situa-se com as aldeias dos Kiabi, Yudja e Suya nas margens da lagoa Ipavi, seis quilometras do rio Kuluene. A aldeia é formada de um círculo de casa comunais em redor de uma praça de terra limpa. No centro da praça é a casa dos homens com bancos no lado de fora. Nesta casa se escondem as flautas cerimoniais e os homens se reúnem para conversar ao crepúsculo e se pintam para as cerimônias. As casas são cobertas de sapé e não tem divisões internas, exceto os gabinetes de reclusão onde ficam os adolescentes em reclusão pubertária. Os casais com filhos recém-nascidos e os viúvos de luto também fiquem no gabinete (Viveiros de Castro 2003).

Cada casa abriga uma família extensa virilocal e forma uma unidade econômica, relativamente independente das outras. Cada casal com seus filhos armam sua redes nos esteios internos, na forma de um leque pendurado entre as parede e o esteio interno. Cada família tem um fogo próprio para se aquecer a noite e cozinhar. Há um espaço central entre os esteios entre as portas no eixo maior da casa, que aponta ao pátio. Neste espaço são guardadas grandes panelas de água. Uma porta dá ao pátio e a outra ao exterior do círculo. Dentro a casa perto da porta exterior é o fogo comunal para cozinhar o beiju (Viveiros de Castro 2003). A aldeia acorda-se antes de cinco horas, quando as mulheres vão buscar água. Depois de um banho os homens partam para a roça ou a pesca. Os homens voltam ao meio-dia para almoçar. À tarde os homens descansam. No crepúsculo as famílias ficam nas portas das casas para conversar ou limpara os corpos de piolhos, pentear cabelos ou pintar os corpos.

Sociedade: Os Yawalapiti segue muitos padrões das sociedades do Alto Xingu. Os casais da classe dos lídres ou prestígio, os amulaw Yawalapiti, vivam virilocal, mas os casais ‘comuns’ passam um tempo uxorilocal antes de mudar para viver virilocal. Há famílias formadas por homens que trocam irmãs, ou família nucleares com o viúvo pai ou viúva mãe. Pais, filhos e irmão formam um grupo por toda a vida. O chefe, putaki wikiti, ‘dono da aldeia’, é escolhido entre os amulaw e representa o grupo para com as outras etnias no Parque e aconselha a aldeia a seguir os costumes do Alto-Xingu (Viveiro de Castro 2003).

O povo tem demonstrado interesse em recuperar a sua língua e recebeu a ajuda e uma linguista. Em 2002 desejavam construir uma escola indígena e enviaram pessoas para participar do curso de Formação de Professores Indígenas (Viveiro de Castro 2003).

Artesanato:

Religião: As cerimônias são realizadas na praça. As flautas ficam penduradas na viga mestra da casa dos homens. São tocadas dentro na casa de dia e somente na praça à noite para evitar que as mulheres as vistam (Viveiros de Castro 2003).

Os mortos são enterrados na praça, pessoas de prestígio em um túnel entre dois buracos, enrolado na sua redê suportado por dois esteios nos buracos. Pessoas comuns são enterradas em uma cova simples (Viveiros de Castro 2003).

Cosmovisão: Os Yawalapiti conceituam as mudanças do corpo humana ser a causa de transformações de identidade social; assim os processos fisiológicos são integrados aos processos sociológicos. Mais a cultura social ‘fabrica’ o corpo e esta fabricação subordina a Natureza informe ao desígnio da Cultura. Esta fabricação acontece durante as relações sexuais repetidas, quando o pai ‘constrói ‘ o filho no corpo da mãe, durante a reclusão pubertária quando os cuidam do recluso, e durante a cerimônia dos mortos. Também o xamã ‘fabrica’ outro xamã novato (Viveiros de Castro 1979.42).

O termo itsati descreve as pessoas hábeis na confecção de bancos, máscaras, adornos de penas, cestos e flautas. Neste sentido, o artesão é o modelo por excelência do criador o demiurgo, Kwamuty, que que produziu o artefato mais precisos -os humanos. Conforme os mitos o demiurgo, Kwamuty ou Mavutsinin, fabricou os primeiros humanos por soprar fumaça de tabaco sobre toras de madeira postas em um gabinete de reclusão e criou a mãe dos gêmeos Sol e Lua, os protótipos da humanidade (Viveiros de Castro 1979.43). O tabaco é a substância xamanística por excelência e tem funções criadoras: induz o transe, cura doenças, benze’ pessoas e objetos (Viveiros de Castor 1979.46). Esta mãe era mortal, celebrada na festa dos mortos. O demiurgo Kwamuty é também chamado itsati que significa ‘festa’ e ‘ritual’, que se refere a cerimônia dos mortos (Viveiros de Castro 1979.43).

Esta festa é uma reencenação da criação da humanidade, um ano depois da morte, que libera a comunidade da presença dos mortos. Seu símbolo central são toras da mesma madeira primeva, verdadeiros duplos dos mortos. É o momento de apresentação pública dos jovens e moças recém-saídos da reclusão pubertária. As moças de pau transformam-se em gente depois de encerradas no gabinete de palha (pöjur). Portanto a cosmologia Yawalapiti não apenas explica o mundo, ela produz os próprios Yawalapiti. A reclusão produz a pessoa ideal, e defeitos de caráter ou defeitos físicos são explicados por não ter seguidos as regras alimentares e sexuais e a pessoa é candidato ideais a acusações de feitiçaria. A reclusão e a transformação é um tempo de vergonha, e por isso escondido do ambiente social, e vulnerável como um recém-nascido (Viveiros de Castro 1979.44). O corpo é visto como modelo da aldeia. A manipulação de alimentos entrando e saindo do corpo define o domínio da casa, do privado e do secreto. O exterior com pintura corporal, é como tela aonde se depositam as marcas de status público (Viveiro de Castor 1979.47).

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com
  • VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B., 1979, ‘A Fabricação do Corpo na Sociedade Xinguana’, Núcleo de Estudos e Assuntos Indígenas UFT – Universidade Federal do Tocantins Campus de Porto.
  • VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2003, ‘Yawalapiti’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/yawalapiti.