David J Phillips
Autodenominação: Matetamãe, mas eles mesmos não reconhecem uma autodenominação, dizendo que são os outros que os dão nomes (PIB 2003).
Outros Nomes: Matetamãe (DAI-AMTB 2010). no princípio os nomes ‘cinta larga’ ou ‘cinturão largo’ eram usados pelos regionais, de diversos povos na região da fronteira entre Rondônia e o Mato Grosso. Depois Cinta Larga foi adotado pela FUNAI e pelo próprio povo.
População: 1.440 (DAI-AMTB 2010); 1.440 (FUNASA 2006).
Localização:
Vivem em quatro Terras Indígenas, que são contíguas e todas homologadas e registradas no CRI e SPU:
- T I Aripunanã, MT, de 750.649 ha no noroeste do Estado, banhada pelo rio Branco, com uma população de 330 Cinta Larga (FUNAI 2005).
- Parque Indígena Aripuanã, no dois lados na divisa entre Mato Grosso e Rondônia, vizinha no norte com a Terra acima, de 1.603.250 ha banhada pelos rios Eugênia e Tenente Marques com 360 Cinta Larga (FUNAI 1989).
- T I Roosevelt, MT e RO, na margem esquerda do rio Roosevelt de 231.826 há, ao oeste do P I, com 502 Apurinã e Cinta Larga (Paca 2001).
- T I Serra Morena, RO, 148.836 ha na margem direita do rio Aripuanã, ao leste do P I, com 110 Cinta Larga (Paca 2001).
Língua: Mondé (DAI-AMTB 2010). Cinta Larga da família linguística Tupi, Mondé, Aruá. Todos são monolíngues (SIL). As línguas Cinta Larga, Gavião e Zoró apresentam apenas diferenças dialetais sendo compreensíveis entre si (Dal Poz 1991.28).
História:
O território tradicional dos Cinta Larga abrange uma área no Mato Grosso e em Rondônia ao leste da margem esquerda do rio Juruena, nas cabeceiras dos rios Tenente Marques e Capitão Cardoso e nas margens dos rios Eugênia, Amarelo, Amarelinho, Guariba, Branco do Aripuanã e Roosevelt ao oeste. Em 1727 o bandeirante Antônio Pires de Campos atingiu o rio Juruena e e encontrou com a ‘Nação Cavihis’ que provavelmente eram os Cinta Larga. Foi somente no século XX, em 1915, por uma expedição da Comissão Rondon que contato foi feito quando seu acampamento próximo ao ribeirão dos Perdidos foi atacado por uma ‘nação desconhecida’. Os índios mataram o tenente Marque de Souza e um canoeiro Tertuliano. Quando os sobreviventes chegaram em Manaus foi concluído que eram ‘Araras’ porque usavam penas de arara nos cocares e braçadeiras (PIB 2003).
Um bando de seringueiros matou os indígenas de uma aldeia dos Cinta Larga em 1928, e o SPI fez um inquérito que não resultou em nada. O povo na região dos rios Branco e Guariba estavam em guerra contra os brancos desde os anos 50 para ganhar as ferramentas de aço. Eles atacaram a feitorias dos seringueiros, comboios de garimpeiros e os povoados que cresceram ao lado de estações telegráficas. Três estações telegráficas foram atacadas, com pessoal flechados e as instalações queimadas. Sempre cuidavam dos seus feridos e levaram embora os cadáveres dos seus mortos (Dal Poz 1991.54).
Em 1963 a empresa Arruda e Junqueira mandou um avião bombear uma aldeia dos Cinta Larga com dinamite durante uma festa, chamado o Massacre ao Paralelo Onze. O número dos mortos nunca foi acertado porque a aldeia foi abandonada. Um ataque por terra contra outra aldeia foi descoberta quando um dos pistoleiros confessou a um padre quem gravou o relatório e enviou ao SPI. Atiraram nos homens, mataram a criança segurada por uma moça e depois suspendeu a moça cabeça para baixo e a rachou o corpo dela em dois. O SPI não reagiu, mas a polícia de Cuiabá investigou o caso. A publicação da evidencia pela Comissão investigando o SPI provocou a condenação do Brasil pelas Nações Unidas e a média mundial (Hemming 2003.227).
Entre os Cinta Larga a guerra é iniciada por uma aldeia convidar as aldeias próximas para assistir uma festa. Os guerreiros se pintam com jenipapo, com motivos animais e vegetais e usam seus cocares de penas de gavião e grossos colares de contas cruzados no peito. As armas são arco e flechas e o tacape (sóka) de um metro de comprimento, de madeira dura pintada preto o ou vermelho, mas hoje substituído pelo terçado. Disputas por mulheres é a causa principal das lutas internas (DalPoz 1991.59). Quando atacaram outro povo acampavam às escondidas nas proximidades da aldeia inimiga e, no meio da noite, silenciosamente entravam em fileira para matar os habitantes dormindos nas suas redes. Também usavam veneno jogado nos olhos dos inimigos. A antropofagia era praticada contra os inimigos de fora, como outras etnias, os Zoró, os Suruí, etc., ou garimpeiros (DalPoz 1991.63). A antropofagia dos inimigos era praticada ainda nos meados do século XX. Em 1952 índios pintados de jenipapo e com a cabeça raspada teriam devorado o corpo de um tropeiro e mas não há dúvida que o último ato canibal aconteceu em 1971, quando mataram, seringueiros na aldeia Guariba e trouxeram partes moqueados para festejar nas aldeias do rio Branco (Dal Poz 1991.273).
Os Cinta Larga dizem que a pacificação aconteceu da parte deles, amansando os brancos. Uns sessenta Cinta Larga, sem armas, vieram a vila de Vilhena em fevereiro de 1965, receberam alimento do Posto Telegráfico e da FAB e assistiram uma partida de futebol. Cinco meses mais tarde mais 20 indígenas chegaram na vila e foram recebidos amistosamente, mesmo que vieram com arco e flechas. Porém um caçador disparou sua espingarda de acidente, logo os índios sustaram e mataram uma pessoa e feriram mais duas e fugiram (PIB 2003).
A construção da BR-364 em 1967-68 envolveu contato com os Suruí (Paiter) e os Cinta Larga. Dr. Jean Chiappino, médico francês e linguista criticou a maneira de contato pela FUNAI, pela falta de precauções médicas. Pneumonia bronquite ou blastomicose matou muitos dos índios. Entretanto devido às boas relações entre a FUNAI e o SIL os missionários Willem e Carolyn Bontkes, que fizeram uma análise linguística entre os Suruí e auxilaram os outros índios com assistência médica (Hemming 2003.301).
Em fins da década 60 eles tinham mais de trinta aldeias, situadas junto a pequenos córregos. Em 1976 tinham dezesseis aldeias e outros concentrados nos Postos da FUNAI (Dal Poz 1991.38). A FUNAI depois do afastamento dos garimpeiros instalou o Posto Roosevelt. Um garimpeiro entrou em uma aldeia e tentou namorar uma índia, e por vingança venenou a chicha. Na verdade muitos morreram de gripe, mas os Cinta Larga resolveu vingar-se dos ‘garimpeiros’ do Posto. No fim de 1971 os Cinta Larga mataram dois funcionários da FUNAI e incendiaram o Posto (PIB 2003). Apoena Meirelles da FUNAI foi ferido a tiros pelas armas que os Cinta Larga levaram do Posto (Dal Poz 1991.75).
A nova rodovia trouxe colonos e prospectores de minério ao território dos Cinta Largas. O Parque Indígena Aripuanã foi criado em 1968, mas os direitos ao minério ficaram com a FUNAI e 1.500 garimpeiros entraram no território (Hemming 2003.303s). Um mapeamento aéreo por Horst Stute da MNTB em 1967 localizou os agrupamentos mais significativos dos Suruí, Cinta Larga e Zoró, estimando-se em cinco mil a sua população total à época (Dal Poz 1991).
Em 1971 a FUNAI fundou um posto de atração na Serra Morena e mandou os garimpeiros fora. Brindes eram deixados nos tapiris na vizinhança e os Cinta Larga retribuem com colares, cintas, cocares e flechas. Depois um ano nove índios encontram com os funcionários com fala cerimonial, dança e comida e ficaram por 55 minutos. Um mês depois um grupo maior visitou o Posto e ofereceu índias como esposas aos funcionários. Depois outros começaram morar ao lado do Posto (Dal Poz 1991.78).
Em 1973 os Cinta Larga acamparam na margem do rio Aripuanã, no lado oposto à Vila Aripuanã e deixaram presentes. Os técnicos do Projeto Aripunã ou Núcleo Pioneiro de Humboldt da UFMT retribuíram como presentes úteis aos índios. Em janeiro de 1974 um grupo entraram na vila, ignorando os sinais de receio dos moradores, distribuíram colares, cocares e outros enfeites. Meses depois sessenta e nove índios visitaram a vila. Eles adoeceram com gripe e a Prefeitura construiu barracões de lona. Uma enfermeira com remédios foi enviado pela FUNAI, mas desiludidos, os Cinta larga retiram para a mata, levando a infecção para as aldeias onde passaram, e por isso a metade da população veio a morrer (Dal Poz 1991.85).
Também em 1971 200 índios, possivelmente Cinta Larga atacaram o Posto Roosevelt da FUNAI matando três, provocados pela invasão de posseiros pobres no seu território. Apoena Meirelles queixou que a FUNAI não tinha feito nada para impedir a invasão. Conflito entre as forças federais e a empresa que vendeu as lotes ainda deixou 300 colonos no Parque em 1980. No rio Guariba garimpeiros molestaram mulheres Cinta Larga e mataram doze índios em 1982, e afinal a FUNAI chamou a polícia expelir os garimpeiros (Hemming 2007.310s).
Em 1991 os Cinta Larga da Serra Morena tive um conflito com madeireiros e cinco foram mortos. Em 1993 a extração ilegal de morganho da Terra Roosevelt chegou a 25.000 m. cúbicos. Os madeireiros enganaram os caciques com presentes de televisões etc. Os Cinta Larga usraram Carlito, filho do chefe Mário Parakida da aldeia Taquaral para negociar. Parakida destruiu serras e equipamento dos madeireiros e em Dezembro 2001 Carlito foi assassinado. Também César Cinta Larga foi torturado e morto por garimpeiros e a FUNAI fechou o garimpo. Beto Richardo da ISA protestou que a maneira de estabelecer as Terras Indígenas da região pelo governo na década 90 favoreceu os interesses comerciais (Hemming 2007.572). Todos os contatos amistosos com os brancos foram estabelecidos por nítida iniciativa dos próprio índios. Mas os Cinta Larga não visualizaram o ‘mundo dos brancos’ como uma categoria homogênea. Os informantes da área Aripuanã costumavam dizer que ‘serigueiro ruim, garimpeiro bom’ (Dal Poz 1991.72). Assim os Cinta Larga amansaram os brancos.
No domingo de Páscoa um dos líderes Cinta-Larga foi preso e amarrado a uma cruz em plena praça pública de Espigão do Oeste. Ele seria queimado vivo se os índios não entregassem os corpos dos garimpeiros assassinados dentro da reserva. Não se sabe exatamente quantos índios e garimpeiros já foram mortos neste conflito (JOCUM 2013).
Estilo da Vida:
Os Cinta Larga usam um cinto de entrecasca de árvore (DalPoz 1991.31). Vivem em três agrupamentos, no sul as aldeias dos Paábiey ou Obiey perto dos rios Ten. Marques e Eugênia, no meio os Pabirey próximos à confluência dos rios Capitão Cardosos e os Roosevelt, no norte os Paepiey nos rio Vermelho, Amarelo e Branco.
A vida se concentra na aldeia durante a estação das chuvas, janeiro-abril (zoy) e o tempo da roça, maio-junho (mãgábiká) e dispersa-se na seca, julho-outubro (gao) e o fim do ano, novembro-dezembro (gao wéribá) (DalPoz 1992.125). A dispersão é por festas e visitas. As famílias vivem em acampamentos na floresta nos meses de agosto e setembro para gozar fartura de peixe, mel e caça. Os Cinta Largas brocam uma nova roça cada ano, devido a baixa produtividade dos solos. Depois de ganhar ferramenta de aço eles podem dedicar mais tempo para caçar (Dal Poz 1991.140). A derrubada e plantio é na seca (gão) bem como as colheitas da macaxeira, cará e a batata doce. A colheita do milho na espoca da chuva.
Os homens caçam quase todo o ano e pescam na seca, especialmente com timbó. Os homens passam tempo às tardes nas sua ‘oficinas’ na floresta confeccionando arco e flechas, etc. A área de caça é no máximo de quinze quilômetros ao redor da aldeia. Comem a maioria dos animais, mas apenas a jiboia entre as cobras. A caça é o papel do homem individuo e ele é ‘dono da caça’, e convida aos outros para dividir a carne. Mas a excepção é a caça ao queixada quando todos os homens participam (Dal Poz 1991.128, 137). Expedições de coleta de frutos silvestres são feitas por famílias (Dal Poz 1991.148).
A família nuclear forma a unidade de produção e consumo do alimento. As mulheres cozam, fazem chicha e tecem algodão. A carne é fervida por cinco horas, para eliminar o sangue da comida. Os Cinta Larga evitam qualquer contato entre sangue e comida, e horrorizam-se com nosso hábito de chupar o sangue de pequena feridas. A carne é moqueada só para conservar quantidades grandes, e depois é fervida em água, antes comê-la (Dal Poz 1991.145). As mulheres ajudam com o plantio mas fazem a colheita, dificultada por não limpar ou capinar as roças. O milho é plantado primeiro e depois a mandioca, cará, inhame, bata-doce, amendoim. Hoje em dia plantam arroz, feijão, mamão e banana. A agricultura é trabalho cooperativo, o genro com o sogro, filhos com os pais (Dal Poz 1991.143).
Sociedade:
A família extensa é quase auto-suficiente e muda-se de uma aldeia para outra. As aldeias maiores têm uma ou duas malocas (záp) de três ou quatro famílias extensas. O dono da casa (zápiway) toma iniciativas, como abrir uma roça, construir outra casa, organizar festa, etc. Aldeias mudam-se de cinco em cinco anos depende das condições caça e do terreno da roça. Então a aldeia revela-se transitória e os habitantes dela efêmero, pelo menos antes do contato (Dal Poz 1991.40, 192). Uma nova aldeia começa em brocar uma nova roça e plantar com manivas, etc. da aldeia velha. Só no ano seguinte os moradores transferem-se definitivamente e darão início à construção da maloca, na qual uma festa acontece (Dal Poz 1991.193).
O casamento é patrilocal até a morte do pai, quando os filhos se separam para formar suas próprias aldeias. A situação atual é instável porque famílias nucleares mudam-se para os Postos da FUNAI ou devida às invasões de madeireiros e garimpeiros, com quem fazem acordos ou não. Estas transações criam desentendimentos e cisões das aldeias. Também os jovens casados passam a ter casas nas cidades vizinhas.
Uma criança resulta da relação dos homens com a mãe, e por isso são considerado os pais da criança e a ação da divindade Gorá em dá fertilidade às mulheres (Dal Poz 1991.106). Um menino recebe o nome do seu tio materno ou dos avô ou avó paternos e a menina recebe o nome do seu avô ou avó maternos. Os nomes representa uma caraterística física ou da sua bravura. Outros nomes são dados durante a infância. Mas estes nomes pessoais jamais são articulados publicamente, são conhecidos apenas aos familiares próximos. No cotidiano eles usam outros termos, tomados da terminologia de parentesco. Os indivíduos são conhecidos pelos funcionários da FUNAI e os regionais por nomes portugueses dados por eles, nomes que servem como os apelidos que os próprios Cinta Larga usam (Dal Poz 1991.99).
As meninas costumam casarem-se com a idade entre oito e dez anos, pela escolha da sogra, e elas passam a viver no grupo do marido e vive como criança até a primeira menstruação. Informantes dizem que o marido ‘cria’ a menina para ser sua esposa. O relacionamento não é estável até depois o nascimento do primeiro filho. Um bom casamento é com a filha da irmã ou sobrinha. O noivo dá presentes ao pai da noiva (Dal Poz 1991.109).
A guerra era iniciada por uma aldeia convidar as aldeias próximas para assistir a uma festa. Os guerreiros se pintam com jenipapo, com motivos animais e vegetais e usam seus cocares de penas de gavião e grossos colares de contas cruzados no peito. As armas são arco e flechas e o tacape (sóka) de um metro de comprimento, de madeira dura pintada preto o ou vermelho, mas hoje é substituído pelo terçado. Disputa por mulheres é a causa principal das lutas internas (Dal Poz 1991.59). Quando atacam outro povo acampavam às escondidas nas proximidades da aldeia inimiga e, no meio da noite, silenciosamente entram. Também usavam veneno jogado nos olhos dos inimigos. Encontros amistosos têm uma etiqueta que um grupo demonstrou no rio Roosevelt aos garimpeiros em 1968. Eles vem sem armas, falam cerimonialmente, trocam comida e presentes e até mulheres e dançar. Casamento interétnico é considerado um meio de fazer os pazes (Dal Poz 1991.72,78).
Artesanato: As mulheres confeccionam redes de dormir, braçadeira, pulseira, tipoias para bebês, colares de conta, colares de cipó, cestos, cestas, cinta femininas. Os homens fabricam cocares, flautas, adorno labial, furador, pilão e cocho (Dal Poz 1991.153).
Religião:
A música do instrumentos e cantos é linguagem social que expressa as relações na sociedade conforme os estudo de Priscilla Ermel (1988 Dal Poz 1991.28).
Os Cinta Larga praticam um processo de identificação simbólica com a presa. Os Cinta Larga tomam ‘remédios’ (mórat) extridos de plantas, específicos para a espécie animal que se deseja abater, os quais propiciam o sucesso do caçador. Por exemplo usam a planta ‘pé de anata’ para caçar a anta. Os remédios para caititu e macaco prego exalam um cheiro idêntico a estes animais. Mastiga-se a raiz das plantas e cuspida nas mãos, braços e peito e esfregada pelo corpo. Também interpretam os sonhos como sinais de sucesso na caça (Dal Poz 1991.128).
Durante os primeiros anos do filho, os pais observam reguarda de diversas carnes de caça e peixe, e muitas são permitidas como anta, jacaré e onça (Dal Poz 1991.132s)
As festas envolvem o convite, beber chicha, dançar e matar a vítima animal. O motivo das festas pode ser a confraternização com visitantes de uma aldeia distante durante a estação seca, depois de completar a derrubada em maio. Era também a época de guerra. Outros motivos para o zápiway ou dono da aldeia organizar a festa são os casamentos, a construção de uma maloca e uma expedição guerreira para recrutar os aliados ou celebrar uma vitória. Os visitantes anunciam-se desde longe, tocando uma flauta. Trazem presente de flechas e cocares para o zápiway (Dal Poz 1991.192).
Um filhote de queixada ou outro animal, e hoje em dia, galinhas e bois, servem de vítima e recebe um nome conforme de um caraterístico do comportamento, e é criado na casa. O convite, levado pelo filho mais velho do zápiway, anuncia que a festa é para matar esse animal. O sacrifício ocupa um lugar central como o clímax da festa. O sacrífico constitui-se um ato simbólico para reintegrar anfitrião e convidados, como uma aliança ou contrato. O animal representa ou é identificado com o anfitrião, mas este não participa na morte do animal, é abatido pelos convidados de flechadas. Os convidados apresentam o animal morto com flechas novas ao anfitrião. Assim o anfitrião torna-se ritualmente um de nós e não ‘outro’ ou inimigo (Dal Poz 1991.259).
Cosmovisão: Os Cinta Larga consideram que os primeiros homens ficaram presos e saíram de uma formação rochosa na margem do rio Branco (Dal Poz 1991.31). O deus Gorá, quando andava no mundo, manteve relações sexuais com a árvore Kabân, depois coma castanheira do Pará, Mâm, e por fim com o cipó Kakîn, que era a origem dos Cinta Larga. Destes três descem os grupos patrilineares, em as divisões norte meio e sul. Hoje em dia o sistema é alterado pelo contato com a sociedade nacional (Dal Poz 1991.43). Os brancos agradaram a Gorá e por isso aprenderam a fazer as ferramentas, a espingarda, etc. (Dal Poz 1991.74). A primeira festa era para agradecer a arara que ajudou os índios a escapar da montanha de pedra (Dal Poz 1991.159).
Comentário: Os missionários Clive e Patricia Sandberg do Summer Institute of Linguística completaram pesquisas linguísticas da língua Mondé (Cinta Larga) na área indígena Roosevelt, a partir de 1971. Preparam uma ortográfica provisória e um pequeno dicionário e gramática (Dal Poz 1991.27).
Bibliografia:
- DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
- DAL POZ Neto, João, 1991, ‘No Pais dos Cinta Larga: Uma etnografia do ritual’, dissertação de mestrado apresentada ao Dpto de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
- HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier – the Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
- HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
- PIB, 2003, Equipe de edição da Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil
- Verbete editado a partir da obra de João Dal Poz, com contribuições de Carmen Junqueira ‘Cinta Larga’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo pib.socioambiental.org/pt/povo/cinta-larga.
- SIL 2013, Lewis, M Paul, Gary F Simons, and Charles D Fennig (eds) 2013, Ethnologue: Languages of the World, 17th edition, Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com