Morerebi — Jiahui

David J. Phillips

Autodenominação: Jiahui. Os Morerebi ou Jiahui são um dos grupos que se chama Kavahiva ou Kagwahiva, sendo os Tenharim, Parintinin, Amondawa, Juma, Karipuná e Uru-eu-wau-wau.

Outros Nomes: Diahoi [Jiahui, Diarroi] Djahui Kawahib, Paranawat, Pawaté-Wirafed Parintintín, Tenharim, Juma Tukumanfed.

População: 100 (DAI/AMTB 2010). Os Jiahui na aldeia Juí: 17 pessoas em 2002. Total dos indivíduos junto aos Tenharim em Humaitá e Porto Velho: 50 pessoas além de mais isolados (Peggion 2002). Os remanescentes Kagwahiva são os seguintes: Jiahui, Amondawa, Juma, Karipuna, Tenharim (do Rio Marmelos, do Igarapé Preto e do Sepoti), Parintintin, Uru-eu-wau-wau e alguns grupos isolados. Olson disse que os Morerebi eram um grupo isolado que perderam sua população devido as doenças importadas (Olson 1991.245).

Localização: Duas aldeias no Rio Preto, um afluente do rio Marmelos, no Estado de Amazonas. A Terra Indígena Diahui tem 47.374 ha., atravessada no norte pela BR-230, homologada e registrada no CRI e SPU, com 77 Morerebi.

Língua: Morerebi, semelhante a Amundava, Tenharim e Uru-eu-wau-wau. A língua é da família linguística Tupi Guarani, subgrupo VI de 12 línguas. Conforme o SIL consiste de um grupo familiar que não tem vivido com os Tenharim por muitos anos e não querem contato com a sociedade nacional. 100 falantes (SIL). Morerebi tem semelhanças fonéticas com os Urubu Ka’apor do Maranhão.

História: Os Morerebi ou Jiahui são um grupo remanescente dos Kagwahiva. Os grupos dos Kagwahiva viviam na confluência dos rios Arinos e Juruena, afluentes do rio Tapajós em 1750. Eram mencionados por Martins em 1797. Foram expulsos do rio Tapajós pelos bandeirantes portugueses de Cuiabá descendo o rio a busca do ouro. Também travaram guerra com os Munduruku em meados do século XIX e os Kagwahiva dispersaram-se na direção oeste rumo ao Madeira (Kracke 2005). Os Parintintin ficaram ao leste do Madeira e no rio Machado e os Uru-eu-wau-wau, Amondawa e Karipuna transferiram para a região central do Roraima. Os grupos Kagwahiva dividiram e travaram guerra uns com os outros na região, vindo em intervalos sucessivamente do Tapajós. Sua chegada no vale do rio Madeira também envolveu intensa guerra com os regionais por 70 anos.

Os antigos Jiahui podem citar os nomes de muitos grupos, mas antes de 1920 foram todos chamados ‘Parintintin’ pelos não indígenas, mas em 1922 Nimuendajú ‘pacificou’ os Parintintin e descobriu que Kagwahiva era a sua autodenominação dos grupos, e os Parintintin era apenas um dos grupos. Nimuendajú começou a demarcação das terras dos grupos Kagwahiva e o SPI iniciou sua atuação na área. Porém os Jiahui se mantinham isolados, e eram conhecidos por sua índole guerreira, pela reputação de mandar morcegos grandes à noite como feiticeira de vingança e por deixar seu cabelo comprido (Peggion 2002). Houve um contato violento em 1930 e depois se mantinham isolados, e somente com contato com alguns coletadores de castanhas até na década 70.

A abertura da estrada Transamazônica pela empresa Paranapanema era um momento crítico para os Morerebi. Foram surpreendidos de ver muitos Tenharim trabalhando entre os funcionários da empresa. Sobrevivendo suas suspeitas do contato os Jiahui passaram a viver na aldeia Tenharim. Acerca de 1995 as duas populações do Tenharim e dos Jiahui aumentaram e por isso os últimos voltaram para suas terras (Peggion 2002).

Estilo da Vida: Os Morerebi cultivam mandioca, macaxeira, mamão e banana. O babaçu é um frutos predileto deles. Os homens derrubam as arvores e fazem a coivara na época da seca, mas a plantação, a capina e a colheita é por toda a comunidade. Também caçam e pescam. Caçam a queixada, a paca e a cutia com espingarda ou arco e flecha ou por armadilhas. A pesca é realizada mais pelas mulheres e pelas crianças com linha e anzol, flecha, zagaia e espinhel, que é uma linha horizontal suspensa sobre a água com outras linhas penduradas com anzóis na água. Usam matapi ou jequi e a tinguijada com timbó, ou batam na água para imitar fruta caindo na superfície para atrair o peixe. Coletam castanha, açaí e outros produtos da floresta para o mercado regional em Humaitá, mas o preço oscila de acordo com a safra. Usam a castanha do Pará na comida. Caçam andando à bicicleta na estrada Transamazônica. Uma boa caça é compartilhada com todos e o resto é moqueado ou salgado.

Sociedade: Os grupos de Kagwahiva estão espalhados entre os rio Madeira e Tapajós, mas se consideram uma só sociedade. Os grupos locais estão organizados em redor de uma família nuclear, e são instáveis e novas aldeias são criadas depois disputas. Os Morerebi ou Jiahui são organizados em duas metades exogâmicas chamadas; Mytu e Taravé (mutum e maracanã). O homem nasce na metade do seu pai e só pode se casar com uma moça da outra metade. Durante a década 70 muitos se casaram com os Tenharim, quando moravam juntos (Peggion 2002).

Artesanato: Alem de vender a castanha do pará e o acaí os homens levem colares, anéis, pulseira e cocares em Humaitá e Porto Velho.

Religião: A festa Mboatava é referencial cultural de todos os Kagwahiva. É é realizada no início do plantio quando é servido um prato de carne de anta queixada cozida no leite de castanha.

Cosmovisão:

Comentário: Não há evangélicos ou literatura cristã na língua.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • KRACH, Waud, 2005, ‘Parintintin’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/parintintin.
  • OLSON, James S.: 1991, The Indians of Central and South America, Westport, CT, USA: Greenwood Publishers.
  • PEGGION, Edmundo Antonio, 2002, ‘Jiahui’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/jiahui.
  • SIL 2009: Lewis, M. Paul (ed.), 2009. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Online version:www/ethnologue.com.