Guató — Maguaato

David J. Phillips

Autodenominação: Maguaato (Gallinula galeata) é o frango d’água, que é comum em lagos com vegetação aquática e margens pantanosas, e identificado como um nome próprio do povo. Guató é um apelativo guarani derivado do verbo que em Guarani significa andar, viajar e é usado com autodenominação (Oliveira 2008). Os Guató são considerados o povo do Pantanal por excelência.

Outros Nomes:

População: 700 (DAI/AMTB 2010), 374 (SIASI/SESAI 2012). 175 em MS e 195 em MT (FUNASA 2008).

Localização: Duas Terras Indígenas em dois estados. Outros habitam as cidades de Corumbá, Miranda e Campo Grande, na localidade boliviana de Campo de Mayo e várias localidades nos rios Paraguai, Cuiabá, São Lourenço, Vermelho e Pirigara:

T. I. Guató, MS, de 10.984 ha, na fronteira com a Bolívia, no extremo noroeste do estado entre o Parque Estadual do Guirá ao norte e o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense ao leste, homologada e registrada no CRI e SPU, com 155 Guató (FUNASA 2010).

T. I. Baia dos Guató, MT, de 19.164 ha, no sudoeste do estado, entre os rios São Lourenço e Canabu, declarada, com 83 Guató (FUNAI 2006).

Língua: Guató e português. Guató forma uma língua isolada dentro o tronco Macro-Jê linguístico. Existem apenas cinco falantes, mas há tentativas de estimula o seu uso na escola indígena (Oliveira 2005).

História: Os Guató são o povo do Pantanal. O rio Paraguai forma a fronteira entre Brasil e o vastidão do Chaco. Um leque de rios foram as cabeceiras, os Cabaçal, Jauri, Cuiabá e São Lourenço, que é o território do Bororo. Ao sul o médio rio Paraguai forma um labarito de lagos. Durante a época das chuvas as águas transborda os campos sobre uma área de vinte mil quilômetros quadrados, um característico do Pantanal. Aqui vivem os Guató (Hemming 1987.416). As primeiras menções dos Guató eram no século XVI. Os jesuítas os descreveram de ‘índios infiéis’ no século XVII. Entre outros viajantes, os alemães von Martins e Karl com den Steinen visitaram os Guató (Silva 2008). Quando o barão Langsdorff os visitou em 1826 o povo usava roupa europeia e pescava jacaré e peixe e caçava macaco, onça e lontra nas suas ilhas. Atacaram onças com arcos enormes de 2,50 metros e zagaias de 4 metros. As famílias viviam separadas dos outros e os homens eram poligamitas. Em 1850 Castelnau descobriu que criam em Deus e podiam contar até infinidade, contra a opinião de Langsdorff (Hemming 1987.417). Eram considerados amistosos e dóceis.

O presidente da Província de Mato Grosso registrou que os Guató colaboraram ao exército brasileiro na Guerra do Paraguai (Silva 2008). Ele descobriu que falavam português e sempre eram prontos para comerciar. Os brancos não entenderam por que os indígenas preferiam se esconder no mato do que adotar a ‘civilização’; os Guató mantinham sua independência solitária no Pantanal. Dois eventos abalaram os Guató, uma guerra com os Bororo e a Guerra do Paraguai em 1864. Um navio de guerra paraguaiano subiu o rio ate Lago Gaíba e os paraguaianos tentaram persuadir os Guató mudar-se rio abaixo para o território paraguaiano. Acabando a sua paciência, os paraguaianos mataram o representante guató e foram embora, mas deixaram a varíola e a maioria do povo morreu. Porém alguns migraram para Asunción e adoentaram e morreram (Hemming 1987.418, 423).

No fim do século XVIII dois acontecimentos ajudaram os Guató ser conhecidos melhor. Julio Koslowsky vivia entre os sobreviventes Guató por três semanas em 1889 e publicou sua descrição. Em 1900, Henry Bollard liderou uma expedição de medição de terras do alto Paraguai, contribuindo para o conhecimento do território guató. Mas foi as três expedições do antropólogo Max Schmidt em 1901, 1910 e 1928, que revelaram a história e os costumes do povo e também ele preparou um vocabulário da língua Guató. Cel. Rondon manteve contato com os Guató entre 1900 e 1906, durante os trabalhos da “Comissão de Linhas Telegráficas do Estado de Mato Grosso” (Silva 2008).

Na década 40 do século XX os fazendeiros mandaram seu gado nas roças do povo e comerciantes de peles dificultaram a sua permanecia na Ilha Ínsua e eles migraram para outros lugares no Pantanal ou mudaram para as vizinhanças das cidades próximas (Silva 2008). Os Kadiweú ganharam seu território, mas seu vizinhos os Guató, não foram tão felizes. Darcy Ribeiro escreveu em 1957 que considerou os extintos e o governo concordou nos anos 70. Mas em 1977 algumas famílias foram ‘descobertas’ por uma irmã Salesiana em uma ilha, depois 400 indivíduos foram encontrados no Pantanal e em cidades vizinhas. O seu líder, Severo Ferreira, ficou feliz de descobrir que as nações indígenas do Mato Grosso eram unidas e depostas de ajudar umas as outras. Seu grupo tinha perdido sua Ilha Ínsua e ele pediu a FUNAI ajudar recuperá-la. Mas o exercito recusou render a ilha por está na fronteira com a Bolívia (Hemming 2003.451s). A disputa entre o exercito e a FUNAI durou por anos, até conforme um acordo deixou o exercito em uma parte da ilha e os Guató na outra.

Estilo da Vida: O povo é essencialmente um grupo canoeiro. As famílias moram em um assentimento que chamam marrabóró (aterro), que pertence à família, durante a estação da cheia, construído nas mata ciliares, nos campos abertos ou nas margens de lagos e rios. Os aterros eram construídos pelos Guató, ou como eles dizem pelos Matschubehe, que depois foram expulsos por eles. Construídos durante o período da seca, através o transporte de sedimentos em cestos cargueiros, e conchas de gastrópodes aquáticos e de bivalves. As conchas eram usadas para firmar a terra na construção. Plantam nas bordas dos aterros acuris ou mudjí (Scheelea phalerata), espécie de palmácea cujo fruto, acuri ou bacuri é comestível e de grande valor para a subsistência dos Guató. São plantados com vegetação e bananais.

Durante a seca as famílias mudam para os modidjécum na mata ciliar que pode ficar parcialmente ou totalmente inundada durante a cheia. Também os assentimentos chamados macaírapó são ocupados durante a seca e mais fora das inundações. A estação da cheia é o tempo para viajar e visitar com outras famílias em locais mais distantes e descobrir outras áreas mais aptas para a subsistência. As casas (movir) são construídas de madeira e cobertas de palmas de acuri. Outras são feitas pau-a-pique.

Os Guató se subsistem da pesca, da caça, da coleta e do plantio de milho, cará, mandioca, abóbora, banana, cana-de-açúcar, algodão e tabaco. A agricultura é menos importante do que a pesca e a caça. Toda a família pesca e procura iscas durante o ciclo de águas de dezembro a maio. A canoa é o principal meio de transporte. A mulher é timoneiro na popa. A canoa é mantida impermeável à água por um processo de defumação e lubrificação com gordura animal.

Sociedade: As famílias vivam de forma autônoma. O contato entre os grupos locais é por meio de alianças matrimoniais. Antigamente o homem deve matar uma onça como um ritual de passagem para o adolescente se tornar adulto. Os crânios de felinos são amontados na parte da frente das casas (Silva 2008).

Artesanato: As mulheres faziam cerâmica, mas hoje é substituída pela panelas de ferro e alumínio. Os homens fabricam canoas (manum) principalmente de troncos de cambará (Gochnatia polymorpha), sua madeira resiste bem à água. Os remos (macum) são feitas de caneleira louro. A zinga é usada para impelir a canoa nas águas rasas. Os homens também fazem trançado de esteiras e cestos com a palha da acuri. Mosquiteiros são essenciais feitos de algodão (Oliveira 2005).

Religião: As festas guató consistem em consumir o vinho da plameira acuri e dançar durante horas ao som da viola de cocho e do caracaxá (Silva 2008). Enterram seus mortos em valas estendidos sobre uma esteira, e sepultados em um lugar protegido das cheias (Oliveira 2008).

Cosmovisão:

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • OLIVEIRA, Jorge Eremites de, 2008, ‘Guató’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/guato.
  • SILVA, José da, 2008,’Guató’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/guato.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.