Amundava – Kagwahiva

David J Phillips

Autodenominação: Kagwahiva (SIL), mas usam Amundava atualmente, que não é a autodenominação original (Silha 2011). Kawahib é usado também pelos Jupaú (Uru-eu-wau-wau). Os Amundava são um dos três povos distintos, com os Jupaú (Uru-eu-wau-wau) e os Uru Pa In, que usam a mesma língua e possuem aspectos semelhantes de cultura.

Outros nomes: Amondawa, Amundawa

População: 90 (DAI/AMTB 2010); 83 (Kanindé 2003). Estes povos sofreram uma perda nos anos 80 devido aos conflitos e às doenças dos brancos, mas os Amundava recuperaram o melhor entre os povos na T I devido a melhoria das condições socioeconomísticas com a produção das roças na aldeia Trincheira (Kanindé 2003); 115 em 2006 (Silha 2011).

Localização: Na T I Uru-Eu-Wau-Wau, Rondônia, 1.867.120 ha homologada e registrada no CRI e SPU com uma população de 320 (SIASI 2012). Também na T I são os Jupaú (Uru-Eu-Wau-Wau) e Uru Pa In, e quatro grupos isolados como os Parakuara e os Jurureís, e mais dois grupos desconhecidos no médio do rio Cautário e outro no Igarapé Água Branca (Kanindé 2003).

Língua: Amundava com dialetos: Amundava, Kayabi, Tenharim, Júma, e Karipuná. Todas são semelhantes às Uru-Eu-Wau-Wau e Morerebi. Classificação linguística: Tupi-Guarani-Subgrupo VI (SIL). Desde 1994 a escola tem ensinada o português e muitos são bilíngue.

História:
O antigo território dos Uru-Eu-Wau-Wau e os Amondava era do rio Madeira ao norte, o Machado-Jiparaná a leste, o rio Guaporé ao sul e o rio Mamoré a oeste. A primeira invasão europeiano territórioera em busca de escravos e de ouro nos séculos XVII e XVIII e depois a borracha no século XIX. A rede telegráfica construída por Rondon travessia o território nos anos 1907-10. O Território de Guaporé foi estabelecido em 1943 e passou a se chamar Rondônia em 1956, e tornou estado em 1981.

Na década 60 a economia cresceu pela extração da borracha e da castanha do pará e a exploração mineral. Um grande depósito de estanho foi descoberto na T I em 1991. A população não indígena do território cresceu com a descoberta de ouro e de terras boas para a agropecuária e milhares de indígenas morreram devido às epídemas e em conflitos com os brancos. Na década 70 o projetos de colonização do governo trouxeram milhares de colonos do sul, que resultava com o crescimento das cidades no eixo da estrada BR 364.

Na época ataques pelos índios e massacres dos índios eram frequentes; os índios abandonaram construir suas malocas e adotaram uma vida nômade usando tipiris (Hemming 2003.297ss, 562). O governo de Rondônia começou a cortar a rodovia BR429 na direção do rio Guaporé atravessando o território do Uru-Eu-Wau-Wau; e é atualmente em fase de pavimentamento. Quando a barragem da Usina Hidrelétrica de Samuel foi construída no rio Jamari entre 1982 -1996, foram construídos diques de 45 km de cada margem para conter o lago porque a represa não tem uma bacia natural. A usina produz mais gases de efeito estufa do que teria sido emitido gerando a mesma energia a partir de petróleo. A represa deslocou 238 famílias agricultores e contaminou o peixe e a pesca não era mais possível (Fearnside 2004).

A FUNAI teve primeiros contatos com os Amundava e Uru-Eu-Wau-Wau em 1981, com uma expedição partindo de Ariquemes e subindo o rio Jamari e montou um posto chamado Comandante Ary na planalto Alta Lídia. Os índios eram liderado por Djaí, um homem careca provavelmente de descendência branca, que finalmente facilitou o contato, por convencer seu povo de fazer aliados da FUNAI contra os outros brancos (Hemming 2003.564-567). A população era 250 e em 89 em 1993 por causa das doenças e dos conflitos com seringalistas. Mas depois 1993 a população começou a recuperar, especialmente dos Amundava. Em 1995 a população da T I era 114 pessoas, em 2002 era de 168 e 320 em 2012.

A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau tornou-se posse permanente do Índios em 1985, mas Presidente Sarney anulou a demarcação da Terra em 1990 (Hemming 2003.568). Depois uma campanha efetiva Presidente Collor restabeleceu a demarcação e a Terra foi homologada por decreto em 1991. É de 1.867.117 ha e administrada pela FUNAI com três Postos. Forma parte do Parque Nacional de Pacaás Novos. Em 2001 foi criada um corredor ecológico com Bolívia para conter o desflorestamento. Porém madeireiros e garimpeiros continuem a invadir a Terra. Várias cidades com dezenas de serrarias estão instaladas na periferia da T I, tirando o magno e cerejeira do território. Existem hoje três grupos indígenas não contados de aproximadamente 1.000 na região dos rios Muqui, Cautário e S. João do Branco.

Estilo de Vida:
A T I Uru-Eu-Wau-Wau consiste do planalto Alta Lídia com os rios Jaru e Muqui descendo para o Jiparaná-Madeira a leste, o rio Jamari ao norte e os Pacaias Novas e Cautário, afluentes do rio Mamoré, a oeste. Antes do contato com a sociedade nacional os Amundava eram nômades com uma aldeia permanente para certas épocas do ano, mas mudaram entre acampamentos espalhados no território e viviam em tapiris pela maior parte do ano. Antigamente usavam malocas retangulares, com telhados altos de duas águas. Hoje a maioria habitam casas de madeira cobertas com telhado de amianto, introduzido pela FUNAI, com as riscas à saúde. Pois os índios queixam que estas casas esquentam no sol durante os dia (Kanindé 2003). A escola ensina Português e um curricular inclui conhecimento do ambiente e vida indígena.

Toda a família está envolvida no trabalho das roças, os homens e as mulheres. Os homens fazem a derruba e a coivara, antigamente derrubaram as arvores com machados de pedra. Plantam a mandioca e a macaxeira. A mandioca é descascada, ralhada a mão, e uma prensa de madeira é usada em vez de tipiti. Um mingau está feita da macaxeira e secado em estreias no sol. A farinha de mandioca é para consumo doméstico ou vendido pela ajuda da FUNAI. O milho é feito em farinha ou em mingau. Plantam também cara, taioba, batata doce, mamão, papaia, algodão e urucum. Os produtos vendidos facilitam a compra de sabão, roupa, ferramenta, TVs, etc. (Kanindé 2003).

A caça é abundante na T I É feita com espingardas, porém os velhos ainda preferem arco e flecha. Imitam o som dos animais par atraí-los e amontam tocaias para pegar aves como o inambu. Os Amundava e Jupaú usam um veneno (tikyguywa) extraído do casco da tike-uba ou o jequitibá-roxo (Cariniana domestica) como um anticoagulante para caçar e também contra inimigos (Hemming 2003.569). A pesca, especialmente duranta a estação seca, é feita de redes, arco e flecha ou tinguijada (Kanindé 2003).

Artesanato: Fazem panelas de cerâmica e cestas. O cocar ou acangatar e flechas são feitos com penas de papagaio, gavião real ou arara. Os homens usam um colar de dentes do queixada e as mulheres um de dentes dacapivara.

Sociedade:
Os povos Kawahib como os Amundava estão divididos em metades, chamadas Arara (Kanideia) e Mutum. As crianças ganham o nome que o pai teve quando era bebê. Os nomes mudam quando nasce cada filho. Quando seu irmão nascem ele recebe os outros nomes que o pai teve. Todos os nomes dos filhos vem da metade do pai. A mudança de nome indica o grau de idade, papel e a metade (Sinha 2011).

As crianças já nascem prometidas em casamento, mas atualmente há conflitos quando as meninas não querem o marido prometido. Os casamentos são entre primos cruzados e entre as metades, alias, Mutum se casa com Arara. São poligâmicos, mas a escassez de mulheres nos últimos anos tornam-se mais monogâmicos. O casal mora com os pais da mulher.

A liderança é divida entre o cacique tradicional e o presidente da Associação do Povo Indígena; o último trata todas as relações com as organizações municipais, estaduais e federais.

Religião:
Acreditam na existência dos espíritos da floresta. O Anhangá tem a forma de um morcego grande e pega pessoas para chupar seu sangue. Os Amundava celebram diversas festas, inclusive as festas do milho que chama-se Ipuã. Na festa Yreruá o chefe toca uma flauta chamada Yreruá e os homens dançam enrolados de cipós e com os arcos prontos para atirar flechas com gritos de guerra. As mulheres dançam agarradas nos braços dos homens.

Os Amandava, como os Jupaú (Uru-eu-wau-wau), enterram os mortos na maloca. A cova é circular e o morto está enterrado na posição sentada, como seus pertences. Uma pena de gavião é colocado no peito para proteger dos espíritos ou um cocar de penas de gavião é colocado como uma dádiva aos espíritos pela proteção. Quando mudam a aldeia, voltam para limpar o chão sobre as covas ou depois levam os ossos para a nova aldeia.

Cosmovisão:
Os Amundava não têm termos para as unidades do tempo, como dia (24 horas), semana, mês, ano, etc. (Silha 2011.17). Suas festas não marcadas por um calendário, mas usam termos mais gerais para agora, hoje mais cedo, passado e futuro, e para as estações e partes do dia e da noite. Não contam anos, mas as estações que são duas: ‘no sol’ que é divida em ‘o sol nasce’, ‘sol queima’ e ‘sol pequeno’; ‘chuva’ é dividida em três partes também. As partes do dia eram descritas conforme as atividades. Para descrever o ano e o dia os não usam os conceito de cíclicos do tempo. Tudo é descrito em sucessão linear.

Os Amundava têm somente quatro números um (pe’i), dois (monkõi), três (Monkõiape’i ou ape’imonkõi) e quatro (monkõiuturaipei ou monkõimeme). Por isso não contam a idade de pessoas em anos mas conforme os estágios da vida e a ordem de nascimento na família. Então o nome atual refere à metade, a ordem de nascimento e o estágio de vida e seu papel na sociedade. O passado e o futuro não se expressam por os verbos, mas por modificar os substantivos de pessoas ou coisas, e os acontecimentos passados e futuros são descritos relativo ao presente. Então os Amundava não são um povo sem conceito de tempo, como a média tem interpretado as pesquisas da equipe da Universidade de Portsmouth, Inglaterra (Silha 2011.36). Os Amundava não mede o tempo como uma entidade abstrata, mas conceituam a vida conforme os eventos.

Comentário: Dizem que alguns são católicos e outros evangélicos.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • FEARNSIDE, Philip M, 2004, A Hidrelétrica de Samuel: Lições para as Políticas de Desenvolvimento Energético e Ambiental na Amazônia, Manaus AM: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must: Brazilian Indians in The Twentieth Century, London: Macmillan
  • KANINDÉ Associação de Defesa Etnoambiental, ‘Uru-Eu-Wau-Wau’, 2003, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, verbete produzido em parceria com Jupaú – Associação do Povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau, julho, 2003, pib.socioambiental.org/pt/povo/Uru-Eu-Wau-Wau
  • SIL: 2009, Ethnologue: Languages of the World, Lewis, M Paul (ed), 16th edition. Dallas, Texas: SIL International, www.ethnologue.com
  • SINHA, Chris, SINHA Vera da Silva, ZINKEN, Jörg, SAMPAIO, Wany, 2011, ‘When Time is not Space: The social and linguistic construction of time intervals and temporal event relations in an Amazonian culture’, Portsmouth, UK: University of Portsmouth