David J. Phillips
Autonomeação: Pykopcatejê. ‘Gavião’ foi o nome dado a diferentes unidades de Timbira pelos não indígenas (Ferraz 2000).
Outros Nomes: São denominados Gavião-Pykopjê para distingui-los dos Parkateje ou Gavião do Pará. Os outros Timbira os chamam também de Pykopjê. e os Kricati, seus vizinhos, referem-se a eles como Iromcatejê (“os da mata”). Os regionais os chamam de Gaviões (Ladeira 2005). Pukobyê, Pukobiê, Gavião-Pukobjê, Gavião do leste.
População: 577 (Ladeira 2005) 473 (PIB-ISA 2005). 270 pessoas e 2 aldeias (São Félix e Governador) em 1929 (dados Nimuendaju1946). Dados do ISA 143 em 3 aldeias (1969); 263 em uma aldeia (1986); 458 em 3 aldeias (1996); 473 em 3 aldeias (2004 – Ladeira 2005). 523 (DAI/AMTB 2010).
Locação: Terra Indígena Governador, homologada em 1982, é de 41.644 hectares, no sudoeste do estado do Maranhão, no município de Amarante, perto de Imperatriz. Os Pykopjê de 577 pessoas vivem em três aldeias – Governador, Rubiácea e Riachinho (Ladeira 2005). Eles compartilham esta Terra com os Guajajara e os Tabajara com uma população da Terra 655 (FUNAI 2003).
Língua: Timbira. Gavião do Pará (SIL), classificado: Macro-Ge, Ge-Kaingang, Ge, Noroeste, Timbira (SIL). É um dialeto da língua Timbira Oriental. Português é usado desde 1981 depois a FUNAI estabeleceu uma escola. Mas a língua original é usada nos rituais (Ferraz 2000). A mesma língua dos Gavião do Maranhão é relacionada à Krinkati-Timbira, Canela e Krahô (SIL). Missionários evangélicos produziram uma gramática, um dicionário, nove cartilhas e outros livros para o programa de alfabetização. A tradução do Novo Testamento e porções do Velho estão completas (MNTB 2005).
História: Todos os grupos de Timbira foram chamados ‘Gavião’ pelos colonizadores por ser belicosos. Porém os Pykopyê eram os mais hostis entre os Timbira contra a penetração dos criadores de gado, até finalmente nos meados do século XIX foram dominados (Ladeira 2005). Segundo Nimuendaju, o grupo, os Gavião do Pará (Parakatejê), que ele classificou os Gaviões do Oeste não aceitaram a ‘paz’ e se separam e foram para a bacia do Tocantins enquanto os Pukôpjê e Krinkatí ficaram no alto rio Pindaré, no Maranhão (Ferraz 2000).
Durante o governo de Kubitschek (1956-1961), antecipando a abertura da estrada Belém – Brasília, fazendeiros doa região sudeste (São Paulo e Minas Gerais) invadiram a região para valorizar as terras melhores com acesso à planejada rodovia. Os lavradores regionais, que já estavam lá, foram forçados de mudar-se para o interior nas áreas indígenas. Em 1976 houve uma ataque pelos fazendeiros na aldeia pykopjê de Rubiácea, destruíram as casas por fogo e os índios fugiram para Governador. A consequência foi que a FUNAI demarcou os limites da Terra Indígena de 42.000 ha, que foi homologada em 1982.
Também nos anos 50 as três aldeias sofreram uma epidemia de gripe, que matou muitos indígenas. Os sobreviventes se juntaram em uma só aldeia, a Governador. Depois isso acerca de 1990 a população cresceu tanto que se dividiram novamente em três aldeias: Governador, Riachinho e Rubiácea. Nesta época os Guajajara pediram aos Pykopjê que os permitissem estabelecer três aldeias na T.I. Os líderes das três aldeias Pykopjê foram a Brasília para reivindicar a revisão dos limites da T.I. Governador e a FUNAI prometeu estudos para visar a ampliação do território. Os Tabajara vivem na Terra também, um povo Tupi do nordeste, dando uma população total de 655 (Ladeira 2005). Os indígenas queixam da invasão crescente por madeireiros desde 2005. Em 2010 a vigilância indígena prendeu um caminhão carregado de madeira ilegal. Quarenta madeireiros invadiram a aldeia Rubiácea para retirar o veículo. Nada tem feito até 2011 para corrigir a situação.
Estilo de Vida: O Território dos Pykopjê incluí floresta amazônica e campina do serrado. O verão ou estação da seca (amcró) é abril até setembro e o inverno ou a estação das chuvas (ta’tí) é de outubro a março (Ladeira 2005). As aldeias têm forma de um círculo de casas com uma praça no meio vazio, sem estrutura ou casa de homens, porém os homens usam a praça para sua reuniões ao amanhecer e ao anoitecer. Cada família tem sua casa rectangular de paredes de barro ou palha e cobertas de palha.
Tradicionalmente usam cabaças e não fabricam cerâmicas, mas hoje cozem usando panelas de ferro. Fazem bolos de farinha de mandioca ou de milho embrulhados em folhas de banana brava e em cima de pedras esquecidas (Melatti 1999). Dormem em redes e em esteiras. Hoje em dia tiram uma parte do seu sustento pela caça, pesca e a lavoura de roçados e também de alimentos dos comercio nacional.
Os homens furam o lábio inferior e usam grandes batoques na orelhas. Ambos os homens e as mulheres cortem o cabelo com um sulco em torno da cabeça à altura da franja e pintam o corpo.
Artesanato: Os Gaviões fabricam muitos objetos de palha tecida como cestos, faixas e esteiras, e por exemplo o cesto cargueiro chamado pakara, feito de palha de buriti.
Sociedade: A unidade social é a família extensa de cada linha feminina, e outras casas são construídas ao lado quando as filhas se casam.O casamento é monogâmico euxorilocal e é considerado estável depois do nascimento do primeiro filho. Os homens têm que se casa com outra família. Mas relações extramatrimoniais são permitidas a todos.
A sociedade é dividida em metades ou duas sociedades, com graus de idade, que decidam a afiliação, o nome pessoal e têm direitos em cumprir papeis nas festas. Os nomes dos meninos são decididos pelos parentes, o tio da mãe, e os avôs masculinos; os nomes das meninas pelas parentes, a tia do pai as duas avós. Os parentes mais próximas observam reguardas de certos alimentos quando um membro da família sofre de crise, doença, etc., porque crêem que participam da mesma ‘substancia’ e o que um membro come pode prejudicar o outro (Melatti 1999). As metades constituem os participantes da corridas de revezamento carregando toras de buriti. Os ritos expressam as oposições ou contrastes do arranjo da aldeia, entre leste e oeste, centro e periferia, alto e baixo.
As crianças gostam de fazer tarefas para os seus pais, pois sentam úteis ao lado dos adultos e aprendem algo dos trabalhos que não podem fazer. Elas participam no extrativismo de frutos da mata como modo de subsistência da sua família. Já se familiarizam com a cantoria, rituais e costumes da cultura. A aprendizagem da língua antes do português ajuda firmar a identidade étnica. A TV já é uma influencia de coisas de fora (Souza et al 2010). As crianças imitam as estórias e coisas da sociedade nacional nas suas brincadeiras.
Os velhos queixam que os adolescentes não têm mais interesse na cultura. Os pais falam a língua materna com as crianças até cinco anos e ela é ensinada na escola. A escola é limitada a um nível fundamental e a educação média é disponível na cidade. No fim de semana tanto os adultos como as crianças fazem ‘ensaios para os rituais’, os mais velhos são pagos para instruir as canções, danças, e a pintura corporal, e ainda alguns dos velhos são relutantes. As crianças aprendem por imitar os adultos em oficinas de pintura e dança que elas chamam ‘ensaios para os rituais’ (Reis 2009).
As aldeias se relacionam pacificamente pela aclamação de uma residente de uma aldeia como chefe honorifico pelos habitantes de uma outra aldeia.
Religião: As festas, chamadas amjikin ou ‘alegrar-se’, envolvem outras aldeias, e são necessárias para manter a coesão da sociedade. São determinadas pelas estações da seca e das chuvas. Realizam-se durante todo o ano, mas a maioria dos ritos se realizam na no tempo das chuvas. Cada festa é marcada pelo nome de uma das corridas de revezamento de tora e um canção próprio dirigido por um ‘cantador’ (increratê), as mulheres cantam em filas, o ritmo marcado por um maracá. A ampla distribuição de alimentos e presentes de pano é necessária. Há festas do milho e do inhame. (Ladeira 2005).
O rito de passagem da criança se tornar adulto é festa do Ceveiro, este é uma casinha ou ‘uma oca móvel’ na qual as crianças estão fechadas por dois ou três meses para ‘engordar’ (Reis 2009). As cerimonias de iniciação dos jovens estão na época da seca e dão o status de vyty, que é a associação de um jovem, moço ou moça, com indivíduos do sexo oposto.
A festa do Gavião é um ritual mais importante e todo o mundo, caça e pesca e corte toras para as corridas. A aldeia é dividia em dois partidos, o Partido da Onça e o Partido do Esteirão. Dois adultos levam uma criança com eles, que cuida do machado, fação e outros utensílios, enquanto os adultos cortem as toras. No final os três estão enfeitados com penas (Reis 2009).
Cosmologia: Os Pykopjê contam mitos do Sol e a Lua que explicam a criação dos Gaviões, o começo do trabalho e da morte. Descrevem também como a Mulher Estrela os ensinou a cultivação e como o uso do fogo foi tomado das onças. O conhecimento do xamanismo foi trazido por um homem que foi levado ao céu pelos urubus. Os mitos ensinam também os ritos de iniciação.
Comentário: A Missão Novas Tribos do Brasil atua na aldeia de Governador desde 1964. A análise linguística foi feita por Stan Pries (MNTB 2004). Os missionários Arnold e Diane Kitchener, Ivanaldo e Daisy Albuquerque e Darlene Ida Gilbert. Global Recordings fornece ‘Palavras da Vida’ com onze mensagens.
Bibliografia:
- DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br
- FERRAZ,Iara 2000, ‘Gavião Parkatêjê’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/gaviao-parkateje.
- LADEIRA, Maria Elisa, 2005, ‘Gavião Pykopjê’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/gaviao-parkateje/511
- MELATTI, Julio Cezar 1999, ‘Timbira’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/timbira.
- MNTB 2005, Missão Novas Tribos do Brasil, Anápolis, GO, www.mntb.org.br.
- REIS, Rodrigo Nascimento, Leites de Souza, Emilene, 2009, ‘A comunicação como fator de identificação das crianças Gavião-Pykopjê, Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Teresina – 14 a 16 de maio de 2009.
- SIL 2009 Lewis, M. Paul (ed.), 2009. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Versião Online: www.ethnologue.com.
- SOUSA, Emilene; Oliveira, Leide; Reis Rodrigo 2010, ‘As crianças Gavião-Pykopjê e a comunicação através do trabalho’,Trabalho apresentado no IJ 06 – Interfaces Comunicacionais do XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste realizado de 10 a 12 de junho de 2010.