David J. Phillips
Autodenominação:
Outros Nomes: Miriti-tapuya ou Buia-tapuya: São habitantes tradicionais do Baixo e Médio Tiquié, destacando-se as comunidades de Iraiti, São Tomé, Vila Nova e Micura. Miriti-Tapuya, Miriti-Tapuia, Buia-Tapuya, Neenoá (DAI/AMTB 2010). O termo tapuia foi utilizado, ao longo do tempo da colonização do Brasil, como designação dos índios que não falavam a língua tupi, e que falavam principalmente, línguas do tronco macro-jê. No contexto significava ‘forasteiro’ ou ‘bárbaro, do ponto de vista Tupi
População: 120 (DAI/AMTB 2010).
Localização: Os Miriti-tapuya viviam por tradição no baixo e médio rio Tiquié, especialmente nas comunidades de Iraiti, São Tomé, Vila Nova e Micura.
T. I. Alto Rio Negro, AM, de 7.999.380 ha homologada em 14 de abril de 1998, e registrada no CRI e SPU, com 26.046 de 18 etnias (SIASI/SESAI 2013).
Língua: Miriti, Tukano e Português (DAI/AMTB 2010). Atualmente falam apenas a língua Tukano, Miriti é considerada de ser extinta.
História: Durante o século XVIII os portugueses tentaram tomar conta dos territórios no extremo oeste da Amazônia, concedidos pelo Tratado de Madri em 1750. Mas os caciques do alto rio Negro se rebelaram em 1755. Um chefe chamado Yavita vendeu escravos dos rios Uaupés e Xié aos portugueses. A fronteira com a Espanha no alto rio Negro e a Venezuela foi definida em 1777 e marcada por fortes construídos pelos índios. Uma comissão sob um ‘astrônomo’ foi estabelecida em Barcelos e Tefé para determinar a fronteira entre os Solimões e Uaupés, que trouxe naturalistas e cientistas à região pela primeira vez.
O primeiro contato do alto rio Negro com os brancos eram ‘pelos objetos, como ferramentas, comerciados por outros indígenas, seguidos pelas expedições portuguesas à busca de escravos, acompanhadas de jesuítas acerca de 1650 (Cabalzar 2006.73). Escravos tukano entre outros foram levados para Belém entre 1739 e 1755 e epidemias de varíola e sarampo arrasaram a região entre 1740 e 176. Depois da derrota dos Manao pelos portugueses o alto rio Negro ficou despovoado. Os índios se dividiram entre os que cooperavam com os brancs e serviram os carmelitas com a coleta de produtos do mato e os outros que continuaram a resistir. Pombal terminou o trabalho dos missionários e quis trocar a escravidão pela assimilação dos índios, mas os coloniais continuaram a explorá-los (Cabalzar 2006.80).
Quando a nova providencia do Amazonas foi criada em 1850 os presidentes pensaram que ela prosperaria somente se os indígenas sejam transformados em mão de obra. O rio Negro já era quase sem índios e a atenção passou para o rio Uaupés com seus afluentes os rio Tiqué e Papuri, e os rios ao norte, os Içana e Aiari, que ainda tinha uma grande população indígena, inclusive os grupos falantes Tukano. O carmelita, frade José Maria de Bene, foi enviado e ele chegou no rio Uaupés em 1852 e começou a três pontos entre os Tukano. Ele conseguiu batizar o terço dos estimados 2.300 índios em quinze aldeias no rio Uaupés em dois anos. Quando ele transferiu para o rio Içana ele descobriu os Baniwa espalhados e depois de batizar 165 se demitiu do trabalho (Hemming 1987.303). O tenente de polícia Coreiro tentou ter o monopólio do comércio no rio Uaupés e visitou os chefes para persuadi-los mudar-se para as margens dos rios. Poucos o obedeceram porque ele ia capturá-los. Cordeiro puniu uma aldeia, matando todos (Hemming 1987.306).
Em 1858, um movimento messiânico entre os Baniwa no Içana, do Venâncio Cristo, chegou no rio Uaupés e um Tukano, Alexandre organizou danças messiânicas e ele foi bem recebido pelos índios que temiam um ataque dos brancos. Alexandre realizou batismos, casamentos e deu profecias e centenas dos povos Tukano responderam. Ele profetizou que os índio dominariam os brancos. Um frade foi investigar mas os índios não cooperam e ele tinha que fugir depois um tiroteio, mas Alexandre sumiu rio acima no Tiquié. Uma expedição veio de Manaus para reconciliar os índios e uma capela católica foi construída pelos índios e consagrada. Os Tukano contam que houve muitos movimentos messiânicos no século até o fim do século XIX, mas em contraste como entre os Baniwa no Içana, eles desapareceram no rio Uaupés (Hemming 1987.311-113).
Dois capuchinos, frades Mathieu Canioni e Guiseppe Coppi chegaram no rio Uaupés em 1883. Coppi era um zelote que não falava as línguas indígenas e desprezava os povos Tucano. Instituiu uma disciplina severa, construiu a missão na aldeia dos Tariana chamada Panoré, com as casas em fileiras, uma igreja grande e uma casa pastoral fortificada. Os frades combateram as injustiças dos regatões e perseguiram os pajés. Para destruir a crença do Jurupari, Coppi mostrou uma mascara sacra às crianças e depois a todos na capela. Isso produziu um tumulto de temor e raiva, que resultou na fuga dos missionários rio abaixo. Os pajés tomou a oportunidade de purificar a aldeia com seus rituais. Alguns pajés pensaram em abandonar sua crença, mas eram persuadidos continuar por um velho colega que disse que recebeu uma visão do Jurupari. Os frades abandonaram sua missão (Hemming 1987.321-324).
Os povos viviam em temor dos seringueiros durante a primeira época da borracha do final do século XIX. As árvores ficavam mais no lado colombiano, e os colombianos vieram ao Brasil para escravizar os índios e levá-los para lá. Em 1927, Nimuendajú encontrou com Antônio Maia, agente do criminoso Julio Barreto. Maia viajou no rio Uaupés explorando os índios para pagar ‘dívidas’, trabalhar nos seringais, ou ser raptados para a Bolívia (Hemming 2003.241).
A época dos salesianos começou em 1914 e durou até 1952, instalando missões em São Gabriel, Taracuá, Iauareté, Pari-Cachoeira, Santa Isabel e Assunção do Içana. Reduziram a exploração dos patrões, mas destruíram a cultura e as línguas indígenas por levar as crianças para serem educados nos seus internatos, nos quais reinava só a fala portuguesa e uma disciplina rigorosa. Mandaram a destruição das malocas para substituí-las com casas de famílias nucleares e abandonar o ritual do Jurupari (Cabalzar 2006.95). Os salesianos só tinham influência no rio Içana depois 1950 e na época muitos Baniwa se converteram ao protestantismo, mas isso tinham pouco contato com os povos Tukano. Em 1979 o governo cortou os verbos e os salesianos terminaram o regime dos internatos.
O Plano de Integração Nacional (1970) incluiu a tentativa de construir a estrada BR-307 do Acre, lingando Benjamim Constante e São Gabriel da Cachoeira com Cucuí, na fronteira com a Venezuela. Só este último trecho foi construído. Em 1988 a nova Constituição deu direitos aos indígenas, mas levou uma década de luta, com a formação das Associações indígenas do rios para conseguir a demarcação e homologação das Terras Indígenas do Médio rio Negro, Téa e Apapóris em abril 1998.
Nos anos 80 do século XX os garimpeiros invadiram o rio Uaupés, o ouro atraiu milhares de homens que não respeitavam os índios. Os índios tentaram garimpar nas suas terras por conta próprio, não podiam defender o território dos invasores. Estes concentraram nos garimpos do Pari-Cachoeira e no alto Tiquié. Em 26 de outubro de 1985 noventa índios foram ao acampamento dos garimpeiros, pedindo que saíssem. Na luta que houve três garimpeiros foram mortos. Os índios descobriram outros garimpos de ouro e os Tukano fizeram um acordo com a Empresa de mineração. O plano de incluir o garimpos dentro a nova Terra Indígena foi cancelado. Os índios responderam por realizar uma ‘Assembleia da Organizações Indígenas do Alto Rio Negro com 300 representantes em abril 1987, criaram FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e rejeitaram a proposta de pequenas ‘ilhas’ de T. Is. para a T. I. Alto DRIO Negro. No fim o acordo com a empresa de mineração não se cumpriu e os índios deixados decepcionados (Hemming 2003.622, 626).
Estilo da Vida: O rio Uaupés com seus afluentes Tiquié, Papuri, Querari e os igarapés é a região habitada pelos povos de línguas Tukano. Na Colômbia, há vários grupos aparentados que vivem na bacia Vaupés e na bacia do rio Apapóris e seu afluente o rio Pirá-Paraná. Existem pelo menos dezesseis povos que são falantes deste línguas, mas usam o Tukano como a língua franca. Os Miriti-tapuya ocupam o médio e baixo rio Tiquié (Cabalzar 2006.41). Os Hupdah e Yuhupdeh dos chamados povos ‘Maku’ vivem na floresta da terra firme dos afluentes do rio Tiquié, os primeiros na margem esquerda e os segundos na margem direita. Rio acima na Colômbia vivem os Kakwa, outro grupo dos seis povos chamados ‘Maku’. Eles servem os povos Tukano, ‘os povos do rio’, como os Miriti, em brocar e queimar as roças maiores, providenciar carne de caça, e morar temporariamente ao lado dos povos ribeirinhos (Cabalzar 2006. 49-51). Assim a exploração econômica da áreas ecológicas diferenciadas da região é aproveitada. Os caçadores coletores ‘Maku’ usam as áreas interflúvias e os ‘povos do rio’ fazem a agricultura de coivara e a pesca. Em 2006 somente 12 Miriti-Tapuya moravam na cidade Iauareté, no rio Uaupés, entre uma população de 2.659 (Andrello 2006.153).
Sociedade: Os povos da língua Tukano praticam o casamento exogâmico interétnico e patrilocal, os Miriti se casam com mulheres das outras etnias das línguas Tucano, como uma mulher Desana, Tukano ou Tuyuka. Desta maneira os povos são unidos em uma colaboração mútua. Também pessoas representantes da outra etnias se encontram nos assentimentos dos outros. Um comércio de troca de sal, raladores Baniwa e malhadeiras do lado brasileiro ganham panelas de alumínio do lado colombiano.
Artesanato: Cada povo do grupo Tukano tem sua especialidade: Os Tuyuka fazem canoas, os Tucano bancos, os Desana apás grandes, cestos e cumatás, os Tariana especializam em implementos de pesca como caiá, cacuri, matapi, os Wanana o preparo do carajuru para colorar bancos, artefatos rituais e a pintura corporal. Os Bará confeccionam aturás de turi, os Makuna fazem zarabatanas e curare e canoas (Cabalzar 2006.43-45).
Religião: A festa do Jurupari é celebrada pelos povos Tucano. O nome é termo impróprio, porque vem do Tupi, descreve um espírito mau temido pelos povos do litoral e usado pelos jesuítas para o diabo. Na realidade a festa celebra uma criança ancestral que vagava na mata, transformada em preguiça ou guariba. A festa dura três dias, e as mulheres e as crianças se escondam na floresta para não ver as flautas e os pajés disfarçados com mascaras. O Jurupari chega durante a música e entra a casa quando é silenciosa, bate em pessoas com seu bastão, recebe comida e volta para a floresta. Depois isso as mulheres voltam e a dança começa (Hemming 1987.321). 20% provavelmente Cristão católico.
Cosmovisão:
Comentário:
Bibliografia:
- ANDRELLO, Geraldo, 2006, Cidade do Índio: transformações e cotidiano em Iauaretê, São Paulo, SP:UNESP.
- CABALZAR, Alosio, 2006, (redator) Povos Indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambiental do noroeste da Amazônia brasileira, São Gabriel da Cachoeira/ São Paulo: FIORN-ISA.
- DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
- EQUIPE do Programa Rio Negro do ISA, 2002, ‘Mirity-tapuya’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/miriti-tapuya.
- HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
- HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
- SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.