Ka’apor

David J. Phillips

Autodenominação: Ka’apor que significa ‘pegadas no mato’ (Balée 1994.16). O acento cai na última sílaba.

Outros Nomes: Kambõ, Urubu-Caápor, Urubu-Kaápor e Kaapor. Urubu ou Ka’apor Urubu começaram a ser usados pelos brancos durante os século XIX.

População: 520 em 12 assentimentos (Balée 1994.2), 800 em 1998 (Balée 1998), 800 (DAI/AMTB 2008), 991 (DAI/AMTB 2010).

Localização: Vivam em duas Terras Indígenas:

Terra Indígena Alto Turiaçu, Maranhão, entre o rio Gurupi ao oeste, o rio Turiaçu ao sudeste e as cabeiras dos Paruá e Maracaçumé ao norte.É de 5.305 km quadrados e homologada e registrada no CRI e SPU. A floresta da terra firme ainda predomina, mas tem mata ciliar, igapó e a capoeira de roçados existem dos índios anteriores e quilombos antigas. Mas ‘Terra Preta do Índio’ não foi encontrado indicando que as ocupação antiga era menos intensiva ou de pouca duração (Balée 1994.2). Os Tembé do Gurupi e alguns Guajá estão na T.I. também. Para o sul no rio Pindaré estão os Guajajara e outros Guajá. População total: 1.352 (FUNASA 2010).

T. I. Alto Rio Guaná no sudeste do Pará, na margem esquerda do rio Gurupi, em frente à T. I. Alto Turiaçu e estende até a margem direita do rio Guamá 10 km. de Capitão Poço, com 279.897 ha homologada e registrada CRI e SPU com 1.425 Kaápor, Tembé e Guajá.

Língua: Ka’apor, Caapor, Kaapor, Kaaporté, “Urubú”, Urubú-Kaapor dos Tupi, Tupi-Guarani. Alfabetizado em Ka’apor e português 6%. Existem um dicionário e gramatica. Novo Testamento foi traduzido em 1986 (SIL). Usam a sua língua de sinais, Língua de Gestual Kaapor Brasileira, por causa da alta percentagem de surdos, 1:75, e a maioria das crianças não surdas crescem bilíngues na duas línguas.

História: Possivelmente a terra de origem dos Ka’apor ficava entre os rio Xingu e Tocantins (Balée 1994.27). Os ancestrais do Ka’apor eram associados com as sociedades de povos do Tupí-Guarani no baixo rio Tocantins que eram agricultores por 1.800 -2.000 anos. Os ancestrais dos Guajá, dos extintos Turiuara, Apinayé e Timbira viviam no Tocantins e eram inimigos dos Ka’apor. Estas sociedades das maiores populações porém com seus roçados menos intensivos contribuíram para a biodiversidade da região (Balée 1994.2,5). Nos meados do século XVIII, os Ka’apor travaram uma guerra com os Karaya Pitanan que viviam um pouco em baixo da foz do rio Araguaia, hoje Marabá. Seus mitos falam da castanheira do Pará (Berholletia excelsa) que é abundante na região do Tocantins, mas se encontra no seu território atual (Balée 1994.27).

Os Portugueses chegaram na região em 1616 e a primeira guerra contra os povos Tupi do Grão Pará e Maranhão houve em 1621 sob a liderança de Bento Maciel Parente, que matou 30.000 índios e escravizou milhares perto de Belem. Os escravos trabalharam nas plantações de tabaco, na pesca e nas salinas. Expedições chamadas entradas foram organizadas em Belem e São Luís e penetraram a Amazônia pelos rios, inclusive o Tocantins, e bandeirantes desceram do sul. Os Ka’apor eram ameaçados em três lados. Os jesuítas protestaram, especialmente Antônio Vieira que reclamou em 1657 que durante quarenta anos dois milhões dos indígenas foram mortos (Balée 1994.28). As aldeias da missões dos jesuítas aliviavam a situação um pouco, mas acabaram em 1767, com a expulsão dos jesuítas. A língua ka’apor mostra que o povo tinham contato com os portugueses antes da era moderna.

As entradas provocaram diversas reações dos povos: Alguns como os Mundurucu, Turiuara e Apinayé tornaram-se milicia dos brancos, outros os Avá-Canoeiro e os Guaráadotaram a vida nômade e ainda outros mudaram sua agricultura para diminuir o número de plantas cultivadas para depender mais em milho, que cresce mais rápido e exige menos preparo do que a mandioca (os Araweté e Sirionó, Balée 1994.4, 27ss). Outros resistiram e foram exterminados como os Aruã na Ilha de Marajó. Alguns como os Wayãpi, Kapwahiv, Tapirapé e os Ka’apor mudaram para regiões distantes e menos ameaçadas para continuar sua agricultura abrangente com a mandioca e estabelecer aldeias permanentes.

Os Ka’apor migraram do rio Tocantins para o nordeste acerca de 1780 e pararam nos vales dos rios Acará e Capim no Pará acerca de 1825. Muitos viviam sem hostilidade entre os colonos na bacia do Capim. Alguns deles fizeram comércio como os brancos extraindo o óleo da copaíba, e outros que trabalharam nos povoados do brancos, eram reconsiderados ‘Ka’apor falsos’ pelos bravos na floresta. Epidemias mataram muitos. Os Ka’apor da bacia do Capim atacaram os colonos na bacia do rio Guamá entre os anos 1820 e 1839, e por sua vez sofreram derrotas (Balée 1998). Alguns migraram mais ao leste para o rio Piriá

A guerra da Cabanagem no Pará (1835-1840) foi uma revolta de mestiços, índios e escravos negros, devido à extrema pobreza das populações ribeirinhas. Na época 25% da população da Província do Grão Pará era indígena, 40% era mestiço. Os brancos já chamavam o povo de ‘Urubus’. Uma estória deste tempo conta como um Ka’apor descobriu que os sertanejos, já bêbedos, ia o atacar, subiu no telhado da sua casa e gritou ‘Os urubus os comem’ e dançou e tocou sua flauta, evitando os tiros. Depois ele desceu e os matou a paulados com seu bastão cerimonial e fugiu, e assim começou um ‘tempo de ódio’ (Balée 1994.32). Depois as derrotas na época de 1825 a 1864, eles estavam no rio Piriá por 1875 e travessaram o rio Gurupi e guerreavam contra os Guajá, Tembé e Guajajara.

Entraram em conflitos também com os Quilombos situados entre os civilizados e os indígenas e destruiu um entre os rios Gurupi e Maracaçumé, perto de Gurupiuna, em 1878. Eles ocuparam o lugar e deslocaram outros. Os Quilombos, mais conhecidos no norte como Mocambos (significa barracas), eram numerosos no norte do Maranhão inclusive na cabeceiras dos rios Turiaçu e Maracaçumé. 55% da população da Província eram escravos africanos no Século XIX. Houvem revoltas: a Balaiada 1838-40 com a maior conflito no estado e a Insurreição em Viana 1867. Os mocambeiros cultivam tabaco e algodão e comerciaram com os brancos e até alguns trabalhavam nas fazendas próximas e também caçavam e pescavam. (Em 2010 ainda há 527 comunidades quilombolas no Maranhão e conforme a Constituição de 1988 têm o direito à propriedades semelhante aos indígenas; 20 já conseguiram suas terras no Estado. – Comissão Pro Índio de São Paulo).

Os Ka’apor atravessaram o rio Gurupi em 1872 e atacaram os Guajajara no Pindaré e um conflito com os Guará continuava até 1975. Em 1903 os Ka’apor mataram muitos dos Kren-Yê Timbira e dos Canela, que eles chamam a ‘comedores de cobras’ (Balée 1994.37).

Em 1911 o SPI começou a tentar ‘pacificar’ os Ka’apor, mas a hostilidade da parte dos sertanejos e dos índios continuou até 1928, até atacando as cidades de Viana e Bragança. O motivo do índios era ganhar ferramenta de aço, especialmente machados para abrir as roças. Em 1928 eram prontos fazer as pazes no rio Gurupi e no alto Turiaçu. Porém os Ka’apor conforme sua tradição pensaram que um dos seus heróis, Pa’i, tinha ‘pacificado’ os karaí, os não indígenas bravos! Assim ‘o tempo do ódio’ acabou. Então paz com os Ka’apor sucedeu pelo SPI em 1928. Com a paz as suas mulheres eram feliz e os homens podiam receber as ferramentas de graça! A população ka’apor era estimada ser 5.000 e eram o povo mais numeroso no rio Gurupi. Infelizmente uma infeção respiratória ou gripe matou talvez uma metade da população. Nesta altura obreiras da missão evangélica UFM (antigamente Coração do Amazonas, atualmente MICEB) trabalharam entre os Tembé e os Ka’apor ‘Urubus’ em um sítio chamado Boa Vista em cima do Posto do SPI Jacaraca, no rio Gurupi. Em 1943 a população era 1.095 e em 1975 era 488, mas subiu para 520 em 1990 (Balée 1994.43-44).

A invasão da floresta continuou com uma estrada de terra em 1959, que mais tarde na década 70 tornou-se a BR 316 com 6.000 colonos nordestinos e mais 58.646 posseiros, com suas plantações, que modificaram completamente o meio ambiente dos indígenas. O território ka’apor de terra firme do rio Paruá perdeu sua floresta. Os Ka’apor abandonaram suas aldeias e mudaram para T. I. Alto Turiaçu homologada em 1982. Uma invasão grande da T. I. aconteceu em 1991. O conflito ainda continua em 2011. Quando um tribunal apoia os direitos do índios, outro suspende a decisão para favorecer as empresas agropecuárias ou a prefeitura.

Em 2014, guerreiros Ka’apor cativaram, amarraram e e depois soltaram ainda com os braços amarrados e sem calças madeireiros ilegais na T. I. Alto Turiaçu. Destruíram os troncos já cortados e queimaram os caminhões (Telegraph, Londres, 24 de Novembro de 2014). Em um encontro com madeireiros ilegais Eusébio Ka’apor foi morto a tiros e outros feridos. Um acampamento dos madeireiros foi destruído pela polícia.

Estilo da Vida: As 12 aldeias tinham uma população média de 33 em 1982 e 47 em 1990 (Balée 1994.17) e 66 em 2004.As aldeias estão situadas em roças velhas. Os motivos para mudar uma aldeia são evitar a proximidade das invasões, o declínio das colheitas e a falta de palha ubim, de jabutis, etc. Os homens conhecem e escolhem o lugar depois de caçar pela região, uns cinco quilômetros da aldeia atual e dentro de um quilômetro de um riacho. As famílias ka’apor tomam banho separadamente, cada família tem seu particular lugar na beira do rio (Balée 1994.86).

Uma nova roça é criada por um trabalho cooperativo das famílias; em junho é marcada por limpar a mata na margem para conter uma área de 5 hectares. Depois o broque em baixo das arvores é feito pelas mulheres e os homens durante o tempo da ‘queda das folhas’ (agosto). Os homens derrubam as arvores grandes, usando uma maior parar cair em cima das outras vizinhas e as tombar. Depois de secar eles ascendem a coivara dos ramos e troncos em dezembro; o chefe de família soa uma chifre de vaca para chamar o espírito do vento para auxiliar o fogo. Os troncos e galhos deixados pelo fogo são usados para lenha (Balée 1994.51,75). Com a primeira chuva homens e mulheres ‘quebram a terra’ e plantam manivas de mandioca brava no meio da roça e mandioca doce e cana na beira, e mais tarde sementes de melancia, feijão, pimentas, papaia, algodão, inhame, banana, urucum, algodão e mamão. etc., no centro da área (Balée 1994. 159). Somente os homens plantam milho, tabaco e plantas para a tinguijada. Muitos das especies de planta são mantidas por manivas e sementes de suas plantações anteriores, porque não são nativas da floresta da terra firme. Sempre visitam as roças velhas para colher manivas, sementes e fruto. O trabalho da roça e colher de plantas leva quase um quinto do seu tempo, os homens um pouco mais que as mulheres.

Quando estão mudando de aldeia eles constroem tapiris enquanto a mandioca está brotando e depois as casas. As casas têm um chão de barro, os postos são de madeiras provas de cupim, os caibros e vigas são de outros especies, todos cortados da área no mato planejado de ser uma nova roça. As mulheres tecem o telhado das folhas de ubim, uma palmeira baixa tirada do igapó.

Os Ka’apor caçam veado galheiro, caititu, queixada, jacaré, paca, cutia, macaco guariba e duas espécies de jabuti. Os Ka’apor conhecem o relacionamento entre uns 170 especies de plantas e os animais comem delas. Para caçar o homens usam espigadas e arco e flecha; o arco é esculpido do pau d’arco roxo. As penas da flechas são seguradas com fio e resina, uma semente de tucumã furada com buracos faz um zunido em voo. O arco e flecha ainda usado quando munição é escassa. O homem pode levar a mulher com ele para ajudar dirigir a caça na sua direção. A carne melhor é guardada para a família e o resto é distribuída pela esposa, primeiro para suas parentes e depois para a comunidade. A carne é assada por três horas; o figado é um predileto. A comida está servida em vasilhas de cabaça (Balée 1994.58s, 73, 85).

A pesca é feita com canas e timbó nos riachos. Devida aos rios sendo de água negra e ácida, os igapós e a mata ciliar são importante para manter a diversidade de peixe. Depois do uso de timbó os peixes voltam às águas em três dias (Belée 1994.40, 119). Os Ka’apor conhecem 179 especies de plantas não domesticas na floresta que eles colheram. Os Ka’apor manejam a floresta de uma maneira que conserva a biodiversidade e o meio ambiente sem ser consciente de um conceito ecológico (Balée 1994.6,137s).

Artesanato: Os homens fazem a cestaria, tipitis, peneiras, aturás, cordas e ferramenta, e cabos para os machados e enxadas. Fabricar o tipiti é um sinal de prestigio para o homem e os rapazes são instruídos usando a magia. Esteiras (pinuwaro) de folhas de bacaba açu são feitas somente para o nascimento de um bebê e a cerimonia de dar o nome à criança. As mulheres costuram e fiam e tecem algodão em redes, roupas e faixas para carregar o bebê em um tear construído pelo marido. A arte plumária dos Ka’apor é muito conhecido. As penas usadas vêm de numerosos pássaros, inclusive tangarás e outros pássaros. Um baú pequeno de cedro chamada patawa guarda as enfeites de penas. Fazem capacetes, peça para decorar o lábio, colares, pulseiras e cintos são feitos de diversas sementes e penas. As mulheres preparam tintas de vermelho, preto e amarelo para pintar o corpo. Linhas pintadas nas faces é uma caraterística da identidade dos Ka’apor. Pintam cuias preto, os pontos da flechas marrom.

Sociedade: Os Ka’apor se consideram um povo diferente e são anam (parentes) por ser endogâmico. Os não indígenas são (karaí). A sociedade é estruturada no relacionamento entre irmãs, pois a sociedade é uxorilocal e os chefes de família relaciona bem com os cunhados. Os chefes são líderes de famílias extensas com esposa, filhos não casados e os genros. Entretanto seu filho mais velho fica na aldeia do pai e pode se casar com uma prima cruzada da família do pai, e assim herdar a chefia. Os outros homens mudam para a casa do sogro e o casal mora na mesma casa até nascer o primeiro filho, quando construem uma casa própria ao lado (Balée 1994.143).

O noivo precisar de demonstrar seu valor ao sogro e os cunhados e outros genros, em caçar e trabalhar na roçar antes de ser aceito com membro da família. Os casamentos são muito estáveis (Balée 1994.20). O noivo dá um presente de três jabuti tinga (yasi) aos pais da noiva e vai esperar na casa do chefe. Os pais da noiva a traz para a casa e o casal senta-se numa rede e o noivo coloca a mão direita na cabeça dela. O chefe dá alguns conselhos e depois o casal volta para a casa dela e ela prepara uma refeição do três jabuti. É importante na cultura ka’apor que o marido cumpre sua responsabilidade de trazer jabuti tinga para sua esposa, e que ela deve só comer esta carne durante gravidez e depois o nascimento.

A criança nasce com a mãe separada em um quarto fechado (kapi) onde o pais comem só a carne do jabuti e farinha. Depois seis meses a cerimonia de dar o nome é realizada. A mãe oferece a manicuera, um sumo doce da mandioca, aos homens e todo o mundo lavam suas redes no rio. Ao amanhecer seguinte todas a mulheres vão para a casa da cerimonia, a mãe levando o bebe pendurado em uma faixa em feitada de penas e sete-se em uma esteira especial olhando para o alvorado. Um casal padrinho toma o bebe, e este homem sopra um pito e dá o nome que eles, os padrinhos, escolheram e todo o mundo repete o nome. Depois isso o pai do bebe dá um segundo nome que os pais escolheram. Se o bebe é primogênito os pais desde do momento são chamados ‘pai ou mãe de fulano’ (Balée 1995.22ss).

A criança está sempre com a mãe e durma com ela na sua rede até tem quatro anos. A mãe carrega a criança na tira larga do seu ombro ainda no mato acompanhando seu marido. Há tabus de comer certos frutos até tem quinze anos. O pai faz um arco e flechas de 50 cm. para os meninos com quatro anos. As meninas recebem um passarinho ou macaquinho para criar. Os meninos não trabalham até estão prontos para ajudar os pais na caça ou na pesca. As meninas trabalham com as mães buscando lenha e outras tarefa domesticas.

A iniciação da moça em preparação para o casamento acontece depois a primeira mensuração (Kakumasu1985.84). É considerado que o sangue menstrual (yaï) polui a aldeia. Ela está fechada dentro de um quarto de pari (kapi ou kapyk) por um mês, enquanto ela não tocar o chão para não ‘perder a mágica nela’ e ela fia um fio de fibras de carauá e um colar de penas. No sétimo dia da seclusão o pai corta o cabelo dela mais curto possível, simbolizando livramento. Ela come apenas farinha branca e carne do jabuti tinga, para ‘ela não a enlouquecer’, até cresce o cabelo de novo. As pernas dela são arranhadas com uma dente de uma acutiuaia e uma barbante branca está amarrada com um laço na frente e nas costas. Cintos de pano estão amarrados em redor do estomago dela com formigas dentro, que picam dolorosamente. (Os Ka’apor usam as formigas como uma cura para febre. Balée 1995.108). A dor é para ela ficar mais forte. Agora fora do quarto os tabus de comida continuam por algumas meses, carne de jabuti piranga carumbé e peixe estão acrescentadas, aumentando o tamanho do animal com o passar das meses, até ela come queixada. Ela prepara bolos de mandioca que são distribuídos para todas as famílias da aldeia. Depois isso ela usa o colar de penas, indicando que é mulher adulta e o cinto com penas e flores preparado por sua mãe. Assim ela é considerada incorporada na vida da aldeia como mulher adulta e pronta para se casar (Kakumasu 1985.86).

Nos anos 60 havia 75 mudos entre 500 indígenas. Pessoas que tornam-se surdo por febres não controladas e também ficam mudos. Os Ka’apor têm sua própria língua de sinais que era conhecida em todas as aldeias (Kakumasu 1968).

Religião: Os pajés praticam em algumas aldeias e entram em transe para invocar os ancestrais e Ïrïwar, a Mãe d’Agua, para adivinhar o futuro ou curar as infirmidades. Os mortos aparecem como fantasmas (angã). Acreditam nos Kurupir (curupira) um anão preto e malvado com pés viradas para atras. Para propiciar a culpa ou polução de matar outro humano, seja indígena, seja karai (não indígena) os homens usam um ritual de se cortar com uma dente de cutia e observar uma dieta especial. Alguns professam uma crença em Tupã-ra’ïr (“filho do Trovão”, ou “Jesus Cristo”). 70% são Cristão dos quais 6% são evangélicos.

Os Ka’apor conhecem caapi e marijuana mas não as usam. O termo puhan significa ‘remédio’, posaŋa em língua geral, incluí os conceitos de medicamento, mezinha ou magia, feitiço e veneno. Eles distinguem entre magia e medicamento somente pela função. Usam 112 especies de plantas como medicamentos para 37 condições identificadas como físicas e 51 especies são usadas para finalidades não identificadas como doenças, por exemplo sucesso no amor, na caça, proteção contra o mal, garantir o desenvolvimento das crianças, prejudicar um inimigo (Balée 1994.92ss).

As pessoas que morrem de uma doença podem ser abandonadas pelos vivos. Os outros mortos são sepultados em um buraco comprido e fundo, em que possa caber a rede da pessoa. Fincam no fundo dois paus nas extremidades da cova e atam a rede nos dois. Em cima fazem uma armação de paus que cobrem de folhas sem deixar tocar o cadáver. Depois a enterram até o nível do chão (Ribeiro 2002.68, 126).

Cosmovisão: A divisão entre os Ka’apor e os brancos é contado em um mito: No princípio a floresta densa de terra firme cobria toda a terra. O herói Ma’ir chamou os primeiros Ka’apor dos arvores do pau d’arco (B. Tabebuia) durante uma tempestade de trovão quando os ramos se esfregaram. No dia seguinte ele jogou o caule de uma mafumeira (Ceiba pentandra) ou ‘mãe das arvores’ em um rio que é prova de água e branco por dentro. Saírem os brancos (Balée 1994.7).

Comentário: O domínio do homem como a imagem de Deus era para manejar o meio ambiente conforme as instruções divinas (Gen 1:26; 2:17). É demonstrado por melhor a biodiversidade. William Balée descreve a contribuição indígena ser o bom manejo do ambiente e nem conservação nem degradação. O manejo é a manipulação humana das componentes orgânicas e não orgânicas do meio ambiente que consegue uma diversidade ambiental total maior do que a das condições chamadas imaculadas ou primitivas, sem intervenção humana (Balée 1994.116). A terra dos roçados antigos é mais fértil do que a da floresta da terra firme (idem.120).

Também as capoeiras encorajam animais que não preferem o mato alto da terra firme e as plantas domesticas atrai e contribuem para sustentar o veado e porco do mato. As espécies das plantas domesticadas usadas não são naturais da floresta da terra firme, e evidencia é que eram introduzidas pelo homem. O reflorestamento das roças em oitenta anos contem quase o mesmo número de especies da floresta, porém aumentado pelos domesticados. Isso é a contribuição indígena a biodiversidade. As roças antigas são pomares tanto para os animais como para os homens e contem mais especies comestíveis do que a mata da terra firme (Balée 1994.132-138).

Horácio Banner da Missão Coração da Amazônia (WEC) estabeleceu uma base chamada Boa Vista na parte de cima do Rio Gurupi, perto do Posto do SPI Jararaca depois um mapeamento em 1926. Depois este trabalho passou para a missão UFM (mais tarde MICEB) com os missionários H. Banner, H. Stanley e Ruth Phillips na década 30. O casal Phillips eram os pais do autor e ele ainda possui flechas e arcos e artesanato Ka’apor da época.

Em 1959 James Y. e Kiyoko Kakumasu (SIL) trabalharam entre os Ka’apor por 40 anos e traduziram o Novo Testamento e porções do Velho e produziu um Dicionário por tópicos urubu-kaapor–português (1988). Estudaram em 1960 a língua de sinais para os surdos (tipo LIBRAS) desenvolvidos pelos Ka’apor e em seguida pela professora brasileira Lucinda Ferreira, da UFRJ.

Em 1970 o casal Schuring da MNTB, foi para Nova Olinda a fim de iniciar o trabalho em outra aldeia, mas não conseguiu permissão para morar na aldeia. Entretanto, em 1987 retornou para lá a fim de tentar mais uma vez obter permissão para morar na aldeia; nessa época recebeu uma autorização por escrito da FUNAI. Robert e Dolores passaram a residir em Ximbó Renda a partir de maio de 1988. Desde então esta aldeia passou a ter missionários da MNTB. Há 55 evangélicos na aldeia entre uma população de 255; além disso um grupo não-indígenas está recebendo ensino bíblico (MNTB 2010).

Bibliografia:

  • BALÉE, William, 1994, Footprints of the Forest-Ka’apor Etnobotany, New York: Colombia University Press.
  • BALÉE, William, 1998, ‘Ka’apor’,.Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/ka’apor.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br
  • KAKUMASU, Jim, 1968, ‘Urubu-Kaapor Sign Language’, International Journal of American Linguistics (IJAL) Vol. 34, No. 4 October, pp. 275-281
  • KAKUMASU, Kiyoko, 1985, ‘Urubu-Kaapor Girl’s Puberty Rites’ em Five Amazonian Studies On World View and Cultural Change, redator William R. Merrifield, Dallas TX: The International Museum of Cultures.
  • RIBEIRO, Liliane Brum, 2002, ‘Limpando Ossos e Expulsando Mortos, Estudo comparativo de Rituais funerários em Culturas Indígenas Brasileiras através de uma revisão bibliográfica, Dissertação de Mestrado de Antropologia, Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
  • SIL 2009: Lewis, M. Paul (ed.), 2009. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.