David J. Phillips
Autodenominação: Tükuna, ‘gente’, que é semelhante à autodenominação kanamari (Deturque 2007). Não são do outro povo Katukina Pano.
Outros Nomes: Tukiná(DAI/AMTB 2010). Os Katukina do rio Biá, que os Kanamari chamam de Pidah-dyapa, “povo-jaguar”, mas os próprios Kaukina não reconhecem esta denominação. Catuquina, Katukina do Jutaí, Katukina do Rio Biá, Pidá-Djapá (SIL).
População: 450(DAI/AMTB 2010). 462 (FUNASA 2010). 547 divididas em oito aldeias (Plano).
Localização: Terra Indígena Rio Biá, AM, o Biá é afluente da margem direita do rio Jutai de 1.185.790 ha homologada e registrada no CRI e SPU em novembro 1997, com 701 Katukina (FUNAI 2011).
Língua: Katikuna(DAI/AMTB 2010). Compreendem-se com os Kanamari. Os autores do Levantamento preferem denominar a língua dos dois grupos como língua kanamari-katukina (Sena 2008). Enquanto 45% dos homens acima de seis anos falavam português (com diferentes níveis de fluência), apenas 18% das mulheres falavam um pouco (Sena 2008.77).
História: O termo Katukina, bem como Kanamari e Kulina, significava índio dócil e foi usado para designar diversos povos. Os índios adotaram o termo para escapular as expedições de regate e extinção pelos colonos. No princípio de contato os povos da região, que era muito rico em seringa e caucho, eram denominados Nawa e temidos pelos seringueiros. Especificamente os Katukina do rio Biá eram chamados Pida dyapa (gente da onça), mas atualmente não se encontra um grupo com essa denominação (Sena 2008.31).
Antigamente os Katukina eram nômades e a base da alimentação era o milho e de um cipo, tyiwi, que o tubérculo dele tem uma goma que é comestível. Os Kanamari eram seus vizinhos, porém houve um conflito há uns duzentos anos e os Kanamari saíram da região. No século XIX vieram seringueiros peruvianos, mas a baixa qualidade do látex diminuiu este contato. Outros povos vieram e se instalaram no rio Biá por algum tempo e depois foram embora (Deturche 2007). Chamam os brancos de dyara que significa ‘seringa’ na sua língua (Sena 2008.20).
Estilo da Vida: Vivem em seis aldeias no rio Biá, da boca até a cabeceira. Até o fim do século XX as aldeias consistiram de uma só maloca, de forma oblonga, chamada hak manyan, com 30 metros de comprimento para mais de dez famílias nucleares. Mas hoje têm casas do tipo regional para cada família nuclear, e as casas apresentam disposição espacial semelhante à que ocupavam nos compartimentos das malocas (Sena 2008.42). Os ribeirinhos e os Tikuna pescam na Terra Indígena, enquanto os próprios Katukina vão no comércio das cidades vizinhas para comprar e vender seu produtos. Alguns recebem um salário de agentes de saúde e de professores (Deturche 2007).
Quando os Katukina vão abrir um roçado, primeiro o tuxaua cheira rapé à noite e depois fazem reunião e conversa com todos da aldeia. Se todo mundo concordar, o tuxaua escolhe o lugar e começam a brocar juntos. Ele vai remando na frente e todos os homens o acompanham. Quando termina de derrubar a mata, esperam o verão chegar para colocar fogo no roçado para então começam o plantio, todo mundo trabalha rápido. Primeiro plantam mandioca, depois milho, banana, pupunha, abacaxi, goiaba, caju e outras coisas. Fazem canoa (pödako) com o tronco de um pé de violeta. Caçam sem cachorro, mas só com cachorro para ajudar a farejar porquinho, paca e tatu. Não matam filhotes dos animais. Pescam de caniço de anzol, arco e flecha, zagaia e espinhel.
Na época quando trabalharam na extração da seringa e sorva, os Katukina passavam o inverno concentrados em algumas aldeias, e no verão se dispersavam em acampamentos menores, para trabalhar na coleta de seivas. Hoje ficam nas aldeias ao longo do ano. Mas os que trabalham com grandes encomendas de vassouras montam acampamentos para a coleta de cipós (Sena 2008.77).
Conforme o Plano os Katukina não deixam os brancos (dyara) caçar ou pescar na Terra Indígena. Pretendem plantar pés de andiroba, buriti açaí, tucum, copaíba e seringa. Estão procurando assistência médica da SESAI com gasolina para transportar pacientes e rádios nas aldeias para ligar a agencia. O rio Biá tem muito lodo e por isso precisa de poços artesianos nas aldeias. Há escolas bilíngues Katukina nas aldeias (Plano).
Sociedade: Antigamente os Katukina tinham secções endogâmicas chamadas dyapa, que são inoperantes hoje. São divididos em três grupos: As duas aldeias do baixo baixo Biá com 200 pessoas, as quatro aldeias do médio Biá com menos de 200 pessoas, e a aldeia do Alto Biá que é isolada dos brancos. Cada aldeia tem um tuxaua (nohman) escolhido por sua liderança e conhecimento cultural. O povo disse tem oito aldeias.
Casamento é de preferencia dentro do grupo de aldeias e com os primos cruzados e a residencia é uxorilocal até o nascimento do primeiro filho, e depois disso não há possibilidade de divorcio. A divisão das tarefas entre os sexos envolve uma dupla liderança, uma para os homens e uma para os assunto femininos, exercida pelo casal chefe da aldeia. Mulheres e homens formam seus próprios grupos de convivência íntima, facilmente percebidos no cotidiano da aldeia, especialmente em relação à comida. Nas festas dos Katukina observa-se claramente a ênfase dada à divisão entre os gêneros, e a separação da comida acompanha uma distinção muito marcada entre o grupo de homens e o de mulheres (Sena 2008.79). As atividades do homens são a caça de todo conhecimento os animais, a pesca, a abertura e o plantio das roças e conhecimento dos rituais. As mulheres preparam os alimentos, do koya ou caiçuma de macaxeira, a confecção de cestos e a olaria e o domínio da casa e da roça. (Sena 2008.80).
Artesanato: Vão estabelecer uma casa em Jutaí e ter canoas com motor rabeta para cada aldeia para levar produtos a Jutaí, borracha, vassoura, breu-de-sorva, mel de jandaíra, óleo copaíba, cestos, cerâmica, remo, paneiro, banana, farinha, etc. para vender. Pretendem desenvolver comércio em borracha, óleo de andiroba e criar pirarucu (Plano). Os índios são cônscios da necessidade de melhor facilidade de comerciar seu produtos e também falta de um programa de educação escolar que atende as suas demandas específicas (Sena 2008.22).
Religião: A festa do Kohana é realizada pelo grupo de aldeias e o cantor é do grupo. Nos rituais, o casal que o organiza pode ser considerado o casal dono/corpo (wara), e todos os participantes devem ser casais, pois não é possível cantar sem o cônjuge (Deturche 2007). O espírito celeste Kodomari desce e é feliz quando tem rapé de tabaco e fica com raiva se faltar. Há diversos rituais em favor de vários espirito celestes. Cada um tem seus cantos específicos. A preparação das bebidas não fermentadas da roças são a responsabilidade das mulheres, e as do mato dos homens. Os homens fabricam saias na mata , que cobrem todo o corpo de palha de buriti, e usam com máscaras para as danças e depois são deixadas até apodrecer em cima de um tronco enquanto os espíritos dormem em baixo. Cada ritual pode ter 45 até 80 cantos que duram um a vinte minutos. Cada um fala de um animal ou árvore ou planta (Deturche 2007).
Cosmovisão: Os mitos falam de dois heróis criadores do mundo: Tamakori, que é o sábio, e Kirak que estraga tudo. Ele deram a origem do mundo e do céu e dos outros povos da terra. Eles deram os rituais do Alao que é de Kirak e do Kohana é de Tamakori. O Kohana é a festa principal dos Katukina. O Tamakori mora no horizonte leste e manda a lua e a chuva grande, Kirak mora no oeste e manda o sol e a chuva fina e leve. Há diversos mitos sobre os animais e os espíritos de árvores. Há o mito de Tokaneri que transforma pessoas em animais conforme sua comida, por exemplo quem come peixe se transforma em ariranhas, quem come oxi vira em queixadas.
O mundo é uma camada ou patamar entre dois céus e os mundos subterrâneos. O primeiro céu é Kodohdi que é formado por uma parte da terra arrancada por Tamakori e Kirak. É o lugar dos mortos que vivem com na terra, dançam e comem. Há animais, frutas e espíritos. O outro céu em cima é Ipina, o lugar mais triste, onde vão os que forma picados por cobra e aqueles eram mortos e seus matadores. Em baixo é o mundo dos Don Min Pönhiki e lá o povo é branco e pescam. As entradas para este mundo ficam nas cabeceira dos igarapés.
A terra dos Tükuna é dividida em o ityonin a floresta, o mundo subaquático e os espíritos da água, e o mundo dentro da terra que é dos espíritos baradyahi. Os baradyahi são pretos, caçam mas não moram na terra. Os himanya vivem em baixo das águas, descritos com grande cobras ou bois. Existem protetores dos animais, com dos anatas ou dos quelônios. Na floresta vivem os owei das árvores, o macho na copa e a fêmea nas raízes. Esses espíritos são temidos em virtude dos seus poderes xamanísticos e que podem roubar almas, e cheiram sangue da caça ou do parto.
Quando um Katukina morre sua verdadeira alma (-wäko tan) é destinada ao céu, onde passa a viver como na terra. Mas há -alma owei que é o resíduo da alma verdadeira pode tomar a forma de um rato que fica na aldeia. A alma onça (pïda) gosta de comer carne que vai virar uma onça se o pajé não a capture. A alma boto (wapikaru) gosta de peixe que vira boto. A alma lontra pequena (wodyon) vira lontra (Deturche 2007). Os pajés familiarizam-se com as almas exceto a alma verdadeira.
Os espíritos celestes são indivíduos com nomes. O Kodomari tem aparência de um homem grande e branco. Descem à terra apenas nos rituais para ver se os Katukina estão fazendo tudo certo.
Comentário:
Bibliografia:
- DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
- DETURCHE, Jeremy, 2007, ‘Katukina do Rio Biá’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/katukina-do-rio-bia.
- PLANO de Gestão Territorial, Terra Indígena Rio Biá, OPAN e Visão Mundial. amazonianativa.org.br/download.php?…%20KATUKina aberto 11 set. 2014.
- SENA, Wagner Pereira e Equipe, 2008, Levantamento Etnoecológico das Terras Indígenas do Complexo Kanamari Biá, Brasilia: FUNAI/PPTAL/GTZ.
- SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.