Ye’kuana

David J. Phillips

Autodenominação: Ye’kuana que significa ‘povo da canoa’ ou ‘povo do tronco na água’. Quando se referem como so’to que quer dizer ‘gente’ (Moreira-Lauriola 2003).

Outros Nomes: Makiritare é nome dado pelos Arawak, e adotados pelos Espanhóis. Maiongong é outro nome usado no Brasil.

Population: Venezuela: 3.200 (Mekler 1992),4.800(Venezuela – 2000) (Moreira-Lauriola – 2000), 4.970 (1975 Gaceta Indigenista). 3.100 (Wilbert 2009).

No Brasil: 430 (DAI/AMTB 2010), 430 (Moreira-Lauriola – 2000) 270 (SIL 1986); .

Língua: Maquiritari da família Karib sulista, outros nomes: Maiongong, Yekuana, De’cunana, Soto, etc. Dialectos: Cunuana, De’cuana (Wainungomo), Ihuruana, Maitsi, Mayongong (Ye’cuana, Yekuana). (Ethnologue)

Localização: Venezuela: Vivem nas serras na margem norte do Rio Orinoco, um território atravessado por cinco afluentes, os rios Cunucunuma, Iguapo, Padamo e alto Venturi e alto rio Caura, nos Estado de Bolívar e no Estado de Amazonas (Wibert 2009).

Brasil: 430 pessoas vivem em duas aldeias às margens dos rios Auraris e uma terceira no rio Uraricuera, no noroeste do Estado de Roraima. A região é rica em caça e peixe (Rodriguez e Sarmiento, 2000). Certos lugares, como a Ilha de Maracá no rio Uraricoera são de importância mitológica para os Ye’kuana. Seus vizinhos são os Sanuma, um ramo dos Yanonami. A região do rio Auaris e parte do rio Uraricoera formam a Terra Indígena Yanomami de 9.665.000 hectares, homologada e registrada.

História: Há alguns séculos os Ye’kuana migraram para norte dos rios do Amazonas no Brasil, entrando no sul da atual Venezuela, deslocando os povos Arawak que estavam na região. Devido à inacessibilidade do seu território o contato com os espanhóis e os portugueses houve somente na segunda metade do século XVIII. Mas no século antes viajavam pelo território brasileiro para caçar e chegaram no rio Branco.

Entre 1781 e 1701 os espanhóis penetraram a região para contrariar o avanço dos Portugueses. Os Ye’kuana dividiram os conquistadores em dois grupos conforme duas experiências com eles. Os da primeira experiencia era os de Wanadi, o supremo ser, que é representado por a garça branca, e mestre de metais, ferro e as armas de fogo, com quem se aliaram. Assim o primeiro contato com os espanhóis eram satisfatório, e os índios prometeram se converter ao catolicismo e aceitaram a proteção espanhola dos outros indígenas. Porém seis anos depois os espanhóis voltaram com uma força militar e os sacerdotes proibiram a religião dos índios, diziam que tinham capturado o Wanadi.

Os outros do segundo encontro são de fañuru que fazem o mal, conquistando o território e escravizando o povo. Estes espanhóis incluiriam militares que obrigaram os índios trabalhar nas construções dos fortes. Também chegaram missionários capucinos e franciscanos, mandados pela Coroa espanhol, para converter os indígenas. Mas o povo acreditaram que Wanadi escapasse dos padres e fosse para o céu, e um dos seus pajés liderou a resistência dos Ye’kuana em uma revolta em 1776 e e em consequência os espanhóis abandonaram a região (Mekler 2001).

Os Ye’kuana contam: ‘Tivemos contato com os Conquistadores por vinte anos, mas cansamos do seu desejo de nos evangelizar e sua avareza para o ouro. Rebelamos e recuamos para dentro das montanhas no meio do nosso território. Estabelecemos um novo comercio com os holandeses no antigo Guine Holandês.’ No século XX, entre 1914 e 1921 nossas aldeias foram destruídas e 1.000 do nosso povo foram mortos por um seringueiro brasileiro, Funes por nome. Desde então temos receio de brancos (yekuama.chez).

‘Nosso território e nosso estilo de vida são atualmente ameaçados por projetos de extrair minério e a construção de represas. Nosso desejo é para manter nossas tradições e espiritualidade por evitar mudança de cultura e evangelização que estes fenômenos trazem. Porém queremos muito nos integrar no mundo moderno para que sobrevivamos nele. Desejamos manter nossa soberania cultural enquanto estabelecendo bons laços econômicos com o mundo ocidental; frisamos que nossas crianças sejam educadas para melhor se proteger nas gerações futuras.’ (Isaias Rodriguez, cacique de Jodoimenña (Yekuama.chez 2009).

No principio da década 50 os missionários da Missão Novas Tribos começaram seu trabalho no Amazonas, na Venezuela e os salesianos os seguiram. Os Ye’kuana se concentraram em redor das missões. Depois no lado brasileiro, começou o trabalho dos obreiros da Missão Evangélica da Amazônia (MEVA) no alto rio Auaris com a ajuda na pista de pouso da FAB. Os Ye’kuana perceberam que a interesse dos missionários estava voltado para os Yanomami Sanumá e retiraram-se da missão. Um casal missionário não foi bem recebido pelos Ye’kuana e saíram depois dois anos.

Nos anos 90 o Exercito Brasileiro instalou uma base em Auaris com uma represa hidroelétrica. Também veio um invasão de garimpeiros que dizimou a população com violência e doenças. Depois muitos anos de campanha afinal as autoridades no Brasil e na Venezuela reconheceram o Território Yanomami em 1992. Em janeiro 2009 mineiros de ouro mataram um chefe Ye’kuana e feriram seu filho em Roraima, porque eles recusaram os levar para cima das cachoeiras no rio Urarioera e penetrar no Território dos Yanomami. Apesar dos protestos dos Yanomami as invasões estão aumentando (Survival International). Depois uma missionária da MEVA trabalhou entre eles por 17 anos na área de alfabetização.

Estilo de Vida: Os Ye’kuana estabelecem suas aldeias perto dos rios. Transito nos rios é facilitado por eles fabricam canoas grandes. A maloca é circular com paredes de barro e uma telhado cônico de palha; dentro a área central é deixada livre para as cerimônias, com bancos para os homens conversar e os pajés fazer curas perto do esteio central. Aqui também os jovens não casados dormem à noite. Esta área central está fechada em redor por uma parede de palha, e o espaço entre esta parede e a parede exterior é dividido em compartimentos, cada um para uma família estendida. Os compartimentos de famílias representam as oito camadas do céu em que habitam os espíritos (Mekler). Os Ye’kuana creiam que este desenho era escolhido por Wanadi, o Supremo Ser, e conforme o mundo celestial ou representa a montanha sacra.

O povo muda de lugar depois alguns anos, abandonando a maloca para construir uma nova alguns quilômetros distantes para deixar a terra das roçadas e a caça recuperar. O povo são cultivadores de mandioca, batata doce, pimentas, cana, tabaco e abacaxi, em roçados na floresta. A caça pelos homens é mais importante do que a pesca. Os homens caçam, preparam as roçadas, fabricam as cestas, as redes de algodão, as canoas, zarabatanas, os instrumentos musicais e os bancos cerimoniais na forma de onças. Os homens usem veneno curare do cipó comum (Strychnos Sp) e de sapos venenosos para os dardos das zarabatanas. As mulheres fabricam fio de algodão, balaios, cultivam e colhem dos jardins, e a preparação da comida inclusive a farinha de mandioca. Cada família tem uma palhoça retangular de trabalho fora da maloca.

Usam colares cruzados no peito de semente e dentes, com roupa ocidental. Os homens usam ornamentos de prata na forma de uma crescente e as mulheres a mesma na forma de um triangulo e usam aventais. Ambos usam cordas em redor dos braços e as pernas para acentuar os músculos (Wilbert).

Artesanato: Os Ye’kuana são muito conhecidos de ser a única tribo do noroeste por fabricar canoas eficientes, que podem acomodar vinte pessoas. A região do rio Auaris é uma área de difícil acesso devido às correntezas e quedas d’água. Apesar disso os Ye’kuana desenvolveram uma habilidade para o comércio dos seus produtos de artesanato, viajando centenas de quilômetros. Os homens são os guardas da cultura e a cestaria é a expressão disso, especialmente a fabricação da waja tomennato, cestas pintada com desenhos geométricos, que representam o aspecto dualista do universo e da maloca, entre o centro sacro dos homens e a periferia mundana das mulheres. A fabricação das cestas, e também da própria casa, é um ato de amansar os produtos da floresta brava para o controle do criador, e cumprir o papel do homem.

Sociedade: Três grupos de Ye’kuana são distinguidos conforme o seu local nos rios, e falam dialetos diferentes, mas mantêm contato uns com os outros, e com outras etnias (Wilbert 2009). A sociedade Ye’kuana é dividida em assentamentos autônomos de algumas famílias estendidas com entre oito até oitenta habitantes. As aldeias consistam de malocas redondas com um só departamento de um casal com filho e filhas casados com os netos, e outras com diversos departamentos sendo os habitantes uma família extensa madura (Moreira-Lauriola 2003). Casamento endógamo com primos cruzados é preferido, morando com os pais da mulher. Os Ye’kuana que se casam com mulheres Sanumá saim para morar com os Sanumá.

A liderança fica com um chefe e os anciões ou lideres de famílias. Os conflitos são resolvidos com o apoio da família da pessoa ofendida; um discordo sério pode dividir a aldeia. Também há um conselho dos homens jovens, casados ou solteiros que participa na discussão das negócios da comunidade. Em comparação com seus vizinhos, os Sanumá, os Ye’kuana se organizam melhor em relações com o mundo dos brancos. Eles ganham trabalho salariado e mantêm uma casa de apoio em Boa Vista (Moreira-Lauriola 2003).

O rito de passagem para serem adulto: Primeiro os rapazes mudam do compartimento familiar deixando suas mães para o centro da maloca onde os homens convivem e os pajés fazem as cerimônias. Aqui os homens ensinam os costumes de ser homem. No rito os rapazes são chicotados e têm que passar pela provação de ser mordidos pelas formigas. As moças são separadas no seu compartimento familiar por seis meses e seu cabelo cortado, e quando o cabelo cresce de novo elas podem se casar (Wilbert).

Religião: As festas religiosas maiores são para celebrar a construção de uma nova maloca ou o plantio de uma nova roçada em fevereiro. Esta é realizada na aldeia, todo o mundo se adorna e chama os espíritos para participar por tocar as trombetas, relatam a estória de como Wanadi ensinou os primeiros Ye’kuana plantar, o pajé assente no branco onça e assim recebe o espírito da onça e as danças continuem com todos os homens embriagados.

Os pajés recebem os instrumentos do seu papel de curandeiro de Wanadi, os supremo ser, inclusive o maracá ou bastão e o banco de onça. Curam por cânticos e fumo e chupar as doenças dos corpos. Os Ye’kuana que morrem fora da maloca são enterrados em uma canoa fora; os que morrem dentro da casa são enterrados no lugar onde dormiam. Quando muitas pessoas morrem por uma epidêmica são enterradas dentro da casa e a casa é queimada e o lugar abandonado.

Cosmologia: Os Ye’kuana possuem uma ‘tradição’ ou ‘história’ ou watunna de mitos que explicam a origem do universo e as regras primordiais da sua cultura. Esta tradição dos Antigos fornece modelos para o conduto da sociedade de hoje.

O universo consiste de três níveis de terra, oito camadas celestiais e o mundo subterrâneo. O esteio central da maloca é a entrada simbólica aos níveis. O assentimento ou maloca (atta) representa o universo, um desenho ensinado por Wanadi (Guss 1989). O telhado cônico em cima é construído de palha wahu, representando o Lago de Imortalidade. A parte do telhado mais baixo feito de palha maahiyadi representa as seis casas dos espíritos e dos mestres dos animais. Dentro há duas traves atravessando o interior que estão orientadas leste-oeste e norte-sul representando os extremos da terra, e os caibros representam outras estruturas do céu. O centre do chão é sacro e os compartimentos familiares são associados com a criação mundana. O Supremo Ser é Wanadi, o filho do sol é conceituado com luz absoluta, que mora no nível mais alto do céu com sua família e o grupo de espíritos ancestrais.

O supremo ser Wanadi criou o mundo. Para povoar a terra Wanadi criou os Ye’kuana do solo, fumou tabaco e sacudiu sua marcara, e as criaturas tornou a viver. Esta criação aconteceu na Monte Dekuana, o centro do mundo chamado Ihuruña e está situada perto da nascente do rio Orinoco, e os Ye’kuana que moram lá são considerados o povo mais autêntico. A humanidade é vista como fabricante de cultura prática e intelectual então o artesanato é uma afirmação da sua criação como humano (Guss 1989).

O supremo ser Wanadi é criador mas apesar disso falhou em criar um mundo perfeito, porque Odesha, o diado, destruiu cada obra criativa que fez. Desde então o Odesha tem dominado o mundo, trazendo a morte e o sofrimento humano. Para defender sua ambiente imediata Os Ye’kuana usam a tinta sacra, ayawa, e cantam os cânticos (Yekuana.chez 2009). Conforme um mito: Um dia uma raça de macacos bravos, com seu cacique-pajé Odosha, o diabo, atacaram os Ye’kuana, porém os Ye’kuana os derrotaram e dentro as bolsas do Odesha acharam os desenhos para as suas cestas. Guss interpreta os desenhos como um meio para ter contato com o sobrenatural.

Um povo fez um truque de dois espíritos, pedindo que eles carregassem água em uma peneira, naturalmente a água derramou no chão. Quando perceberam isso, o espírito da montanha mais alta caiu, o chefe das aves recusou dar comida para eles, e o trilho de volta do rio ficou cheio de cipó e arbustos. Depois de atravessar o rio os dois espíritos estavam sentados em uma arvore infelizes e cheios de ciúme, espiando de longe o povo festejando felizes e com muita comida. O povo não quis nada com os espíritos. Um espirito reclamou, ‘O povo fez bobos de nós, vou me tornar em onça e comer os homens.’ Assim começou este mal de onças atacar gente. O outro espírito não ouviu bem o que o primeiro espírito falou. Entendeu que falasse ‘Agora vamos comer folhas e raízes.’ Este espírito virou em anta e hoje os Ye’kuana caçam anta na montanha caída (Meklar 2001).

Comentário: A Missão Evangélica da Amazônia apóia uma escola Ye’kuana (blogdaeva).

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • GUSS, David: 1989, ‘To Weave and Sing: Art, Symbol, and Narrative in the South American Rain Forest’ Berkeley: University of California Press, 1989. www.research.ucla.edu/lsweb/Fowler/HTML/Universe.htm.
  • HEMMING, John, 2003, Die if You Must: Brazilian Indians in the Twentieth Century, London: Panmacmillan.
  • MEKLAR, Adam et al, 2001, Under the Canopy: myth and reality in western and northwestern Amazonia, TX: Fresno Art Museum.
  • MOREIRA-LAURIOLA, Elaine, 2003, ‘Ye’kuana’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/yekuana.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version www.ethnologue.com.:
  • SURVIVAL International (www.survival-international.org/news/4133.) acessado 10 de junho 2009.
  • WILBERT, Johannes, sem data ‘ Ye’kuana’,www.everyculture.com/South-America/Yekuana-Orientation.html., acessado 10 de junho 2009.
  • YEKUNANA-CHEZ, 2009, Gonzalo e Isaias Rodriguez, cacique de Jodoimenña, yekuana.chez.com.htm., acessado 10 de Juno 2009.