Bará – Waípinõmakã

David J Phillips

Autodenominação: Waípinõmakã (Cabalzar 2006.43), Wai-maha (Olson 1991.51).

Outros Nomes: Pokanga, Pokanga-Tapuya, Maku-Bará, Barasána do Norte (Olson 1991.51). Bara tukano (DAI/AMTB 2010).

População: 100 em 1900 e 500 em 1980 (Olson 1991.51). Brasil: 39, Colômbia: 939 (DAI/AMTB 2010). Brasil: 22 (SIASI/SESAI 2012). 296 (1988), Brasil: 54, Colômbia: 296 (Cabalzar 2006.43).

Localização: Vivem nas cabeceiras do rio Tiquié, acima do povoado de Trindade, na Colômbia; o alto igarapé Inambú, afluente do Papuri e o alto rios Colorado e Lobo, afluentes do rio Pirá-paraná (Cabalzar 2006.43). Em uma Terra Indígena:

  • T I Alto Rio Negro de 7.999.380 ha homologada e registrada no CRI e SPU com 16 etnias, população total 26.046 (SIASI 2013).

Língua: Falam Maku-Bará entre si na vida cotidiana, mas Tukano com os vizinhos. A língua é Pokangá que pode ser o mesmo de Barasana (SIL).

História:
Os Bará são um dos Tukano Orientais e vivem nas cabeceiras do rio Tiquié afluente do rio Vaupés e nas margens dos rios Pirapiraná, Japú, Mitu e Caruru na Colômbia. São considerados de ser um sub-grupo dos Barasaná por alguns antropólogos. São relacionados aos Tuyuka. Esses povos falam línguas da família Tukano Oriental como a língua franca, apenas os Tariana têm origem Aruak, e participam de uma ampla rede de trocas, que incluem casamentos, rituais e comércio, compondo um conjunto sócio-cultural definido, comumente chamado de ‘sistema social do Uaupés/Pira-Paraná’. Acerca de 20.000 pessoas falam o Tukano (Equipe 2003). Esse sistema entre os povos mantem a diferença entre eles e possibilita a interdependência.

Na época da borracha vieram os missionários católicos Franciscanos e depois os Salesianos que consideraram a cultura má, e tentaram destruir a cultura e as línguas. Queimaram as malocas e transformaram as aldeias em casas em fileiras e levavam os filhos para seus internatos, onde foram proibidos falar sua línguas. Os Salesianos alcançaram o alto rio Tiquié na década 40 e destruíram a última maloca nos anos 60. Depois vieram os evangélicos e também pessoas mudam-se para São Gabriel da Cachoeira em busca de educação e emprego.

Estilo da Vida: No passado os Bará moravam em malocas de forma semelhantes aos demais povos Tukano. Mantêm uma agricultura de coivara nas roças na floresta, o produto principal sendo a mandioca brava. Os antropólogos Peter Silverwood-Cope e Howard Reid viviam entre os Bará e os Hupdah durante os anos 60 e 70 e aprenderam do profundo conhecimento deles da floresta. Viviam em pequeno grupos familiares e prontos para mudar-se (Hemming 2003.251). Provavelmente os Bará eram os patrões dos clientes Hupdah neste caso, recebendo o serviço dos ‘Maku’ trocando produtos agriculturais pelos frutos silvestres e a carne da caça.

Sociedade: Os Bará se dividem em oito sibs (Cabalzar 2006.43) em uma hierarquia, classificadas conforme o mito na canoa anaconda. Os clãs considerados menores na hierarquia moram nas cabeceiras dos rios. Formam grupos patrilineares e exogâmicos, casando com mulheres que falam outra língua no grupo. Os Barasana tendem a casar-se com os Bará, estes casam-se com os Tatuyo.

Artesanato: São especializados em confeccionar o aturá de turi, usado onde não são disponíveis os aturás de cipó maku (Cabalzar 2006.43) ou cipó-titica (Heteropsis Jenmani) feito pelas mulheres ‘maku’. Os aturás feitos pelos chamados Maku são usados para carregar a mandioca da roça para a aldeia e têm a vantagem de não apodrecimento em água (Hemming 2003.250). Fabricam a tinta do carajuru (Arrabidoea chica), canoas e os adornos de plumas usados nas grande cerimonias (Cabalzar 2006.43).

Religião:
Os rituais usam as flautas sacras Yurupari, a pintura vermelha do carajuru, cera de abelha, cera de breu, tabaco e ayahuasca. A vida nas malocas e a rica diversidade ritual que a acompanhava persiste agora somente na memória dos mais velhos (Equipe 2003).

No lado colombiano os missionários Javerianos eram identificados com a Teologia da Libertação, que pregava a tolerância com a cultura indígena , junto com o isolamento da região, explica porque os habitantes do Pira-Paraná ainda conseguem conservar boa parte da sua religião tradicional.

Cosmovisão: O universo é feito de três camadas, céu, terra e o o mundo subterrâneo. O céu e o mundo subterrâneo são identificados conforme o contexto. As estrelas são os habitantes do céu que dormem durante o dia. Nesse esquema os Bará são Povo de Peixe ou da Água. Os Barasana sendo o povo da Terra representam a onça, casam-se com os Bará, o Povo de Peixe que o mito representa uma mulher peixe, filha da Anaconda peixe, o ancestral do Bará (Equipe 2003).

Comentário:

Bibliografia:

  • CABALZAR, Alosio, 2006, (Redator) Povos Indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambiental do noroeste da Amazônia brasileira, São Gabriel da Cachoeira/ São Paulo: FIORN-ISA.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • EQUIPE do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA), 2002, ‘Bará’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/bara
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • JACKSON, Jane Elizabeth, 1984, The Fish People: Linguistic Exogamy and Tukanoan Identity in Northwest Amazonia (Cambridge Studies in Social and Cultural Anthropology), Cambridge University Press.
  • OLSON, James Stuart, 1991, The Indians of Central and South America: An Ethnohistorical Dictionary, Westport, CT, USA: Greenwood Press.
  • SIL 2014, Lewis, M Paul, Gary F Simons, & Charles D Fennig (eds), 2014, Ethnologue: Languages of the World, 17th edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version www.ethnologue.com
  • WRIGHT, Robin M, 2005, História Indígena e do Indigenismo no alto Rio Negro, Campinas: Mercado de Letras, São Paulo: ISA.