Deni

David J. Phillips

Nome: Dení é o nome da língua e do povo. São formados por 13 diversos grupos que tem a língua em comum, e se identificam por nomes específicos de acordo com o nome do lugar como os Upanava Dení do Rio Upanava (Mamoriá) e Rio Pauní, afluentes do Rio Purus.

Os Dima-Dení situados na boca do Rio Manorã com o Rio Purus.

Os Dení do rio Xeruã se autodenominam Jamamadi-Dení.

Os Dení do rio Cuniuá se autodenominam Madihá-Dení.

Os Kama-Dení e Tamakuri-Dení das cabeceiras do Rio Manoriá.

Os Shivaua-Dení no Rio Inauni, os Varashe-Dení no Rio Aruá e os Kuniva-Dení no Rio Xeruã.

População: 750 pessoas (SIL,2002). 736 em 8 aldeias (Greenpeace, CIMI e OPAN, 2002).

Localização: O território Dení fica entre o Rio Aruará, afluente do Rio Juruá e do Rio Cunhará, afluente do Tapauá, um braço do Rio Purus. Moram também no Rio Mamoriá e no Pauní, afluentes do Purus. Eles mudaram constantemente devido às epidemias e aos ataques entre eles mesmos.

Os grupos se identificam por:

1) Seruvá Kudé Dení. Povo do Xeruã, como os Dení do Cuniuá se chamam.

2) Upanavá Dení no rio Cuniuá. São majoritários na aldeia Marrecão – Beira Rio;

3) Bukuré Dení. São majoritários em Visagem e Samaúma;

5) Varasá Dení na aldeia Cidadezinha;

6) Minú Dení na aldeia Morada Nova;

7) Katú Dení.

8) Havá Dení, povo do patauá na aldeia Rezemã e na Terra Indígena Dení;

9) Tamakuri Dení na aldeia Marrecão-Pista de Pouso;

10) Mei Vessé Dení são o Povo da taioba branca;

11) Makui Dení, são a maioria na aldeia Itaúba;

12) Zumahé Dení, povo da onça, uma só pessoa.

13) Putavi Dení possui apenas um representante.

Terra Indígena Deni: de 1.531.300 ha homologada e registrada CRI e SPU com uma população de 590 Deni e Kulina.

Língua: Dení é uma língua Aruana, semelhante às outras, inclusive à Paumari, Jamamadi, Banawa–Yafi, Jarawara, Kulina e Suruwahá; e com estas tem 95% dos vocábulos em comum. Às vezes Dení é chamada Dani, e/ou ‘Jamamadí’, porém esta última é uma língua diferente. Existe em um dicionário (SIL).

História: G. Koop conta a história de um grupo: Em 1930 alguns dos Dení moravam no Pauní; patrões brasileiros já penetravam em busca de borracha. Os índios contam que a chegada do ‘brancos’ trouxe sarampo, catapora e gripe e muitos morreram. Os Dení mudaram-se para fugir do sarampo, ao espalhar-se sofreram ataques por outros Dení. Atravessaram o mato para o Rio Cuniará, e mudaram de novo por causa do sarampo e acidentes com uma arma e uma onça. Desde 1940, com a invasão de estranhos no território houve uma perda de população causada pelos diversos surtos de tuberculose, pneumonia e sarampo. Isso promoveu a reorganização do povo em subgrupos.

A história demonstra que não moraram mais de cinco anos em um mesmo lugar, e sempre mudando por causa de ataques ou medo dos espíritos causadores de doenças e acidentes. Em 1965, a SIL começou a fazer a análise linguística; o casal Koop da SIL morou na aldeia de Marrecão. A Missão Novas Tribos do Brasil atua na região do rio Cuniuá desde 1982.

A população caiu para o mínimo por volta de 1990 e medidas como vacinação contra sarampo foram tomadas. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) reportou que a situação dos Dení no Xeruá era séria devido à malária, 75% (181 de 241) dos índios estavam sofrendo com dilatação no baço em 1995. Neste mesmo ano, uma equipe de saúde da FUNAI viajou ao rio Xeruã para vacinar os índios, que ainda se recuperavam de sarampo de 1992. A população Dení começou numa lenta recuperação.

Em 1995, uma companhia malaia de madeira, WTK, comprou de um brasileiro 313.000 hectares de floresta, sendo a metade, parte do território dos Dení. Em abril de 2000, 12 chefes de quatro aldeias do Rio Cuniua, representantes da FUNAI, da PPTAL e da organização ambiental Greenpeace, com o apoio do CIMI e da OPAN fizeram campanha para a WTK sair do território dos Dení e não entrar na justiça contra a demarcação do território pelo governo. Os próprios indígenas eram treinados para fazer o mapeamento de uma área de 1.500 km. quadrados. Em agosto de 2003 a demarcação foi celebrada.

Estilo de Vida: Os Dení moram em pequenas aldeias, com casas para cada família nuclear; às vezes irmãos ou cunhados com sua famílias moram juntos. Também um casal recém casado mora perto da casa dos pais da esposa. A aldeia de Marrecão tem 16 casas e uma população de 86. Ascasas são cobertas de palha, com uma cumeeira atravessando o aspecto dianteiro. O assoalho é uma plataforma 1.5 metros do chão feita de palmeira rachada (pachuba), e uma escada dá acesso a porta. As casas são muitas vezes sem paredes, com uma caixa de barro para a fogueira de cada família. Os Dení dormem em redes com mosquiteiros.

A floresta é considerada o lugar do homem, aonde ele caça sozinho e escapa da gritaria das mulheres. A aldeia é o lugar das mulheres, onde seu vozerio predomina. Os homens fazem os roçados, caçam e pescam. As mulheres plantam, colhem, cozem e criam os filhos. Na aldeia de Marrecão doze dos quatorze homens trabalharam para brasileiros não indígenas, como seringueiros ou na produção de mandioca (Koop 1980). Os Dení não ocupam uma aldeia por mais de cinco anos; as razões para isso são as doenças trazidas pelos brancos e a escassez de caça, pois os Dení valorizam a caça. Bem antes das suas festas, caçam diariamente por semanas, desse modo muitas vezes geram uma falta.

Os Dení são individualistas, os homens gostam de caçar ou pescar sozinhos, caso trabalhem juntos, por exemplo, no roçar um novo campo, apenas com os parentes, e o terreno é dividido entre quem trabalhou. As mulheres plantam e colhem somente para suas famílias.

A madrugada é o tempo de conversar e os homens idosos (imabuté) contam as histórias. O maior assunto de conversação é a caça. Os Dení vivem para as festas que duram uma noite de dança e comilança. É de madrugada que o chefe organiza uma festa e os homens discutem a contribuição de cada um. As festas ajudam a resolver as brigas, as queixas são gritadas de cima da escada da casa para as outras casas em redor da ‘praça’. Relações extra-maritais são a causa frequente dos argumentos. Usam roupa ‘civilizada’ por mais de 30 anos

Sociedade: Os casamentos são organizados pelos pais ou os irmãos do casal. O noivo deve fornecer carne de caça, peixe e frutos para a futura sogra durante três meses. Depois do casamento, o casal mora ao lado dos pais da moça, para ver se o novo marido trata bem a sua esposa. Se isso não for o caso, a moça pode ser tomada do marido. Após três meses, a nova esposa começa a cozinhar para o noivo. O genro trabalha com o sogro por um ano ou mais, limpando as roças, pescando e caçando. Irmãos ou primos por parte de pai têm o costume de morar e trabalhar juntos, e depois do tempo matrilocal, o genro deve pedir permissão do sogro para mudar para um local mais independente.

Os chefes (pataraku) são escolhidos pelas facções de famílias relacionadas; os motivos da escolha são: se o pai dele era chefe, se ele tem recursos e vontade de organizar as festas e danças, se tem filhos e dons de liderança para o bem do povo. Eles podem desenvolver um sistema patrão-empregado, com índios ao seu serviço para pagar por bens trazidos de fora. Com os contatos com a FUNAI e outros alheios, os chefes funcionam como representantes da sua aldeia; decisões são tomadas por consenso entre os homens da aldeia.

A maior parte do verão é gasta nas preparações dessas festas, e estas duram dois a trinta dias, conforme a fartura dos comestíveis. Às vezes um pedaço de comida é oferecido a uma pessoa, que por sua vez oferece a um terceiro, e assim por diante, até que alguém finalmente come o pedaço. As aldeias fazem uma brincadeira que consiste em uma corrida de revezamento pelo mato, passando uma flecha de uma a outra pessoa. Uma outra brincadeira é entre as mulheres e os homens, que tentam tirar um pedaço de cana das mãos uns dos outros. Os Deni têm muitas canções e músicas. O cantador (hiridé) é a pessoa principal nas festas, liderando as danças.

Os pajés: O pajé tem certos poderes de liderança e podem ordenar uma festa. Antigamente o pajé dirigia os cânticos, mas hoje em dia a qualquer pessoa pode fazer isso. Os espíritos moram na floresta. Os pajés (zuphinehe) do Dení mastigam a cera de abelhas (katuhe) para receber visões dos espíritos, podem ser possessos por espíritos e se comunicar com eles. Esta prática distingue os pajés. O motivo é para descobrir a origem de uma doença ou uma morte; então eles ‘voam’ para os céus para consultar as almas dos mortos e entender uma morte. Os Dení acreditam que a picada de uma cobra engole a alma da pessoa. Os pajés dirigem as canções, as danças e os casamentos. O xamanismo é menos comum hoje em dia.

Cosmovisao: Há poucas informações. Quando um Deni morre, o pajé entra em transe a fim de voar ao céu e se encontrar com os espíritos indígenas (abanu), e conforme as informações dadas, a aldeia decide se deve mudar de lugar, para esquivar-se de outros ataques e falecimentos. Os mortos são enrolados nas suas redes e enterrados em uma cova de dois metros de profundidade, porém a cova não é prenchida com terra, mas sim com uma cobertura de ripas que são colocadas por cima, e depois uma casinha, tipo Deni, é construída sobre a cova.

Comentário: É uma cultura existencialista, imediatista e individualista. Diversos projetos de desenvolvimento foram experimentados nos anos 80. Os Dení são individualistas, e quando cooperam é somente nos seus agrupamentos familiares, não como uma comunidade. Eles vivem de uma festa para a outra. Aceitam novas ideias depois de experimentos. O interesse é de curto prazo e o planejamento é feito para cada dia. Somente se esforçam quando os resultados são imanentes. Muitos homens têm um ou dois patrões e estão acostumados ao sistema de dívidas e comércio. Projetos para a independência econômica dos Dení devem incluir os brasileiros locais. Os projetos dependem de ter um homem bem motivado.

Diversos projetos foram executados pelo Canadian International Development Agency: A produção de farinha de mandioca funcionou, mas somente com indivíduos bem motivados. O plantio de arroz e milho não teve sucesso devido à falta de nutrientes no solo. Pomares de frutas cítricas dependem de aldeias permanentes, e treinamento para conservar as arvores. A criação de porcos falhou por falta de disciplina em cuidar dos animais. Os Dení animaram–se para a criação de cabritos; a carne é semelhante a do viado e não precisa de preparação para ser vendida, esses animais não precisam de pastos preparados. Projetos escolares eram necessários quando Koop estavam entre os Deni. Educação em saúde e conservação dos recursos naturais é necessária; porém o meio ambiente é limitado em sustentar assentamentos permanentes. A Missão Novas Tribos do Brasil trabalha com este povo (MNTB).

Bibliografia:

KOOP, Gordon e Sherwood G. Lingenfelter, The Deni of Western Brazil: a study of sóciopolical organization and community develoment, 1980.

KOOP, Gordon e Sherwood G. Lingenfelter, Os Deni do Brasil Ocidental: Um Estudo da organização social-política e desenvolvimento comunitário 1983.

SIL 2009: Lewis, M. Paul (ed.), 2009. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. www.ethnologue.com

www. greenpeace.corg.uk/blog/ florests/helping-the-Dení-protect-their-land