Suruwahá – Zuruahã

David J Phillips

Autodenominação: Zuruahã é provavelmente o nome de um povo extinto que o grupo adotou para satisfazer a curiosidade dos brancos. Na verdade, esse era o nome de um caçador que vivera há muito tempo atrás naquela região (suruwaha.blogspot.co.uk)

Outros Nomes: Isolados do Coxodoá, Zuruahá (DAI-AMTB 2010).

População: 200 (DAI-AMTB 2010), 144 (Dal Poz 1996).

Localização: Amazonas, na Terra Indígena Zuruahã, de 239.070 ha de floresta ombrófila densa, cercada pelos rios Cunhuá, Riozinho e pelo igarapé Coxodoá, no município de Tapauá, homologada e registrada no CRI e na SPU, com 134 Zuruahã (FUNAI 2006). Situada a noroeste da cidade de Lábrea, acesso por via fluvial é pelos rios Tapauá e Cunhuá até o igarapé Coxodoá.

Língua: Suruwahá (DAI/AMTB 2010), Zuruahá (Índios do Coxodoá) 130 falantes e monolíngues (SIL). Linguistas têm produzido diversos estudos da língua.

História: Os Suruwaha são conhecidos pelas tribos vizinhas como “o povo vermelho” por aparecerem na mata sempre pintados com urucum dos pés à cabeça. São conhecidos por antropólogos e indigenistas como “o povo do veneno” devido à forte tradição de suicídio através da ingestão da raiz venenosa do timbó. Mas para eles mesmos, são apenas “gente”- uma gente forte, bonita e trabalhadora, criada a partir da semente de uma futa do mato. Conforme a tradição na aldeia, são formados dos sobreviventes de sete grupos dos Sarukadawa no igarapé Coxodoá, Adamidawa no igarapé Pretinho, Tabusudaw no igarapé Watanaha, Jukihidawa no igarapé Pretão, Masanidawa na foz do Riozinho, Kurubidawa em um afluente da margem esquerda do Cuniuá, e Nakasanidawa no igarapé do Índio. Também os Zuruahã no rio Cuniuá, os Ydahidawa no igarapé Arigó e os Zamadawa no alto Riozinho (Dal Poz 2005, suruwaha.blogspot.co.uk)

Na época do contato essa “gente” precisou arrumar um termo para usar como nome, já que os “brancos” insistiam num nome para o grupo. Aniumariu, um senhor forte e inteligente, resolveu fazer uma brincadeira e disse que eles se chamavam Suruwaha. O termo pegou e até hoje, mais de 20 anos após o contato, eles são conhecidos no mundo de fora como índios Suruwaha. Alguns destes grupos chegaram a ter contato amistoso com os seringueiros, recebendo ferramentas e roupa. Devido a uma epidemia de gripe durante os anos 20 as populações foram dizimadas. Temendo um ataque pelos Paumari, os sobreviventes dos grupos buscaram refúgio nas redondezas do igarapé Pretão (Dal Poz 2005).

As primeiras notícias dos Suruwahá vivendo no rio Coxodoá datam da década 70. Foram os missionários católicos e Luteranos que promoveram os direitos indígenas nestas região, com verbos financiais do G7, etc. (Hemming 2003.560). Membros do CIMI localizaram algumas malocas por um sobrevoo em 1978 e em 1980 estabeleceram um contato amistoso. Em 1983 uma expedição da FUNAI, acompanhada por índios Wai wai, Xereu, Ixkaraiana, Atroai, Deni e Baniwa. Cortaram uma picada por 20 km rumo sul da foz do Igarapé Coxodoá e finalmente encontram com os índios. Deixaram presentes e prometeram estabelecer um Posto na região, porém não voltaram. Um grupo de trabalho propositou a demarcação da terra Suruwahá de 233.900 ha localizada no município de Camaruã, que foi feita pelo exército entre em janeiro 1988 suruwaha.blogspot.co.uk). Também tiveram contato com a missão evangélica JOCUM, que usaram o barco da FUNAI para se aproximar do grupo (Dal Pol 2005).

Estilo da Vida: Os Suruwahá habitam a terra firma e alta entre os igarapés Riozinho e Coxodoá, afluentes da margem direita do rio Cuniuá, formador do rio Tapauá que é do rio Purus. Vivem em malocas (oda) de forma cônica, suportado em um circulo de postos de um metro e meio de altura. O interior é dividido em áreas familiares (kaho) pela vigas que suportem o telhado e servem para amarrar as redes. Os homens colaboram com a construção da estrutura mas a cobertura do telhado é a responsabilidade do do dono.

Cada família nuclear é responsável por sua subsistência, os homens caçam, fabricam as armas por isso, derrubam a mata para fazer as roças, mas o plantio é feito com as mulheres. Estas fazem a colheita, preparam a comida e cuidam das crianças. Plantam mandioca, batata doce, cará, inhame, ariá, taioba e diversas frutas como cinco espécies de banana, abacaxi, caju e cana de açúcar. Na estação de verão todos cooperam na pescaria, usando timbó. Os homens podem caçar sozinhos, ou em expedições que duram semanas. A caça mais preferida é anta.

Sociedade: Cada maloca (oda) pertence ao homem que a constrói como o dono (anidawa). Não há uma chefia central, mas uma hierarquia do caçadores conforme quantos antas que cada um já abateu. A regra de casamento é de primos cruzados. Valorizam ter filhos homens que as mulheres temem um feitiço que lhes interdita a concepção de meninos. Os Suruwahá têm diversos termos para os estágios da vida.

Artesanato:

Religião: A morte por feitiço era comum quando viviam os grandes pajés, e os Suruwhá lamentam a falta deste homens. Os Suruwahá são conhecidos como ‘povo do veneno’ devido à pratica do suicídio. Pelos últimos cem anos o costume da maneira honrosa de se morrer é suicídio por tomar veneno timbó. É parte do seu conceito com respeito à vida após a morte. Desde contato 30 pessoas ou 25% da população se suicidaram (suruwaha.blogspot.co.uk). Entre 1980 a 1995 houve 38 óbitos por suicídio entre 45 mortos. Creem que seja melhor morrer jovem e forte. Algo provoca contrariedade e o indivíduo destrói seus pertences e corre à roça para pegar as raízes de timbó, enquanto seus parentes tentam tirar-lhe as raízes, mas o indivíduo corre ao igarapé mastigando as raízes e tomando água para ativar seus efeitos tóxicos. Depois tenta voltar para a casa, onde os parentes tentam provocar o vômito do veneno.

Os Suruwahá valorizam a juventude e desprazem a velhice, e por isso não preocupam com os suicídio de pessoa novas. O motivo envolve sentimentos de vergonha, auto estimo e afeição pelos parentes vivos e mortos. O suicídio pode representar auto castigo por ter ofendido uma pessoa querida. Um suicídio muitas vezes provoca outros na família (Dal Pol 2005).

Quando os rapazes têm 12 a 14 anos é colocado o sokoady ou peniano e os homens participam em uma luta cerimonial chamada gaha. Depois os iniciados são banhado no igarapé, o cabelo é cortado, e são pintados com urucum. As moças ficam isoladas nas suas redes, e são sempre acompanhadas quando saem para as necessidades fisiológicas, guardadas de a qualquer abuso sexual (Dal Pol 2005).

Cosmovisão: O conceito da morte é que a alma (asoma) sai do corpo para esperar as chuvas no leito do igarapé para depois descer os rios maiores e ‘mergulhar’ no céu. O caminho do timbó é associado com a trajetória da lua enquanto a morte na velhice com a trajetória do sol. Os suicídios vão para a casa do ancestral Bai (o Trovão) no patamar celeste superior, reencontram seus parentes e vivem como autênticos ‘povo do timbó’. Vivem em rios comendo timbó, que é preferido pelos Suruwahá. Os que morreram na velhice vão para morada do ancestral Tiwijo, à leste, onde as almas não têm sossego e vagueiam, comem ‘comida doce’ e se transformam em jovens. A vida é boa com bastante caça e peixe. Mas os Suruwahá desejam a vida com Bai.

Comentário: Missionários da JOCUM receberam duas moças recém-nascidas deixadas no mato, a cultura da tribo determina que elas deveriam morrer porque nasceram doentes. Mas membros das famílias mudaram de ideia e pediram a ajuda dos missionários, que levaram os bebês para São Paulo. A CIMI questionou a retirada dos bebês da aldeia. É bem conhecido pelas pessoas que ministram entre os indígenas que alguns povos praticam infanticídio de recém-nascidos que são deformados, gêmeos, etc. O motivo é o receio de influencia malvada e o reconhecimento da dificuldades para a criança e o grupo sem o apoio de recursos médicos apropriados. O CONPLEI já formou um grupo de estudar este problema junto com as etnias envolvidas.

Bibliografia:

  • DAL POZ João, 2005, ‘Zuruahã’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/zaruaha
  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan
  • SIL 2015, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Eighteenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com
  • suruwaha.blogspot.co.uk, acessado 12 de janeiro, 2016