Isolados do Igarapé Omerê

David J. Phillips

Autodenominação: Desconhecida.

Outros Nomes: Akuntsu, ou Akunt’su é nome dado por seus vizinhos, os Kanoé, que significa ‘outro índio’ (Mendes 2005).

População: Cinco Akunt’su (DAI/AMTB 2010). Quatro dos Kanoé e cinco dos Akuntsu e mais um desconhecido. Dez (FUNAI 2009). Dos Kanoé 90 vivem na T. I. Rio Guaporé e outros em diversas Terras Indígenas, total: 274 (Bacelar 2002).

Localização: T. I. Igarapé Omerê, que consiste de 26,000 ha de floresta de terra firme no rio Omerê, um dos afluentes do Rio Corumbiara no sudeste de Rondônia. É situada nos municípios de Corumbiara e Chupinguara. É ameaçado pelo avanço de fazendas de gado e madeireiros que permanecem dentro o território apesar de tentativa de expulsá-los (Mendes 2005). A Terra foi homologada em 18 de abril 2006.

Língua: Da família linguística Tupari. Os Akunt’su não entendem a língua dos vizinhos Kanoé. Há 5 línguas da família Tupari:Kepkiriwát, Makuráp, Sakirabiá, Tupari e Wayoró (SIL).

História: Os Akunt’su e os Kanoé sofreram massacres pelos fazendeiros de gado nas décadas 70 e 80, mas os madeireiros e fazendeiros desmentiram a presença dos índios. Em 1985 a FUNAI estabeleceu uma frente de atação na região do rio Corumbiara, e depois isso o sertanista da FUNAI recebeu ameaças de morte dos fazendeiros. Em 1995 a FUNAI contatou pela primeira vez o grupo de Kanoé que informaram o sertanista do outro grupo de desconhecidos, que eles chamaram Akunt’su. Os Kanoé foram remanescentes de um grupo contatado por Cândido Rondon em 1913 ou 1914. Ao primeiro contato pela FUNAI os Kanoé usaram chapéus do estilo do branco, feito de tala de palmeira tecidas com plastico preto e colares de plastico. Eles usam outros artigos com o plastico que tinham colhidos dos acampamentos abandonados dos madeireiros. Eles tinham uma cerca em redor da sua aldeia no meio da mata para se separarem dos Akunt’su (Bacelar 2004.34).

Marcelo dos Santos da FUNAI procurou por dez anos nos lugares indicados pelos sinais de capoeira de roças abandonadas nas fotos de satélite. Mas os índios tinham migrado da sua terra devido às invasões. Fincaram estacas apontadas como armadilhas nas pistas de todas estradas que eram cortadas na sua direção.

Uma segunda expedição encontrou estes desconhecidos em um grupo de sete indivíduos Akunt’su. O grupo contou sobre uma tentativa de os eliminar quando15 foram mortos. Foi em janeiro de 1996, quando um fazendeiro contratou madeireiros para ‘limpar os índios’. Estes entraram na aldeia atirando e ascenderam fogo na maloca e na roça de milho. Os fazendeiros tentaram eliminar toda a evidencia da existência da aldeia (Winkel 1996). Por este crime ninguém foi processado. O grupo de Akunt’su em 2005 consistiu de seis e em 2009 apenas cinco.

Estilo de vida: Hoje os Akuntsu vivem em uma pequena área de floresta da T.I. que tem fazendas grandes de gado e plantações de soja. Os Akunt’su moram em duas malocas pequenas perto do igarapé Omerê. Caçam caititu, acouti e anta e colhem frutos; cultivam roças de mandioca e milho. Fabricam flautas de madeira para acompanhar suas danças e cerimonias. Usam pulseiras de fibra de palmeira e colares de plastico em vez das conchas usadas no passado.

Os Kanoé copiaram a construção da maloca que os indigenistas da FUNAI tinham construído no seu posto. Também suas roças, comparadas às dos Akunt’su, são bem organizadas (Bacelar 2004.36). Construíram duas casas para guardar os porcos do mato e uma galinheira.

Artesanato: A família Kanoé são muito hábil em fabricar chapéus e colares usando peças triangulares e circulares de plástico, com as cores alternadas ou da mesma cor. São perfeccionistas fazendo brincos, pulseiras, caneleiras e tornozeleiras de fibras de buriti, etc. Pedem ou fabricam roupas dos brancos e não quarem andar nus (Bacelar 2004.35).

Sociedade: Os Kanoé são separados da maioria do seu povo que moram ao longo das margens do Rio Guaporé e espalhados em outros lugares. A FUNAI teve contato com estes Kanoé primeiro em setembro 1995, e a notícia de índios desconhecidos espalhou pela média no Brasil e no mundo (Hemming 2002.578).

Os quatro Kanoé moram perto e têm se casado com os Akunt’su. Os Kanoé consideram os Akunt’su de ter outros costumes e língua (Hemming 2002. 579). Os Kanoé contaram de uma visita misteriosa de dois homens pretos e dois brancos que moravam por algum tempo com eles e depois os abandonaram levando os filhos com eles. Conforme Hemming os índios pensaram em se suicidar (Hemming 2002. 579).

Outra versão da história é o seguinte: A família kanoé contou aos sertanistas da FUNAI que o seu grupo contava com 50 pessoas. Um dia os homens Kanoé partiram à procura de esposas de outras etnias e foram assassinados. As mulheres decidiram se suicidar com veneno. Entretanto, uma mulher chamada Tutuá vomitou fora o veneno e salvou seus dois filhos e a sobrinha. Então os Kanoé foram reduzidos a uma mulher e três crianças, que travaram com os Akunt’su. As tentativas dela de arranjar casamento entre os Akunt’su e seus filhos eram frustradas. Os Akunt’su mataram a sobrinha, que era a pajé do grupo. Mas o cacique Akunt’su gravidou uma das filhas e um menino Kanoé nasceu. Este recebeu a assistência da FUNASA por causa das sua falta de coordenação psicomotora, porém faleceu com cinco anos (Bacelar 2004.34).

Os cinco Akunt’su: Quando a velha Ururu de 85 adoeceu ela foi levada ao hospital pela FUNAI. Saiu depois uma semana e morreu na aldeia e a família a enterrou com flores e seus dois passarinhos de estimação, conforme seus costumes (Frasão 2010). Usam arcos muito compridos de pupunheira de três metros com flechas ainda mais compridas. Moram em palhoças pequenas cobertas de palha de açaí, e têm evidencia de uma cultura desenvolvida. Usam cocares feitos de penas de arara, colares elegantes de sementes e dentes de capivara.

A FUNAI separou as duas etnias por causa das atritos, mudando os Kanoé para outro lado do Igarapé Omeré a uma distancia de 3 km (Bacelar 2002, 2004.34). Em 2004 os Kanoé eram uma família de três: Uma mulher, seu irmão e uma criança, que falava somente sua língua (Bacelar 2004.33).

Há um homem que mora sozinho – ‘o índio no buraco’ – que pode ser o último sobrevivente de uma outra etnia. Ele fez fendas na parede da casinha pelos quais ele espia, por isso é chamado ‘o índio no buraco’. Um massacre houve em 1985, quando os índios do homem viviam 30 km. distante da fazenda, mas o fazendeiro ofereceu lhes açúcar envenenado e alguns morreram. Um pistoleiro matou os outros sobreviventes, e só ‘o homem no buraco’ escapou. O homem viveu apenas por coleta e caça até os ataques cessou e agora tem sua casa e uma roça. Em redor da casa ele tem construído armadilhas de buracos coberto de terra. O sertanista Altair Algayer mantem contato indireto com ele por alguns anos (Frasão 2010).

Religião: O pajé Akunt’su, Kunibu, interage com a mulher pajé Kanoé, e entram em transe para evocar os espíritos de entes mitológicos e de animais. O ritual envolve danças batendo o chão com o pé direito e segurando na mão o arco e flechas, todos cantando com o pajé (Mendes 2005). Na ocasião no primeiro contato ele sempre se aproximou os indigenistas usando feitiços e encanações por ser amedrontado.

Bibliografia:

  • BACELAR, Laércio Nora 2002, ‘Kanoé’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo.
  • BACELAR, Laércio Nora 2004, Gramática da língua Kanoé, Katholieke Universitiet Nijmegen, Holanda.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • FRASÃO, Lucas 2010, ‘Ex-madeireiro, indigenista monitora único sobrevivente de povo massacrado em RO’, www.globoamazonia.com/Amazonia/0,,MUL1635809-16052,00-.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must: Brazilian Indians in The Twentieth Century, London: Macmillan.
  • MENDES, Adelino de Lucena, 2005, ‘Akuntsu’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo.
  • WINKEL, Rich, 1996, ‘Índios Ameaçados em Rondônia’, Centro de Trabalho Indigenista – CTI, Instituto Socioambiental, Sao Paulo, www.bandavisual.org/docs/kanoe/Indios amenizados Rondonia.pdf., acessado 12 de junho 2011.