Canela

David J Phillips

Autodenominação: Dois grupos: Os Ramkókamekrá que significa ‘índios do arvoredo de almécega’, mas atualmente usam como autodenominação Canela. Os Apanyekrá se autodenominam como tal, que significa ‘povo da piranha.’

Outros Nomes: Canela, que vem do português, é o nome dado pelos brasileiros, ao osso da perna inferior e assim eram chamados porque estes indígenas eram mais altos do que os mais próximos com ‘canelas finas’. Crossman deu a interpretação de a especiaria e resolveu os chamar de falantes de Gê (1982), mas mudou para o sentido em cima (1994). Antigamente três grupos eram chamados Canela: os Kénkateye, Apányekrá e Ramkókamekra. A FUNAI usa Kanela. São parte dos Timbira Orientais e descendentes dos Capiekrans, conhecidos antes de 1820. Os Timbira consistem de cinco povos e os Canela os chamam de Me(n)hi(n). Os Kénkateye se separaram dos Apanyekrá nos meados do século XIX e foram massacrados em 1913.

População: 2.502 (2008) Instituto Antropos (2009): Seu número está crescendo: Estimativas: Antes de 1700: 1-2.000. Ramkokamekra (Escalvado): 300 em 1930, 412 (1960), 437 (1970), 514 (1975), 791 (1986), 836 (1988) e 903 em 1989. Apanyekra 250 (1970) em Porquinhos (Green & Crocker 1994).

Localização: Moram nos cerrados, em duas comunidades no município de Barra de Corda, Maranhão. Antigamente havia três grupos de Canela, porém o Kenkateye foi extinto em 1913, depois um ataque por fazendeiros,que mataram todos os homens adultos.

  • Terra Indígena Kanela de 125.212 ha homologada e registrada no CRI e SPU.
  • T I Kanela/Memortumré de 100.221 há, amplificação identificada/ aprovada/ FUNAI subjeita a contestação. As duas Terras com 1961 Canela. Desde de 1968 os Ramkokamekra-Canela moram no assentimento de Escalvado (6°03/S e 45°09/W) em uma terra de 1.252.120 km. qd. que é acerca de 10% das terras originais.
  • Terra Indígena Porquinhos de 79.520 ha homologada e registrada no CRI e SPU com 670 Canela. Os Apanyekra-Canela moram na aldeia de Porquinhos 50km. para o oeste.
  • T I Porquinhos dos Canela-Apãnjekra é uma ampliação declarada de 221.480 ha, com 569 Canela.

Língua: Timbira ou Timbira Oriental, Gê do Norte da família Gê Pano-Carib. A família língua Gê inclui de dois grupos:

  1. O central: Xavánte e Xerénte Kaingang e Xakriabá no sul.
  2. O segundo grupo é do Gê noroeste que inclui:
    2a. os Kayapó, Apinayé, Panará e Suyá e os cinco Timbira.
    2b. Os cinco povos falantes de Timbira são os Kri(n)kati, Pukobyé (Gavião do Maranhão) e Parkatejê (Gavião do Pará, Timbira do Mãe Maria, Pará), Krahô.

Os Canela pertencem ao grupo Timbira Oriental do sul. A língua é quase idêntica a Krahó, falada por 350 para o sudoeste do estado, e os Apanyekrá.
Existem cartilhas e sete volumes e lenda e contos e a tradução da Bíblia incompleta (Pahpãm Jarkwa) do AT 205 pag, NT 205 pag (Popje, SIL).

História:
Os Canela são dos Timbira Orientias. Dos onze povos que existiam antigamente existem hoje: os Kri(n)kati, Gavião do Maranhão (Pykopjê) e Gavião do Pará (Parkatêgo), Apanyekrá e os Krahó e os Canela. (Os Kren yê, também deste grupo de Timbira, mudaram do Mearim para o Gurupi e para o Pindaré e voltaram para Jararaca, no Gurupi entre 1850 e 1915, perdendo sua população de acerca 150 a 41. Em 1983 sobreviveram só dois, casados com brasileiras (Balée 1994.45).

Os Canela moravam no cerrado de solo arenoso com caatinga e fechado por floresta densa. Eram, principalmente caçadores coletores e pescadores em uma vasta área de 26,000 km2. Eles cultivaram mandioca, milho, batata doce, amendoim e inhame em jardins pequenos na margem de riachos na mata ciliar. Usavam machados de pedra e fogo, cabaços e não desenvolveram a cerâmica. Então eram adaptados a vida de nômade e com pouco interesse em estabelecer maior roçados na floresta. Pertenciam ao grupo Timbira de cinco povos, os Krahó , os Kerikateyêos (Javali?), os Apanyekrá (Piranha) e os Txokamekrá (Raposas) moravam no Rio Mearim. Em 1750 havia 50 a 75 aldeias autossuficientes de 1.000-2.000 habitantes entre os rios Parnaíba e o Tocantes.

Os primeiros contatos com os brancos eram indiretos até 1790; os Txokamekrá atacaram um primeiro posto português em Picos que foi abandonado, mas os Txokamekrá mudaram para o norte do território, perto dos Canela. Os Canela evitaram muito contato ao mudar para as colinas ao norte aonde não tinham rios ou estrada para facilitar a penetração dos sertanejos e também a suas terras não tinham recursos para atrair exploração. Mas quando eram derrotados pelos Cakamekra (Txokamekrá?), outro povo Timbira, eles se renderam em 1830 a uma guarnição brasileira para proteção e se assentaram na sua área atual. Conforme Crocker, os brancos permitiram os Canela descerem e voltar para o cerrado, uma parte do seu território antigo. Esta terra diminuída agora não sustentava uma vida de caçador coletor e eles adaptaram-se à agricultura. Desde então tinham contato contínuo com fazendeiros e outros brancos e as autoridades de Barra do Corda. Durante o tempo de 1840-1940 a aculturação não era acelerada porque tinham espaço suficiente entre os rios para viver independentes, enquanto os brancos se estabeleceram nos rios.

Em 1900 devido as populações pequenas dos Canela e os remanescentes dos Txokamekrá (os Raposas) se juntaram, cada homem escolhendo uma mulher do outro povo, mas se separam três anos depois porque um Canela matou um pajé ‘raposa’ (Crocker 1994.28). Os jovens rebelaram contra os chefes em 1923, a cerimônia elaborada de casamento não foi realizada, por causa da influencia do SPI (Crocker 1994.37). Curt Nimuendajú os estudou entre 1929 e 1936, e missionários de MICEB residiam em São Felix entre eles. O SPI enviou uma família para residir perto em 1938. Os Canela também tiveram contato com Marechal Rondon e em 1958, na ocasião da sua morte, alguns assistiram a cerimonia fúnebre no Rio. A rodovia entre o Nordeste e Bara do Corda foi construída em 1956 e os Canela perderam mais do seu estilo de vida e começaram a usar roupa brasileira.

Em 1963 um movimento messiânico os dominou. A profetisa deste, chamada ‘Mulher Seca’ ou Maria Castello, tratou os Canela como seus empregados e pregou a troca das culturas: os brancos vão viver na floresta e os Canela nas cidades. Ela exigiu que eles roubassem mais e mais gado dos brancos o que provocou um ataque dos fazendeiros. Cinco Canela foram mortos, mas o massacre de todos foi evitado por intervenção de uns oficiais corajosos. Os Canela eram mudados para a terra dos Guajajara, uma área de floresta densa que interrompeu seu estilo de vida e resultou em cinco anos de desmoralização e doença.

Em pouco tempo os Canela mudaram de volta para suas terras, ainda falavam a sua língua e realizavam suas festas. Os Canela aprenderam a criar galinhas, porcos e cabras e até alguns criavam gado. A população canela aumentou e seu auto-estimo voltou depois da volta à sua terra, erradicação do tuberculose e da disenteria pelos esforços de Sebastião do SPI. A FUNAI construiu um posto, escola, clinica, e forneceu uma bomba de água, luz, e comunicação de rádio; demarcou também as suas terras. O etnógrafo William Crocker pesquisou os Canela entre 1957 e 1975.

Em 1968 o casal Popje da SIL começaram um trabalho que resultou em uma análise da língua e literatura na língua Canela, inclusive em 1990 traduziu o Novo Testamento e uma parte do Velho Testamento. O projeto de alfabetismo foi interrompido pela crise politica nacional por três anos; mas foi restabelecido pelos Papje em 1980. Muitos Canela começou a ler e escrever na sua língua de novo e pediram ler trechos do Velho Testamento e a maior parte do Novo Testamento. Cadernos e literatura de estórias eram produzidos e professores treinados e paramédicos também preparados. Acerca 1990 um adulto em cada família podia ler e mais ou menos 100 tornaram se evangélicos. Depois obreiros da MICEB continuaram a trabalhar com os Canela.

Estilo de Vida: A aldeia é chamada Escalvado, situada no cerrado. A chuva cai em dezembro e molha menos que 130 cm. por ano. Essa aldeia consiste num círculo de casas retangulares de diâmetro de 300 m. (Crocker 1994). Os trilhos de cada casa vão para o centro que forma uma área de terra batida. Essa praça é usada para os reuniões dos homens com os chefes, para as cerimonias e as danças. Visto do ar se assemelha a uma roda com os trilhos suprindo os raios. Antigamente o assentimento continha 1.000 a 1.500 pessoas. As 32 casas registradas em 1994 eram de diversas orientações e tamanhos. Treze eram as famílias extensas, formadas por irmãos e primos que tinham suas casas juntos e cada família tendo 2 a 14 casas (Crocker1994.74). Quando a população cresce até 500 o número de casas se torna insuficiente, sendo um segundo círculo formado em redor do primeiro é.

O ideal canela era morar em uma só aldeia; mas as ambições de alguns chefes causavam cismas durante o seculo XX em 1903-1913, 1935-1936, 1957-1968. Fora da comunidade central,num raio de 30 km. se formaram às vezes 50 ou mais casas, ou até uma duzia de assentimentos em círculos de 5 a 15 casas, liderados por chefes potenciais.

Crocker descreveu os Canela como ‘caçadores coletadores envolvidos em agricultura marginal’. Antigamente eles dependeram em 25% da agricultura, cultivaram batata doce, mandioca, inhame, abóbora, amendoim e milho. Hoje a dependência é em 75% da mandioca, arroz e feição, cultivados nos roçados da floresta ciliar nas margens do rios. As roças são cercadas para o gado dos vizinhos não invadir. Antigamente os homens caçavam e pescavam e as mulheres colhiam frutas, castanhas e raizes. Hoje os homens construem as casas e preparam as roças mas todos plantam e colhem o arroz. As mulheres fazem a colheita, buscam água e lenha, cozam a comida e criam as crianças. A terra pertence ao povo, mas as roças e plantações são das famílias que as plantaram, e e cultivam até a colheita fica fraca e depois deixa a capoeira crescer.

O comércio e troca entre os povos Timbira era pouco, devido a autossuficiência de cada. Os Canela visitam os brancos durante as estação difícil (setembro a dezembro) para trabalhar nos campos, nas casas ou até no comércio em Barra do Corda. Alguns dos filhos moram na cidade para ir à escola e comerciantes locais visitam a Escalvado. Eles vendam artesanato, ganham salários da FUNAI e compram ferramentas, panos e medicinas além de receber a aposentaria federal.

Os Canela estão chegando aos limites de terra para roçar e precisam de outros meios econômicos. Os filhos que recebem instrução em Barra do Corda são sustentados pelas famílias que recebem salários da FUNAI e vão ganhar emprego fora da aldeia, porém os laços sociais dos Canela deve ajudá-los continuar de contribuir para sustentar sua famílias no futuro (Crocker 1994).

O dia começa ao pôr do sol com um conselho dos homens. Depois um líder chama todo o mundo para o centro da praça para dançar e cantar. Os Canelas são muitos conhecidos por sua música,danças com cantos, realizadas quando estão na aldeia durante o dia e pode durar ao todo sete horas. Eles têm diversos instrumentos: trombetas de cifre de gado ou cabaço, apitos e maracás. O povo tem uma rotina de 24 horas de cânticos e pode saber as horas pelo cântico sendo cantado (Popje). As mulheres dançam cantando, devagar e ritmado em uma fileira. Todos voltam para suas casas acerca de 10 horas e dormem até as 3 da madrugada, quando estão chamados para cantar e dançar novamente. Depois tomam banho nos riachos. Dormem em estrados cobertos de esteiras. Os Timbiras cortam o cabelo com um sulco à altura da franja. Usam roupa dos brancos, exceto no cerrado quando usam apenas tangas.

Quando o sol nasce os homens reúnem para planejar o dia. Os homens trabalham juntos conforme as classes de idade para a aldeia, ou caçam ou colhem o arroz. Usam cabaças e panelas, mas não cerâmicas. As mulheres vão para a roça da sua família ou fiquem nas casas para cuidar das crianças, prepararem a comida ou fazer a cestaria. Ao meio-dia cessam de trabalhar para descansar por causa do calor. Os Canelas gostam de jogar futebol à tardinha e também os homens voltam para o centro da praça para um conselho. A noitecer voltam a cantar e dançar.

Os Canela estão sempre ativos e conhecidos pelas corridas de revezamento carregando troncos. Estas corridas são integral às festas e à iniciação dos rapazes, especialmente em setembro outubro quando duas classes de idade fazem concorrência com troncos de diversos tamanhos e pesos. Não gostam de ficar inativos quando estão doentes e por isso são maus pacientes!

Artesanato: Os Canela fabricam um grande número de artefatos de folhas das palmeiras, buriti, tucum e inajá, especialmente os adornos dos homens para as festas. Também fazem cestas e esteiras. As lanças e flechas tinham pontos feitos de pau-brasil (ISA).

Sociedade:
Os Canela têm uma sociedade complexa e estruturada em grupos. O menor unidade é a ‘casa comprida’ (literalmente ikhrerùù) que consiste de umas ‘lareiras’ com uma mãe, suas filhas com seus maridos, as suas crianças e os irmãos solteiros. Estas unidades são organizadas fisicamente em grupos de casas vizinhas no círculo da aldeia, de forma que as mulheres moradores das vizinhas se tratam por irmãs e as moradores ao lado no círculo são também chamadas ‘irmãs’ inclusive as primas paralelas, sendo da mesma ‘casa comprida’. Os irmãos da mãe passam para morar em outras casa no círculo e seus filhos são primos cruzados. O filho do irmão da mãe é chamado ‘pai’, pois o pai saiu daquela ‘casa comprida’. Mas este ‘pai’, sendo filho da irmã do pai do primeiro, chama o primeiro ‘filho’.

As ‘moities’ ou metades são duas divisões complementárias formadas de classes de idade. Todos os homens que nascem em aproximadamente os mesmos dez anos formam uma classe de idade, que recebem o nome de um animal. As metades se formam integrando alternadamente as classes de idade: os de 10, 30, 50, 70 anos de uma metade e os de 20, 40, 60 da outra metade. As metades são chamadas a ‘de cima’ (khèy) e a outra ‘de baixo’ (harã). As classes de idade dos mais velhos formam o conselho e elegem o chefe; o conselho reiune-se duas vezes por dia. Há diferentes entre os sistemas dos Ramkokamekrá e os Apanyekrá.

Este sistema determina os responsáveis para as festas e a competição das corridas de troncos. As classes de idade são iniciadas por um tempo de reclusão ou ‘prisão’. Os homens de cada classe se conhecem muito bem e ajudam a coesão social permanecendo na mesma classe por toda a vida. O ideal é fazer toda atividade sempre em grupos e não trabalhar sozinho. Antigamente as classes de idade eram a base para organizar o trabalho coletivo nas roças. Existem outros grupos organizados diferentes e cada homem pertence a seis grupos diferentes.

A praça aonde se realiza as festas, as danças e o conselho é considerado espaço sagrado para a união do povo e, portanto, brigas e argumentos não devem acontecer lá. O conselho, liderado pelo chefe, escuta e decide contendas na praça. Atividades coletivas são preferidas; mas se um membro do grupo não consegue acompanhar a atividade o grupo para. É importante que um líder manda o grupo começar a atividade. Por exemplo, mesmo que todos tenham o animo para manter os danças e cantos, o líder escolhido deve iniciar a festa chamando todos para dançar. O homem que corta os troncos para as corridas faz isso todo ano; mas não começa até algum o ordenar fazer. Zombar ou caluniar uma pessoa com uma deficiência física é condenada. Os Canela dão valor a uma sabedoria para se cuidar na vida. Os mitos contam de heróis que demonstram ser sábios ao se transformar em animais, proezas com armas, na caça e outras façanhas.

Casamento:
Os sistema de festas durante o ano includiu a organização de relações sexuais extraconjugais, que eram consideradas positivas ao contribuir para a coesão social de uma sociedade que era altamente organizada com expectativas de cooperação corporativa. O corpo é considerado um bem para ser compartilhado. A prática tem diminuído com o contato com os brasileiros e o Cristianismo. O casamento é quando um homem se deita com uma virgem.

O casamento é monógamo e matrilocal entre pessoas não parentes. O relacionamento do homem com sua mãe e sua irmãs é mais forte do que com a esposa, até o casamento produz filhos. Quando uma casa fica cheia uma filha pode construir uma casa nova ao lado da casa materna. O homem se sente obrigado a trabalhar para a família dela, pois a mulher é considerada de sofredora. A esposa pode ter sexo com muitos outros homens durante a gravidez, pois sêmen contribui para o crescimento do feto. O casamento sem filhos é considerado ‘fraco’, mas com os filhos é mais ‘forte’ e divórcio é raro enquanto há filhos. O divórcio pode acontecer quando o filho mais novo é adolescente, pois o casamento é para criar filhos não para o sexo. O divórcio é considerado de ser o pai que deixa seus filhos, não a mulher. Quando uma mãe morre a sua família tenta achar outra esposa na família para o pai, para não procurar outro casamento fora dos filhos. Agora pela influencia dos brasileiros, os Canela desaprovam de comportamento homossexual e extramarital (Green e Crocker 1994).

Há alguns casamentos com outras etnias e duas mulheres casadas com ‘brancos’ e um Canela casado com uma mulher ‘branca’. Uns 15 Canela moram em Barrado Corda por muitos anos.

As festas:
Um mito conta que um Canela viajou longe e depois de escapar de uma sucuri aprendeu as festas do Povo Peixe (Crocker 1994). Outro mito fala de um Canela que aprendeu os cânticos das festas entre os jacarés. As palavras dos cânticos são considerados fortes ou fracos, e eles acreditam que cantar os fortes fortalece e os fracas enfraquece. De janeiro a abril são realizados ritos sobre os diversos produtos das roças.

Os Canela realizam as principais festas durante a seca do verão, o Wè?tè, desde março até setembro (Crocker 1982). Estas ocupam muito do tempo e são meios para resolver as tenções ou pacificar as brigas individuais. As festas são seis, a primeira simboliza a diferença entre as mulheres e os homens. Os homens caçam e colocam a carne da caça em mastros e as mulheres tentam alcançar e cortar fora a carne. As outras são da iniciação do rapazes e sobre o ‘treinamento’ dos adultos, envolvendo os ‘palhaços’ os ‘mascaras’. De setembro a janeiro é tempo das corridas entre as ‘metades’.

Os rapazes eram iniciados também pela cerimônia de furar a orelha. Pinos de madeira estavam colocados dentro cobertos de urucu. O rapaz fazia seus próprios pinos e o tamanho era aumentado até discos de 10 cm eram usados. Os discos eram pintados com desenhos e eram um motivo de orgulho, indicando que o moço é maduro, pronto para escutar o conselho dos anciões e atrair as moças! Desde de 1950 o rito não é mais praticado.

A Polução:
Os Canela têm um conceito de evitar a polução que cada indivíduo ganha por comer certas comidas, por exemplo, algumas carnes da caça em contraste com carne de animais domesticas e outros alimentos. Evitar as polução e participar em todas as atividades da vida mantem a força da vida (karõ). A carne do veado é fortemente poluída, porém o frango e certo legumes e frutas transfere pouca polução. A carne do macho tem mais polução que a fêmea. A polução é controlada por jejum de estas comidas e evitar o sexo, não porque o sexo é considerado errado, mas porque a polução da outra pessoa é transferida. Medicinas ou chás podem purgar o corpo da polução. Mas outros chás e remédios não tratam a polução mas são usados para curar condições físicas especificas.

O nível da polução da família imediata também influi a condição do indivíduo. Todas pessoas parentes próximas do individuo são de ‘um só sangue’; até porque os Canela pensam que o sêmen de homens que têm relações sexuais com a mãe durante a sua gravidez contribui para a força e bem-estar do feto, também o nível de polução destes homens influi o nível do indivíduo durante sua vida. A polução é causa do enfraquecimento do indivíduo que ficar doente até morrer. Quando isto acontece todas as pessoas ligadas ao indivíduo devem diminuir seu próprio nível de polução, que por sua vez baixa o nível do doente. Então este conceito os leva muitos tabus como resguardos em toda a família e outras pessoas conectadas com o indivíduo (Crocker 1994.106-7).

Todo Canela está preocupado durante os ritos de passagem para evitar a polução por manter os tabus ou restrições, e os homens especialmente querem diminuir sua polução para desenvolver sua habilidade de caçador e guerreiro. O pajé é uma pessoa dentre os homens que têm pouca polução e com quem as fantasias podem ter contato. A questão da polução não envolve os brancos e os Canelas estão perdendo sua preocupação com tabus e a polução.

A morte: Todo os animais e os homens têm uma alma. A alma (karõ) mora no corpo, seu esconderijo ou lugar de cobertura oca. Os moribundos podem visitar a aldeia dos mortos, e até gostar das coisas lá. O pajé tenta trazer a alma de volta. Os Canela creem que quando uma pessoa está inconsciente a alma já saiu do corpo, mas esperam até o nascer do sol antes de aceitar que a pessoa está morta. Eles lamentam por cantar e chorar juntos. Os mortos são enterrados no cemitério um pouco distante da aldeia. O cadáver é deitado em rolo de esteiras, orientado leste oeste e a cabeça virada para o norte. Entre 1950 e 1975 a maioria dos Canela começaram a aceitar o ensino Cristão e espera ir para o céu cristão, os católicos depois do purgatório.

Os fantasmas ou as almas:
Quando o Canela morre sua alma (karõ) vai para a terra dos mortos (më karõ khĩr). Os fantasmas são os mortos que moram em um mundo paralelo a este mundo, ao oeste, e vivem uma existência inferior com atividades semelhantes a dos vivos, mas experimentem menos prazer. É um mundo hostil ao Canela que quer viver e gozar esta vida. Não são imortais e depois de algum tempo se tornam animais e progredem em transformações para animais menores e até plantas, até que cessam de existir (Crocker 1994.102). Para o Canela a alma não é imortal.

Os fantasmas têm saudades dos parentes vivos e podem os assombrar para tentar matá-los e trazê-los para sua aldeia. É melhor não sair da aldeia à noite, ou se for deve usar as penas da arara têm proteção. À noite os fantasmas entram na aldeia procurando as parentes e comendo as comida deixada atrás as casas pelas famílias.

Os fantasmas sendo incorporais, elas podem viajar pelo espaço e tempo e conhecer todas as coisas. Por isso os fantasmas podem escolher revelar fatos desconhecidos para os pajés. Os pajés desenvolvem meios para comunicar com os fantasmas, mas são eles que escolha se encontra com o pajé em forma de um animal ou de um homem. Os fantasmas dão instruções sobre como diminuir a polução do pajé.

Cosmovisão:
Antigamente os Canela não tinham deuses e não desenvolveram meios para manipular o sobrenatural. Assim sendo, somente os fantasmas que querem os matá-los (Crocker 1993). Antigamente eles tinha o Apuyayê como deidade, mas ele não está mencionado nas festas. Criam no mundo em cima do céu das aves grandes, dos fantasmas para o oeste e o mundo do peixe em baixo da terra. Não têm uma clara ideia da vida nestes outros mundos, pois os animais e aves se comportam com humanos, mas ainda são animais. Hoje em dia eles seguem o catolicismo popular (Crocker 1994.105).

Criam no mundo superior que conforme o mito, um jovem canela visitou levado por uma ave. Esse jovem descobriu ali os falcões e urubus e aprendeu a festa Pepkahàk. Seus heróis vivem em um mundo superior. Pût, o sol, criou os Canela por sair de um lago na campina seguido por uma fileira dos Canela e estabeleceu para eles um estilo de vida que consistiu de trabalho. Putwré, a lua, por ser estupido corrompeu este mundo criando a morte, encantamentos, fogo da mata, trabalho duro e muitas dificuldades, por exemplo, as arvores frutíferas cresciam muitas altas e era difícil colher as frutas. Pût e Putwré foram embora para o céu por causa de todos os males do povo e nenhum Canela foi ao lugar dele para aprender os rito e as festas. A Mulhere-Estrela (Katsêê-ti?khwèy), desceram do céu e instruíra como colher fruta e cultivar, casou-se com um Canela e depois partira de novo para o céu para os dois ser a constelação de Gêmeos.

O mundo em baixo da terra fora descoberta quando um tatu cavou de mais e caiu para dentro de um mundo semelhante a nosso. Um Canela penetrou o mundo dos jacarés, foi curado e voltou com instruções para as festas. Outro foi encolhido, por um sucuri, foi levado para o mundo do peixe e trouxe a descrição da festa do peixe.

Aukhêê, o herói, nasceu de uma Canela mas fez muito truque, inclusive tornou-se em onça e anaconda. Seus tios tinham ciume e o jogou em baixo de um rochedo. Mas ele se transformou em uma folha que aterrizou no chão em segurança. Eles tentaram matá-lo em uma fogueira, mas ele pulou das chamas e fugiu para morar com os fazendeiros brancos, civilizados em uma casa e com animais domésticos. Quando os Canelas o descobriu ele ofereceu aos Canela uma espingarda ou arca e flechas a escolherem. Ele ficou desapontado quando os Canelas escolheram a arca de flechas, pois por consequência deste ato eles ficaram na posição inferior para com os brancos.

Awkhêê, os Ramkokamekra creem era Dom Pedro II, que os mandou embora do Rio para o norte e a caatinga do Nordeste; onde sofreram muito até chegarem ao lado de um rio grande. As festas falam de animais que não existem no centro de Maranhão e a evidencia indica que este era o rio Paraíba. Os Apanyekra não falam desta migração do sul. Durante a migração aprenderam as suas festas.

O Cristianismo veio primeiro pelos contanto com o catolicismo popular dos brancos, depois o contato com o convento em Barra do Corda. O Evangelicalismo veio ‘pelo trabalho extensivo, dedicado e paciente de Jack Popjes (SIL) e sua família, que moravam entre os Canela desde 1968 até 1990’ (Crocker 1990).

Os pajés eram mediatores entre os Canela e os fantasmas, dos quais eles recebem seus poderes, por visitas na forma humana ou animal. O fantasma pode ser boa ou má. Os pajés se tornam pajés ao observar resguardos especiais de poluição. Os pajés servem os outros como curandeiros (kay) e avistam o futuro na sua própria iniciativa. Podem trazer de volta a alma de um doente. Alguns hoje, contudo, dizem que estão sob a autoridade de Deus. Para ser um pajé os tabus são mais compreensivos. Eles dizem que façam viagens fora do corpo e alguns pajés podem ‘jogar’ doenças sobre seu inimigos e as vezes fazem feitiços contra inimigos e por isso são tratados bem pelos outros.

Os Canela usam remédios farmacêuticos e também sua medicina herbanária sem referir ao pajé. O receio de ser doente e de morrer contribuiu antigamente para a autoridade do conselho e chefe. Ser acusado de feitiçaria ainda é um receio. No seculo vinte este poder diminuiu.

Certos animais podem jogar feitiços sobe o caçador se matar de mais daquele especie, e isso pode alcançar as crianças da sua família. Por isso ele pode evitar de caçar aquela determinada especie. 40% professem ser Cristão dos quais 22% são Evangélicos.

Comentário:
Os Canela apresentam um cosmovisão sem seres transcendentes ou criadores. Receberam o conceito de Deus do Catolicismo popular. É importante que tenham o conceito bíblico do Criador que, sendo uma Trindade de Três Pessoas em perfeita união, exercendo entre si os atributos pessoais, de bondade, amor, verdade, justiça, etc. Assim Deus sempre está pronto a se relacionar com os homens em comunidade. A Bíblia demonstra que Seu relacionamento com indivíduos é a favor de povos e nações, por promessas e alianças. Esta natureza de Deus deve ser relevante para com os Canela que enfatizam comunidade e a finalidade do evangelho não é para ciar discípulos isolados do seu povo. A generosidade é uma marca dos Canela para manter a união entre eles; a generosidade divina em enviar seu Filho para compartilhar da vida humana e reconciliar todos os povos com Deus é o cerne do evangelho. Porém a comunhão em Deus exige em nós dar valor a pessoas e que estas necessitem de relações estáveis e profundas. A Bíblia expressa isso ao condenar a promiscuidade e o adultério e promover a monogamia, especialmente para a procriação de outras pessoas.

A solidariedade corporativa e a preocupação em resolver atritos é vital para os Canela, como é para a Igreja de Cristo. O conceito de união em Cristo determina a solidariedade dos Cristãos, comparados com os membros de um corpo, e a construção de um templo e uma responsabilidade uma aos outros.

Os Canela precisam de um conceito bíblico da vida após da morte. Os indígenas já receberam conceitos da alma, o purgatório e o céu do catolicismo popular. É importante o ensino bíblico sobre a vida logo após a morte e da eternidade. A justificação de todos os pecados pelo sacrifício de Cristo garante a entrada do crente na presença de Cristo no momento da morte. O receio dos fantasmas pode ser substituído pela certeza por estar com Cristo (Mat 22:32; Lc 16:22; 23:43,46; Jo 11:26; 14:1-4; Fil 1:21-23; 2 Cor 5:1-8; Heb 12:23; Apoc 7:9ss). Biblicamente um bom relacionamento com Deus forjado na terra permanece para sempre.

Um aspecto destacadona cultura canela é o canto corporativo. É o que a Bíblia destaca com a resposta a graça de Deus tanto por o Israel quanto a Igreja, até na véspera da traição e morte de Jesus (Mat. 26:30); um etnomusicológo deve adaptar isso para a vida da igreja canela. O louvor por cantar é um tema bíblico constante, na terra e no céu e é corporativo.

A polução é um conceito que era importante na cultura canela. Os ciganos praticam um sistema de lavar louça e roupa conforme uma escala de homem, mulher, e não cigano. Semelhantemente os Canela diferenciam entre sua comunidade, a aldeia e sua praça como o centro da sua vida e o mundo fora, inclusive a mata. Por isso a polução vem mais de fora e diferencia entre as comidas domesticas e bravas. O conceito dado ao Israel Antigo distinguiu entre os santo, o comum e o imundo (Wenham 1979.15-25). A comunidade era formada em redor da presença de Deus; o ritual levítico tem uma função heurística para demonstrar que muitos aspectos da nossa existência estão poluídos pelo mau, e conforme a sugestão antropológica, o ritual indica que o homem deve voltar para aproximar ao estado da criação, como ele era quando era uma obra do Criador (Douglas 1966.41ss). O sistema ritual foi abolido para o Cristão, entretanto a necessidade de viver conforme as leis morais na presença e Deus continua (Mc. 7:19; Rom. 12:1-2; Heb.7:18; 24).

Obreiros da Missão Coração do Amazonas (antigo WEC) estavam entre os Canelas perto de Barra do Corda em 1926 e UFM (MICEB) estavam entre os Canela na década 1930. Jack Popjes missionário do SIL chegou em 1968 e construiu uma casa no círculo da comunidade de Escalvado- aqui resumimos o comentário de Crocker:

Primeiramente Popjes dedicou-se a aprender a língua e participou em algumas das festas e nas corridas de tronco. Ele e a sua esposa eram adotados por famílias Canelas diferentes. Contrário à prática de oficiais da FUNAI de dar ferramentas e panelas, etc. de graça, Crocker estabeleceu com a geração nova um sistema de merecer esta coisas por fazer alguma, artefatos, etc. que os preparou para a prática econômica de fora. Comprou os artefatos dos índios por preços justos para vender em Belem. Cavou poços e usou seu treinamento médico e apresentou filmes de higiene. Ele falou pouco de Deus e nunca realizou cultos, todavia, o comportamento de Jack e sua esposa demonstrava virtudes cristãs, que criavam um efeito significante nos Canela mais novos. O propósito do seu trabalho era que em tempo a Palavra de Deus entrasse nos Canela através a Escritura traduzida do Novo Testamento, ainda que levasse 15 ou 20 anos. Era claro que ele ia esperar. A tática dele era para não contrariar as tradições que ele sentiu de ser não cristãs (como relações sexuais extraconjugais), mas deixar a Palavra de Deus, através as Escrituras traduzidas, tomar o lugar destes costumes. Se os indígenas perderam suas práticas de repentes e sem algo para substituí-las as suas vidas ficariam vazios com a tendencia a alcoolismo (Crocker 1990 IIB).

A Deutsch Missions Gemeinschaft tem projetos de pesca e cultivação de fruto e cana, e uma clinica dentista, para ajudar os Canela Ramkokamekra desde 1990. O dentista é um Canela treinado na Alemanha. A Assembleia de Deus plantou uma congregação em 1997, mas o templo fi destruído por incêndio. Uma família de MICEMBA ainda ajuda com um curso de alfabetização em Canela.

Bibliografia:

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  • CROCKER, William H, 1982: ‘Canela Initiation Festivals: Helping Hands through Life’, em Redator: Victor Turner, Celebration Studies in Festivity and Ritual, pp 147–158, Washington, DC: Smithsonian Institution Press, acessado anthropology.si.edu/canela/literaturefr.
  • CROCKER, William H. 1984, ‘Canela Marriage: Factors in Change’ in Redator: Kenneth M Kensinger em Marriage Practices in Lowland South America, pp 63-98, (Illinois Studies in Anthropology, no 14) Urbana and Chicago: University of Illinois Press.
  • CROCKER, William H, 1990, The Canela: an Ethnographic Introduction, Smithsonian Contributions to Anthropology, no 33, Washington, DC: Smithsonian Institution Press.
  • CROCKER, William H, 1993, ‘Canela Relationships with Ghosts: This-Worldy or Otherworldly Empowerment’, Latin American Anthropology Review, Vol 5(2), pp 71-78.
  • CROCKER, William and Jean, 1994: The Canela – Bonding through Kinship, Ritual and Sex, Forth Worth, Texas: Harcourt Brace College Publisher.
  • DA MATTA, Roberto 1982, A Divided World: Apinayé Social Structure, Harvard Studies in Cultural Anthropology, 6, Cambridge: Harvard University Press.
  • DOUGLAS, Mary 1966, Purity and Danger, London, Boston: Routledge & Kegan Paul.
  • GREEN, Margaret E e William H CROCKER, 1994,’Some Demographic Aspects of the Canela Indians of Brasil,: South American Indian Studies, no 4, March 1994, Bennington Vermont, USA.
  • ISA: anthropology.si.edu/canela/literaturefr
  • NIMUENDAJÚ, Curt (1946), The Eastern Timbira, translated and edited by Robert H Lowie. University of California Publications in American Archaeology and Ethnology, 41, Berkeley & Los Angeles: University of California Press.
  • SIL: 2009. Ethnologue: Languages of the World, 16th edition, Lewis, M Paul (ed), Dallas, Texas: SIL International. www.ethnologue.com
  • WENHAM, Gordon J (1979), The Book of Leviticus NICOT, Grand Rapids: Wm B Eerdmans.
  • Jack e Jo Popje têm seu website: www.thewordman.ca/writer